As recentes celebrações pelo aniversário de 55 anos da Embraer contribuíram para reflexões sobre a importância da visão de longo prazo do Estado brasileiro para o desenvolvimento de uma indústria aeroespacial e de defesa estratégica, sobretudo para a soberania nacional.
As bases sólidas de ensino e pesquisa construídas ainda nos anos de 1940 foram essenciais para a estruturação e desenvolvimento do setor. Com a privatização da Embraer, em 1994, a cultura da excelência técnica ganhou a agilidade e flexibilidade necessárias para a empresa atuar em um mercado global cada vez mais competitivo.
Assim, a excelência do País nessa área é reflexo dos esforços conjuntos do poder público e da iniciativa privada, que realizaram uma colaboração de alto valor para a sociedade ao fortalecer a vocação do Brasil de ser um dos maiores centros globais de produção de conhecimento aeronáutico, dando continuidade ao legado de personalidades notáveis como Alberto Santos-Dumont, Casimiro Montenegro Filho e Ozires Silva.
Por meio de uma política pública bem-sucedida, a indústria aeronáutica brasileira garante, por exemplo, igualdade de condições de financiamento na exportação, e o País assegura uma balança comercial mais equilibrada, ao mesmo tempo em que incentiva projetos de inovação e geração de alta tecnologia.
Mas o caso da Embraer não é isolado. Outros setores estratégicos, como agronegócio, comunicação, siderurgia, mineração, energia e petróleo, nas suas mais diversas formas e proporções, igualmente cresceram apoiados por políticas públicas que incentivaram investimentos estatal e privado, comprovando a capacidade desse método de multiplicar riquezas.
Em comum, está o passado como referência para os projetos do futuro. A criatividade e o empreendedorismo dos brasileiros somados a uma política pública de neoindustrialização têm alto potencial de reverter o quadro de redução da participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) do País. O fomento à produtividade é fundamental para mudar essa situação e elevar o patamar de competitividade do Brasil.
Além da reforma tributária, a qual apoiamos e acreditamos que tem o potencial para mudar o complexo sistema tributário brasileiro para menor burocracia e em linha com os padrões internacionais, o Brasil avança em políticas públicas para promoção da neoindustrialização e da agenda verde.
No setor aeronáutico, foi lançada no início deste ano, no âmbito do Programa Mais Inovação Brasil, a chamada pública para a aviação sustentável, com objetivo de desenvolver tecnologias para a descarbonização do transporte aéreo. E, mais recentemente, foi anunciada a abertura de chamada pública destinada à seleção de planos de negócios para o desenvolvimento e implantação de biorrefinarias para produção de combustíveis sustentáveis, incluindo o combustível sustentável de aviação (SAF) e combustíveis para navegação. E quais serão os próximos passos?
O Brasil tem recursos necessários para iniciar um novo ciclo de desenvolvimento econômico e social, seja na produção de biocombustíveis, seja na mobilidade aérea. E a união desses dois setores tem alto potencial de sucesso em uma atuação conjunta.
Da mesma maneira que brasileiros visionários imaginavam que era possível o País construir seus próprios aviões, também é possível liderar a corrida global da transição energética e da economia verde, que potencializa a retomada de investimentos em centros de pesquisa, complexos industriais e produtos que atendam a esse objetivo.
O protagonismo brasileiro se apoia na necessidade de uma ampla articulação de todos os setores da economia, governos e entidades, em uma discussão multissetorial, que engaja os diversos atores da cadeia a desenvolver um plano integrado que tange o fomento à produtividade, pesquisa, desenvolvimento, financiamento, novas regulamentações, entre outros.
Mas sabemos dos riscos e ameaças vigentes que nos levam a ampliar o debate para além das nossas fronteiras. A liderança do Brasil na cúpula do G-20 neste ano precisa trazer ações efetivas para promover o comércio e os investimentos internacionais, temas que desempenham papéis cruciais no impulsionamento do desenvolvimento econômico e na concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que impactam na geração de oportunidades para a indústria brasileira.
Recomendações e ações de políticas públicas para contribuir com as negociações dos líderes mundiais já foram entregues, e vamos continuar trabalhando fortemente para que o Brasil se mantenha como um ator global no comércio exterior e que ocupa a linha de frente das discussões com interesse no fortalecimento da governança global do comércio e dos investimentos.
O Brasil deve aproveitar oportunidades como o G-20 em 2024 e o Brics e a COP-30 em 2025 para reforçar sua liderança em agendas internacionais e mostrar toda a competitividade e casos de sucesso da nossa indústria.
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É PRESIDENTE E CEO DA EMBRAER