Opinião|O fim da banalidade do mal de Sinwar


A morte do líder do Hamas é um evento histórico cujas consequências devem guiar nossos próximos passos

Por Revital Poleg

A expressão “banalidade do mal” foi cunhada por Hannah Arendt em seu livro sobre o julgamento de Adolf Eichmann, que ela cobriu em Jerusalém, em 1961. O termo foi criado para descrever o abismo moral entre a figura aparentemente comum e medíocre de Eichmann – tal como ele tentou se apresentar – e as atrocidades que ele perpetrou. A combinação das palavras “banalidade” e “mal”, que juntas parecem formar um paradoxo, referia-se a Eichmann como um homem “comum”, mas que escolheu executar atos de maldade em uma escala histórica.

Pulando para os dias de hoje, podemos ver um certo eco da “banalidade do mal” também no caso da morte de Yahya Sinwar. Enquanto Eichmann alegava que suas motivações eram “banais”, ou seja, motivações de obediência e conformidade, que o levaram a ser um dos principais executores do Holocausto, as motivações de Sinwar estavam longe de serem banais desde o princípio.

Sinwar, profundamente impulsionado por uma ideologia jihadista extrema e por um ódio visceral contra Israel, agia movido por uma fé messiânica e uma brutalidade extrema, com o objetivo de apagar Israel da face da Terra. Embora Israel buscasse eliminá-lo e tenha declarado isso abertamente com o início da guerra (um objetivo que já esteve na agenda várias vezes no passado), o fim de Sinwar foi, em muitos aspectos, banal, acidental e até patético.

continua após a publicidade

O líder do grupo terrorista Hamas, que planejou cuidadosamente o ataque do 7 de Outubro, ameaçou a existência de Israel e mudou seu curso histórico para sempre, foi, no fim das contas, morto de forma acidental por soldados de baixa patente em uma missão de patrulha de rotina, sem que ele fosse um alvo específico naquele momento e sem que eles soubessem, a princípio, quem ele era.

A morte de Sinwar é um marco significativo e transformador. Esse é um evento histórico cujas consequências devem ser imediatamente examinadas e devem guiar nossos próximos passos. O mundo sem Sinwar é sem dúvida um mundo melhor, assim como aconteceu após a eliminação de Hassan Nasrallah e outros líderes-chave Hezbollah, quando figuras que por anos ameaçaram a segurança de Israel desapareceram do cenário. No entanto, a ameaça ainda é extremamente significativa, assim como a incerteza sobre as direções em que ela pode evoluir.

Ilude-se quem acredita que a morte de Sinwar seja motivo de celebração. Acredito que estão equivocados. Como diz o livro de Provérbios: “Não se alegre quando seu inimigo cair”. A guerra ainda não acabou, e há um longo caminho a percorrer, repleto de desafios – seja aqui dentro de Israel ou em cada uma das outras sete frentes, com ênfase no Irã.

continua após a publicidade

O pior de tudo é que 101 reféns ainda estão presos nos túneis do Hamas, seu destino é desconhecido, e sua libertação ainda não parece estar à vista. Só nos alegraremos verdadeiramente quando todos estiverem de volta em casa. Até lá, devemos manter a humildade em qualquer sentimento de satisfação, que pode nos levar a uma falsa sensação de superioridade desnecessária e até perigosa, e criar uma imagem equivocada e inadequada de uma vitória enganosa e ilusória que, na verdade, não aconteceu.

A grande maioria da população israelense vê a devolução dos reféns como o objetivo mais importante desta guerra. A eliminação de Yahya Sinwar cria para Israel uma oportunidade única de liderar um processo que traga a libertação de todos os reféns – vivos e mortos – em troca do fim da guerra em Gaza.

Uma proposta de acordo desse tipo precisa ser anunciada agora, por parte do governo de Israel, enquanto “o ferro ainda está quente” e antes que os EUA entrem no período nebuloso das eleições.

continua após a publicidade

Em sua declaração após a eliminação de Sinwar, Benjamin Netanyahu se dirigiu às famílias dos reféns e prometeu com estas palavras: “Às queridas famílias dos reféns, digo: este é um momento crucial na guerra. Continuaremos com todas as forças até trazermos seus entes queridos de volta para casa, eles que também são nossos entes queridos. Esse é o nosso compromisso supremo – e o meu compromisso pessoal”.

Essa é certamente uma declaração importante, mas será suficiente? Aqueles que têm um “ouvido musical” percebem que essa é uma declaração que talvez reflita boa intenção e desejo, mas carece de concretude em sua definição.

Enquanto isso, os parceiros de coalizão de Netanyahu, Ben Gvir e Smotrich, assim como vários membros do próprio Likud, organizarão na próxima semana uma conferência para incentivar o assentamento na Faixa de Gaza. Se isso não for um obstáculo a qualquer possível acordo para a libertação dos reféns, não sei o que mais seria. Parafraseando o termo cunhado por Hannah Arendt, não há banalidade aqui, mas há muito mal.

continua após a publicidade

Este pode ser o nosso maior momento, ou o nosso menor. Se perdermos o momento, pode ser uma tragédia de longo prazo. Agora é o momento para criatividade diplomática e liderança genuína, que exige de Israel uma elevação acima de interesses pessoais e políticos, com uma visão ampla e generosa para o bem-estar e o futuro do país, e, em grande medida, para o futuro do povo judeu como um todo.

*

COLABORADORA DO INSTITUTO BRASIL-ISRAEL, FOI DIPLOMATA ISRAELENSE E TRABALHOU COM SHIMON PERES DURANTE OS ACORDOS DE OSLO

A expressão “banalidade do mal” foi cunhada por Hannah Arendt em seu livro sobre o julgamento de Adolf Eichmann, que ela cobriu em Jerusalém, em 1961. O termo foi criado para descrever o abismo moral entre a figura aparentemente comum e medíocre de Eichmann – tal como ele tentou se apresentar – e as atrocidades que ele perpetrou. A combinação das palavras “banalidade” e “mal”, que juntas parecem formar um paradoxo, referia-se a Eichmann como um homem “comum”, mas que escolheu executar atos de maldade em uma escala histórica.

Pulando para os dias de hoje, podemos ver um certo eco da “banalidade do mal” também no caso da morte de Yahya Sinwar. Enquanto Eichmann alegava que suas motivações eram “banais”, ou seja, motivações de obediência e conformidade, que o levaram a ser um dos principais executores do Holocausto, as motivações de Sinwar estavam longe de serem banais desde o princípio.

Sinwar, profundamente impulsionado por uma ideologia jihadista extrema e por um ódio visceral contra Israel, agia movido por uma fé messiânica e uma brutalidade extrema, com o objetivo de apagar Israel da face da Terra. Embora Israel buscasse eliminá-lo e tenha declarado isso abertamente com o início da guerra (um objetivo que já esteve na agenda várias vezes no passado), o fim de Sinwar foi, em muitos aspectos, banal, acidental e até patético.

O líder do grupo terrorista Hamas, que planejou cuidadosamente o ataque do 7 de Outubro, ameaçou a existência de Israel e mudou seu curso histórico para sempre, foi, no fim das contas, morto de forma acidental por soldados de baixa patente em uma missão de patrulha de rotina, sem que ele fosse um alvo específico naquele momento e sem que eles soubessem, a princípio, quem ele era.

A morte de Sinwar é um marco significativo e transformador. Esse é um evento histórico cujas consequências devem ser imediatamente examinadas e devem guiar nossos próximos passos. O mundo sem Sinwar é sem dúvida um mundo melhor, assim como aconteceu após a eliminação de Hassan Nasrallah e outros líderes-chave Hezbollah, quando figuras que por anos ameaçaram a segurança de Israel desapareceram do cenário. No entanto, a ameaça ainda é extremamente significativa, assim como a incerteza sobre as direções em que ela pode evoluir.

Ilude-se quem acredita que a morte de Sinwar seja motivo de celebração. Acredito que estão equivocados. Como diz o livro de Provérbios: “Não se alegre quando seu inimigo cair”. A guerra ainda não acabou, e há um longo caminho a percorrer, repleto de desafios – seja aqui dentro de Israel ou em cada uma das outras sete frentes, com ênfase no Irã.

O pior de tudo é que 101 reféns ainda estão presos nos túneis do Hamas, seu destino é desconhecido, e sua libertação ainda não parece estar à vista. Só nos alegraremos verdadeiramente quando todos estiverem de volta em casa. Até lá, devemos manter a humildade em qualquer sentimento de satisfação, que pode nos levar a uma falsa sensação de superioridade desnecessária e até perigosa, e criar uma imagem equivocada e inadequada de uma vitória enganosa e ilusória que, na verdade, não aconteceu.

A grande maioria da população israelense vê a devolução dos reféns como o objetivo mais importante desta guerra. A eliminação de Yahya Sinwar cria para Israel uma oportunidade única de liderar um processo que traga a libertação de todos os reféns – vivos e mortos – em troca do fim da guerra em Gaza.

Uma proposta de acordo desse tipo precisa ser anunciada agora, por parte do governo de Israel, enquanto “o ferro ainda está quente” e antes que os EUA entrem no período nebuloso das eleições.

Em sua declaração após a eliminação de Sinwar, Benjamin Netanyahu se dirigiu às famílias dos reféns e prometeu com estas palavras: “Às queridas famílias dos reféns, digo: este é um momento crucial na guerra. Continuaremos com todas as forças até trazermos seus entes queridos de volta para casa, eles que também são nossos entes queridos. Esse é o nosso compromisso supremo – e o meu compromisso pessoal”.

Essa é certamente uma declaração importante, mas será suficiente? Aqueles que têm um “ouvido musical” percebem que essa é uma declaração que talvez reflita boa intenção e desejo, mas carece de concretude em sua definição.

Enquanto isso, os parceiros de coalizão de Netanyahu, Ben Gvir e Smotrich, assim como vários membros do próprio Likud, organizarão na próxima semana uma conferência para incentivar o assentamento na Faixa de Gaza. Se isso não for um obstáculo a qualquer possível acordo para a libertação dos reféns, não sei o que mais seria. Parafraseando o termo cunhado por Hannah Arendt, não há banalidade aqui, mas há muito mal.

Este pode ser o nosso maior momento, ou o nosso menor. Se perdermos o momento, pode ser uma tragédia de longo prazo. Agora é o momento para criatividade diplomática e liderança genuína, que exige de Israel uma elevação acima de interesses pessoais e políticos, com uma visão ampla e generosa para o bem-estar e o futuro do país, e, em grande medida, para o futuro do povo judeu como um todo.

*

COLABORADORA DO INSTITUTO BRASIL-ISRAEL, FOI DIPLOMATA ISRAELENSE E TRABALHOU COM SHIMON PERES DURANTE OS ACORDOS DE OSLO

A expressão “banalidade do mal” foi cunhada por Hannah Arendt em seu livro sobre o julgamento de Adolf Eichmann, que ela cobriu em Jerusalém, em 1961. O termo foi criado para descrever o abismo moral entre a figura aparentemente comum e medíocre de Eichmann – tal como ele tentou se apresentar – e as atrocidades que ele perpetrou. A combinação das palavras “banalidade” e “mal”, que juntas parecem formar um paradoxo, referia-se a Eichmann como um homem “comum”, mas que escolheu executar atos de maldade em uma escala histórica.

Pulando para os dias de hoje, podemos ver um certo eco da “banalidade do mal” também no caso da morte de Yahya Sinwar. Enquanto Eichmann alegava que suas motivações eram “banais”, ou seja, motivações de obediência e conformidade, que o levaram a ser um dos principais executores do Holocausto, as motivações de Sinwar estavam longe de serem banais desde o princípio.

Sinwar, profundamente impulsionado por uma ideologia jihadista extrema e por um ódio visceral contra Israel, agia movido por uma fé messiânica e uma brutalidade extrema, com o objetivo de apagar Israel da face da Terra. Embora Israel buscasse eliminá-lo e tenha declarado isso abertamente com o início da guerra (um objetivo que já esteve na agenda várias vezes no passado), o fim de Sinwar foi, em muitos aspectos, banal, acidental e até patético.

O líder do grupo terrorista Hamas, que planejou cuidadosamente o ataque do 7 de Outubro, ameaçou a existência de Israel e mudou seu curso histórico para sempre, foi, no fim das contas, morto de forma acidental por soldados de baixa patente em uma missão de patrulha de rotina, sem que ele fosse um alvo específico naquele momento e sem que eles soubessem, a princípio, quem ele era.

A morte de Sinwar é um marco significativo e transformador. Esse é um evento histórico cujas consequências devem ser imediatamente examinadas e devem guiar nossos próximos passos. O mundo sem Sinwar é sem dúvida um mundo melhor, assim como aconteceu após a eliminação de Hassan Nasrallah e outros líderes-chave Hezbollah, quando figuras que por anos ameaçaram a segurança de Israel desapareceram do cenário. No entanto, a ameaça ainda é extremamente significativa, assim como a incerteza sobre as direções em que ela pode evoluir.

Ilude-se quem acredita que a morte de Sinwar seja motivo de celebração. Acredito que estão equivocados. Como diz o livro de Provérbios: “Não se alegre quando seu inimigo cair”. A guerra ainda não acabou, e há um longo caminho a percorrer, repleto de desafios – seja aqui dentro de Israel ou em cada uma das outras sete frentes, com ênfase no Irã.

O pior de tudo é que 101 reféns ainda estão presos nos túneis do Hamas, seu destino é desconhecido, e sua libertação ainda não parece estar à vista. Só nos alegraremos verdadeiramente quando todos estiverem de volta em casa. Até lá, devemos manter a humildade em qualquer sentimento de satisfação, que pode nos levar a uma falsa sensação de superioridade desnecessária e até perigosa, e criar uma imagem equivocada e inadequada de uma vitória enganosa e ilusória que, na verdade, não aconteceu.

A grande maioria da população israelense vê a devolução dos reféns como o objetivo mais importante desta guerra. A eliminação de Yahya Sinwar cria para Israel uma oportunidade única de liderar um processo que traga a libertação de todos os reféns – vivos e mortos – em troca do fim da guerra em Gaza.

Uma proposta de acordo desse tipo precisa ser anunciada agora, por parte do governo de Israel, enquanto “o ferro ainda está quente” e antes que os EUA entrem no período nebuloso das eleições.

Em sua declaração após a eliminação de Sinwar, Benjamin Netanyahu se dirigiu às famílias dos reféns e prometeu com estas palavras: “Às queridas famílias dos reféns, digo: este é um momento crucial na guerra. Continuaremos com todas as forças até trazermos seus entes queridos de volta para casa, eles que também são nossos entes queridos. Esse é o nosso compromisso supremo – e o meu compromisso pessoal”.

Essa é certamente uma declaração importante, mas será suficiente? Aqueles que têm um “ouvido musical” percebem que essa é uma declaração que talvez reflita boa intenção e desejo, mas carece de concretude em sua definição.

Enquanto isso, os parceiros de coalizão de Netanyahu, Ben Gvir e Smotrich, assim como vários membros do próprio Likud, organizarão na próxima semana uma conferência para incentivar o assentamento na Faixa de Gaza. Se isso não for um obstáculo a qualquer possível acordo para a libertação dos reféns, não sei o que mais seria. Parafraseando o termo cunhado por Hannah Arendt, não há banalidade aqui, mas há muito mal.

Este pode ser o nosso maior momento, ou o nosso menor. Se perdermos o momento, pode ser uma tragédia de longo prazo. Agora é o momento para criatividade diplomática e liderança genuína, que exige de Israel uma elevação acima de interesses pessoais e políticos, com uma visão ampla e generosa para o bem-estar e o futuro do país, e, em grande medida, para o futuro do povo judeu como um todo.

*

COLABORADORA DO INSTITUTO BRASIL-ISRAEL, FOI DIPLOMATA ISRAELENSE E TRABALHOU COM SHIMON PERES DURANTE OS ACORDOS DE OSLO

A expressão “banalidade do mal” foi cunhada por Hannah Arendt em seu livro sobre o julgamento de Adolf Eichmann, que ela cobriu em Jerusalém, em 1961. O termo foi criado para descrever o abismo moral entre a figura aparentemente comum e medíocre de Eichmann – tal como ele tentou se apresentar – e as atrocidades que ele perpetrou. A combinação das palavras “banalidade” e “mal”, que juntas parecem formar um paradoxo, referia-se a Eichmann como um homem “comum”, mas que escolheu executar atos de maldade em uma escala histórica.

Pulando para os dias de hoje, podemos ver um certo eco da “banalidade do mal” também no caso da morte de Yahya Sinwar. Enquanto Eichmann alegava que suas motivações eram “banais”, ou seja, motivações de obediência e conformidade, que o levaram a ser um dos principais executores do Holocausto, as motivações de Sinwar estavam longe de serem banais desde o princípio.

Sinwar, profundamente impulsionado por uma ideologia jihadista extrema e por um ódio visceral contra Israel, agia movido por uma fé messiânica e uma brutalidade extrema, com o objetivo de apagar Israel da face da Terra. Embora Israel buscasse eliminá-lo e tenha declarado isso abertamente com o início da guerra (um objetivo que já esteve na agenda várias vezes no passado), o fim de Sinwar foi, em muitos aspectos, banal, acidental e até patético.

O líder do grupo terrorista Hamas, que planejou cuidadosamente o ataque do 7 de Outubro, ameaçou a existência de Israel e mudou seu curso histórico para sempre, foi, no fim das contas, morto de forma acidental por soldados de baixa patente em uma missão de patrulha de rotina, sem que ele fosse um alvo específico naquele momento e sem que eles soubessem, a princípio, quem ele era.

A morte de Sinwar é um marco significativo e transformador. Esse é um evento histórico cujas consequências devem ser imediatamente examinadas e devem guiar nossos próximos passos. O mundo sem Sinwar é sem dúvida um mundo melhor, assim como aconteceu após a eliminação de Hassan Nasrallah e outros líderes-chave Hezbollah, quando figuras que por anos ameaçaram a segurança de Israel desapareceram do cenário. No entanto, a ameaça ainda é extremamente significativa, assim como a incerteza sobre as direções em que ela pode evoluir.

Ilude-se quem acredita que a morte de Sinwar seja motivo de celebração. Acredito que estão equivocados. Como diz o livro de Provérbios: “Não se alegre quando seu inimigo cair”. A guerra ainda não acabou, e há um longo caminho a percorrer, repleto de desafios – seja aqui dentro de Israel ou em cada uma das outras sete frentes, com ênfase no Irã.

O pior de tudo é que 101 reféns ainda estão presos nos túneis do Hamas, seu destino é desconhecido, e sua libertação ainda não parece estar à vista. Só nos alegraremos verdadeiramente quando todos estiverem de volta em casa. Até lá, devemos manter a humildade em qualquer sentimento de satisfação, que pode nos levar a uma falsa sensação de superioridade desnecessária e até perigosa, e criar uma imagem equivocada e inadequada de uma vitória enganosa e ilusória que, na verdade, não aconteceu.

A grande maioria da população israelense vê a devolução dos reféns como o objetivo mais importante desta guerra. A eliminação de Yahya Sinwar cria para Israel uma oportunidade única de liderar um processo que traga a libertação de todos os reféns – vivos e mortos – em troca do fim da guerra em Gaza.

Uma proposta de acordo desse tipo precisa ser anunciada agora, por parte do governo de Israel, enquanto “o ferro ainda está quente” e antes que os EUA entrem no período nebuloso das eleições.

Em sua declaração após a eliminação de Sinwar, Benjamin Netanyahu se dirigiu às famílias dos reféns e prometeu com estas palavras: “Às queridas famílias dos reféns, digo: este é um momento crucial na guerra. Continuaremos com todas as forças até trazermos seus entes queridos de volta para casa, eles que também são nossos entes queridos. Esse é o nosso compromisso supremo – e o meu compromisso pessoal”.

Essa é certamente uma declaração importante, mas será suficiente? Aqueles que têm um “ouvido musical” percebem que essa é uma declaração que talvez reflita boa intenção e desejo, mas carece de concretude em sua definição.

Enquanto isso, os parceiros de coalizão de Netanyahu, Ben Gvir e Smotrich, assim como vários membros do próprio Likud, organizarão na próxima semana uma conferência para incentivar o assentamento na Faixa de Gaza. Se isso não for um obstáculo a qualquer possível acordo para a libertação dos reféns, não sei o que mais seria. Parafraseando o termo cunhado por Hannah Arendt, não há banalidade aqui, mas há muito mal.

Este pode ser o nosso maior momento, ou o nosso menor. Se perdermos o momento, pode ser uma tragédia de longo prazo. Agora é o momento para criatividade diplomática e liderança genuína, que exige de Israel uma elevação acima de interesses pessoais e políticos, com uma visão ampla e generosa para o bem-estar e o futuro do país, e, em grande medida, para o futuro do povo judeu como um todo.

*

COLABORADORA DO INSTITUTO BRASIL-ISRAEL, FOI DIPLOMATA ISRAELENSE E TRABALHOU COM SHIMON PERES DURANTE OS ACORDOS DE OSLO

A expressão “banalidade do mal” foi cunhada por Hannah Arendt em seu livro sobre o julgamento de Adolf Eichmann, que ela cobriu em Jerusalém, em 1961. O termo foi criado para descrever o abismo moral entre a figura aparentemente comum e medíocre de Eichmann – tal como ele tentou se apresentar – e as atrocidades que ele perpetrou. A combinação das palavras “banalidade” e “mal”, que juntas parecem formar um paradoxo, referia-se a Eichmann como um homem “comum”, mas que escolheu executar atos de maldade em uma escala histórica.

Pulando para os dias de hoje, podemos ver um certo eco da “banalidade do mal” também no caso da morte de Yahya Sinwar. Enquanto Eichmann alegava que suas motivações eram “banais”, ou seja, motivações de obediência e conformidade, que o levaram a ser um dos principais executores do Holocausto, as motivações de Sinwar estavam longe de serem banais desde o princípio.

Sinwar, profundamente impulsionado por uma ideologia jihadista extrema e por um ódio visceral contra Israel, agia movido por uma fé messiânica e uma brutalidade extrema, com o objetivo de apagar Israel da face da Terra. Embora Israel buscasse eliminá-lo e tenha declarado isso abertamente com o início da guerra (um objetivo que já esteve na agenda várias vezes no passado), o fim de Sinwar foi, em muitos aspectos, banal, acidental e até patético.

O líder do grupo terrorista Hamas, que planejou cuidadosamente o ataque do 7 de Outubro, ameaçou a existência de Israel e mudou seu curso histórico para sempre, foi, no fim das contas, morto de forma acidental por soldados de baixa patente em uma missão de patrulha de rotina, sem que ele fosse um alvo específico naquele momento e sem que eles soubessem, a princípio, quem ele era.

A morte de Sinwar é um marco significativo e transformador. Esse é um evento histórico cujas consequências devem ser imediatamente examinadas e devem guiar nossos próximos passos. O mundo sem Sinwar é sem dúvida um mundo melhor, assim como aconteceu após a eliminação de Hassan Nasrallah e outros líderes-chave Hezbollah, quando figuras que por anos ameaçaram a segurança de Israel desapareceram do cenário. No entanto, a ameaça ainda é extremamente significativa, assim como a incerteza sobre as direções em que ela pode evoluir.

Ilude-se quem acredita que a morte de Sinwar seja motivo de celebração. Acredito que estão equivocados. Como diz o livro de Provérbios: “Não se alegre quando seu inimigo cair”. A guerra ainda não acabou, e há um longo caminho a percorrer, repleto de desafios – seja aqui dentro de Israel ou em cada uma das outras sete frentes, com ênfase no Irã.

O pior de tudo é que 101 reféns ainda estão presos nos túneis do Hamas, seu destino é desconhecido, e sua libertação ainda não parece estar à vista. Só nos alegraremos verdadeiramente quando todos estiverem de volta em casa. Até lá, devemos manter a humildade em qualquer sentimento de satisfação, que pode nos levar a uma falsa sensação de superioridade desnecessária e até perigosa, e criar uma imagem equivocada e inadequada de uma vitória enganosa e ilusória que, na verdade, não aconteceu.

A grande maioria da população israelense vê a devolução dos reféns como o objetivo mais importante desta guerra. A eliminação de Yahya Sinwar cria para Israel uma oportunidade única de liderar um processo que traga a libertação de todos os reféns – vivos e mortos – em troca do fim da guerra em Gaza.

Uma proposta de acordo desse tipo precisa ser anunciada agora, por parte do governo de Israel, enquanto “o ferro ainda está quente” e antes que os EUA entrem no período nebuloso das eleições.

Em sua declaração após a eliminação de Sinwar, Benjamin Netanyahu se dirigiu às famílias dos reféns e prometeu com estas palavras: “Às queridas famílias dos reféns, digo: este é um momento crucial na guerra. Continuaremos com todas as forças até trazermos seus entes queridos de volta para casa, eles que também são nossos entes queridos. Esse é o nosso compromisso supremo – e o meu compromisso pessoal”.

Essa é certamente uma declaração importante, mas será suficiente? Aqueles que têm um “ouvido musical” percebem que essa é uma declaração que talvez reflita boa intenção e desejo, mas carece de concretude em sua definição.

Enquanto isso, os parceiros de coalizão de Netanyahu, Ben Gvir e Smotrich, assim como vários membros do próprio Likud, organizarão na próxima semana uma conferência para incentivar o assentamento na Faixa de Gaza. Se isso não for um obstáculo a qualquer possível acordo para a libertação dos reféns, não sei o que mais seria. Parafraseando o termo cunhado por Hannah Arendt, não há banalidade aqui, mas há muito mal.

Este pode ser o nosso maior momento, ou o nosso menor. Se perdermos o momento, pode ser uma tragédia de longo prazo. Agora é o momento para criatividade diplomática e liderança genuína, que exige de Israel uma elevação acima de interesses pessoais e políticos, com uma visão ampla e generosa para o bem-estar e o futuro do país, e, em grande medida, para o futuro do povo judeu como um todo.

*

COLABORADORA DO INSTITUTO BRASIL-ISRAEL, FOI DIPLOMATA ISRAELENSE E TRABALHOU COM SHIMON PERES DURANTE OS ACORDOS DE OSLO

Opinião por Revital Poleg

Colaboradora do Instituto Brasil-Israel, foi diplomata israelense e trabalhou com Shimon Peres durante os Acordos de Oslo

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.