Opinião|O Brasil precisa conhecer e enaltecer as estrelas da ciência


País está entre os que mais produzem ciência em astronomia, com 617 estudos publicados em 2023 em revistas de alto impacto

Por Cristina Chiappini, Jorge Melendez e Paula Rodrigues Teixeira Coelho

No Brasil se formou uma das mais brilhantes estrelas da astronomia mundial. Beatriz Barbuy, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP). Ela ocupou a vice-presidência da União Astronômica Internacional (IAU) e recebeu o Prêmio L’Oréal-Unesco por seu trabalho sobre a vida das estrelas, desde os primórdios do universo até os dias atuais.

Em 1990, o telescópio espacial Hubble possibilitou enxergarmos o universo com uma nitidez sem precedentes. As nebulosas passaram a ter seus segredos desvendados, revelando como as estrelas se formam e morrem. A professora Beatriz, junto com o professor Eduardo Bica, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), teve a honra de ter um projeto aprovado logo no início do Hubble. Aproveitando a nitidez ímpar, desvendaram as idades de aglomerados de estrelas do bojo de nossa galáxia e mostraram que eles são antigos, entre as primeiras estruturas formadas na Via Láctea. Nessa gloriosa década, tivemos também grandes contribuições por observatórios no solo, como a descoberta da energia escura e de planetas fora do Sistema Solar.

Apenas um ano depois do lançamento do Hubble, Beatriz organizava em Angra dos Reis um Simpósio da IAU, reunindo a comunidade mundial de astronomia para analisar as populações de estrelas da Via Láctea e outras galáxias. Três décadas depois, novembro de 2024 ficou marcado como o mês de um novo encontro sobre o tema em Paraty, no Rio de Janeiro.

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O evento, organizado pelo Departamento de Astronomia do IAG-USP, o Laboratório Nacional de Astrofísica e o Observatório Nacional, reuniu temas que vão desde a origem dos elementos químicos até a evolução de galáxias. Em discussão, o que avançou nestas três décadas sobre populações estelares, a construção de uma imagem holística da formação da Via Láctea e futuros instrumentos. Além disso, o reconhecimento mundial à professora Beatriz, homenageada pelo conhecimento que ela distribuiu ao longo de sua jornada.

No bojo de suas contribuições, a mais recente foi a análise química de 58 estrelas formadas na região esferoidal central da Via Láctea, trazendo importantes informações sobre a origem dessa região. Ela também teve participação na criação do maior mapa infravermelho da Via Láctea, publicado em setembro de 2024. Esse mapa permitirá explorar a estrutura galáctica, populações estelares, estrelas variáveis, aglomerados estelares de diversas idades, e ajudar em estudos de astrofísica estelar, exoplanetas e galáxias.

A contribuição do Brasil para a astronomia vai de Beatriz e além. Usando como exemplo o estudo que mapeou a galáxia, ele reuniu 146 cientistas de 14 países, sendo o autor principal o brasileiro Roberto Saito, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O Brasil está entre os países que mais produzem ciência em astronomia, com 617 estudos publicados em 2023 em revistas de alto impacto. É a segunda colocação entre os países da América Latina, atrás apenas do Chile, que tem no Atacama renomados observatórios internacionais, como o Observatório Europeu do Sul (ESO).

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Ao longo das últimas três décadas, observamos uma gama de transformações, que aqui vamos dividir em tecnologia observacional, big data e teoria. No avanço observacional, de finais dos anos 1990 à década de 2000, se consolidou o espectrógrafo Echelle, capaz de observar todo o espectro do azul ao vermelho em alta resolução espectral. Em particular, o espectrógrafo Uves no telescópio VLT, do ESO, teve um impacto enorme no estudo da composição química das estrelas, com importantes contribuições pela professora Beatriz. Também começaram a aparecer instrumentos alimentados via fibra óptica, o que permitiu instrumentos muito estáveis, como por exemplo o High Accuracy Radial Velocity Planet Searcher (Harps) do ESO, que revolucionou a detecção de exoplanetas. Ambos, Uves e Harps, significaram uma quebra de paradigma, por fornecer dados já prontos para análise, poupando os astrônomos do lento e laborioso processo de redução de dados. Isso acelerou a velocidade com que a comunidade foi capaz de estudar e interpretar novos dados. Na esteira disso, na década de 2010 houve importantes levantamentos de espectroscopia de alta resolução de muitos objetos simultaneamente, como o Apogee no infravermelho.

Entre 1998 e 2009, a astronomia entrou na era do big data, com o levantamento de dados Sloan Digital Sky Survey (SDSS). Desde 2013, o satélite Gaia vem revolucionando a compreensão das populações estelares ao fornecer dados astrométricos precisos para mais de mil milhões de estrelas na galáxia. Além disso, a aprendizagem automática e a inteligência artificial são cada vez mais utilizadas para processar e analisar dados astronómicos, melhorando a nossa capacidade de identificar padrões e fazer descobertas a partir de conjuntos de dados complexos.

Na teoria, na década 1980 prevaleciam as discussões sobre a primeira geração de estrelas. Passadas as décadas seguintes, avançamos no entendimento do que as galáxias têm a nos dizer, por cada uma de suas populações estelares. Para prosseguir, precisamos investir em pesquisa científica, além de reconhecer e enaltecer as nossas estrelas, como a professora Beatriz Barbuy.

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SÃO, RESPECTIVAMENTE, PESQUISADORA DO LEIBNIZ INSTITUTE FOR ASTROPHYSICS POTSDAM, DA ALEMANHA; PROFESSOR TITULAR DO DEPARTAMENTO DE ASTRONOMIA DO INSTITUTO DE ASTRONOMIA, GEOFÍSICA E CIÊNCIAS ATMOSFÉRICAS DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (IAG-USP); E PROFESSORA ASSOCIADA DO IAG-USP

No Brasil se formou uma das mais brilhantes estrelas da astronomia mundial. Beatriz Barbuy, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP). Ela ocupou a vice-presidência da União Astronômica Internacional (IAU) e recebeu o Prêmio L’Oréal-Unesco por seu trabalho sobre a vida das estrelas, desde os primórdios do universo até os dias atuais.

Em 1990, o telescópio espacial Hubble possibilitou enxergarmos o universo com uma nitidez sem precedentes. As nebulosas passaram a ter seus segredos desvendados, revelando como as estrelas se formam e morrem. A professora Beatriz, junto com o professor Eduardo Bica, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), teve a honra de ter um projeto aprovado logo no início do Hubble. Aproveitando a nitidez ímpar, desvendaram as idades de aglomerados de estrelas do bojo de nossa galáxia e mostraram que eles são antigos, entre as primeiras estruturas formadas na Via Láctea. Nessa gloriosa década, tivemos também grandes contribuições por observatórios no solo, como a descoberta da energia escura e de planetas fora do Sistema Solar.

Apenas um ano depois do lançamento do Hubble, Beatriz organizava em Angra dos Reis um Simpósio da IAU, reunindo a comunidade mundial de astronomia para analisar as populações de estrelas da Via Láctea e outras galáxias. Três décadas depois, novembro de 2024 ficou marcado como o mês de um novo encontro sobre o tema em Paraty, no Rio de Janeiro.

O evento, organizado pelo Departamento de Astronomia do IAG-USP, o Laboratório Nacional de Astrofísica e o Observatório Nacional, reuniu temas que vão desde a origem dos elementos químicos até a evolução de galáxias. Em discussão, o que avançou nestas três décadas sobre populações estelares, a construção de uma imagem holística da formação da Via Láctea e futuros instrumentos. Além disso, o reconhecimento mundial à professora Beatriz, homenageada pelo conhecimento que ela distribuiu ao longo de sua jornada.

No bojo de suas contribuições, a mais recente foi a análise química de 58 estrelas formadas na região esferoidal central da Via Láctea, trazendo importantes informações sobre a origem dessa região. Ela também teve participação na criação do maior mapa infravermelho da Via Láctea, publicado em setembro de 2024. Esse mapa permitirá explorar a estrutura galáctica, populações estelares, estrelas variáveis, aglomerados estelares de diversas idades, e ajudar em estudos de astrofísica estelar, exoplanetas e galáxias.

A contribuição do Brasil para a astronomia vai de Beatriz e além. Usando como exemplo o estudo que mapeou a galáxia, ele reuniu 146 cientistas de 14 países, sendo o autor principal o brasileiro Roberto Saito, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O Brasil está entre os países que mais produzem ciência em astronomia, com 617 estudos publicados em 2023 em revistas de alto impacto. É a segunda colocação entre os países da América Latina, atrás apenas do Chile, que tem no Atacama renomados observatórios internacionais, como o Observatório Europeu do Sul (ESO).

Ao longo das últimas três décadas, observamos uma gama de transformações, que aqui vamos dividir em tecnologia observacional, big data e teoria. No avanço observacional, de finais dos anos 1990 à década de 2000, se consolidou o espectrógrafo Echelle, capaz de observar todo o espectro do azul ao vermelho em alta resolução espectral. Em particular, o espectrógrafo Uves no telescópio VLT, do ESO, teve um impacto enorme no estudo da composição química das estrelas, com importantes contribuições pela professora Beatriz. Também começaram a aparecer instrumentos alimentados via fibra óptica, o que permitiu instrumentos muito estáveis, como por exemplo o High Accuracy Radial Velocity Planet Searcher (Harps) do ESO, que revolucionou a detecção de exoplanetas. Ambos, Uves e Harps, significaram uma quebra de paradigma, por fornecer dados já prontos para análise, poupando os astrônomos do lento e laborioso processo de redução de dados. Isso acelerou a velocidade com que a comunidade foi capaz de estudar e interpretar novos dados. Na esteira disso, na década de 2010 houve importantes levantamentos de espectroscopia de alta resolução de muitos objetos simultaneamente, como o Apogee no infravermelho.

Entre 1998 e 2009, a astronomia entrou na era do big data, com o levantamento de dados Sloan Digital Sky Survey (SDSS). Desde 2013, o satélite Gaia vem revolucionando a compreensão das populações estelares ao fornecer dados astrométricos precisos para mais de mil milhões de estrelas na galáxia. Além disso, a aprendizagem automática e a inteligência artificial são cada vez mais utilizadas para processar e analisar dados astronómicos, melhorando a nossa capacidade de identificar padrões e fazer descobertas a partir de conjuntos de dados complexos.

Na teoria, na década 1980 prevaleciam as discussões sobre a primeira geração de estrelas. Passadas as décadas seguintes, avançamos no entendimento do que as galáxias têm a nos dizer, por cada uma de suas populações estelares. Para prosseguir, precisamos investir em pesquisa científica, além de reconhecer e enaltecer as nossas estrelas, como a professora Beatriz Barbuy.

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SÃO, RESPECTIVAMENTE, PESQUISADORA DO LEIBNIZ INSTITUTE FOR ASTROPHYSICS POTSDAM, DA ALEMANHA; PROFESSOR TITULAR DO DEPARTAMENTO DE ASTRONOMIA DO INSTITUTO DE ASTRONOMIA, GEOFÍSICA E CIÊNCIAS ATMOSFÉRICAS DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (IAG-USP); E PROFESSORA ASSOCIADA DO IAG-USP

No Brasil se formou uma das mais brilhantes estrelas da astronomia mundial. Beatriz Barbuy, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP). Ela ocupou a vice-presidência da União Astronômica Internacional (IAU) e recebeu o Prêmio L’Oréal-Unesco por seu trabalho sobre a vida das estrelas, desde os primórdios do universo até os dias atuais.

Em 1990, o telescópio espacial Hubble possibilitou enxergarmos o universo com uma nitidez sem precedentes. As nebulosas passaram a ter seus segredos desvendados, revelando como as estrelas se formam e morrem. A professora Beatriz, junto com o professor Eduardo Bica, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), teve a honra de ter um projeto aprovado logo no início do Hubble. Aproveitando a nitidez ímpar, desvendaram as idades de aglomerados de estrelas do bojo de nossa galáxia e mostraram que eles são antigos, entre as primeiras estruturas formadas na Via Láctea. Nessa gloriosa década, tivemos também grandes contribuições por observatórios no solo, como a descoberta da energia escura e de planetas fora do Sistema Solar.

Apenas um ano depois do lançamento do Hubble, Beatriz organizava em Angra dos Reis um Simpósio da IAU, reunindo a comunidade mundial de astronomia para analisar as populações de estrelas da Via Láctea e outras galáxias. Três décadas depois, novembro de 2024 ficou marcado como o mês de um novo encontro sobre o tema em Paraty, no Rio de Janeiro.

O evento, organizado pelo Departamento de Astronomia do IAG-USP, o Laboratório Nacional de Astrofísica e o Observatório Nacional, reuniu temas que vão desde a origem dos elementos químicos até a evolução de galáxias. Em discussão, o que avançou nestas três décadas sobre populações estelares, a construção de uma imagem holística da formação da Via Láctea e futuros instrumentos. Além disso, o reconhecimento mundial à professora Beatriz, homenageada pelo conhecimento que ela distribuiu ao longo de sua jornada.

No bojo de suas contribuições, a mais recente foi a análise química de 58 estrelas formadas na região esferoidal central da Via Láctea, trazendo importantes informações sobre a origem dessa região. Ela também teve participação na criação do maior mapa infravermelho da Via Láctea, publicado em setembro de 2024. Esse mapa permitirá explorar a estrutura galáctica, populações estelares, estrelas variáveis, aglomerados estelares de diversas idades, e ajudar em estudos de astrofísica estelar, exoplanetas e galáxias.

A contribuição do Brasil para a astronomia vai de Beatriz e além. Usando como exemplo o estudo que mapeou a galáxia, ele reuniu 146 cientistas de 14 países, sendo o autor principal o brasileiro Roberto Saito, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O Brasil está entre os países que mais produzem ciência em astronomia, com 617 estudos publicados em 2023 em revistas de alto impacto. É a segunda colocação entre os países da América Latina, atrás apenas do Chile, que tem no Atacama renomados observatórios internacionais, como o Observatório Europeu do Sul (ESO).

Ao longo das últimas três décadas, observamos uma gama de transformações, que aqui vamos dividir em tecnologia observacional, big data e teoria. No avanço observacional, de finais dos anos 1990 à década de 2000, se consolidou o espectrógrafo Echelle, capaz de observar todo o espectro do azul ao vermelho em alta resolução espectral. Em particular, o espectrógrafo Uves no telescópio VLT, do ESO, teve um impacto enorme no estudo da composição química das estrelas, com importantes contribuições pela professora Beatriz. Também começaram a aparecer instrumentos alimentados via fibra óptica, o que permitiu instrumentos muito estáveis, como por exemplo o High Accuracy Radial Velocity Planet Searcher (Harps) do ESO, que revolucionou a detecção de exoplanetas. Ambos, Uves e Harps, significaram uma quebra de paradigma, por fornecer dados já prontos para análise, poupando os astrônomos do lento e laborioso processo de redução de dados. Isso acelerou a velocidade com que a comunidade foi capaz de estudar e interpretar novos dados. Na esteira disso, na década de 2010 houve importantes levantamentos de espectroscopia de alta resolução de muitos objetos simultaneamente, como o Apogee no infravermelho.

Entre 1998 e 2009, a astronomia entrou na era do big data, com o levantamento de dados Sloan Digital Sky Survey (SDSS). Desde 2013, o satélite Gaia vem revolucionando a compreensão das populações estelares ao fornecer dados astrométricos precisos para mais de mil milhões de estrelas na galáxia. Além disso, a aprendizagem automática e a inteligência artificial são cada vez mais utilizadas para processar e analisar dados astronómicos, melhorando a nossa capacidade de identificar padrões e fazer descobertas a partir de conjuntos de dados complexos.

Na teoria, na década 1980 prevaleciam as discussões sobre a primeira geração de estrelas. Passadas as décadas seguintes, avançamos no entendimento do que as galáxias têm a nos dizer, por cada uma de suas populações estelares. Para prosseguir, precisamos investir em pesquisa científica, além de reconhecer e enaltecer as nossas estrelas, como a professora Beatriz Barbuy.

*

SÃO, RESPECTIVAMENTE, PESQUISADORA DO LEIBNIZ INSTITUTE FOR ASTROPHYSICS POTSDAM, DA ALEMANHA; PROFESSOR TITULAR DO DEPARTAMENTO DE ASTRONOMIA DO INSTITUTO DE ASTRONOMIA, GEOFÍSICA E CIÊNCIAS ATMOSFÉRICAS DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (IAG-USP); E PROFESSORA ASSOCIADA DO IAG-USP

Opinião por Cristina Chiappini

É pesquisadora do Leibniz Institute for Astrophysics Potsdam, da Alemanha

Jorge Melendez

É professor titular do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP)

Paula Rodrigues Teixeira Coelho

É professora associada do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP)

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