Opinião|Oportunidade para o Brasil no turismo


Experiências na Europa podem não ser tão agradáveis no futuro como eram no passado. Em vez de só lamentar, podemos aproveitar para atrair os turistas para o País

Por Percival Maricato

Moradores de cidades europeias, as que mais atraem turistas, estão se revoltando e protestando contra o excesso de visitantes, o “turismo de massa”. Não é novidade. Quem visitava Paris há 30 ou 40 anos já sentia uma certa hostilidade por parte da população – as informações solicitadas por turistas nas ruas eram respondidas, no mínimo, sem nenhuma boa vontade. E essa conduta tinha diversos motivos; um deles, que agora se espalha para as demais cidades, era que o morador ou comerciante tinha que atender a um turista a cada cinco ou dez minutos para explicar onde ficava rua tal. Para estes, a “indústria sem chaminé” não era tão bem-vinda. Esse incômodo foi muito reduzido pela maior impressão de guias com mapa da cidade e depois com os aplicativos de internet – o Google Maps, por exemplo –, mas demonstrava que o excesso de turistas nem sempre agrada.

Há diversos outros problemas: concorrência para acessar imóveis com consequente aumento no preço de venda e nos alugueres, alterações drásticas no comércio para que ele atenda a turistas e não a moradores, uso de transportes, poluição sonora, excesso de detritos, concorrência, aumento de preços e alteração de cardápios em restaurantes, visita a museus e eventos culturais, acesso a prontos-socorros e tantos outros serviços e necessidades da vida diária. Não por outro motivo, há um êxodo impressionante dos moradores para fora dessas cidades em época de férias, especialmente onde a vida comunitária deixou de existir, pois os turistas dominam tudo no bairro.

Mal ou bem, esses turistas deixam no continente europeu bilhões de euros. Cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do continente e 12 milhões de empregos são resultados do turismo. Essa fortuna irriga as economias das cidades e dos países, contribui para o equilíbrio fiscal, na construção de obras, em benefícios diversos para todos os cidadãos, melhorando a qualidade de vida (dos milhões de não incomodados). Muitos países da Europa ainda estão firmes entre os dez maiores PIBs do planeta, e o turismo tem contribuído muito para esse resultado.

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Os moradores dessas cidades, ou melhor, a parte deles que não se beneficia, têm, pois, motivo e direito de se revoltar e exigir mudanças. Em algumas cidades eles serão atendidos a curto prazo: haverá medidas que restringirão o turismo, em especial o de massa, dos não ricos, e cada vez mais exigências e taxas. Os apartamentos de aluguel para turistas já têm enterro programado; por exemplo, em Barcelona, deixarão de ser permitidos em 2028. Em outras cidades discutem data e há as que estão proibindo a construção de mais hotéis, e entre elas as que reclamam do rebaixamento de preços em decorrência do uso de aplicativos oferecendo vagas a preço reduzido. O resto do mundo, de renda não tão alta, que vá aproveitando os anos que restam de turismo de massa, e no futuro pense em roteiros alternativos ou com menos dias nessas cidades, hostis.

Em resumo, haverá restrições e hostilidades aos turistas em algumas cidades do velho continente: aumento de preços em hotéis, menos apartamentos para alugar, taxas de entrada e estadia, vedação à atracação de navios turísticos, à realização de eventos e festas, aos pacotes de aplicativos, etc. Será bem-vindo apenas o “turismo de qualidade”, e talvez não mexam no turismo de saúde, de futebol, ecológico, cultural e de alguns outros nichos.

No Brasil, podemos lamentar: nossas experiências na Europa podem não ser tão agradáveis no futuro como eram no passado. Mas, em vez de só lamentar, podemos aproveitar esses movimentos telúricos no turismo como uma oportunidade de atrairmos os indesejados na Europa para nosso país, onde isso significará muito dinheiro. Temos um imenso território, muitas atrações naturais e culturais, cidades dinâmicas e com excelente gastronomia, vida noturna e hotelaria (tudo pronto para atender a turistas, não precisa de investimento). Precisamos muito dos recursos que os turistas podem deixar por aqui para geração de renda e emprego. Temos que, dentro de nossas limitações, tentar captar pelo menos uma fatia de turistas que podem deixar de visitar, viajar menos ou ficar menos tempo na Europa.

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Além dessas atrações citadas, o Brasil tem que apresentar outros pontos positivos. Os turistas também escolhem destinos onde sabem que serão bem acolhidos, terão segurança, informações, limpeza, facilidade em transportar-se de um lado para outro. Quanto à cordialidade, nosso povo, a maioria pelo menos (nos últimos anos, infelizmente, proliferam diversos tipos de violência, em faixas de baixa e alta renda), tem essa qualidade como natural, e podemos fazer um pouco mais com um trabalho de educação. Já com relação à segurança e demais itens referidos, esses são problemas a serem cuidados com planejamento e vontade política, as soluções só são possíveis a médio prazo. Nada impede, porém, a procura de soluções a curto prazo e iniciar especialmente a criação de uma cultura que mostre o turista como uma pessoa que beneficia a todos os brasileiros com sua visita, que cria empregos e gera renda, que nos visita porque gosta de nosso país, que deve ser respeitado como se fosse um craque de futebol. Afinal, repita-se, é dinheiro que irriga a cidade visitada e o País. Deve, porém, ficar claro que esses recursos, pelo menos esses, serão distribuídos com critérios em que se leve em conta a justiça social, o combate à fome e à miséria extrema – nada mais assusta tanto o turista –, a elevação da qualidade de vida para todos os brasileiros, fórmula que não parece possível nas cidades turísticas europeias. Esse é o rumo. Como diz o ditado chinês, é a jornada das mil milhas que começa com o primeiro passo. Ele precisa ser dado.

*

ADVOGADO, FUNDADOR E DIRETOR DA ABRASEL-SP, VICE-PRESIDENTE DO CONSELHO CURADOR DO SÃO PAULO CONVENTION & VISITORS BUREAU, É MEMBRO DO CONSELHO MUNICIPAL DE TURISMO

Moradores de cidades europeias, as que mais atraem turistas, estão se revoltando e protestando contra o excesso de visitantes, o “turismo de massa”. Não é novidade. Quem visitava Paris há 30 ou 40 anos já sentia uma certa hostilidade por parte da população – as informações solicitadas por turistas nas ruas eram respondidas, no mínimo, sem nenhuma boa vontade. E essa conduta tinha diversos motivos; um deles, que agora se espalha para as demais cidades, era que o morador ou comerciante tinha que atender a um turista a cada cinco ou dez minutos para explicar onde ficava rua tal. Para estes, a “indústria sem chaminé” não era tão bem-vinda. Esse incômodo foi muito reduzido pela maior impressão de guias com mapa da cidade e depois com os aplicativos de internet – o Google Maps, por exemplo –, mas demonstrava que o excesso de turistas nem sempre agrada.

Há diversos outros problemas: concorrência para acessar imóveis com consequente aumento no preço de venda e nos alugueres, alterações drásticas no comércio para que ele atenda a turistas e não a moradores, uso de transportes, poluição sonora, excesso de detritos, concorrência, aumento de preços e alteração de cardápios em restaurantes, visita a museus e eventos culturais, acesso a prontos-socorros e tantos outros serviços e necessidades da vida diária. Não por outro motivo, há um êxodo impressionante dos moradores para fora dessas cidades em época de férias, especialmente onde a vida comunitária deixou de existir, pois os turistas dominam tudo no bairro.

Mal ou bem, esses turistas deixam no continente europeu bilhões de euros. Cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do continente e 12 milhões de empregos são resultados do turismo. Essa fortuna irriga as economias das cidades e dos países, contribui para o equilíbrio fiscal, na construção de obras, em benefícios diversos para todos os cidadãos, melhorando a qualidade de vida (dos milhões de não incomodados). Muitos países da Europa ainda estão firmes entre os dez maiores PIBs do planeta, e o turismo tem contribuído muito para esse resultado.

Os moradores dessas cidades, ou melhor, a parte deles que não se beneficia, têm, pois, motivo e direito de se revoltar e exigir mudanças. Em algumas cidades eles serão atendidos a curto prazo: haverá medidas que restringirão o turismo, em especial o de massa, dos não ricos, e cada vez mais exigências e taxas. Os apartamentos de aluguel para turistas já têm enterro programado; por exemplo, em Barcelona, deixarão de ser permitidos em 2028. Em outras cidades discutem data e há as que estão proibindo a construção de mais hotéis, e entre elas as que reclamam do rebaixamento de preços em decorrência do uso de aplicativos oferecendo vagas a preço reduzido. O resto do mundo, de renda não tão alta, que vá aproveitando os anos que restam de turismo de massa, e no futuro pense em roteiros alternativos ou com menos dias nessas cidades, hostis.

Em resumo, haverá restrições e hostilidades aos turistas em algumas cidades do velho continente: aumento de preços em hotéis, menos apartamentos para alugar, taxas de entrada e estadia, vedação à atracação de navios turísticos, à realização de eventos e festas, aos pacotes de aplicativos, etc. Será bem-vindo apenas o “turismo de qualidade”, e talvez não mexam no turismo de saúde, de futebol, ecológico, cultural e de alguns outros nichos.

No Brasil, podemos lamentar: nossas experiências na Europa podem não ser tão agradáveis no futuro como eram no passado. Mas, em vez de só lamentar, podemos aproveitar esses movimentos telúricos no turismo como uma oportunidade de atrairmos os indesejados na Europa para nosso país, onde isso significará muito dinheiro. Temos um imenso território, muitas atrações naturais e culturais, cidades dinâmicas e com excelente gastronomia, vida noturna e hotelaria (tudo pronto para atender a turistas, não precisa de investimento). Precisamos muito dos recursos que os turistas podem deixar por aqui para geração de renda e emprego. Temos que, dentro de nossas limitações, tentar captar pelo menos uma fatia de turistas que podem deixar de visitar, viajar menos ou ficar menos tempo na Europa.

Além dessas atrações citadas, o Brasil tem que apresentar outros pontos positivos. Os turistas também escolhem destinos onde sabem que serão bem acolhidos, terão segurança, informações, limpeza, facilidade em transportar-se de um lado para outro. Quanto à cordialidade, nosso povo, a maioria pelo menos (nos últimos anos, infelizmente, proliferam diversos tipos de violência, em faixas de baixa e alta renda), tem essa qualidade como natural, e podemos fazer um pouco mais com um trabalho de educação. Já com relação à segurança e demais itens referidos, esses são problemas a serem cuidados com planejamento e vontade política, as soluções só são possíveis a médio prazo. Nada impede, porém, a procura de soluções a curto prazo e iniciar especialmente a criação de uma cultura que mostre o turista como uma pessoa que beneficia a todos os brasileiros com sua visita, que cria empregos e gera renda, que nos visita porque gosta de nosso país, que deve ser respeitado como se fosse um craque de futebol. Afinal, repita-se, é dinheiro que irriga a cidade visitada e o País. Deve, porém, ficar claro que esses recursos, pelo menos esses, serão distribuídos com critérios em que se leve em conta a justiça social, o combate à fome e à miséria extrema – nada mais assusta tanto o turista –, a elevação da qualidade de vida para todos os brasileiros, fórmula que não parece possível nas cidades turísticas europeias. Esse é o rumo. Como diz o ditado chinês, é a jornada das mil milhas que começa com o primeiro passo. Ele precisa ser dado.

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ADVOGADO, FUNDADOR E DIRETOR DA ABRASEL-SP, VICE-PRESIDENTE DO CONSELHO CURADOR DO SÃO PAULO CONVENTION & VISITORS BUREAU, É MEMBRO DO CONSELHO MUNICIPAL DE TURISMO

Moradores de cidades europeias, as que mais atraem turistas, estão se revoltando e protestando contra o excesso de visitantes, o “turismo de massa”. Não é novidade. Quem visitava Paris há 30 ou 40 anos já sentia uma certa hostilidade por parte da população – as informações solicitadas por turistas nas ruas eram respondidas, no mínimo, sem nenhuma boa vontade. E essa conduta tinha diversos motivos; um deles, que agora se espalha para as demais cidades, era que o morador ou comerciante tinha que atender a um turista a cada cinco ou dez minutos para explicar onde ficava rua tal. Para estes, a “indústria sem chaminé” não era tão bem-vinda. Esse incômodo foi muito reduzido pela maior impressão de guias com mapa da cidade e depois com os aplicativos de internet – o Google Maps, por exemplo –, mas demonstrava que o excesso de turistas nem sempre agrada.

Há diversos outros problemas: concorrência para acessar imóveis com consequente aumento no preço de venda e nos alugueres, alterações drásticas no comércio para que ele atenda a turistas e não a moradores, uso de transportes, poluição sonora, excesso de detritos, concorrência, aumento de preços e alteração de cardápios em restaurantes, visita a museus e eventos culturais, acesso a prontos-socorros e tantos outros serviços e necessidades da vida diária. Não por outro motivo, há um êxodo impressionante dos moradores para fora dessas cidades em época de férias, especialmente onde a vida comunitária deixou de existir, pois os turistas dominam tudo no bairro.

Mal ou bem, esses turistas deixam no continente europeu bilhões de euros. Cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do continente e 12 milhões de empregos são resultados do turismo. Essa fortuna irriga as economias das cidades e dos países, contribui para o equilíbrio fiscal, na construção de obras, em benefícios diversos para todos os cidadãos, melhorando a qualidade de vida (dos milhões de não incomodados). Muitos países da Europa ainda estão firmes entre os dez maiores PIBs do planeta, e o turismo tem contribuído muito para esse resultado.

Os moradores dessas cidades, ou melhor, a parte deles que não se beneficia, têm, pois, motivo e direito de se revoltar e exigir mudanças. Em algumas cidades eles serão atendidos a curto prazo: haverá medidas que restringirão o turismo, em especial o de massa, dos não ricos, e cada vez mais exigências e taxas. Os apartamentos de aluguel para turistas já têm enterro programado; por exemplo, em Barcelona, deixarão de ser permitidos em 2028. Em outras cidades discutem data e há as que estão proibindo a construção de mais hotéis, e entre elas as que reclamam do rebaixamento de preços em decorrência do uso de aplicativos oferecendo vagas a preço reduzido. O resto do mundo, de renda não tão alta, que vá aproveitando os anos que restam de turismo de massa, e no futuro pense em roteiros alternativos ou com menos dias nessas cidades, hostis.

Em resumo, haverá restrições e hostilidades aos turistas em algumas cidades do velho continente: aumento de preços em hotéis, menos apartamentos para alugar, taxas de entrada e estadia, vedação à atracação de navios turísticos, à realização de eventos e festas, aos pacotes de aplicativos, etc. Será bem-vindo apenas o “turismo de qualidade”, e talvez não mexam no turismo de saúde, de futebol, ecológico, cultural e de alguns outros nichos.

No Brasil, podemos lamentar: nossas experiências na Europa podem não ser tão agradáveis no futuro como eram no passado. Mas, em vez de só lamentar, podemos aproveitar esses movimentos telúricos no turismo como uma oportunidade de atrairmos os indesejados na Europa para nosso país, onde isso significará muito dinheiro. Temos um imenso território, muitas atrações naturais e culturais, cidades dinâmicas e com excelente gastronomia, vida noturna e hotelaria (tudo pronto para atender a turistas, não precisa de investimento). Precisamos muito dos recursos que os turistas podem deixar por aqui para geração de renda e emprego. Temos que, dentro de nossas limitações, tentar captar pelo menos uma fatia de turistas que podem deixar de visitar, viajar menos ou ficar menos tempo na Europa.

Além dessas atrações citadas, o Brasil tem que apresentar outros pontos positivos. Os turistas também escolhem destinos onde sabem que serão bem acolhidos, terão segurança, informações, limpeza, facilidade em transportar-se de um lado para outro. Quanto à cordialidade, nosso povo, a maioria pelo menos (nos últimos anos, infelizmente, proliferam diversos tipos de violência, em faixas de baixa e alta renda), tem essa qualidade como natural, e podemos fazer um pouco mais com um trabalho de educação. Já com relação à segurança e demais itens referidos, esses são problemas a serem cuidados com planejamento e vontade política, as soluções só são possíveis a médio prazo. Nada impede, porém, a procura de soluções a curto prazo e iniciar especialmente a criação de uma cultura que mostre o turista como uma pessoa que beneficia a todos os brasileiros com sua visita, que cria empregos e gera renda, que nos visita porque gosta de nosso país, que deve ser respeitado como se fosse um craque de futebol. Afinal, repita-se, é dinheiro que irriga a cidade visitada e o País. Deve, porém, ficar claro que esses recursos, pelo menos esses, serão distribuídos com critérios em que se leve em conta a justiça social, o combate à fome e à miséria extrema – nada mais assusta tanto o turista –, a elevação da qualidade de vida para todos os brasileiros, fórmula que não parece possível nas cidades turísticas europeias. Esse é o rumo. Como diz o ditado chinês, é a jornada das mil milhas que começa com o primeiro passo. Ele precisa ser dado.

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ADVOGADO, FUNDADOR E DIRETOR DA ABRASEL-SP, VICE-PRESIDENTE DO CONSELHO CURADOR DO SÃO PAULO CONVENTION & VISITORS BUREAU, É MEMBRO DO CONSELHO MUNICIPAL DE TURISMO

Moradores de cidades europeias, as que mais atraem turistas, estão se revoltando e protestando contra o excesso de visitantes, o “turismo de massa”. Não é novidade. Quem visitava Paris há 30 ou 40 anos já sentia uma certa hostilidade por parte da população – as informações solicitadas por turistas nas ruas eram respondidas, no mínimo, sem nenhuma boa vontade. E essa conduta tinha diversos motivos; um deles, que agora se espalha para as demais cidades, era que o morador ou comerciante tinha que atender a um turista a cada cinco ou dez minutos para explicar onde ficava rua tal. Para estes, a “indústria sem chaminé” não era tão bem-vinda. Esse incômodo foi muito reduzido pela maior impressão de guias com mapa da cidade e depois com os aplicativos de internet – o Google Maps, por exemplo –, mas demonstrava que o excesso de turistas nem sempre agrada.

Há diversos outros problemas: concorrência para acessar imóveis com consequente aumento no preço de venda e nos alugueres, alterações drásticas no comércio para que ele atenda a turistas e não a moradores, uso de transportes, poluição sonora, excesso de detritos, concorrência, aumento de preços e alteração de cardápios em restaurantes, visita a museus e eventos culturais, acesso a prontos-socorros e tantos outros serviços e necessidades da vida diária. Não por outro motivo, há um êxodo impressionante dos moradores para fora dessas cidades em época de férias, especialmente onde a vida comunitária deixou de existir, pois os turistas dominam tudo no bairro.

Mal ou bem, esses turistas deixam no continente europeu bilhões de euros. Cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do continente e 12 milhões de empregos são resultados do turismo. Essa fortuna irriga as economias das cidades e dos países, contribui para o equilíbrio fiscal, na construção de obras, em benefícios diversos para todos os cidadãos, melhorando a qualidade de vida (dos milhões de não incomodados). Muitos países da Europa ainda estão firmes entre os dez maiores PIBs do planeta, e o turismo tem contribuído muito para esse resultado.

Os moradores dessas cidades, ou melhor, a parte deles que não se beneficia, têm, pois, motivo e direito de se revoltar e exigir mudanças. Em algumas cidades eles serão atendidos a curto prazo: haverá medidas que restringirão o turismo, em especial o de massa, dos não ricos, e cada vez mais exigências e taxas. Os apartamentos de aluguel para turistas já têm enterro programado; por exemplo, em Barcelona, deixarão de ser permitidos em 2028. Em outras cidades discutem data e há as que estão proibindo a construção de mais hotéis, e entre elas as que reclamam do rebaixamento de preços em decorrência do uso de aplicativos oferecendo vagas a preço reduzido. O resto do mundo, de renda não tão alta, que vá aproveitando os anos que restam de turismo de massa, e no futuro pense em roteiros alternativos ou com menos dias nessas cidades, hostis.

Em resumo, haverá restrições e hostilidades aos turistas em algumas cidades do velho continente: aumento de preços em hotéis, menos apartamentos para alugar, taxas de entrada e estadia, vedação à atracação de navios turísticos, à realização de eventos e festas, aos pacotes de aplicativos, etc. Será bem-vindo apenas o “turismo de qualidade”, e talvez não mexam no turismo de saúde, de futebol, ecológico, cultural e de alguns outros nichos.

No Brasil, podemos lamentar: nossas experiências na Europa podem não ser tão agradáveis no futuro como eram no passado. Mas, em vez de só lamentar, podemos aproveitar esses movimentos telúricos no turismo como uma oportunidade de atrairmos os indesejados na Europa para nosso país, onde isso significará muito dinheiro. Temos um imenso território, muitas atrações naturais e culturais, cidades dinâmicas e com excelente gastronomia, vida noturna e hotelaria (tudo pronto para atender a turistas, não precisa de investimento). Precisamos muito dos recursos que os turistas podem deixar por aqui para geração de renda e emprego. Temos que, dentro de nossas limitações, tentar captar pelo menos uma fatia de turistas que podem deixar de visitar, viajar menos ou ficar menos tempo na Europa.

Além dessas atrações citadas, o Brasil tem que apresentar outros pontos positivos. Os turistas também escolhem destinos onde sabem que serão bem acolhidos, terão segurança, informações, limpeza, facilidade em transportar-se de um lado para outro. Quanto à cordialidade, nosso povo, a maioria pelo menos (nos últimos anos, infelizmente, proliferam diversos tipos de violência, em faixas de baixa e alta renda), tem essa qualidade como natural, e podemos fazer um pouco mais com um trabalho de educação. Já com relação à segurança e demais itens referidos, esses são problemas a serem cuidados com planejamento e vontade política, as soluções só são possíveis a médio prazo. Nada impede, porém, a procura de soluções a curto prazo e iniciar especialmente a criação de uma cultura que mostre o turista como uma pessoa que beneficia a todos os brasileiros com sua visita, que cria empregos e gera renda, que nos visita porque gosta de nosso país, que deve ser respeitado como se fosse um craque de futebol. Afinal, repita-se, é dinheiro que irriga a cidade visitada e o País. Deve, porém, ficar claro que esses recursos, pelo menos esses, serão distribuídos com critérios em que se leve em conta a justiça social, o combate à fome e à miséria extrema – nada mais assusta tanto o turista –, a elevação da qualidade de vida para todos os brasileiros, fórmula que não parece possível nas cidades turísticas europeias. Esse é o rumo. Como diz o ditado chinês, é a jornada das mil milhas que começa com o primeiro passo. Ele precisa ser dado.

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Moradores de cidades europeias, as que mais atraem turistas, estão se revoltando e protestando contra o excesso de visitantes, o “turismo de massa”. Não é novidade. Quem visitava Paris há 30 ou 40 anos já sentia uma certa hostilidade por parte da população – as informações solicitadas por turistas nas ruas eram respondidas, no mínimo, sem nenhuma boa vontade. E essa conduta tinha diversos motivos; um deles, que agora se espalha para as demais cidades, era que o morador ou comerciante tinha que atender a um turista a cada cinco ou dez minutos para explicar onde ficava rua tal. Para estes, a “indústria sem chaminé” não era tão bem-vinda. Esse incômodo foi muito reduzido pela maior impressão de guias com mapa da cidade e depois com os aplicativos de internet – o Google Maps, por exemplo –, mas demonstrava que o excesso de turistas nem sempre agrada.

Há diversos outros problemas: concorrência para acessar imóveis com consequente aumento no preço de venda e nos alugueres, alterações drásticas no comércio para que ele atenda a turistas e não a moradores, uso de transportes, poluição sonora, excesso de detritos, concorrência, aumento de preços e alteração de cardápios em restaurantes, visita a museus e eventos culturais, acesso a prontos-socorros e tantos outros serviços e necessidades da vida diária. Não por outro motivo, há um êxodo impressionante dos moradores para fora dessas cidades em época de férias, especialmente onde a vida comunitária deixou de existir, pois os turistas dominam tudo no bairro.

Mal ou bem, esses turistas deixam no continente europeu bilhões de euros. Cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do continente e 12 milhões de empregos são resultados do turismo. Essa fortuna irriga as economias das cidades e dos países, contribui para o equilíbrio fiscal, na construção de obras, em benefícios diversos para todos os cidadãos, melhorando a qualidade de vida (dos milhões de não incomodados). Muitos países da Europa ainda estão firmes entre os dez maiores PIBs do planeta, e o turismo tem contribuído muito para esse resultado.

Os moradores dessas cidades, ou melhor, a parte deles que não se beneficia, têm, pois, motivo e direito de se revoltar e exigir mudanças. Em algumas cidades eles serão atendidos a curto prazo: haverá medidas que restringirão o turismo, em especial o de massa, dos não ricos, e cada vez mais exigências e taxas. Os apartamentos de aluguel para turistas já têm enterro programado; por exemplo, em Barcelona, deixarão de ser permitidos em 2028. Em outras cidades discutem data e há as que estão proibindo a construção de mais hotéis, e entre elas as que reclamam do rebaixamento de preços em decorrência do uso de aplicativos oferecendo vagas a preço reduzido. O resto do mundo, de renda não tão alta, que vá aproveitando os anos que restam de turismo de massa, e no futuro pense em roteiros alternativos ou com menos dias nessas cidades, hostis.

Em resumo, haverá restrições e hostilidades aos turistas em algumas cidades do velho continente: aumento de preços em hotéis, menos apartamentos para alugar, taxas de entrada e estadia, vedação à atracação de navios turísticos, à realização de eventos e festas, aos pacotes de aplicativos, etc. Será bem-vindo apenas o “turismo de qualidade”, e talvez não mexam no turismo de saúde, de futebol, ecológico, cultural e de alguns outros nichos.

No Brasil, podemos lamentar: nossas experiências na Europa podem não ser tão agradáveis no futuro como eram no passado. Mas, em vez de só lamentar, podemos aproveitar esses movimentos telúricos no turismo como uma oportunidade de atrairmos os indesejados na Europa para nosso país, onde isso significará muito dinheiro. Temos um imenso território, muitas atrações naturais e culturais, cidades dinâmicas e com excelente gastronomia, vida noturna e hotelaria (tudo pronto para atender a turistas, não precisa de investimento). Precisamos muito dos recursos que os turistas podem deixar por aqui para geração de renda e emprego. Temos que, dentro de nossas limitações, tentar captar pelo menos uma fatia de turistas que podem deixar de visitar, viajar menos ou ficar menos tempo na Europa.

Além dessas atrações citadas, o Brasil tem que apresentar outros pontos positivos. Os turistas também escolhem destinos onde sabem que serão bem acolhidos, terão segurança, informações, limpeza, facilidade em transportar-se de um lado para outro. Quanto à cordialidade, nosso povo, a maioria pelo menos (nos últimos anos, infelizmente, proliferam diversos tipos de violência, em faixas de baixa e alta renda), tem essa qualidade como natural, e podemos fazer um pouco mais com um trabalho de educação. Já com relação à segurança e demais itens referidos, esses são problemas a serem cuidados com planejamento e vontade política, as soluções só são possíveis a médio prazo. Nada impede, porém, a procura de soluções a curto prazo e iniciar especialmente a criação de uma cultura que mostre o turista como uma pessoa que beneficia a todos os brasileiros com sua visita, que cria empregos e gera renda, que nos visita porque gosta de nosso país, que deve ser respeitado como se fosse um craque de futebol. Afinal, repita-se, é dinheiro que irriga a cidade visitada e o País. Deve, porém, ficar claro que esses recursos, pelo menos esses, serão distribuídos com critérios em que se leve em conta a justiça social, o combate à fome e à miséria extrema – nada mais assusta tanto o turista –, a elevação da qualidade de vida para todos os brasileiros, fórmula que não parece possível nas cidades turísticas europeias. Esse é o rumo. Como diz o ditado chinês, é a jornada das mil milhas que começa com o primeiro passo. Ele precisa ser dado.

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Advogado, fundador e diretor da Abrasel-SP, vice-presidente do Conselho Curador do São Paulo Convention & Visitors Bureau, é membro do Conselho Municipal de Turismo

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