Opinião|Não podemos desmatar nem um metro a mais de Mata Atlântica em São Paulo


Precisamos pensar em uma cidade do futuro, e não em mais um projeto que enterra e queima seus resíduos, ao custo do corte de árvores e da drenagem urbana

Por Marcia Hirota e Monica Souza

“Viver em uma cidade como São Paulo, já bastante afetada pelas mudanças climáticas, exige de nós uma responsabilidade ainda maior em defender aquilo que ainda temos de natureza.”

A frase acima, precisa, mostra como a crise climática, de uma vez por todas, entrou no vocabulário das pessoas. Por motivos trágicos, infelizmente, mas com potencial de gerar resistência e mudanças.

A frase abre também um abaixo-assinado organizado por moradores de São Paulo contra uma proposta da Prefeitura, que pretende alterar o Plano Diretor para permitir o corte de 10 mil árvores em área remanescente da Mata Atlântica e construir um incinerador na região de São Mateus, na zona Leste. Projeto esse que tem sido conduzido a toque de caixa, sem o devido debate público a respeito dos impactos da obra, que não são poucos.

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O projeto prevê a destruição de uma área que abriga centenas de espécies nativas da Mata Atlântica e coloca em risco nascentes do Rio Aricanduva, essenciais para o abastecimento hídrico local.

Enviado pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB), o Projeto de Lei 799/2024 foi aprovado em primeira votação na Câmara e, se confirmado, altera o Plano Diretor para permitir a ampliação da Central de Tratamento Leste, onde já existe um aterro sanitário. A segunda votação deverá ocorrer nos próximos dias. Se alterado o zoneamento, abre-se a possibilidade de fazer no local aquilo que a Prefeitura chama de “ecoparque”, com o corte das árvores e a construção do incinerador, numa cidade que já sofre com inúmeros problemas urbanos, não investe na proteção das áreas verdes e que tem tratado a questão hídrica de maneira displicente – para dizer o mínimo.

Como os organizadores do abaixo-assinado afirmam, se essa destruição acontecer, a cidade perderá um importante patrimônio ambiental, liberando toneladas de carbono que hoje são sequestradas pelas árvores, o que agrava as mudanças climáticas e deixa as comunidades ainda mais vulneráveis. O incinerador proposto também poderá emitir gases tóxicos, prejudicando a saúde da população e desestimulando práticas sustentáveis, como reciclagem e compostagem.

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O projeto até prevê a compensação, indicando um novo plantio de mudas nativas, mas não esclarece que o terreno a ser desmatado já é uma área de recuperação, que serve como compensação pela licença de operação do Aterro São João.

A solução para a grande e crescente crise climática que vivemos, embora múltipla e complexa, passa obrigatoriamente pela priorização da agenda ambiental nas políticas municipais. A Mata Atlântica, embora tão devastada, fragmentada e, muitas vezes, invisível aos olhos urbanos, tem influência direta na qualidade de vida da população, e o bioma é responsável por fornecer serviços ecossistêmicos indispensáveis, como água limpa, ar de boa qualidade, regulação climática e solos férteis.

Precisamos pensar em uma São Paulo do futuro, uma cidade resíduo zero, que amplia a coleta seletiva e investe em soluções sustentáveis para destinar seus resíduos. E não em mais um projeto que enterra e queima seus resíduos, ao custo do corte de árvores e da drenagem urbana.

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Uma curiosidade é que a empresa que fez o estudo de viabilidade ambiental para a implementação do “ecoparque” da zona leste é a mesma que atuou no projeto do túnel da Sena Madureira, na Vila Mariana, zona sul da cidade, e tem provocado protestos e uma petição na Change.org com cerca de 30 mil assinaturas, inclusive pelo fato de promover o corte de mais de 170 árvores.

Cortar qualquer metro de Mata Atlântica, o bioma mais devastado do Brasil, deveria ser algo impensável, sobretudo numa cidade como São Paulo. Alternativas existem e a população está interessada em debatê-las para escolher a melhor opção para a cidade.

*

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SÃO, RESPECTIVAMENTE, PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA; E DIRETORA-EXECUTIVA DA CHANGE.ORG NO BRASIL

“Viver em uma cidade como São Paulo, já bastante afetada pelas mudanças climáticas, exige de nós uma responsabilidade ainda maior em defender aquilo que ainda temos de natureza.”

A frase acima, precisa, mostra como a crise climática, de uma vez por todas, entrou no vocabulário das pessoas. Por motivos trágicos, infelizmente, mas com potencial de gerar resistência e mudanças.

A frase abre também um abaixo-assinado organizado por moradores de São Paulo contra uma proposta da Prefeitura, que pretende alterar o Plano Diretor para permitir o corte de 10 mil árvores em área remanescente da Mata Atlântica e construir um incinerador na região de São Mateus, na zona Leste. Projeto esse que tem sido conduzido a toque de caixa, sem o devido debate público a respeito dos impactos da obra, que não são poucos.

O projeto prevê a destruição de uma área que abriga centenas de espécies nativas da Mata Atlântica e coloca em risco nascentes do Rio Aricanduva, essenciais para o abastecimento hídrico local.

Enviado pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB), o Projeto de Lei 799/2024 foi aprovado em primeira votação na Câmara e, se confirmado, altera o Plano Diretor para permitir a ampliação da Central de Tratamento Leste, onde já existe um aterro sanitário. A segunda votação deverá ocorrer nos próximos dias. Se alterado o zoneamento, abre-se a possibilidade de fazer no local aquilo que a Prefeitura chama de “ecoparque”, com o corte das árvores e a construção do incinerador, numa cidade que já sofre com inúmeros problemas urbanos, não investe na proteção das áreas verdes e que tem tratado a questão hídrica de maneira displicente – para dizer o mínimo.

Como os organizadores do abaixo-assinado afirmam, se essa destruição acontecer, a cidade perderá um importante patrimônio ambiental, liberando toneladas de carbono que hoje são sequestradas pelas árvores, o que agrava as mudanças climáticas e deixa as comunidades ainda mais vulneráveis. O incinerador proposto também poderá emitir gases tóxicos, prejudicando a saúde da população e desestimulando práticas sustentáveis, como reciclagem e compostagem.

O projeto até prevê a compensação, indicando um novo plantio de mudas nativas, mas não esclarece que o terreno a ser desmatado já é uma área de recuperação, que serve como compensação pela licença de operação do Aterro São João.

A solução para a grande e crescente crise climática que vivemos, embora múltipla e complexa, passa obrigatoriamente pela priorização da agenda ambiental nas políticas municipais. A Mata Atlântica, embora tão devastada, fragmentada e, muitas vezes, invisível aos olhos urbanos, tem influência direta na qualidade de vida da população, e o bioma é responsável por fornecer serviços ecossistêmicos indispensáveis, como água limpa, ar de boa qualidade, regulação climática e solos férteis.

Precisamos pensar em uma São Paulo do futuro, uma cidade resíduo zero, que amplia a coleta seletiva e investe em soluções sustentáveis para destinar seus resíduos. E não em mais um projeto que enterra e queima seus resíduos, ao custo do corte de árvores e da drenagem urbana.

Uma curiosidade é que a empresa que fez o estudo de viabilidade ambiental para a implementação do “ecoparque” da zona leste é a mesma que atuou no projeto do túnel da Sena Madureira, na Vila Mariana, zona sul da cidade, e tem provocado protestos e uma petição na Change.org com cerca de 30 mil assinaturas, inclusive pelo fato de promover o corte de mais de 170 árvores.

Cortar qualquer metro de Mata Atlântica, o bioma mais devastado do Brasil, deveria ser algo impensável, sobretudo numa cidade como São Paulo. Alternativas existem e a população está interessada em debatê-las para escolher a melhor opção para a cidade.

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SÃO, RESPECTIVAMENTE, PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA; E DIRETORA-EXECUTIVA DA CHANGE.ORG NO BRASIL

“Viver em uma cidade como São Paulo, já bastante afetada pelas mudanças climáticas, exige de nós uma responsabilidade ainda maior em defender aquilo que ainda temos de natureza.”

A frase acima, precisa, mostra como a crise climática, de uma vez por todas, entrou no vocabulário das pessoas. Por motivos trágicos, infelizmente, mas com potencial de gerar resistência e mudanças.

A frase abre também um abaixo-assinado organizado por moradores de São Paulo contra uma proposta da Prefeitura, que pretende alterar o Plano Diretor para permitir o corte de 10 mil árvores em área remanescente da Mata Atlântica e construir um incinerador na região de São Mateus, na zona Leste. Projeto esse que tem sido conduzido a toque de caixa, sem o devido debate público a respeito dos impactos da obra, que não são poucos.

O projeto prevê a destruição de uma área que abriga centenas de espécies nativas da Mata Atlântica e coloca em risco nascentes do Rio Aricanduva, essenciais para o abastecimento hídrico local.

Enviado pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB), o Projeto de Lei 799/2024 foi aprovado em primeira votação na Câmara e, se confirmado, altera o Plano Diretor para permitir a ampliação da Central de Tratamento Leste, onde já existe um aterro sanitário. A segunda votação deverá ocorrer nos próximos dias. Se alterado o zoneamento, abre-se a possibilidade de fazer no local aquilo que a Prefeitura chama de “ecoparque”, com o corte das árvores e a construção do incinerador, numa cidade que já sofre com inúmeros problemas urbanos, não investe na proteção das áreas verdes e que tem tratado a questão hídrica de maneira displicente – para dizer o mínimo.

Como os organizadores do abaixo-assinado afirmam, se essa destruição acontecer, a cidade perderá um importante patrimônio ambiental, liberando toneladas de carbono que hoje são sequestradas pelas árvores, o que agrava as mudanças climáticas e deixa as comunidades ainda mais vulneráveis. O incinerador proposto também poderá emitir gases tóxicos, prejudicando a saúde da população e desestimulando práticas sustentáveis, como reciclagem e compostagem.

O projeto até prevê a compensação, indicando um novo plantio de mudas nativas, mas não esclarece que o terreno a ser desmatado já é uma área de recuperação, que serve como compensação pela licença de operação do Aterro São João.

A solução para a grande e crescente crise climática que vivemos, embora múltipla e complexa, passa obrigatoriamente pela priorização da agenda ambiental nas políticas municipais. A Mata Atlântica, embora tão devastada, fragmentada e, muitas vezes, invisível aos olhos urbanos, tem influência direta na qualidade de vida da população, e o bioma é responsável por fornecer serviços ecossistêmicos indispensáveis, como água limpa, ar de boa qualidade, regulação climática e solos férteis.

Precisamos pensar em uma São Paulo do futuro, uma cidade resíduo zero, que amplia a coleta seletiva e investe em soluções sustentáveis para destinar seus resíduos. E não em mais um projeto que enterra e queima seus resíduos, ao custo do corte de árvores e da drenagem urbana.

Uma curiosidade é que a empresa que fez o estudo de viabilidade ambiental para a implementação do “ecoparque” da zona leste é a mesma que atuou no projeto do túnel da Sena Madureira, na Vila Mariana, zona sul da cidade, e tem provocado protestos e uma petição na Change.org com cerca de 30 mil assinaturas, inclusive pelo fato de promover o corte de mais de 170 árvores.

Cortar qualquer metro de Mata Atlântica, o bioma mais devastado do Brasil, deveria ser algo impensável, sobretudo numa cidade como São Paulo. Alternativas existem e a população está interessada em debatê-las para escolher a melhor opção para a cidade.

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SÃO, RESPECTIVAMENTE, PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA; E DIRETORA-EXECUTIVA DA CHANGE.ORG NO BRASIL

Opinião por Marcia Hirota

É presidente da Fundação SOS Mata Atlântica

Monica Souza

É diretora-executiva da Change.org no Brasil

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