Opinião|O futuro do Brasil


No País os problemas se repetem, num ‘script’ exasperante. O Brasil cansa<HY0>

Por Fabio Giambiagi

No Brasil, já se disse que o futuro era o elemento unificador do país: no passado, podíamos estar mal, mas a ideia de que haveria um futuro desenvolvimento à nossa espera, como uma espécie de destino manifesto do País, dava-nos certo conforto para enfrentar as mazelas do dia a dia. E cá estou eu de novo falando do que nos aguarda. Ou, como diria o Caetano, “ou não”...

Revisitando os livros que organizei, sozinho ou com algum colega, eu já tinha produzido até agora nove coletâneas só de “agendas para o País”, desde o meu primeiro livro com esse perfil, que organizei em 2003 com A. Urani e José G. Reis. Como nos embates ideológicos alguma dose de veneno é inevitável, já fui objeto da crítica de que “Giambiagi produz sempre o mesmo livro”. Na vida temos de aprender a ter humor e devo reconhecer que a frase, embora ferina, tem um quê de verdade. Não me considero, porém, “culpado” por isso, pelo simples fato de que a realidade se repete!

Basta reler os títulos de alguns dos capítulos do meu livro de 2003 (há quase 20 anos!): Por que o Brasil cresce pouco?, Abertura e crescimento: passado e futuro, As razões do ajuste fiscal, Mercosul: após a ‘paciência estratégica’, o quê?, Reforma tributária: sonhos e frustrações, O setor elétrico: a reforma inacabada, A abertura do setor de petróleo e gás: retrospectiva e desafios futuros, etc. Os títulos não parecem de um livro de 2020?

continua após a publicidade

Se volto aos mesmos temas de sempre, como se vivêssemos num eterno Dia da Marmota, em que os acontecimentos se repetem regularmente, é porque no País não apenas a economia demora a “engatar uma segunda” há tempo, como estamos discutindo algumas reformas há mais de 20 anos e os problemas se repetem, num script exasperante. O Brasil cansa.

Naquele mesmo livro de 2003, Reformas no Brasil: Balanço e Agenda – onde a epígrafe era “O Brasil não tem problemas, mas apenas soluções adiadas”, frase genial de Câmara Cascudo –, tive o privilégio de, entre os diversos autores, contar com capítulos de um amigo que depois viria a se tornar ministro da Fazenda; de outro que seria diretor do Banco Central; de um terceiro, economista-chefe de um dos grandes bancos nacionais; e, finalmente, de nada menos que outros seis que posteriormente se tornaram excelentes funcionários de organizações multilaterais.

Os problemas se repetem, mas com o tempo não dá para abusar dos amigos. Assim, depois de ter perturbado vários deles, entendi que era um bom momento para tratar dos velhos problemas, porém com nomes novos, e propus à editora organizar um livro com o denominador comum de serem todos autores jovens, num elenco em que o único “coroa” seria o organizador.

continua após a publicidade

O livro – que chegará às livrarias no próximo dia 10 – tem como título O Brasil do Futuro (Editora GEN), envolvendo um jogo de palavras, por tratar do amanhã, mas também por conter capítulos de autores que já começam a frequentar o debate, juntamente com outros ainda mais jovens, que têm as credenciais para vir a fazê-lo com assiduidade nas próximas décadas. Para mais de um capítulo liguei para amigos ocupando altos cargos e perguntei: “Que nome você me sugere que pode estar sentado no seu lugar daqui a 10 ou 15 anos?”. Foi uma satisfação reunir esses autores e trabalhar com eles.

Aos temas que são os “mesmos suspeitos de sempre” (a capacidade de crescimento da economia, o ajuste fiscal, o conflito federativo, o grau de abertura da economia, a agenda da infraestrutura, etc.) adicionei nesta oportunidade, seguindo a sábia sugestão de um velho amigo, um bloco de capítulos sobre os chamados “novos desafios”, associados ao mundo em mutação no qual vivemos. Essa parte do livro inclui um capítulo sobre o futuro dos meios de pagamento, um segundo sobre como o fenômeno do Big Data está penetrando em todas as áreas da produção, uma reflexão sobre como a inteligência de dados pode ser utilizada para a redefinição das políticas públicas e uma análise sobre o futuro do trabalho num mundo “uberizado”.

Vivemos num país complexo, onde as transformações são complicadas. Por outro lado, em que pese a perpetuação de alguns eternos desafios, outros foram sendo vencidos. Hoje temos juros baixos e uma inflação parecida com a do chamado Primeiro Mundo, a miséria é inferior à de 30 anos atrás, conseguimos aprovar uma reforma previdenciária digna desse nome, etc. Esses foram temas de capítulos que foram “sumindo” das minhas coletâneas, felizmente.

continua após a publicidade

Uma das coisas que me fazem conservar a chama do otimismo em relação ao Brasil é que neste país temos vários elementos positivos. Um deles é o fato de termos um contingente de pessoas extremamente qualificadas para ocupar a função pública. Foi assim no passado com funcionários de primeiro, segundo e terceiro escalões que desempenharam com brilho suas funções – alguns dos quais tive a honra de contar entre os autores de livros meus.

Tenho a certeza de que vários desses jovens autores de agora escreverão páginas boas de nossa História nos próximos 30 anos.

ECONOMISTA

No Brasil, já se disse que o futuro era o elemento unificador do país: no passado, podíamos estar mal, mas a ideia de que haveria um futuro desenvolvimento à nossa espera, como uma espécie de destino manifesto do País, dava-nos certo conforto para enfrentar as mazelas do dia a dia. E cá estou eu de novo falando do que nos aguarda. Ou, como diria o Caetano, “ou não”...

Revisitando os livros que organizei, sozinho ou com algum colega, eu já tinha produzido até agora nove coletâneas só de “agendas para o País”, desde o meu primeiro livro com esse perfil, que organizei em 2003 com A. Urani e José G. Reis. Como nos embates ideológicos alguma dose de veneno é inevitável, já fui objeto da crítica de que “Giambiagi produz sempre o mesmo livro”. Na vida temos de aprender a ter humor e devo reconhecer que a frase, embora ferina, tem um quê de verdade. Não me considero, porém, “culpado” por isso, pelo simples fato de que a realidade se repete!

Basta reler os títulos de alguns dos capítulos do meu livro de 2003 (há quase 20 anos!): Por que o Brasil cresce pouco?, Abertura e crescimento: passado e futuro, As razões do ajuste fiscal, Mercosul: após a ‘paciência estratégica’, o quê?, Reforma tributária: sonhos e frustrações, O setor elétrico: a reforma inacabada, A abertura do setor de petróleo e gás: retrospectiva e desafios futuros, etc. Os títulos não parecem de um livro de 2020?

Se volto aos mesmos temas de sempre, como se vivêssemos num eterno Dia da Marmota, em que os acontecimentos se repetem regularmente, é porque no País não apenas a economia demora a “engatar uma segunda” há tempo, como estamos discutindo algumas reformas há mais de 20 anos e os problemas se repetem, num script exasperante. O Brasil cansa.

Naquele mesmo livro de 2003, Reformas no Brasil: Balanço e Agenda – onde a epígrafe era “O Brasil não tem problemas, mas apenas soluções adiadas”, frase genial de Câmara Cascudo –, tive o privilégio de, entre os diversos autores, contar com capítulos de um amigo que depois viria a se tornar ministro da Fazenda; de outro que seria diretor do Banco Central; de um terceiro, economista-chefe de um dos grandes bancos nacionais; e, finalmente, de nada menos que outros seis que posteriormente se tornaram excelentes funcionários de organizações multilaterais.

Os problemas se repetem, mas com o tempo não dá para abusar dos amigos. Assim, depois de ter perturbado vários deles, entendi que era um bom momento para tratar dos velhos problemas, porém com nomes novos, e propus à editora organizar um livro com o denominador comum de serem todos autores jovens, num elenco em que o único “coroa” seria o organizador.

O livro – que chegará às livrarias no próximo dia 10 – tem como título O Brasil do Futuro (Editora GEN), envolvendo um jogo de palavras, por tratar do amanhã, mas também por conter capítulos de autores que já começam a frequentar o debate, juntamente com outros ainda mais jovens, que têm as credenciais para vir a fazê-lo com assiduidade nas próximas décadas. Para mais de um capítulo liguei para amigos ocupando altos cargos e perguntei: “Que nome você me sugere que pode estar sentado no seu lugar daqui a 10 ou 15 anos?”. Foi uma satisfação reunir esses autores e trabalhar com eles.

Aos temas que são os “mesmos suspeitos de sempre” (a capacidade de crescimento da economia, o ajuste fiscal, o conflito federativo, o grau de abertura da economia, a agenda da infraestrutura, etc.) adicionei nesta oportunidade, seguindo a sábia sugestão de um velho amigo, um bloco de capítulos sobre os chamados “novos desafios”, associados ao mundo em mutação no qual vivemos. Essa parte do livro inclui um capítulo sobre o futuro dos meios de pagamento, um segundo sobre como o fenômeno do Big Data está penetrando em todas as áreas da produção, uma reflexão sobre como a inteligência de dados pode ser utilizada para a redefinição das políticas públicas e uma análise sobre o futuro do trabalho num mundo “uberizado”.

Vivemos num país complexo, onde as transformações são complicadas. Por outro lado, em que pese a perpetuação de alguns eternos desafios, outros foram sendo vencidos. Hoje temos juros baixos e uma inflação parecida com a do chamado Primeiro Mundo, a miséria é inferior à de 30 anos atrás, conseguimos aprovar uma reforma previdenciária digna desse nome, etc. Esses foram temas de capítulos que foram “sumindo” das minhas coletâneas, felizmente.

Uma das coisas que me fazem conservar a chama do otimismo em relação ao Brasil é que neste país temos vários elementos positivos. Um deles é o fato de termos um contingente de pessoas extremamente qualificadas para ocupar a função pública. Foi assim no passado com funcionários de primeiro, segundo e terceiro escalões que desempenharam com brilho suas funções – alguns dos quais tive a honra de contar entre os autores de livros meus.

Tenho a certeza de que vários desses jovens autores de agora escreverão páginas boas de nossa História nos próximos 30 anos.

ECONOMISTA

No Brasil, já se disse que o futuro era o elemento unificador do país: no passado, podíamos estar mal, mas a ideia de que haveria um futuro desenvolvimento à nossa espera, como uma espécie de destino manifesto do País, dava-nos certo conforto para enfrentar as mazelas do dia a dia. E cá estou eu de novo falando do que nos aguarda. Ou, como diria o Caetano, “ou não”...

Revisitando os livros que organizei, sozinho ou com algum colega, eu já tinha produzido até agora nove coletâneas só de “agendas para o País”, desde o meu primeiro livro com esse perfil, que organizei em 2003 com A. Urani e José G. Reis. Como nos embates ideológicos alguma dose de veneno é inevitável, já fui objeto da crítica de que “Giambiagi produz sempre o mesmo livro”. Na vida temos de aprender a ter humor e devo reconhecer que a frase, embora ferina, tem um quê de verdade. Não me considero, porém, “culpado” por isso, pelo simples fato de que a realidade se repete!

Basta reler os títulos de alguns dos capítulos do meu livro de 2003 (há quase 20 anos!): Por que o Brasil cresce pouco?, Abertura e crescimento: passado e futuro, As razões do ajuste fiscal, Mercosul: após a ‘paciência estratégica’, o quê?, Reforma tributária: sonhos e frustrações, O setor elétrico: a reforma inacabada, A abertura do setor de petróleo e gás: retrospectiva e desafios futuros, etc. Os títulos não parecem de um livro de 2020?

Se volto aos mesmos temas de sempre, como se vivêssemos num eterno Dia da Marmota, em que os acontecimentos se repetem regularmente, é porque no País não apenas a economia demora a “engatar uma segunda” há tempo, como estamos discutindo algumas reformas há mais de 20 anos e os problemas se repetem, num script exasperante. O Brasil cansa.

Naquele mesmo livro de 2003, Reformas no Brasil: Balanço e Agenda – onde a epígrafe era “O Brasil não tem problemas, mas apenas soluções adiadas”, frase genial de Câmara Cascudo –, tive o privilégio de, entre os diversos autores, contar com capítulos de um amigo que depois viria a se tornar ministro da Fazenda; de outro que seria diretor do Banco Central; de um terceiro, economista-chefe de um dos grandes bancos nacionais; e, finalmente, de nada menos que outros seis que posteriormente se tornaram excelentes funcionários de organizações multilaterais.

Os problemas se repetem, mas com o tempo não dá para abusar dos amigos. Assim, depois de ter perturbado vários deles, entendi que era um bom momento para tratar dos velhos problemas, porém com nomes novos, e propus à editora organizar um livro com o denominador comum de serem todos autores jovens, num elenco em que o único “coroa” seria o organizador.

O livro – que chegará às livrarias no próximo dia 10 – tem como título O Brasil do Futuro (Editora GEN), envolvendo um jogo de palavras, por tratar do amanhã, mas também por conter capítulos de autores que já começam a frequentar o debate, juntamente com outros ainda mais jovens, que têm as credenciais para vir a fazê-lo com assiduidade nas próximas décadas. Para mais de um capítulo liguei para amigos ocupando altos cargos e perguntei: “Que nome você me sugere que pode estar sentado no seu lugar daqui a 10 ou 15 anos?”. Foi uma satisfação reunir esses autores e trabalhar com eles.

Aos temas que são os “mesmos suspeitos de sempre” (a capacidade de crescimento da economia, o ajuste fiscal, o conflito federativo, o grau de abertura da economia, a agenda da infraestrutura, etc.) adicionei nesta oportunidade, seguindo a sábia sugestão de um velho amigo, um bloco de capítulos sobre os chamados “novos desafios”, associados ao mundo em mutação no qual vivemos. Essa parte do livro inclui um capítulo sobre o futuro dos meios de pagamento, um segundo sobre como o fenômeno do Big Data está penetrando em todas as áreas da produção, uma reflexão sobre como a inteligência de dados pode ser utilizada para a redefinição das políticas públicas e uma análise sobre o futuro do trabalho num mundo “uberizado”.

Vivemos num país complexo, onde as transformações são complicadas. Por outro lado, em que pese a perpetuação de alguns eternos desafios, outros foram sendo vencidos. Hoje temos juros baixos e uma inflação parecida com a do chamado Primeiro Mundo, a miséria é inferior à de 30 anos atrás, conseguimos aprovar uma reforma previdenciária digna desse nome, etc. Esses foram temas de capítulos que foram “sumindo” das minhas coletâneas, felizmente.

Uma das coisas que me fazem conservar a chama do otimismo em relação ao Brasil é que neste país temos vários elementos positivos. Um deles é o fato de termos um contingente de pessoas extremamente qualificadas para ocupar a função pública. Foi assim no passado com funcionários de primeiro, segundo e terceiro escalões que desempenharam com brilho suas funções – alguns dos quais tive a honra de contar entre os autores de livros meus.

Tenho a certeza de que vários desses jovens autores de agora escreverão páginas boas de nossa História nos próximos 30 anos.

ECONOMISTA

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.