Opinião|Infraestrutura na América do Sul: um desafio histórico em busca de soluções inovadoras


Ao priorizar projetos de qualidade, fomentar a colaboração regional e alinhar desenvolvimento com sustentabilidade, a região pode finalmente realizar seu vasto potencial

Por Arthur Eduardo Santos Leone

Ao caminhar pelas ruas históricas de cidades como Cusco, no Peru, ou Cartagena, na Colômbia, é impossível não se maravilhar com as obras de engenharia deixadas por civilizações passadas. As estradas incas, que se estendiam por milhares de quilômetros, e os aquedutos coloniais são testemunhos de um legado que entendia a importância da infraestrutura para o desenvolvimento. No entanto, séculos depois, a América do Sul ainda enfrenta desafios significativos para financiar e implementar projetos que impulsionem seu progresso.

Um dos principais obstáculos é o baixo investimento regional em infraestrutura. A região investe apenas cerca de 1,7% do seu Produto Interno Bruto (PIB) nesse setor, insuficiente para suprir as necessidades básicas e alcançar metas de desenvolvimento sustentável. Para efeito de comparação, países asiáticos emergentes chegam a investir mais de 5% do PIB em infraestrutura, catalisando seu crescimento econômico. No Brasil, seria necessário dobrar o investimento atual para universalizar serviços essenciais como saneamento básico e transporte público de qualidade.

A falta de regulamentação institucional para investimentos transfronteiriços também emperra o avanço. A ausência de um arcabouço legal harmonizado entre os países dificulta a execução de projetos que cruzam fronteiras. Um exemplo emblemático é a Ferrovia Bioceânica, proposta para ligar o Brasil ao Peru, conectando o Atlântico ao Pacífico. Apesar do potencial econômico, o projeto permanece no papel, travado por burocracias e falta de coordenação entre as nações envolvidas.

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Outro desafio crucial é a baixa qualidade dos projetos apresentados. Muitos carecem de robustez técnica e maturidade para atrair financiamentos. Municípios menores, com recursos limitados, frequentemente não dispõem de equipes capacitadas para elaborar propostas bem estruturadas. Isso resulta em atrasos, custos acima do previsto e impactos socioambientais negativos. A construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Brasil, ilustra bem essa questão, enfrentando diversas controvérsias e problemas de planejamento que inflaram seu orçamento e prazo de conclusão.

A dificuldade em atrair investimento privado é agravada pela instabilidade política, burocracia excessiva e falta de segurança jurídica. A percepção de risco afasta investidores que poderiam aportar capital e expertise. Curiosamente, no início do século 20, empresas estrangeiras construíram grande parte das ferrovias sul-americanas, atraídas pelo boom das exportações de commodities. Hoje, entretanto, essa dinâmica se inverteu, e a região luta para se posicionar como destino atraente para o capital privado.

Para mitigar esses entraves, a necessidade de priorização de projetos torna-se evidente. Com recursos escassos, definir critérios claros para selecionar iniciativas de maior impacto é essencial. Além disso, a importância da preinversão – investimentos em estudos de viabilidade e planejamento detalhado – não pode ser subestimada. Projetos bem estruturados têm maior chance de sucesso e de captar recursos, seja de bancos de desenvolvimento, seja do setor privado.

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Incorporar a sustentabilidade e a inclusão social desde a concepção dos projetos é outro imperativo. A América do Sul é rica em biodiversidade e abriga comunidades tradicionais que dependem diretamente do meio ambiente. Projetos como a construção de estradas na Amazônia precisam equilibrar o desenvolvimento econômico com a conservação ambiental e o respeito aos direitos das populações locais.

Historicamente, a integração regional tem sido um desafio. Iniciativas como a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e o Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento (Cosiplan) foram criadas para promover a cooperação, mas enfrentam obstáculos políticos e institucionais. Fortalecer esses mecanismos é fundamental para uma agenda de infraestrutura coesa e eficiente.

Em suma, a América do Sul se encontra em uma encruzilhada. Aprender com o passado – tanto com os acertos das civilizações ancestrais quanto com os erros recentes – é crucial para construir um futuro próspero. Ao priorizar projetos de qualidade, fomentar a colaboração regional e alinhar desenvolvimento com sustentabilidade, a região pode superar os desafios históricos e finalmente realizar seu vasto potencial.

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ADVOGADO, É CONSULTOR LEGISLATIVO DO SENADO FEDERAL PARA DIREITO INTERNACIONAL, RELAÇÕES INTERNACIONAIS E DEFESA NACIONAL

Ao caminhar pelas ruas históricas de cidades como Cusco, no Peru, ou Cartagena, na Colômbia, é impossível não se maravilhar com as obras de engenharia deixadas por civilizações passadas. As estradas incas, que se estendiam por milhares de quilômetros, e os aquedutos coloniais são testemunhos de um legado que entendia a importância da infraestrutura para o desenvolvimento. No entanto, séculos depois, a América do Sul ainda enfrenta desafios significativos para financiar e implementar projetos que impulsionem seu progresso.

Um dos principais obstáculos é o baixo investimento regional em infraestrutura. A região investe apenas cerca de 1,7% do seu Produto Interno Bruto (PIB) nesse setor, insuficiente para suprir as necessidades básicas e alcançar metas de desenvolvimento sustentável. Para efeito de comparação, países asiáticos emergentes chegam a investir mais de 5% do PIB em infraestrutura, catalisando seu crescimento econômico. No Brasil, seria necessário dobrar o investimento atual para universalizar serviços essenciais como saneamento básico e transporte público de qualidade.

A falta de regulamentação institucional para investimentos transfronteiriços também emperra o avanço. A ausência de um arcabouço legal harmonizado entre os países dificulta a execução de projetos que cruzam fronteiras. Um exemplo emblemático é a Ferrovia Bioceânica, proposta para ligar o Brasil ao Peru, conectando o Atlântico ao Pacífico. Apesar do potencial econômico, o projeto permanece no papel, travado por burocracias e falta de coordenação entre as nações envolvidas.

Outro desafio crucial é a baixa qualidade dos projetos apresentados. Muitos carecem de robustez técnica e maturidade para atrair financiamentos. Municípios menores, com recursos limitados, frequentemente não dispõem de equipes capacitadas para elaborar propostas bem estruturadas. Isso resulta em atrasos, custos acima do previsto e impactos socioambientais negativos. A construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Brasil, ilustra bem essa questão, enfrentando diversas controvérsias e problemas de planejamento que inflaram seu orçamento e prazo de conclusão.

A dificuldade em atrair investimento privado é agravada pela instabilidade política, burocracia excessiva e falta de segurança jurídica. A percepção de risco afasta investidores que poderiam aportar capital e expertise. Curiosamente, no início do século 20, empresas estrangeiras construíram grande parte das ferrovias sul-americanas, atraídas pelo boom das exportações de commodities. Hoje, entretanto, essa dinâmica se inverteu, e a região luta para se posicionar como destino atraente para o capital privado.

Para mitigar esses entraves, a necessidade de priorização de projetos torna-se evidente. Com recursos escassos, definir critérios claros para selecionar iniciativas de maior impacto é essencial. Além disso, a importância da preinversão – investimentos em estudos de viabilidade e planejamento detalhado – não pode ser subestimada. Projetos bem estruturados têm maior chance de sucesso e de captar recursos, seja de bancos de desenvolvimento, seja do setor privado.

Incorporar a sustentabilidade e a inclusão social desde a concepção dos projetos é outro imperativo. A América do Sul é rica em biodiversidade e abriga comunidades tradicionais que dependem diretamente do meio ambiente. Projetos como a construção de estradas na Amazônia precisam equilibrar o desenvolvimento econômico com a conservação ambiental e o respeito aos direitos das populações locais.

Historicamente, a integração regional tem sido um desafio. Iniciativas como a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e o Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento (Cosiplan) foram criadas para promover a cooperação, mas enfrentam obstáculos políticos e institucionais. Fortalecer esses mecanismos é fundamental para uma agenda de infraestrutura coesa e eficiente.

Em suma, a América do Sul se encontra em uma encruzilhada. Aprender com o passado – tanto com os acertos das civilizações ancestrais quanto com os erros recentes – é crucial para construir um futuro próspero. Ao priorizar projetos de qualidade, fomentar a colaboração regional e alinhar desenvolvimento com sustentabilidade, a região pode superar os desafios históricos e finalmente realizar seu vasto potencial.

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ADVOGADO, É CONSULTOR LEGISLATIVO DO SENADO FEDERAL PARA DIREITO INTERNACIONAL, RELAÇÕES INTERNACIONAIS E DEFESA NACIONAL

Ao caminhar pelas ruas históricas de cidades como Cusco, no Peru, ou Cartagena, na Colômbia, é impossível não se maravilhar com as obras de engenharia deixadas por civilizações passadas. As estradas incas, que se estendiam por milhares de quilômetros, e os aquedutos coloniais são testemunhos de um legado que entendia a importância da infraestrutura para o desenvolvimento. No entanto, séculos depois, a América do Sul ainda enfrenta desafios significativos para financiar e implementar projetos que impulsionem seu progresso.

Um dos principais obstáculos é o baixo investimento regional em infraestrutura. A região investe apenas cerca de 1,7% do seu Produto Interno Bruto (PIB) nesse setor, insuficiente para suprir as necessidades básicas e alcançar metas de desenvolvimento sustentável. Para efeito de comparação, países asiáticos emergentes chegam a investir mais de 5% do PIB em infraestrutura, catalisando seu crescimento econômico. No Brasil, seria necessário dobrar o investimento atual para universalizar serviços essenciais como saneamento básico e transporte público de qualidade.

A falta de regulamentação institucional para investimentos transfronteiriços também emperra o avanço. A ausência de um arcabouço legal harmonizado entre os países dificulta a execução de projetos que cruzam fronteiras. Um exemplo emblemático é a Ferrovia Bioceânica, proposta para ligar o Brasil ao Peru, conectando o Atlântico ao Pacífico. Apesar do potencial econômico, o projeto permanece no papel, travado por burocracias e falta de coordenação entre as nações envolvidas.

Outro desafio crucial é a baixa qualidade dos projetos apresentados. Muitos carecem de robustez técnica e maturidade para atrair financiamentos. Municípios menores, com recursos limitados, frequentemente não dispõem de equipes capacitadas para elaborar propostas bem estruturadas. Isso resulta em atrasos, custos acima do previsto e impactos socioambientais negativos. A construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Brasil, ilustra bem essa questão, enfrentando diversas controvérsias e problemas de planejamento que inflaram seu orçamento e prazo de conclusão.

A dificuldade em atrair investimento privado é agravada pela instabilidade política, burocracia excessiva e falta de segurança jurídica. A percepção de risco afasta investidores que poderiam aportar capital e expertise. Curiosamente, no início do século 20, empresas estrangeiras construíram grande parte das ferrovias sul-americanas, atraídas pelo boom das exportações de commodities. Hoje, entretanto, essa dinâmica se inverteu, e a região luta para se posicionar como destino atraente para o capital privado.

Para mitigar esses entraves, a necessidade de priorização de projetos torna-se evidente. Com recursos escassos, definir critérios claros para selecionar iniciativas de maior impacto é essencial. Além disso, a importância da preinversão – investimentos em estudos de viabilidade e planejamento detalhado – não pode ser subestimada. Projetos bem estruturados têm maior chance de sucesso e de captar recursos, seja de bancos de desenvolvimento, seja do setor privado.

Incorporar a sustentabilidade e a inclusão social desde a concepção dos projetos é outro imperativo. A América do Sul é rica em biodiversidade e abriga comunidades tradicionais que dependem diretamente do meio ambiente. Projetos como a construção de estradas na Amazônia precisam equilibrar o desenvolvimento econômico com a conservação ambiental e o respeito aos direitos das populações locais.

Historicamente, a integração regional tem sido um desafio. Iniciativas como a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e o Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento (Cosiplan) foram criadas para promover a cooperação, mas enfrentam obstáculos políticos e institucionais. Fortalecer esses mecanismos é fundamental para uma agenda de infraestrutura coesa e eficiente.

Em suma, a América do Sul se encontra em uma encruzilhada. Aprender com o passado – tanto com os acertos das civilizações ancestrais quanto com os erros recentes – é crucial para construir um futuro próspero. Ao priorizar projetos de qualidade, fomentar a colaboração regional e alinhar desenvolvimento com sustentabilidade, a região pode superar os desafios históricos e finalmente realizar seu vasto potencial.

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ADVOGADO, É CONSULTOR LEGISLATIVO DO SENADO FEDERAL PARA DIREITO INTERNACIONAL, RELAÇÕES INTERNACIONAIS E DEFESA NACIONAL

Opinião por Arthur Eduardo Santos Leone

Advogado, é consultor legislativo do Senado Federal para Direito Internacional, Relações Internacionais e Defesa Nacional

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