Opinião|Luzes de esperança judaica e cristã


Que a luz de Deus ilumine, traga alegria e paz a todos na celebração de Chanuká e do Natal de Jesus!

Por Ruben Sternschein e Dom Odilo P. Scherer

Neste ano, a celebração cristã do Natal de Jesus e a festa judaica de Chanucá ocorrem no mesmo dia. Ambas essas tradições religiosas apontam para a luz como símbolo de esperança e convocação a uma ação reparadora e libertadora.

Chanucá celebra a libertação dos judeus da opressão selêucida (século 2 AEC), que lhes proibia o livre exercício de sua tradição espiritual e cultural. Segundo historiadores da época, como Flávio Josefo, e as sagradas escrituras, como o livro Macabeus da Bíblia cristã e as da tradição apócrifa judaica, o império helenista tinha invadido Jerusalém, introduzindo no templo suas estátuas e impedindo o culto judaico e as práticas religiosas e culturais judaicas. Matityahu, da tribo dos sacerdotes, e seus cinco filhos partiram para a retomada da autodeterminação judaica. Seguidos por combatentes corajosos, eles reconquistaram Jerusalém e reabriram o templo para o livre exercício do culto judaico.

Segundo uma tradição talmúdica (século 3 DEC), eles encontraram azeite ritual para o acendimento do “fogo eterno” (ner tamid) suficiente apenas para um dia, e precisavam de sete dias para a fabricação de mais azeite. Entretanto, o azeite durou os oito dias. A partir daí ficou estabelecida a celebração de Chanucá, que significa reinauguração, por oito dias, nos quais se acendem oito velas: no primeiro dia, uma vela; no segundo dia, duas; e assim por diante. Uma vez acesas as velas, deposita-se o candelabro especial de oito braços mais um servidor (chanukia) na janela ou na entrada da casa, para divulgar o milagre da luz libertadora.

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O Natal é, certamente, a festa cristã de maior expressão na cultura dos povos marcados pelo cristianismo. Além das celebrações litúrgicas nas igrejas, são muitas as tradições populares natalinas, como o presépio, as cidades e árvores enfeitadas de luzes, a ceia e os encontros familiares e de amigos, a troca de presentes e de bons votos e as mais variadas expressões artísticas de grande beleza. A isso somam-se incontáveis iniciativas de solidariedade para levar alegria, conforto e amor aos pobres, enfermos e pessoas em situação de vulnerabilidade.

Para os cristãos, o centro do Natal é o nascimento de Jesus, reconhecido como filho Deus, nascido para o mundo pela Virgem Maria. Na sua pessoa, a luz de Deus brilhou para toda a humanidade, trazendo alegria e esperança. No nascimento de Jesus em Belém, na Judeia, no tempo do imperador romano César Augusto, uma grande luz envolveu o lugar e as pessoas que lá estavam.

O simbolismo da luz, contraposta às trevas, está presente em muitas tradições religiosas. Geralmente, a luz e a luminosidade são qualidades atribuídas a Deus. O apóstolo São João escreveu: “Deus é luz e nele não há treva alguma” (1 João 1,5). As criaturas participam, de alguma maneira, da luz divina quando são verazes e transparentes, belas, bondosas e sábias. Ao contrário, o demônio é relacionado com as trevas porque é falso, enganador e mau. Ele é o “príncipe das trevas”, avesso ao brilho da verdade e do bem.

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A luz desfaz as trevas e as coisas aparecem em sua verdadeira beleza e harmonia. A celebração do Natal é um convite a se deixar envolver pela luz de Deus e a viver como filhos da luz, abandonando as ações das trevas. Por isso a celebração do Natal questiona a guerra e toda forma de violência contra a pessoa. Os desejos de paz estão entre as manifestações mais comuns no Natal. Como é difícil abandonar a lógica do confronto, que dilacera os laços na família humana! A mensagem do Natal fala de fraternidade e união da comunidade humana numa grande família de irmãos, que se amam e vivem em paz.

No Natal deste ano, a Igreja Católica inicia mais um ano jubilar, em recordação aos 2025 anos do nascimento de Jesus. O tema do Jubileu é a esperança: somos “peregrinos de esperança”. Ultimamente, essa virtude anda meio esquecida, e talvez por isso haja tanta angústia, violência e odor de morte no mundo. Ter esperança nas próprias realizações é importante, mas a esperança humana não vai além das nossas capacidades. Precisamos de uma esperança maior, que nos faça ver para além dos nossos limites.

A celebração de Chanucá expressa a esperança de liberdade, que não se limita a esperar, mas assume a responsabilidade do esforço pessoal proativo. A luz que se acende dentro de casa é colocada na janela, com o intuito de compartilhá-la com quem quiser olhar para ela a acender a chama no seu interior.

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O Natal de Jesus trouxe luz de uma nova esperança para o mundo. Os cristãos creem que o próprio Deus estende a mão ao homem e ilumina seu caminho, mostrando-lhe um horizonte de superação e de realização plena do seu anseio mais profundo de vida, felicidade e paz. Os sentimentos bons e a vontade de viver em paz com todos, tão próprios deste tempo, são expressões dessa esperança maior do coração humano.

Desejamos, pois, que a luz de Deus ilumine, traga alegria e paz a todos na celebração de Chanuká e do Natal de Jesus!

*

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SÃO, RESPECTIVAMENTE, RABINO DA CONGREGAÇÃO ISRAELITA PAULISTA, REPRESENTANTE DA CONFEDERALÇAO ISRAELITA DO BRASIL (CONIB) PARA O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO; E CARDEAL-ARCEBISPO DE SÃO PAULO

Neste ano, a celebração cristã do Natal de Jesus e a festa judaica de Chanucá ocorrem no mesmo dia. Ambas essas tradições religiosas apontam para a luz como símbolo de esperança e convocação a uma ação reparadora e libertadora.

Chanucá celebra a libertação dos judeus da opressão selêucida (século 2 AEC), que lhes proibia o livre exercício de sua tradição espiritual e cultural. Segundo historiadores da época, como Flávio Josefo, e as sagradas escrituras, como o livro Macabeus da Bíblia cristã e as da tradição apócrifa judaica, o império helenista tinha invadido Jerusalém, introduzindo no templo suas estátuas e impedindo o culto judaico e as práticas religiosas e culturais judaicas. Matityahu, da tribo dos sacerdotes, e seus cinco filhos partiram para a retomada da autodeterminação judaica. Seguidos por combatentes corajosos, eles reconquistaram Jerusalém e reabriram o templo para o livre exercício do culto judaico.

Segundo uma tradição talmúdica (século 3 DEC), eles encontraram azeite ritual para o acendimento do “fogo eterno” (ner tamid) suficiente apenas para um dia, e precisavam de sete dias para a fabricação de mais azeite. Entretanto, o azeite durou os oito dias. A partir daí ficou estabelecida a celebração de Chanucá, que significa reinauguração, por oito dias, nos quais se acendem oito velas: no primeiro dia, uma vela; no segundo dia, duas; e assim por diante. Uma vez acesas as velas, deposita-se o candelabro especial de oito braços mais um servidor (chanukia) na janela ou na entrada da casa, para divulgar o milagre da luz libertadora.

O Natal é, certamente, a festa cristã de maior expressão na cultura dos povos marcados pelo cristianismo. Além das celebrações litúrgicas nas igrejas, são muitas as tradições populares natalinas, como o presépio, as cidades e árvores enfeitadas de luzes, a ceia e os encontros familiares e de amigos, a troca de presentes e de bons votos e as mais variadas expressões artísticas de grande beleza. A isso somam-se incontáveis iniciativas de solidariedade para levar alegria, conforto e amor aos pobres, enfermos e pessoas em situação de vulnerabilidade.

Para os cristãos, o centro do Natal é o nascimento de Jesus, reconhecido como filho Deus, nascido para o mundo pela Virgem Maria. Na sua pessoa, a luz de Deus brilhou para toda a humanidade, trazendo alegria e esperança. No nascimento de Jesus em Belém, na Judeia, no tempo do imperador romano César Augusto, uma grande luz envolveu o lugar e as pessoas que lá estavam.

O simbolismo da luz, contraposta às trevas, está presente em muitas tradições religiosas. Geralmente, a luz e a luminosidade são qualidades atribuídas a Deus. O apóstolo São João escreveu: “Deus é luz e nele não há treva alguma” (1 João 1,5). As criaturas participam, de alguma maneira, da luz divina quando são verazes e transparentes, belas, bondosas e sábias. Ao contrário, o demônio é relacionado com as trevas porque é falso, enganador e mau. Ele é o “príncipe das trevas”, avesso ao brilho da verdade e do bem.

A luz desfaz as trevas e as coisas aparecem em sua verdadeira beleza e harmonia. A celebração do Natal é um convite a se deixar envolver pela luz de Deus e a viver como filhos da luz, abandonando as ações das trevas. Por isso a celebração do Natal questiona a guerra e toda forma de violência contra a pessoa. Os desejos de paz estão entre as manifestações mais comuns no Natal. Como é difícil abandonar a lógica do confronto, que dilacera os laços na família humana! A mensagem do Natal fala de fraternidade e união da comunidade humana numa grande família de irmãos, que se amam e vivem em paz.

No Natal deste ano, a Igreja Católica inicia mais um ano jubilar, em recordação aos 2025 anos do nascimento de Jesus. O tema do Jubileu é a esperança: somos “peregrinos de esperança”. Ultimamente, essa virtude anda meio esquecida, e talvez por isso haja tanta angústia, violência e odor de morte no mundo. Ter esperança nas próprias realizações é importante, mas a esperança humana não vai além das nossas capacidades. Precisamos de uma esperança maior, que nos faça ver para além dos nossos limites.

A celebração de Chanucá expressa a esperança de liberdade, que não se limita a esperar, mas assume a responsabilidade do esforço pessoal proativo. A luz que se acende dentro de casa é colocada na janela, com o intuito de compartilhá-la com quem quiser olhar para ela a acender a chama no seu interior.

O Natal de Jesus trouxe luz de uma nova esperança para o mundo. Os cristãos creem que o próprio Deus estende a mão ao homem e ilumina seu caminho, mostrando-lhe um horizonte de superação e de realização plena do seu anseio mais profundo de vida, felicidade e paz. Os sentimentos bons e a vontade de viver em paz com todos, tão próprios deste tempo, são expressões dessa esperança maior do coração humano.

Desejamos, pois, que a luz de Deus ilumine, traga alegria e paz a todos na celebração de Chanuká e do Natal de Jesus!

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SÃO, RESPECTIVAMENTE, RABINO DA CONGREGAÇÃO ISRAELITA PAULISTA, REPRESENTANTE DA CONFEDERALÇAO ISRAELITA DO BRASIL (CONIB) PARA O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO; E CARDEAL-ARCEBISPO DE SÃO PAULO

Neste ano, a celebração cristã do Natal de Jesus e a festa judaica de Chanucá ocorrem no mesmo dia. Ambas essas tradições religiosas apontam para a luz como símbolo de esperança e convocação a uma ação reparadora e libertadora.

Chanucá celebra a libertação dos judeus da opressão selêucida (século 2 AEC), que lhes proibia o livre exercício de sua tradição espiritual e cultural. Segundo historiadores da época, como Flávio Josefo, e as sagradas escrituras, como o livro Macabeus da Bíblia cristã e as da tradição apócrifa judaica, o império helenista tinha invadido Jerusalém, introduzindo no templo suas estátuas e impedindo o culto judaico e as práticas religiosas e culturais judaicas. Matityahu, da tribo dos sacerdotes, e seus cinco filhos partiram para a retomada da autodeterminação judaica. Seguidos por combatentes corajosos, eles reconquistaram Jerusalém e reabriram o templo para o livre exercício do culto judaico.

Segundo uma tradição talmúdica (século 3 DEC), eles encontraram azeite ritual para o acendimento do “fogo eterno” (ner tamid) suficiente apenas para um dia, e precisavam de sete dias para a fabricação de mais azeite. Entretanto, o azeite durou os oito dias. A partir daí ficou estabelecida a celebração de Chanucá, que significa reinauguração, por oito dias, nos quais se acendem oito velas: no primeiro dia, uma vela; no segundo dia, duas; e assim por diante. Uma vez acesas as velas, deposita-se o candelabro especial de oito braços mais um servidor (chanukia) na janela ou na entrada da casa, para divulgar o milagre da luz libertadora.

O Natal é, certamente, a festa cristã de maior expressão na cultura dos povos marcados pelo cristianismo. Além das celebrações litúrgicas nas igrejas, são muitas as tradições populares natalinas, como o presépio, as cidades e árvores enfeitadas de luzes, a ceia e os encontros familiares e de amigos, a troca de presentes e de bons votos e as mais variadas expressões artísticas de grande beleza. A isso somam-se incontáveis iniciativas de solidariedade para levar alegria, conforto e amor aos pobres, enfermos e pessoas em situação de vulnerabilidade.

Para os cristãos, o centro do Natal é o nascimento de Jesus, reconhecido como filho Deus, nascido para o mundo pela Virgem Maria. Na sua pessoa, a luz de Deus brilhou para toda a humanidade, trazendo alegria e esperança. No nascimento de Jesus em Belém, na Judeia, no tempo do imperador romano César Augusto, uma grande luz envolveu o lugar e as pessoas que lá estavam.

O simbolismo da luz, contraposta às trevas, está presente em muitas tradições religiosas. Geralmente, a luz e a luminosidade são qualidades atribuídas a Deus. O apóstolo São João escreveu: “Deus é luz e nele não há treva alguma” (1 João 1,5). As criaturas participam, de alguma maneira, da luz divina quando são verazes e transparentes, belas, bondosas e sábias. Ao contrário, o demônio é relacionado com as trevas porque é falso, enganador e mau. Ele é o “príncipe das trevas”, avesso ao brilho da verdade e do bem.

A luz desfaz as trevas e as coisas aparecem em sua verdadeira beleza e harmonia. A celebração do Natal é um convite a se deixar envolver pela luz de Deus e a viver como filhos da luz, abandonando as ações das trevas. Por isso a celebração do Natal questiona a guerra e toda forma de violência contra a pessoa. Os desejos de paz estão entre as manifestações mais comuns no Natal. Como é difícil abandonar a lógica do confronto, que dilacera os laços na família humana! A mensagem do Natal fala de fraternidade e união da comunidade humana numa grande família de irmãos, que se amam e vivem em paz.

No Natal deste ano, a Igreja Católica inicia mais um ano jubilar, em recordação aos 2025 anos do nascimento de Jesus. O tema do Jubileu é a esperança: somos “peregrinos de esperança”. Ultimamente, essa virtude anda meio esquecida, e talvez por isso haja tanta angústia, violência e odor de morte no mundo. Ter esperança nas próprias realizações é importante, mas a esperança humana não vai além das nossas capacidades. Precisamos de uma esperança maior, que nos faça ver para além dos nossos limites.

A celebração de Chanucá expressa a esperança de liberdade, que não se limita a esperar, mas assume a responsabilidade do esforço pessoal proativo. A luz que se acende dentro de casa é colocada na janela, com o intuito de compartilhá-la com quem quiser olhar para ela a acender a chama no seu interior.

O Natal de Jesus trouxe luz de uma nova esperança para o mundo. Os cristãos creem que o próprio Deus estende a mão ao homem e ilumina seu caminho, mostrando-lhe um horizonte de superação e de realização plena do seu anseio mais profundo de vida, felicidade e paz. Os sentimentos bons e a vontade de viver em paz com todos, tão próprios deste tempo, são expressões dessa esperança maior do coração humano.

Desejamos, pois, que a luz de Deus ilumine, traga alegria e paz a todos na celebração de Chanuká e do Natal de Jesus!

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SÃO, RESPECTIVAMENTE, RABINO DA CONGREGAÇÃO ISRAELITA PAULISTA, REPRESENTANTE DA CONFEDERALÇAO ISRAELITA DO BRASIL (CONIB) PARA O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO; E CARDEAL-ARCEBISPO DE SÃO PAULO

Opinião por Ruben Sternschein

Rabino da Congregação Israelita Paulista e representante da Confederação Israelita do Brasil (CONIB) para o diálogo inter-religioso.

Dom Odilo P. Scherer

Cardeal-arcebispo de São Paulo

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