No dia 17 de abril de 1998, no Hospital Albert Einstein, faleceu Péter Murányi, um empresário que nasceu na Hungria e veio para o Brasil e aqui se tornou pioneiro ao iniciar um próspero negócio de embalagens com peças de sucata – surgia a reciclagem. Sem limites, com prudência e sem medo, buscou diálogos com personagens nacionais e internacionais para realizar os muitos projetos que elaborou para colocar o Brasil na rota do desenvolvimento, participando do combate às desigualdades sociais.
Quando suas últimas vontades foram reveladas, ficou claro que ele havia encontrado uma forma de realizar, após sua morte, aquilo que fora um dos grandes sonhos da sua vida. Destinou parte considerável de seu patrimônio para a constituição da Fundação Péter Murányi, que tem por principal objetivo premiar anualmente na área de saúde, de desenvolvimento científico e tecnológico, de alimentação e de educação trabalhos que de fato tenham melhorado a qualidade de vida das populações situadas abaixo do paralelo 20 de latitude norte, região do planeta onde se encontra a maioria dos países em desenvolvimento.
Mantendo a coerência que marcou sua vida, quis incentivar a produção daquele tipo de conhecimento dotado de utilidade prática e efeito social relevante. Embora beneficiar a população brasileira fosse sua principal preocupação, sua fundação não deveria restringir-se a focar em impactos locais ou pesquisadores nacionais. Para tanto, caberia aos responsáveis pela gestão divulgar sua existência e criar um mecanismo capaz de atrair trabalhos relacionados ao foco por ele determinado.
Os herdeiros de Péter puseram-se de pronto em ação. O objetivo do empresário estava bem delineado, e os recursos haviam sido reservados para isso.
Para garantir a seriedade dos trabalhos e atuar como uma espécie de pré-seleção, a fundação entrou em contato com instituições de pesquisa do Brasil e do exterior, que foram cadastradas como integrantes do chamado Colégio Indicador, em que cada membro pode selecionar até dois trabalhos e deve levar em conta se o projeto indicado é realmente inovador, tem aplicabilidade prática e melhora a qualidade de vida das pessoas situadas na área geográfica apontada pelo fundador.
O primeiro prêmio foi concedido em 2002 ao médico Sérgio Henrique Ferreira, pesquisador do Departamento de Farmacologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), por seu trabalho no desenvolvimento de um fármaco feito a partir do veneno da cobra jararaca e indicado para hipertensão e insuficiência cardíaca. Em que pese o prêmio de R$ 100 mil pago naquela época, o pesquisador ficou mais emocionado com o reconhecimento público pelo seu trabalho.
O sobrenome Murányi, inventado na Hungria para evitar perseguições religiosas, era ainda inexpressivo quando foi trazido para o Brasil por um jovem obstinado que o lapidou e imortalizou.
Seus filhos, Vera e Péter, assumiram e vêm cumprindo com maestria o sonho de seu pai.
Péter Murányi deixou também outro legado: importância significativa para o Hospital Albert Einstein, que ajudou a fundar.
Também ocupou o cargo de cônsul-geral honorário da República Dominicana, intensificando a exportação brasileira para aquele país, que se tornou, na década de 1970, o maior comprador dos produtos industriais brasileiros na América Central.
Iniciou a luta para a alfabetização de adultos, da qual resultou o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral).
Ao longo de sua vida, apresentou propostas socioeconômicas ao poder público com vistas ao desenvolvimento, em particular na área da educação. Sem limites, buscou o diálogo nacional e internacional para colocar o Brasil no rumo do crescimento sustentado.
Ricardo Viveiros, escritor reconhecido, escreveu um livro focando a vida de Péter Murányi e dando ao trabalho o título Sem Limite.
A fundação vem desenvolvendo e promovendo o ideal de seu idealizador, realizando anualmente o prêmio.
Péter tinha uma preocupação especial com o destino dos analfabetos. Afirmava que uma pessoa analfabeta encontraria dificuldades durante toda a sua vida, como seguir as instruções nas questões da saúde pública, compreender as orientações profissionais e resistir à demagogia e ao domínio dos ditadores. E pensava: como a produtividade de um analfabeto é bem inferior à de uma pessoa alfabetizada, é evidente que, para a expansão do País, a inclusão de milhões de habitantes em sua força produtiva, os trabalhadores devem se tornar mais eficientes.
A vida de Péter Murányi comprova a importância de o empresário se interessar e lutar pelas soluções dos problemas sociais, notadamente a educação, colocando o Brasil no rumo do crescimento sustentado.
As palavras do saudoso Laudo Natel resumem quem foi Péter Murányi: “Inteligência e capacidade de absorver um volume amplo e variado de conhecimento (faziam) dele uma fonte de excelentes soluções para muitos dos problemas cotidianos de nossa sociedade”.
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SÃO, RESPECTIVAMENTE, ADVOGADO, PRESIDENTE EMÉRITO DA APLJ; E PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO PÉTER MURÁNYI