Opinião|Judeus não contam?


Há um esforço enorme da sociedade em criar um ambiente seguro para todos, inclusive, é claro, para os grupos minoritários ou ‘minorizados’. Mas para os judeus essa evolução da sociedade ainda não chegou

Por Dov Bigio

É senso comum na atualidade que a vítima de preconceito tenha o direito de ter suas sensações e percepções respeitadas quando atacada e que essas percepções devem ser levadas em conta na hora de avaliar um caso de agressão. Não pretendo entrar no mérito jurídico, sobre quando a avaliação é um caso que deve ser tratado pela justiça, mas apenas sobre regras de respeito e de boa convivência. Deixo para os advogados a definição de quando isso extrapola os limites da lei.

No âmbito social, há pessoas que são mais tolerantes a piadas, ainda que sejam de humor questionável, e outras que não o são. Há pessoas que aceitam ou mesmo reproduzem, elas próprias, piadas sobre sua cor, etnia, gênero, religião etc. Cada pessoa é livre para definir seus limites, os contextos em que as piadas são toleráveis ou mesmo de quem aceita ouvir esse tipo de comentário. Independentemente do que define a lei, no dia a dia, cada um tem a liberdade de definir o que aceita ouvir e o que considera uma agressão.

Do ponto de vista de grupos ou comunidades, há definições, feitas pelos próprios membros do grupo, sobre o que é tolerável ou não; sobre o que consideram aceitável e o que avaliam ser agressivo. Por isso temos de ter cuidado ao nos referirmos a grupos de pessoas, quaisquer que sejam, pois há diferença tanto no tratamento entre amigos, colegas e familiares, como na forma como lidamos com grupos e comunidades. Mesmo que alguém individualmente aceite uma piada de humor duvidoso, ao lidar com o grupo, temos de respeitar as sensibilidades do grupo como um todo.

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Nos últimos anos, esse conceito tem sido cada vez mais aplicado na forma como a sociedade se comporta, e, com isso, minorias ou grupos minorizados (grupos que, embora sejam maioria na sociedade, são minoria nas posições de liderança e tomada de decisão) têm conseguido cada vez mais apresentar seus pontos de vista, expor suas definições do que consideram aceitável e o que avaliam ser agressivo e até mesmo intolerável. Essa evolução pode ser vista nas relações sociais, na mídia e mesmo nos avanços da legislação.

Há um esforço enorme da sociedade em criar um ambiente seguro para todos, inclusive, é claro, para os grupos minoritários ou minorizados. No entanto, para um grupo de pessoas essa evolução da sociedade ainda não chegou.

Expressões racistas e ofensas a pessoas homossexuais e transexuais não são mais toleradas, e os que nelas insistem são expostos, punidos ou cancelados. Porém, quando uma pessoa age com avareza, é comum ouvir um “deixe de ser judeu”. E o termo “judiar” nunca perdeu a força no vocabulário da Língua Portuguesa.

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Quando um judeu, ou a comunidade judaica, se sente ofendido e desrespeitado por essas expressões, ou por acusações infundadas que recebe, como a de ter mais lealdade a Israel do que ao Brasil, ou mesmo quando se traz à tona a acusação (medieval) de deicídio, a opinião do judeu sobre a ofensa não é levada em conta. A definição de antissemitismo conforme as sensações e percepções do judeu, em geral, não é aceita ou respeitada, pois, no caso do judeu, é o antissemita que tem o direito de definir se seus atos ou palavras são antissemitas ou não.

Em geral, diz-se que a culpa dos mais variados crimes e agressões é do agressor, e não da vítima; a culpa do racismo é do racista, e não do negro; a culpa pela homofobia é do homofóbico, e não do homossexual; a culpa da misoginia é do misógino, e não da mulher; a culpa do antissemitismo – e temos visto isso com toda força nas redes sociais, nos círculos sociais e até mesmo nos círculos políticos do Brasil – é do judeu, e não do antissemita.

Assim como a composição de toda a sociedade, os judeus também integram diferentes grupos sociais. Seja por suas características culturais, fenótipo, gênero, orientação sexual, condição econômica e tantos outros fatores, cada pessoa vivencia realidades e oportunidades diferentes. Ainda assim, judeus são classificados de forma pejorativa como brancos, ricos e invasores, sem qualquer respeito às questões que tornam cada indivíduo único.

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Esses estereótipos nada mais são do que a expressão máxima de preconceitos enraizados na sociedade – muito antes do surgimento do nazismo – e que de tempos em tempos retorna a seu ápice, como no momento em que vivemos agora, em razão da guerra entre Israel e o Hamas.

Enquanto não for dado ao judeu o direito de viver com segurança na sociedade e de ser tratado conforme suas expectativas, o antissemitismo terá sido vitorioso e continuará permitindo o discurso (e crimes) de ódio e fazendo vítimas dentro de uma parcela da sociedade que, ainda que pequena, tem de conviver com insegurança, desrespeito e até medo.

Se este mal não for extirpado, ele continuará a ser alimentado na sociedade e poderá ressurgir com força maior contra qualquer um, em qualquer momento. Se há ódio na sociedade contra o judeu, esse ódio pode facilmente ser direcionado para outros grupos.

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Enquanto todos não estiverem (e se sentirem) seguros, ninguém estará.

*

É DIRETOR DA FEDERAÇÃO ISRAELITA DE SÃO PAULO (FISESP)

É senso comum na atualidade que a vítima de preconceito tenha o direito de ter suas sensações e percepções respeitadas quando atacada e que essas percepções devem ser levadas em conta na hora de avaliar um caso de agressão. Não pretendo entrar no mérito jurídico, sobre quando a avaliação é um caso que deve ser tratado pela justiça, mas apenas sobre regras de respeito e de boa convivência. Deixo para os advogados a definição de quando isso extrapola os limites da lei.

No âmbito social, há pessoas que são mais tolerantes a piadas, ainda que sejam de humor questionável, e outras que não o são. Há pessoas que aceitam ou mesmo reproduzem, elas próprias, piadas sobre sua cor, etnia, gênero, religião etc. Cada pessoa é livre para definir seus limites, os contextos em que as piadas são toleráveis ou mesmo de quem aceita ouvir esse tipo de comentário. Independentemente do que define a lei, no dia a dia, cada um tem a liberdade de definir o que aceita ouvir e o que considera uma agressão.

Do ponto de vista de grupos ou comunidades, há definições, feitas pelos próprios membros do grupo, sobre o que é tolerável ou não; sobre o que consideram aceitável e o que avaliam ser agressivo. Por isso temos de ter cuidado ao nos referirmos a grupos de pessoas, quaisquer que sejam, pois há diferença tanto no tratamento entre amigos, colegas e familiares, como na forma como lidamos com grupos e comunidades. Mesmo que alguém individualmente aceite uma piada de humor duvidoso, ao lidar com o grupo, temos de respeitar as sensibilidades do grupo como um todo.

Nos últimos anos, esse conceito tem sido cada vez mais aplicado na forma como a sociedade se comporta, e, com isso, minorias ou grupos minorizados (grupos que, embora sejam maioria na sociedade, são minoria nas posições de liderança e tomada de decisão) têm conseguido cada vez mais apresentar seus pontos de vista, expor suas definições do que consideram aceitável e o que avaliam ser agressivo e até mesmo intolerável. Essa evolução pode ser vista nas relações sociais, na mídia e mesmo nos avanços da legislação.

Há um esforço enorme da sociedade em criar um ambiente seguro para todos, inclusive, é claro, para os grupos minoritários ou minorizados. No entanto, para um grupo de pessoas essa evolução da sociedade ainda não chegou.

Expressões racistas e ofensas a pessoas homossexuais e transexuais não são mais toleradas, e os que nelas insistem são expostos, punidos ou cancelados. Porém, quando uma pessoa age com avareza, é comum ouvir um “deixe de ser judeu”. E o termo “judiar” nunca perdeu a força no vocabulário da Língua Portuguesa.

Quando um judeu, ou a comunidade judaica, se sente ofendido e desrespeitado por essas expressões, ou por acusações infundadas que recebe, como a de ter mais lealdade a Israel do que ao Brasil, ou mesmo quando se traz à tona a acusação (medieval) de deicídio, a opinião do judeu sobre a ofensa não é levada em conta. A definição de antissemitismo conforme as sensações e percepções do judeu, em geral, não é aceita ou respeitada, pois, no caso do judeu, é o antissemita que tem o direito de definir se seus atos ou palavras são antissemitas ou não.

Em geral, diz-se que a culpa dos mais variados crimes e agressões é do agressor, e não da vítima; a culpa do racismo é do racista, e não do negro; a culpa pela homofobia é do homofóbico, e não do homossexual; a culpa da misoginia é do misógino, e não da mulher; a culpa do antissemitismo – e temos visto isso com toda força nas redes sociais, nos círculos sociais e até mesmo nos círculos políticos do Brasil – é do judeu, e não do antissemita.

Assim como a composição de toda a sociedade, os judeus também integram diferentes grupos sociais. Seja por suas características culturais, fenótipo, gênero, orientação sexual, condição econômica e tantos outros fatores, cada pessoa vivencia realidades e oportunidades diferentes. Ainda assim, judeus são classificados de forma pejorativa como brancos, ricos e invasores, sem qualquer respeito às questões que tornam cada indivíduo único.

Esses estereótipos nada mais são do que a expressão máxima de preconceitos enraizados na sociedade – muito antes do surgimento do nazismo – e que de tempos em tempos retorna a seu ápice, como no momento em que vivemos agora, em razão da guerra entre Israel e o Hamas.

Enquanto não for dado ao judeu o direito de viver com segurança na sociedade e de ser tratado conforme suas expectativas, o antissemitismo terá sido vitorioso e continuará permitindo o discurso (e crimes) de ódio e fazendo vítimas dentro de uma parcela da sociedade que, ainda que pequena, tem de conviver com insegurança, desrespeito e até medo.

Se este mal não for extirpado, ele continuará a ser alimentado na sociedade e poderá ressurgir com força maior contra qualquer um, em qualquer momento. Se há ódio na sociedade contra o judeu, esse ódio pode facilmente ser direcionado para outros grupos.

Enquanto todos não estiverem (e se sentirem) seguros, ninguém estará.

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É DIRETOR DA FEDERAÇÃO ISRAELITA DE SÃO PAULO (FISESP)

É senso comum na atualidade que a vítima de preconceito tenha o direito de ter suas sensações e percepções respeitadas quando atacada e que essas percepções devem ser levadas em conta na hora de avaliar um caso de agressão. Não pretendo entrar no mérito jurídico, sobre quando a avaliação é um caso que deve ser tratado pela justiça, mas apenas sobre regras de respeito e de boa convivência. Deixo para os advogados a definição de quando isso extrapola os limites da lei.

No âmbito social, há pessoas que são mais tolerantes a piadas, ainda que sejam de humor questionável, e outras que não o são. Há pessoas que aceitam ou mesmo reproduzem, elas próprias, piadas sobre sua cor, etnia, gênero, religião etc. Cada pessoa é livre para definir seus limites, os contextos em que as piadas são toleráveis ou mesmo de quem aceita ouvir esse tipo de comentário. Independentemente do que define a lei, no dia a dia, cada um tem a liberdade de definir o que aceita ouvir e o que considera uma agressão.

Do ponto de vista de grupos ou comunidades, há definições, feitas pelos próprios membros do grupo, sobre o que é tolerável ou não; sobre o que consideram aceitável e o que avaliam ser agressivo. Por isso temos de ter cuidado ao nos referirmos a grupos de pessoas, quaisquer que sejam, pois há diferença tanto no tratamento entre amigos, colegas e familiares, como na forma como lidamos com grupos e comunidades. Mesmo que alguém individualmente aceite uma piada de humor duvidoso, ao lidar com o grupo, temos de respeitar as sensibilidades do grupo como um todo.

Nos últimos anos, esse conceito tem sido cada vez mais aplicado na forma como a sociedade se comporta, e, com isso, minorias ou grupos minorizados (grupos que, embora sejam maioria na sociedade, são minoria nas posições de liderança e tomada de decisão) têm conseguido cada vez mais apresentar seus pontos de vista, expor suas definições do que consideram aceitável e o que avaliam ser agressivo e até mesmo intolerável. Essa evolução pode ser vista nas relações sociais, na mídia e mesmo nos avanços da legislação.

Há um esforço enorme da sociedade em criar um ambiente seguro para todos, inclusive, é claro, para os grupos minoritários ou minorizados. No entanto, para um grupo de pessoas essa evolução da sociedade ainda não chegou.

Expressões racistas e ofensas a pessoas homossexuais e transexuais não são mais toleradas, e os que nelas insistem são expostos, punidos ou cancelados. Porém, quando uma pessoa age com avareza, é comum ouvir um “deixe de ser judeu”. E o termo “judiar” nunca perdeu a força no vocabulário da Língua Portuguesa.

Quando um judeu, ou a comunidade judaica, se sente ofendido e desrespeitado por essas expressões, ou por acusações infundadas que recebe, como a de ter mais lealdade a Israel do que ao Brasil, ou mesmo quando se traz à tona a acusação (medieval) de deicídio, a opinião do judeu sobre a ofensa não é levada em conta. A definição de antissemitismo conforme as sensações e percepções do judeu, em geral, não é aceita ou respeitada, pois, no caso do judeu, é o antissemita que tem o direito de definir se seus atos ou palavras são antissemitas ou não.

Em geral, diz-se que a culpa dos mais variados crimes e agressões é do agressor, e não da vítima; a culpa do racismo é do racista, e não do negro; a culpa pela homofobia é do homofóbico, e não do homossexual; a culpa da misoginia é do misógino, e não da mulher; a culpa do antissemitismo – e temos visto isso com toda força nas redes sociais, nos círculos sociais e até mesmo nos círculos políticos do Brasil – é do judeu, e não do antissemita.

Assim como a composição de toda a sociedade, os judeus também integram diferentes grupos sociais. Seja por suas características culturais, fenótipo, gênero, orientação sexual, condição econômica e tantos outros fatores, cada pessoa vivencia realidades e oportunidades diferentes. Ainda assim, judeus são classificados de forma pejorativa como brancos, ricos e invasores, sem qualquer respeito às questões que tornam cada indivíduo único.

Esses estereótipos nada mais são do que a expressão máxima de preconceitos enraizados na sociedade – muito antes do surgimento do nazismo – e que de tempos em tempos retorna a seu ápice, como no momento em que vivemos agora, em razão da guerra entre Israel e o Hamas.

Enquanto não for dado ao judeu o direito de viver com segurança na sociedade e de ser tratado conforme suas expectativas, o antissemitismo terá sido vitorioso e continuará permitindo o discurso (e crimes) de ódio e fazendo vítimas dentro de uma parcela da sociedade que, ainda que pequena, tem de conviver com insegurança, desrespeito e até medo.

Se este mal não for extirpado, ele continuará a ser alimentado na sociedade e poderá ressurgir com força maior contra qualquer um, em qualquer momento. Se há ódio na sociedade contra o judeu, esse ódio pode facilmente ser direcionado para outros grupos.

Enquanto todos não estiverem (e se sentirem) seguros, ninguém estará.

*

É DIRETOR DA FEDERAÇÃO ISRAELITA DE SÃO PAULO (FISESP)

É senso comum na atualidade que a vítima de preconceito tenha o direito de ter suas sensações e percepções respeitadas quando atacada e que essas percepções devem ser levadas em conta na hora de avaliar um caso de agressão. Não pretendo entrar no mérito jurídico, sobre quando a avaliação é um caso que deve ser tratado pela justiça, mas apenas sobre regras de respeito e de boa convivência. Deixo para os advogados a definição de quando isso extrapola os limites da lei.

No âmbito social, há pessoas que são mais tolerantes a piadas, ainda que sejam de humor questionável, e outras que não o são. Há pessoas que aceitam ou mesmo reproduzem, elas próprias, piadas sobre sua cor, etnia, gênero, religião etc. Cada pessoa é livre para definir seus limites, os contextos em que as piadas são toleráveis ou mesmo de quem aceita ouvir esse tipo de comentário. Independentemente do que define a lei, no dia a dia, cada um tem a liberdade de definir o que aceita ouvir e o que considera uma agressão.

Do ponto de vista de grupos ou comunidades, há definições, feitas pelos próprios membros do grupo, sobre o que é tolerável ou não; sobre o que consideram aceitável e o que avaliam ser agressivo. Por isso temos de ter cuidado ao nos referirmos a grupos de pessoas, quaisquer que sejam, pois há diferença tanto no tratamento entre amigos, colegas e familiares, como na forma como lidamos com grupos e comunidades. Mesmo que alguém individualmente aceite uma piada de humor duvidoso, ao lidar com o grupo, temos de respeitar as sensibilidades do grupo como um todo.

Nos últimos anos, esse conceito tem sido cada vez mais aplicado na forma como a sociedade se comporta, e, com isso, minorias ou grupos minorizados (grupos que, embora sejam maioria na sociedade, são minoria nas posições de liderança e tomada de decisão) têm conseguido cada vez mais apresentar seus pontos de vista, expor suas definições do que consideram aceitável e o que avaliam ser agressivo e até mesmo intolerável. Essa evolução pode ser vista nas relações sociais, na mídia e mesmo nos avanços da legislação.

Há um esforço enorme da sociedade em criar um ambiente seguro para todos, inclusive, é claro, para os grupos minoritários ou minorizados. No entanto, para um grupo de pessoas essa evolução da sociedade ainda não chegou.

Expressões racistas e ofensas a pessoas homossexuais e transexuais não são mais toleradas, e os que nelas insistem são expostos, punidos ou cancelados. Porém, quando uma pessoa age com avareza, é comum ouvir um “deixe de ser judeu”. E o termo “judiar” nunca perdeu a força no vocabulário da Língua Portuguesa.

Quando um judeu, ou a comunidade judaica, se sente ofendido e desrespeitado por essas expressões, ou por acusações infundadas que recebe, como a de ter mais lealdade a Israel do que ao Brasil, ou mesmo quando se traz à tona a acusação (medieval) de deicídio, a opinião do judeu sobre a ofensa não é levada em conta. A definição de antissemitismo conforme as sensações e percepções do judeu, em geral, não é aceita ou respeitada, pois, no caso do judeu, é o antissemita que tem o direito de definir se seus atos ou palavras são antissemitas ou não.

Em geral, diz-se que a culpa dos mais variados crimes e agressões é do agressor, e não da vítima; a culpa do racismo é do racista, e não do negro; a culpa pela homofobia é do homofóbico, e não do homossexual; a culpa da misoginia é do misógino, e não da mulher; a culpa do antissemitismo – e temos visto isso com toda força nas redes sociais, nos círculos sociais e até mesmo nos círculos políticos do Brasil – é do judeu, e não do antissemita.

Assim como a composição de toda a sociedade, os judeus também integram diferentes grupos sociais. Seja por suas características culturais, fenótipo, gênero, orientação sexual, condição econômica e tantos outros fatores, cada pessoa vivencia realidades e oportunidades diferentes. Ainda assim, judeus são classificados de forma pejorativa como brancos, ricos e invasores, sem qualquer respeito às questões que tornam cada indivíduo único.

Esses estereótipos nada mais são do que a expressão máxima de preconceitos enraizados na sociedade – muito antes do surgimento do nazismo – e que de tempos em tempos retorna a seu ápice, como no momento em que vivemos agora, em razão da guerra entre Israel e o Hamas.

Enquanto não for dado ao judeu o direito de viver com segurança na sociedade e de ser tratado conforme suas expectativas, o antissemitismo terá sido vitorioso e continuará permitindo o discurso (e crimes) de ódio e fazendo vítimas dentro de uma parcela da sociedade que, ainda que pequena, tem de conviver com insegurança, desrespeito e até medo.

Se este mal não for extirpado, ele continuará a ser alimentado na sociedade e poderá ressurgir com força maior contra qualquer um, em qualquer momento. Se há ódio na sociedade contra o judeu, esse ódio pode facilmente ser direcionado para outros grupos.

Enquanto todos não estiverem (e se sentirem) seguros, ninguém estará.

*

É DIRETOR DA FEDERAÇÃO ISRAELITA DE SÃO PAULO (FISESP)

Opinião por Dov Bigio

Diretor da Federação Israelita de São Paulo (Fisesp)

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