Opinião|Liberdade e desenvolvimento


O Brasil tem tudo para se tornar uma grande nação, mas, antes, precisa derrubar seus próprios muros. Porque ainda nos falta liberdade

Por Antonio José de Oliveira Costa

Vianna Moog, em sua obra-prima de 1954, Bandeirantes e Pioneiros, procurava explicar o subdesenvolvimento do Brasil fazendo um paralelo entre a formação dos Estados Unidos e a nossa. Os Estados Unidos seriam a nação mais poderosa do mundo porque foi fundada por pioneiros, que vieram da Europa para se fixar e trabalhar no novo mundo. Enquanto isso, nossos fundadores vieram para o Brasil em busca de fortuna, voltando para Portugal depois de atingido seu objetivo. Essa seria a lógica dos bandeirantes. Procurar ouro, enriquecer rápido. Eles construíram a maior nação unificada do Hemisfério Sul, mas essa construção teria sido apenas subproduto de suas expedições, de suas lutas, de sua coragem.

Essa tese foi muito popular na época, mas hoje não nos serve mais.

Tivemos, sim, os bandeirantes, que foram grandes conquistadores. Eles impediram o domínio da infantaria espanhola sobre o continente e criaram um país grande, central e dominante na América do Sul, enquanto as antigas colônias espanholas se fragmentaram em países periféricos.

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Temos extensão territorial de grande potência, população que se julga unificada, ausência de desertos, de terremotos, e até falamos português com sotaque próprio, que identifica e diferencia seus habitantes. O Brasil não cabe no rótulo América Latina. O Brasil é diferente, é outro tipo maior de país.

Hoje a tese de Vianna Moog precisa ser atualizada, porque temos tantos pioneiros quanto qualquer outro país novo do mundo. Será verdade? Se fosse vivo, ele logo nos perguntaria: E onde estão esses pioneiros? O que falta para caminharmos em direção ao desenvolvimento?

A primeira pergunta é fácil de responder. Os pioneiros estão em toda parte! Estão nos desempregados que iniciaram uma pequena empresa para sobreviver. Estão nos migrantes que levaram a agricultura empresarial aos confins de todo o País, tornando-o a maior potência emergente do mundo na produção de grãos. Estão nos empreendedores que criaram empresas capazes de rivalizar com as de melhor tecnologia do mundo desenvolvido.

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Se não falta gente habilitada ao crescimento, apesar de nossas deficiências educacionais, se não falta garra, não falta precisão (no sentido que essa palavra tem para Ariano Suassuna), o que falta, então?

Para tentarmos responder a essa segunda pergunta precisamos, antes, entender o que conseguiram fazer os nossos pioneiros num determinado ramo de atividade que nos tornou referência em todo o mundo.

No Brasil de Vianna Moog, em 1954, produzíamos algo em torno de 25 milhões de toneladas de grãos, só exportávamos café e importávamos até milho. Hoje produzimos 300 milhões de toneladas e caminhamos para superar os Estados Unidos como maior exportador de grãos do mundo, apesar das estradas esburacadas, dos portos deficientes, da falta de ferrovias, da falta de silos, da falta de tudo que o governo deveria prover.

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O que aconteceu de diferente ali, se sabemos que nosso PIB permanece estagnado? Ele teria caído nos últimos anos, não fosse o crescimento da agricultura. Teria acontecido conosco, em menor escala, o que aconteceu com a Argentina, que era um país rico no início do século passado e foi regredindo, assolada por ditaduras e pelo populismo peronista, até se tornar pobre. Como explicar o sucesso surpreendente de nossa agricultura empresarial neste mar de fracassos?

A resposta é a liberdade. A agricultura brasileira foi o único ramo da economia que viveu longe dos burocratas de Brasília e teve liberdade no Brasil. Ela nunca esteve enredada no cipoal retrógrado de normas, regulamentos, portarias, leis oportunistas, impostos escorchantes e processos judiciais bizantinos que sufocam os demais ramos de nossa economia.

A liberdade foi, nos Estados Unidos, e tem sido agora, no mundo, o motor do desenvolvimento.

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Isso ficou muito mais claro depois da queda do Muro de Berlim, em 1989. O crescimento econômico de vários países emergentes começou naquela época, quando eles entenderam o que realmente significava a queda do muro. Nossos políticos não entenderam.

Passaram-se 33 anos da queda do muro. Vimos como se tornaram ricos, desde então, aqueles países pequenos, ou superpovoados, ou emergentes maiores sem recursos naturais, que entenderam o que precisavam fazer.

Nossos políticos também viram, mas ainda não entenderam. Talvez se aferrem a preconceitos ideológicos do passado. Ignoram que o progresso não tem ideologia. Que ele não é de esquerda nem de direita. Que ele só ocorre quando existem condições propícias: equilíbrio fiscal, inflação controlada, políticas econômicas favoráveis ao investimento, eliminação de estatais ineficientes ou cabides de emprego. É preciso reformar e abrir o Estado. Essa receita veio de Berlim, quando a queda do muro assinalou o fim de uma era.

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O Brasil tem tudo para se tornar uma grande nação, mas, antes, precisa derrubar seus próprios muros. Porque ainda nos falta liberdade.

*

ADVOGADO PELA FACULDADE DO LARGO DE SÃO FRANCISCO (USP), É PÓS-GRADUADO EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS PELA FGV-SP

Vianna Moog, em sua obra-prima de 1954, Bandeirantes e Pioneiros, procurava explicar o subdesenvolvimento do Brasil fazendo um paralelo entre a formação dos Estados Unidos e a nossa. Os Estados Unidos seriam a nação mais poderosa do mundo porque foi fundada por pioneiros, que vieram da Europa para se fixar e trabalhar no novo mundo. Enquanto isso, nossos fundadores vieram para o Brasil em busca de fortuna, voltando para Portugal depois de atingido seu objetivo. Essa seria a lógica dos bandeirantes. Procurar ouro, enriquecer rápido. Eles construíram a maior nação unificada do Hemisfério Sul, mas essa construção teria sido apenas subproduto de suas expedições, de suas lutas, de sua coragem.

Essa tese foi muito popular na época, mas hoje não nos serve mais.

Tivemos, sim, os bandeirantes, que foram grandes conquistadores. Eles impediram o domínio da infantaria espanhola sobre o continente e criaram um país grande, central e dominante na América do Sul, enquanto as antigas colônias espanholas se fragmentaram em países periféricos.

Temos extensão territorial de grande potência, população que se julga unificada, ausência de desertos, de terremotos, e até falamos português com sotaque próprio, que identifica e diferencia seus habitantes. O Brasil não cabe no rótulo América Latina. O Brasil é diferente, é outro tipo maior de país.

Hoje a tese de Vianna Moog precisa ser atualizada, porque temos tantos pioneiros quanto qualquer outro país novo do mundo. Será verdade? Se fosse vivo, ele logo nos perguntaria: E onde estão esses pioneiros? O que falta para caminharmos em direção ao desenvolvimento?

A primeira pergunta é fácil de responder. Os pioneiros estão em toda parte! Estão nos desempregados que iniciaram uma pequena empresa para sobreviver. Estão nos migrantes que levaram a agricultura empresarial aos confins de todo o País, tornando-o a maior potência emergente do mundo na produção de grãos. Estão nos empreendedores que criaram empresas capazes de rivalizar com as de melhor tecnologia do mundo desenvolvido.

Se não falta gente habilitada ao crescimento, apesar de nossas deficiências educacionais, se não falta garra, não falta precisão (no sentido que essa palavra tem para Ariano Suassuna), o que falta, então?

Para tentarmos responder a essa segunda pergunta precisamos, antes, entender o que conseguiram fazer os nossos pioneiros num determinado ramo de atividade que nos tornou referência em todo o mundo.

No Brasil de Vianna Moog, em 1954, produzíamos algo em torno de 25 milhões de toneladas de grãos, só exportávamos café e importávamos até milho. Hoje produzimos 300 milhões de toneladas e caminhamos para superar os Estados Unidos como maior exportador de grãos do mundo, apesar das estradas esburacadas, dos portos deficientes, da falta de ferrovias, da falta de silos, da falta de tudo que o governo deveria prover.

O que aconteceu de diferente ali, se sabemos que nosso PIB permanece estagnado? Ele teria caído nos últimos anos, não fosse o crescimento da agricultura. Teria acontecido conosco, em menor escala, o que aconteceu com a Argentina, que era um país rico no início do século passado e foi regredindo, assolada por ditaduras e pelo populismo peronista, até se tornar pobre. Como explicar o sucesso surpreendente de nossa agricultura empresarial neste mar de fracassos?

A resposta é a liberdade. A agricultura brasileira foi o único ramo da economia que viveu longe dos burocratas de Brasília e teve liberdade no Brasil. Ela nunca esteve enredada no cipoal retrógrado de normas, regulamentos, portarias, leis oportunistas, impostos escorchantes e processos judiciais bizantinos que sufocam os demais ramos de nossa economia.

A liberdade foi, nos Estados Unidos, e tem sido agora, no mundo, o motor do desenvolvimento.

Isso ficou muito mais claro depois da queda do Muro de Berlim, em 1989. O crescimento econômico de vários países emergentes começou naquela época, quando eles entenderam o que realmente significava a queda do muro. Nossos políticos não entenderam.

Passaram-se 33 anos da queda do muro. Vimos como se tornaram ricos, desde então, aqueles países pequenos, ou superpovoados, ou emergentes maiores sem recursos naturais, que entenderam o que precisavam fazer.

Nossos políticos também viram, mas ainda não entenderam. Talvez se aferrem a preconceitos ideológicos do passado. Ignoram que o progresso não tem ideologia. Que ele não é de esquerda nem de direita. Que ele só ocorre quando existem condições propícias: equilíbrio fiscal, inflação controlada, políticas econômicas favoráveis ao investimento, eliminação de estatais ineficientes ou cabides de emprego. É preciso reformar e abrir o Estado. Essa receita veio de Berlim, quando a queda do muro assinalou o fim de uma era.

O Brasil tem tudo para se tornar uma grande nação, mas, antes, precisa derrubar seus próprios muros. Porque ainda nos falta liberdade.

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ADVOGADO PELA FACULDADE DO LARGO DE SÃO FRANCISCO (USP), É PÓS-GRADUADO EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS PELA FGV-SP

Vianna Moog, em sua obra-prima de 1954, Bandeirantes e Pioneiros, procurava explicar o subdesenvolvimento do Brasil fazendo um paralelo entre a formação dos Estados Unidos e a nossa. Os Estados Unidos seriam a nação mais poderosa do mundo porque foi fundada por pioneiros, que vieram da Europa para se fixar e trabalhar no novo mundo. Enquanto isso, nossos fundadores vieram para o Brasil em busca de fortuna, voltando para Portugal depois de atingido seu objetivo. Essa seria a lógica dos bandeirantes. Procurar ouro, enriquecer rápido. Eles construíram a maior nação unificada do Hemisfério Sul, mas essa construção teria sido apenas subproduto de suas expedições, de suas lutas, de sua coragem.

Essa tese foi muito popular na época, mas hoje não nos serve mais.

Tivemos, sim, os bandeirantes, que foram grandes conquistadores. Eles impediram o domínio da infantaria espanhola sobre o continente e criaram um país grande, central e dominante na América do Sul, enquanto as antigas colônias espanholas se fragmentaram em países periféricos.

Temos extensão territorial de grande potência, população que se julga unificada, ausência de desertos, de terremotos, e até falamos português com sotaque próprio, que identifica e diferencia seus habitantes. O Brasil não cabe no rótulo América Latina. O Brasil é diferente, é outro tipo maior de país.

Hoje a tese de Vianna Moog precisa ser atualizada, porque temos tantos pioneiros quanto qualquer outro país novo do mundo. Será verdade? Se fosse vivo, ele logo nos perguntaria: E onde estão esses pioneiros? O que falta para caminharmos em direção ao desenvolvimento?

A primeira pergunta é fácil de responder. Os pioneiros estão em toda parte! Estão nos desempregados que iniciaram uma pequena empresa para sobreviver. Estão nos migrantes que levaram a agricultura empresarial aos confins de todo o País, tornando-o a maior potência emergente do mundo na produção de grãos. Estão nos empreendedores que criaram empresas capazes de rivalizar com as de melhor tecnologia do mundo desenvolvido.

Se não falta gente habilitada ao crescimento, apesar de nossas deficiências educacionais, se não falta garra, não falta precisão (no sentido que essa palavra tem para Ariano Suassuna), o que falta, então?

Para tentarmos responder a essa segunda pergunta precisamos, antes, entender o que conseguiram fazer os nossos pioneiros num determinado ramo de atividade que nos tornou referência em todo o mundo.

No Brasil de Vianna Moog, em 1954, produzíamos algo em torno de 25 milhões de toneladas de grãos, só exportávamos café e importávamos até milho. Hoje produzimos 300 milhões de toneladas e caminhamos para superar os Estados Unidos como maior exportador de grãos do mundo, apesar das estradas esburacadas, dos portos deficientes, da falta de ferrovias, da falta de silos, da falta de tudo que o governo deveria prover.

O que aconteceu de diferente ali, se sabemos que nosso PIB permanece estagnado? Ele teria caído nos últimos anos, não fosse o crescimento da agricultura. Teria acontecido conosco, em menor escala, o que aconteceu com a Argentina, que era um país rico no início do século passado e foi regredindo, assolada por ditaduras e pelo populismo peronista, até se tornar pobre. Como explicar o sucesso surpreendente de nossa agricultura empresarial neste mar de fracassos?

A resposta é a liberdade. A agricultura brasileira foi o único ramo da economia que viveu longe dos burocratas de Brasília e teve liberdade no Brasil. Ela nunca esteve enredada no cipoal retrógrado de normas, regulamentos, portarias, leis oportunistas, impostos escorchantes e processos judiciais bizantinos que sufocam os demais ramos de nossa economia.

A liberdade foi, nos Estados Unidos, e tem sido agora, no mundo, o motor do desenvolvimento.

Isso ficou muito mais claro depois da queda do Muro de Berlim, em 1989. O crescimento econômico de vários países emergentes começou naquela época, quando eles entenderam o que realmente significava a queda do muro. Nossos políticos não entenderam.

Passaram-se 33 anos da queda do muro. Vimos como se tornaram ricos, desde então, aqueles países pequenos, ou superpovoados, ou emergentes maiores sem recursos naturais, que entenderam o que precisavam fazer.

Nossos políticos também viram, mas ainda não entenderam. Talvez se aferrem a preconceitos ideológicos do passado. Ignoram que o progresso não tem ideologia. Que ele não é de esquerda nem de direita. Que ele só ocorre quando existem condições propícias: equilíbrio fiscal, inflação controlada, políticas econômicas favoráveis ao investimento, eliminação de estatais ineficientes ou cabides de emprego. É preciso reformar e abrir o Estado. Essa receita veio de Berlim, quando a queda do muro assinalou o fim de uma era.

O Brasil tem tudo para se tornar uma grande nação, mas, antes, precisa derrubar seus próprios muros. Porque ainda nos falta liberdade.

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ADVOGADO PELA FACULDADE DO LARGO DE SÃO FRANCISCO (USP), É PÓS-GRADUADO EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS PELA FGV-SP

Vianna Moog, em sua obra-prima de 1954, Bandeirantes e Pioneiros, procurava explicar o subdesenvolvimento do Brasil fazendo um paralelo entre a formação dos Estados Unidos e a nossa. Os Estados Unidos seriam a nação mais poderosa do mundo porque foi fundada por pioneiros, que vieram da Europa para se fixar e trabalhar no novo mundo. Enquanto isso, nossos fundadores vieram para o Brasil em busca de fortuna, voltando para Portugal depois de atingido seu objetivo. Essa seria a lógica dos bandeirantes. Procurar ouro, enriquecer rápido. Eles construíram a maior nação unificada do Hemisfério Sul, mas essa construção teria sido apenas subproduto de suas expedições, de suas lutas, de sua coragem.

Essa tese foi muito popular na época, mas hoje não nos serve mais.

Tivemos, sim, os bandeirantes, que foram grandes conquistadores. Eles impediram o domínio da infantaria espanhola sobre o continente e criaram um país grande, central e dominante na América do Sul, enquanto as antigas colônias espanholas se fragmentaram em países periféricos.

Temos extensão territorial de grande potência, população que se julga unificada, ausência de desertos, de terremotos, e até falamos português com sotaque próprio, que identifica e diferencia seus habitantes. O Brasil não cabe no rótulo América Latina. O Brasil é diferente, é outro tipo maior de país.

Hoje a tese de Vianna Moog precisa ser atualizada, porque temos tantos pioneiros quanto qualquer outro país novo do mundo. Será verdade? Se fosse vivo, ele logo nos perguntaria: E onde estão esses pioneiros? O que falta para caminharmos em direção ao desenvolvimento?

A primeira pergunta é fácil de responder. Os pioneiros estão em toda parte! Estão nos desempregados que iniciaram uma pequena empresa para sobreviver. Estão nos migrantes que levaram a agricultura empresarial aos confins de todo o País, tornando-o a maior potência emergente do mundo na produção de grãos. Estão nos empreendedores que criaram empresas capazes de rivalizar com as de melhor tecnologia do mundo desenvolvido.

Se não falta gente habilitada ao crescimento, apesar de nossas deficiências educacionais, se não falta garra, não falta precisão (no sentido que essa palavra tem para Ariano Suassuna), o que falta, então?

Para tentarmos responder a essa segunda pergunta precisamos, antes, entender o que conseguiram fazer os nossos pioneiros num determinado ramo de atividade que nos tornou referência em todo o mundo.

No Brasil de Vianna Moog, em 1954, produzíamos algo em torno de 25 milhões de toneladas de grãos, só exportávamos café e importávamos até milho. Hoje produzimos 300 milhões de toneladas e caminhamos para superar os Estados Unidos como maior exportador de grãos do mundo, apesar das estradas esburacadas, dos portos deficientes, da falta de ferrovias, da falta de silos, da falta de tudo que o governo deveria prover.

O que aconteceu de diferente ali, se sabemos que nosso PIB permanece estagnado? Ele teria caído nos últimos anos, não fosse o crescimento da agricultura. Teria acontecido conosco, em menor escala, o que aconteceu com a Argentina, que era um país rico no início do século passado e foi regredindo, assolada por ditaduras e pelo populismo peronista, até se tornar pobre. Como explicar o sucesso surpreendente de nossa agricultura empresarial neste mar de fracassos?

A resposta é a liberdade. A agricultura brasileira foi o único ramo da economia que viveu longe dos burocratas de Brasília e teve liberdade no Brasil. Ela nunca esteve enredada no cipoal retrógrado de normas, regulamentos, portarias, leis oportunistas, impostos escorchantes e processos judiciais bizantinos que sufocam os demais ramos de nossa economia.

A liberdade foi, nos Estados Unidos, e tem sido agora, no mundo, o motor do desenvolvimento.

Isso ficou muito mais claro depois da queda do Muro de Berlim, em 1989. O crescimento econômico de vários países emergentes começou naquela época, quando eles entenderam o que realmente significava a queda do muro. Nossos políticos não entenderam.

Passaram-se 33 anos da queda do muro. Vimos como se tornaram ricos, desde então, aqueles países pequenos, ou superpovoados, ou emergentes maiores sem recursos naturais, que entenderam o que precisavam fazer.

Nossos políticos também viram, mas ainda não entenderam. Talvez se aferrem a preconceitos ideológicos do passado. Ignoram que o progresso não tem ideologia. Que ele não é de esquerda nem de direita. Que ele só ocorre quando existem condições propícias: equilíbrio fiscal, inflação controlada, políticas econômicas favoráveis ao investimento, eliminação de estatais ineficientes ou cabides de emprego. É preciso reformar e abrir o Estado. Essa receita veio de Berlim, quando a queda do muro assinalou o fim de uma era.

O Brasil tem tudo para se tornar uma grande nação, mas, antes, precisa derrubar seus próprios muros. Porque ainda nos falta liberdade.

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ADVOGADO PELA FACULDADE DO LARGO DE SÃO FRANCISCO (USP), É PÓS-GRADUADO EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS PELA FGV-SP

Vianna Moog, em sua obra-prima de 1954, Bandeirantes e Pioneiros, procurava explicar o subdesenvolvimento do Brasil fazendo um paralelo entre a formação dos Estados Unidos e a nossa. Os Estados Unidos seriam a nação mais poderosa do mundo porque foi fundada por pioneiros, que vieram da Europa para se fixar e trabalhar no novo mundo. Enquanto isso, nossos fundadores vieram para o Brasil em busca de fortuna, voltando para Portugal depois de atingido seu objetivo. Essa seria a lógica dos bandeirantes. Procurar ouro, enriquecer rápido. Eles construíram a maior nação unificada do Hemisfério Sul, mas essa construção teria sido apenas subproduto de suas expedições, de suas lutas, de sua coragem.

Essa tese foi muito popular na época, mas hoje não nos serve mais.

Tivemos, sim, os bandeirantes, que foram grandes conquistadores. Eles impediram o domínio da infantaria espanhola sobre o continente e criaram um país grande, central e dominante na América do Sul, enquanto as antigas colônias espanholas se fragmentaram em países periféricos.

Temos extensão territorial de grande potência, população que se julga unificada, ausência de desertos, de terremotos, e até falamos português com sotaque próprio, que identifica e diferencia seus habitantes. O Brasil não cabe no rótulo América Latina. O Brasil é diferente, é outro tipo maior de país.

Hoje a tese de Vianna Moog precisa ser atualizada, porque temos tantos pioneiros quanto qualquer outro país novo do mundo. Será verdade? Se fosse vivo, ele logo nos perguntaria: E onde estão esses pioneiros? O que falta para caminharmos em direção ao desenvolvimento?

A primeira pergunta é fácil de responder. Os pioneiros estão em toda parte! Estão nos desempregados que iniciaram uma pequena empresa para sobreviver. Estão nos migrantes que levaram a agricultura empresarial aos confins de todo o País, tornando-o a maior potência emergente do mundo na produção de grãos. Estão nos empreendedores que criaram empresas capazes de rivalizar com as de melhor tecnologia do mundo desenvolvido.

Se não falta gente habilitada ao crescimento, apesar de nossas deficiências educacionais, se não falta garra, não falta precisão (no sentido que essa palavra tem para Ariano Suassuna), o que falta, então?

Para tentarmos responder a essa segunda pergunta precisamos, antes, entender o que conseguiram fazer os nossos pioneiros num determinado ramo de atividade que nos tornou referência em todo o mundo.

No Brasil de Vianna Moog, em 1954, produzíamos algo em torno de 25 milhões de toneladas de grãos, só exportávamos café e importávamos até milho. Hoje produzimos 300 milhões de toneladas e caminhamos para superar os Estados Unidos como maior exportador de grãos do mundo, apesar das estradas esburacadas, dos portos deficientes, da falta de ferrovias, da falta de silos, da falta de tudo que o governo deveria prover.

O que aconteceu de diferente ali, se sabemos que nosso PIB permanece estagnado? Ele teria caído nos últimos anos, não fosse o crescimento da agricultura. Teria acontecido conosco, em menor escala, o que aconteceu com a Argentina, que era um país rico no início do século passado e foi regredindo, assolada por ditaduras e pelo populismo peronista, até se tornar pobre. Como explicar o sucesso surpreendente de nossa agricultura empresarial neste mar de fracassos?

A resposta é a liberdade. A agricultura brasileira foi o único ramo da economia que viveu longe dos burocratas de Brasília e teve liberdade no Brasil. Ela nunca esteve enredada no cipoal retrógrado de normas, regulamentos, portarias, leis oportunistas, impostos escorchantes e processos judiciais bizantinos que sufocam os demais ramos de nossa economia.

A liberdade foi, nos Estados Unidos, e tem sido agora, no mundo, o motor do desenvolvimento.

Isso ficou muito mais claro depois da queda do Muro de Berlim, em 1989. O crescimento econômico de vários países emergentes começou naquela época, quando eles entenderam o que realmente significava a queda do muro. Nossos políticos não entenderam.

Passaram-se 33 anos da queda do muro. Vimos como se tornaram ricos, desde então, aqueles países pequenos, ou superpovoados, ou emergentes maiores sem recursos naturais, que entenderam o que precisavam fazer.

Nossos políticos também viram, mas ainda não entenderam. Talvez se aferrem a preconceitos ideológicos do passado. Ignoram que o progresso não tem ideologia. Que ele não é de esquerda nem de direita. Que ele só ocorre quando existem condições propícias: equilíbrio fiscal, inflação controlada, políticas econômicas favoráveis ao investimento, eliminação de estatais ineficientes ou cabides de emprego. É preciso reformar e abrir o Estado. Essa receita veio de Berlim, quando a queda do muro assinalou o fim de uma era.

O Brasil tem tudo para se tornar uma grande nação, mas, antes, precisa derrubar seus próprios muros. Porque ainda nos falta liberdade.

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ADVOGADO PELA FACULDADE DO LARGO DE SÃO FRANCISCO (USP), É PÓS-GRADUADO EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS PELA FGV-SP

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