Opinião|Inflação maior? Mais dinheiro circulando é causa muito importante


Preços de alimentos, câmbio e escassez de insumos têm recebido mais atenção

Por Roberto Macedo

A inflação aumentou bastante com a chegada da covid-19 e seus desdobramentos. O boletim semanal Focus, do Banco Central (BC), com previsões de analistas do mercado financeiro, mostrou na última sexta que a inflação vem crescendo há 12 semanas, e sua previsão para o IPCA de 2020 foi de 3,02%. Em 5/6/2020 a previsão era de 1,53%, e havia caído desde o início do ano.

Outro índice do Focus, o IGP-M, agrega três índices. Com suas participações, são eles o Índice de Preços ao Produtor, Amplo (60%), de produtos agropecuários e industriais, o Índice de Preços ao Consumidor (30%) e o Índice Nacional de Custo de Construção (10%). Pelo boletim do BC da sexta passada, o IGP-M vem subindo há 16 semanas, e desta vez a previsão para a anual de 2020 subiu para 20,23% (!). No Focus de 5/6/2020 a previsão era de 5,21%, e já havia começado a subir. O IGP-M é muito afetado pela taxa de câmbio e a nossa moeda se desvalorizou bastante neste ano.

Em geral, análises do aumento da inflação em 2020 vêm enfatizando três aspectos nele presentes. Os dois primeiros são o forte aumento dos preços de alimentos, como o arroz e o óleo de soja, e de preços industriais, atribuído a uma escassez de insumos utilizados pelo setor. O terceiro é a taxa de câmbio, conforme já mencionado.

continua após a publicidade

Contudo a inflação é um fenômeno macroeconômico complexo em suas origens e na sua dinâmica. Usualmente se distingue uma inflação de custos, como a dos aspectos citados, mas cabe explicar por que tais custos aumentaram. E há a inflação de demanda, que pode ocorrer, por exemplo, quando um banco central amplia consideravelmente a oferta monetária e/ou é adotada uma política fiscal expansionista, particularmente se focar no consumo, e não em investimentos. Essas duas fontes de inflação podem atuar em conjunto.

No que se segue, focarei na inflação de demanda, que tem recebido atenção muito escassa, mas vejo como muito importante, em razão de dois aspectos, o lado fiscal da política macroeconômica governamental e o lado monetário e creditício da mesma política.

Do lado fiscal, como é sabido, a política governamental tornou-se fortemente expansionista, entre outras razões, pela adoção do auxílio emergencial e por outros dispêndios voltados para a saúde. Isso teve o seu lado monetário mais claro no caso do auxílio emergencial, pois foi pago em dinheiro ou creditado em conta, alcançando dezenas de milhões de pessoas.

continua após a publicidade

Vejamos alguns números desses aspectos. E são de grande dimensão. O papel-moeda em poder do público aumentou 35% entre março e setembro de 2020, quando chegou a R$ 288 bilhões. Mas em 2019 o seu aumento relativamente a 2018 foi apenas de 5%. Recorrendo à mesma forma da comparação anterior, no caso dos depósitos bancários à vista, os números foram 25%, R$ 277 bilhões e 14%. A soma do papel-moeda com os depósitos à vista, conhecida como meios de pagamento, ou M1, também na mesma forma de comparação, mostrou estes números: 30%, R$ 565 bilhões e 9%. Esses dados são do BC e, como visto, mostraram aumentos significativos se comparados com os verificados em 2019, sem a covid.

Outro caso interessante é o das contas de poupança. Ele confirma que parte do auxílio emergencial foi parar aí, além de seu saldo total ter crescido também por outras razões. Esse saldo total aumentou 18% entre março e setembro de 2020, ou R$ 152 bilhões, quando, pela primeira vez, ultrapassou a imensa cifra de R$ 1 trilhão. De outra fonte, o Fundo Garantidor de Créditos, soube que o aumento foi mais forte nas contas de saldo mensal até R$ 5 mil, em que chegou a 55% (!), consistentemente com a ideia de que parte do auxílio emergencial ali ficou.

O Banco Central não inclui a poupança entre os meios de pagamento, mas as contas desse tipo são também utilizadas, em parte, como depósitos à vista. Por exemplo, em setembro deste ano, quando o saldo total atingiu o recorde citado, houve depósitos de R$ 294 bilhões e saques de R$ 281 bilhões.

continua após a publicidade

Do lado monetário, houve também aumento considerável das concessões de crédito, resultante de medidas tomadas em apoio a pessoas físicas e jurídicas. Segundo um relatório do BC, o saldo da carteira de crédito livre do sistema financeiro aumentou expressivos 26,5% para pessoas jurídicas e 8,7% para pessoas físicas, entre setembro de 2019 e setembro de 2020.

Como se percebe, houve forte expansão dos meios de pagamento ou, noutros termos, do dinheiro em circulação na forma de moeda e depósitos bancários, o que pesou e continuará pesando na inflação de 2020. Daí para a frente, se de fato o auxílio emergencial for suspenso e outros gastos com a covid-19 forem significativamente reduzidos, ainda assim haverá recursos para gastos, incluídos os de segmentos mais pobres, e sabe-se que os de maior poder aquisitivo também pouparam mais. Isso poderá sustentar uma inflação mais alta por algum tempo, ainda que tendo como contrapartida um impacto favorável na recuperação da economia.

ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), PROFESSOR SÊNIOR, DA USP. É CONSULTOR ECONÔMICO E DE ENSINO SUPERIOR

A inflação aumentou bastante com a chegada da covid-19 e seus desdobramentos. O boletim semanal Focus, do Banco Central (BC), com previsões de analistas do mercado financeiro, mostrou na última sexta que a inflação vem crescendo há 12 semanas, e sua previsão para o IPCA de 2020 foi de 3,02%. Em 5/6/2020 a previsão era de 1,53%, e havia caído desde o início do ano.

Outro índice do Focus, o IGP-M, agrega três índices. Com suas participações, são eles o Índice de Preços ao Produtor, Amplo (60%), de produtos agropecuários e industriais, o Índice de Preços ao Consumidor (30%) e o Índice Nacional de Custo de Construção (10%). Pelo boletim do BC da sexta passada, o IGP-M vem subindo há 16 semanas, e desta vez a previsão para a anual de 2020 subiu para 20,23% (!). No Focus de 5/6/2020 a previsão era de 5,21%, e já havia começado a subir. O IGP-M é muito afetado pela taxa de câmbio e a nossa moeda se desvalorizou bastante neste ano.

Em geral, análises do aumento da inflação em 2020 vêm enfatizando três aspectos nele presentes. Os dois primeiros são o forte aumento dos preços de alimentos, como o arroz e o óleo de soja, e de preços industriais, atribuído a uma escassez de insumos utilizados pelo setor. O terceiro é a taxa de câmbio, conforme já mencionado.

Contudo a inflação é um fenômeno macroeconômico complexo em suas origens e na sua dinâmica. Usualmente se distingue uma inflação de custos, como a dos aspectos citados, mas cabe explicar por que tais custos aumentaram. E há a inflação de demanda, que pode ocorrer, por exemplo, quando um banco central amplia consideravelmente a oferta monetária e/ou é adotada uma política fiscal expansionista, particularmente se focar no consumo, e não em investimentos. Essas duas fontes de inflação podem atuar em conjunto.

No que se segue, focarei na inflação de demanda, que tem recebido atenção muito escassa, mas vejo como muito importante, em razão de dois aspectos, o lado fiscal da política macroeconômica governamental e o lado monetário e creditício da mesma política.

Do lado fiscal, como é sabido, a política governamental tornou-se fortemente expansionista, entre outras razões, pela adoção do auxílio emergencial e por outros dispêndios voltados para a saúde. Isso teve o seu lado monetário mais claro no caso do auxílio emergencial, pois foi pago em dinheiro ou creditado em conta, alcançando dezenas de milhões de pessoas.

Vejamos alguns números desses aspectos. E são de grande dimensão. O papel-moeda em poder do público aumentou 35% entre março e setembro de 2020, quando chegou a R$ 288 bilhões. Mas em 2019 o seu aumento relativamente a 2018 foi apenas de 5%. Recorrendo à mesma forma da comparação anterior, no caso dos depósitos bancários à vista, os números foram 25%, R$ 277 bilhões e 14%. A soma do papel-moeda com os depósitos à vista, conhecida como meios de pagamento, ou M1, também na mesma forma de comparação, mostrou estes números: 30%, R$ 565 bilhões e 9%. Esses dados são do BC e, como visto, mostraram aumentos significativos se comparados com os verificados em 2019, sem a covid.

Outro caso interessante é o das contas de poupança. Ele confirma que parte do auxílio emergencial foi parar aí, além de seu saldo total ter crescido também por outras razões. Esse saldo total aumentou 18% entre março e setembro de 2020, ou R$ 152 bilhões, quando, pela primeira vez, ultrapassou a imensa cifra de R$ 1 trilhão. De outra fonte, o Fundo Garantidor de Créditos, soube que o aumento foi mais forte nas contas de saldo mensal até R$ 5 mil, em que chegou a 55% (!), consistentemente com a ideia de que parte do auxílio emergencial ali ficou.

O Banco Central não inclui a poupança entre os meios de pagamento, mas as contas desse tipo são também utilizadas, em parte, como depósitos à vista. Por exemplo, em setembro deste ano, quando o saldo total atingiu o recorde citado, houve depósitos de R$ 294 bilhões e saques de R$ 281 bilhões.

Do lado monetário, houve também aumento considerável das concessões de crédito, resultante de medidas tomadas em apoio a pessoas físicas e jurídicas. Segundo um relatório do BC, o saldo da carteira de crédito livre do sistema financeiro aumentou expressivos 26,5% para pessoas jurídicas e 8,7% para pessoas físicas, entre setembro de 2019 e setembro de 2020.

Como se percebe, houve forte expansão dos meios de pagamento ou, noutros termos, do dinheiro em circulação na forma de moeda e depósitos bancários, o que pesou e continuará pesando na inflação de 2020. Daí para a frente, se de fato o auxílio emergencial for suspenso e outros gastos com a covid-19 forem significativamente reduzidos, ainda assim haverá recursos para gastos, incluídos os de segmentos mais pobres, e sabe-se que os de maior poder aquisitivo também pouparam mais. Isso poderá sustentar uma inflação mais alta por algum tempo, ainda que tendo como contrapartida um impacto favorável na recuperação da economia.

ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), PROFESSOR SÊNIOR, DA USP. É CONSULTOR ECONÔMICO E DE ENSINO SUPERIOR

A inflação aumentou bastante com a chegada da covid-19 e seus desdobramentos. O boletim semanal Focus, do Banco Central (BC), com previsões de analistas do mercado financeiro, mostrou na última sexta que a inflação vem crescendo há 12 semanas, e sua previsão para o IPCA de 2020 foi de 3,02%. Em 5/6/2020 a previsão era de 1,53%, e havia caído desde o início do ano.

Outro índice do Focus, o IGP-M, agrega três índices. Com suas participações, são eles o Índice de Preços ao Produtor, Amplo (60%), de produtos agropecuários e industriais, o Índice de Preços ao Consumidor (30%) e o Índice Nacional de Custo de Construção (10%). Pelo boletim do BC da sexta passada, o IGP-M vem subindo há 16 semanas, e desta vez a previsão para a anual de 2020 subiu para 20,23% (!). No Focus de 5/6/2020 a previsão era de 5,21%, e já havia começado a subir. O IGP-M é muito afetado pela taxa de câmbio e a nossa moeda se desvalorizou bastante neste ano.

Em geral, análises do aumento da inflação em 2020 vêm enfatizando três aspectos nele presentes. Os dois primeiros são o forte aumento dos preços de alimentos, como o arroz e o óleo de soja, e de preços industriais, atribuído a uma escassez de insumos utilizados pelo setor. O terceiro é a taxa de câmbio, conforme já mencionado.

Contudo a inflação é um fenômeno macroeconômico complexo em suas origens e na sua dinâmica. Usualmente se distingue uma inflação de custos, como a dos aspectos citados, mas cabe explicar por que tais custos aumentaram. E há a inflação de demanda, que pode ocorrer, por exemplo, quando um banco central amplia consideravelmente a oferta monetária e/ou é adotada uma política fiscal expansionista, particularmente se focar no consumo, e não em investimentos. Essas duas fontes de inflação podem atuar em conjunto.

No que se segue, focarei na inflação de demanda, que tem recebido atenção muito escassa, mas vejo como muito importante, em razão de dois aspectos, o lado fiscal da política macroeconômica governamental e o lado monetário e creditício da mesma política.

Do lado fiscal, como é sabido, a política governamental tornou-se fortemente expansionista, entre outras razões, pela adoção do auxílio emergencial e por outros dispêndios voltados para a saúde. Isso teve o seu lado monetário mais claro no caso do auxílio emergencial, pois foi pago em dinheiro ou creditado em conta, alcançando dezenas de milhões de pessoas.

Vejamos alguns números desses aspectos. E são de grande dimensão. O papel-moeda em poder do público aumentou 35% entre março e setembro de 2020, quando chegou a R$ 288 bilhões. Mas em 2019 o seu aumento relativamente a 2018 foi apenas de 5%. Recorrendo à mesma forma da comparação anterior, no caso dos depósitos bancários à vista, os números foram 25%, R$ 277 bilhões e 14%. A soma do papel-moeda com os depósitos à vista, conhecida como meios de pagamento, ou M1, também na mesma forma de comparação, mostrou estes números: 30%, R$ 565 bilhões e 9%. Esses dados são do BC e, como visto, mostraram aumentos significativos se comparados com os verificados em 2019, sem a covid.

Outro caso interessante é o das contas de poupança. Ele confirma que parte do auxílio emergencial foi parar aí, além de seu saldo total ter crescido também por outras razões. Esse saldo total aumentou 18% entre março e setembro de 2020, ou R$ 152 bilhões, quando, pela primeira vez, ultrapassou a imensa cifra de R$ 1 trilhão. De outra fonte, o Fundo Garantidor de Créditos, soube que o aumento foi mais forte nas contas de saldo mensal até R$ 5 mil, em que chegou a 55% (!), consistentemente com a ideia de que parte do auxílio emergencial ali ficou.

O Banco Central não inclui a poupança entre os meios de pagamento, mas as contas desse tipo são também utilizadas, em parte, como depósitos à vista. Por exemplo, em setembro deste ano, quando o saldo total atingiu o recorde citado, houve depósitos de R$ 294 bilhões e saques de R$ 281 bilhões.

Do lado monetário, houve também aumento considerável das concessões de crédito, resultante de medidas tomadas em apoio a pessoas físicas e jurídicas. Segundo um relatório do BC, o saldo da carteira de crédito livre do sistema financeiro aumentou expressivos 26,5% para pessoas jurídicas e 8,7% para pessoas físicas, entre setembro de 2019 e setembro de 2020.

Como se percebe, houve forte expansão dos meios de pagamento ou, noutros termos, do dinheiro em circulação na forma de moeda e depósitos bancários, o que pesou e continuará pesando na inflação de 2020. Daí para a frente, se de fato o auxílio emergencial for suspenso e outros gastos com a covid-19 forem significativamente reduzidos, ainda assim haverá recursos para gastos, incluídos os de segmentos mais pobres, e sabe-se que os de maior poder aquisitivo também pouparam mais. Isso poderá sustentar uma inflação mais alta por algum tempo, ainda que tendo como contrapartida um impacto favorável na recuperação da economia.

ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), PROFESSOR SÊNIOR, DA USP. É CONSULTOR ECONÔMICO E DE ENSINO SUPERIOR

A inflação aumentou bastante com a chegada da covid-19 e seus desdobramentos. O boletim semanal Focus, do Banco Central (BC), com previsões de analistas do mercado financeiro, mostrou na última sexta que a inflação vem crescendo há 12 semanas, e sua previsão para o IPCA de 2020 foi de 3,02%. Em 5/6/2020 a previsão era de 1,53%, e havia caído desde o início do ano.

Outro índice do Focus, o IGP-M, agrega três índices. Com suas participações, são eles o Índice de Preços ao Produtor, Amplo (60%), de produtos agropecuários e industriais, o Índice de Preços ao Consumidor (30%) e o Índice Nacional de Custo de Construção (10%). Pelo boletim do BC da sexta passada, o IGP-M vem subindo há 16 semanas, e desta vez a previsão para a anual de 2020 subiu para 20,23% (!). No Focus de 5/6/2020 a previsão era de 5,21%, e já havia começado a subir. O IGP-M é muito afetado pela taxa de câmbio e a nossa moeda se desvalorizou bastante neste ano.

Em geral, análises do aumento da inflação em 2020 vêm enfatizando três aspectos nele presentes. Os dois primeiros são o forte aumento dos preços de alimentos, como o arroz e o óleo de soja, e de preços industriais, atribuído a uma escassez de insumos utilizados pelo setor. O terceiro é a taxa de câmbio, conforme já mencionado.

Contudo a inflação é um fenômeno macroeconômico complexo em suas origens e na sua dinâmica. Usualmente se distingue uma inflação de custos, como a dos aspectos citados, mas cabe explicar por que tais custos aumentaram. E há a inflação de demanda, que pode ocorrer, por exemplo, quando um banco central amplia consideravelmente a oferta monetária e/ou é adotada uma política fiscal expansionista, particularmente se focar no consumo, e não em investimentos. Essas duas fontes de inflação podem atuar em conjunto.

No que se segue, focarei na inflação de demanda, que tem recebido atenção muito escassa, mas vejo como muito importante, em razão de dois aspectos, o lado fiscal da política macroeconômica governamental e o lado monetário e creditício da mesma política.

Do lado fiscal, como é sabido, a política governamental tornou-se fortemente expansionista, entre outras razões, pela adoção do auxílio emergencial e por outros dispêndios voltados para a saúde. Isso teve o seu lado monetário mais claro no caso do auxílio emergencial, pois foi pago em dinheiro ou creditado em conta, alcançando dezenas de milhões de pessoas.

Vejamos alguns números desses aspectos. E são de grande dimensão. O papel-moeda em poder do público aumentou 35% entre março e setembro de 2020, quando chegou a R$ 288 bilhões. Mas em 2019 o seu aumento relativamente a 2018 foi apenas de 5%. Recorrendo à mesma forma da comparação anterior, no caso dos depósitos bancários à vista, os números foram 25%, R$ 277 bilhões e 14%. A soma do papel-moeda com os depósitos à vista, conhecida como meios de pagamento, ou M1, também na mesma forma de comparação, mostrou estes números: 30%, R$ 565 bilhões e 9%. Esses dados são do BC e, como visto, mostraram aumentos significativos se comparados com os verificados em 2019, sem a covid.

Outro caso interessante é o das contas de poupança. Ele confirma que parte do auxílio emergencial foi parar aí, além de seu saldo total ter crescido também por outras razões. Esse saldo total aumentou 18% entre março e setembro de 2020, ou R$ 152 bilhões, quando, pela primeira vez, ultrapassou a imensa cifra de R$ 1 trilhão. De outra fonte, o Fundo Garantidor de Créditos, soube que o aumento foi mais forte nas contas de saldo mensal até R$ 5 mil, em que chegou a 55% (!), consistentemente com a ideia de que parte do auxílio emergencial ali ficou.

O Banco Central não inclui a poupança entre os meios de pagamento, mas as contas desse tipo são também utilizadas, em parte, como depósitos à vista. Por exemplo, em setembro deste ano, quando o saldo total atingiu o recorde citado, houve depósitos de R$ 294 bilhões e saques de R$ 281 bilhões.

Do lado monetário, houve também aumento considerável das concessões de crédito, resultante de medidas tomadas em apoio a pessoas físicas e jurídicas. Segundo um relatório do BC, o saldo da carteira de crédito livre do sistema financeiro aumentou expressivos 26,5% para pessoas jurídicas e 8,7% para pessoas físicas, entre setembro de 2019 e setembro de 2020.

Como se percebe, houve forte expansão dos meios de pagamento ou, noutros termos, do dinheiro em circulação na forma de moeda e depósitos bancários, o que pesou e continuará pesando na inflação de 2020. Daí para a frente, se de fato o auxílio emergencial for suspenso e outros gastos com a covid-19 forem significativamente reduzidos, ainda assim haverá recursos para gastos, incluídos os de segmentos mais pobres, e sabe-se que os de maior poder aquisitivo também pouparam mais. Isso poderá sustentar uma inflação mais alta por algum tempo, ainda que tendo como contrapartida um impacto favorável na recuperação da economia.

ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), PROFESSOR SÊNIOR, DA USP. É CONSULTOR ECONÔMICO E DE ENSINO SUPERIOR

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.