Opinião|Os perigos de não ler


Se não cuidarmos de fazer isso agora, seremos vítimas de nossa própria apatia

Por Basilio Jafet

Não ler enseja perigos. Torna-nos reféns de palavras, em vez de contextos.

Atualmente, vê-se muito, lê-se pouco. Vemos escritos, sem nos darmos conta de que temos todas as condições para nos dedicarmos de fato à leitura.

Podemos fazê-la nos deslocamentos de trem, ônibus, metrô, em livros ou celular, o que era impossível quando cavalos e charretes eram o meio de transporte.

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Temos hoje uma vida muito mais intensa e líquida. Chegamos rapidamente aos destinos. Somos impacientes, habituados que estamos cada vez mais com a instantaneidade.

A ditadura da internet consumiu o tempo necessário à interpretação dos textos que nos chegam, mesmo aqueles criptografados em emojis. Tempo para a intelecção.

Restou a rápida aceitação de tudo o que nos chega de forma pronta. Temos pressa. O comercial de TV de um minuto deve transmitir tudo em cinco segundos para ter audiência num celular.

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Aqueles que sentem e sofrem com as lacunas de conteúdo, e não aceitam tudo como verdade, costumam selecionar e arquivar textos para ler quando... sobrar tempo.

Nessa prática nos deparamos com coisas mais que curiosas. Em verdade, necessárias. Caso este de entrevista concedida por um dos mais provocativos filósofos da atualidade, o alemão Peter Sloterdijk, ao jornal El País.

“Perdemos a capacidade de pensar?”, indaga o jornalista.

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Responde o filósofo: “Não a capacidade como tal. Mas não ocorrem as circunstâncias vitais que nos permitem afastar e ganhar distância... O dispositivo mais elementar era sempre dar um passo atrás. Essa ação permite que você se transforme em observador. Sem uma certa distância, sem uma certa desconexão, a atitude teórica é impossível. A vida atual não convida a pensar”.

Não pensar diminui a capacidade das análises amplas que caracterizam pessoas estruturadas. Assim, temos seres sociais menos preparados, que adotam pressupostos, alvos fáceis de fake news, manipuláveis, domáveis, subjugáveis. E que terminam por criar convicções que, conforme Friedrich Nietzsche, “são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras”.

Preocupante a situação de uma sociedade que não lê. Quantos de nós, efetivamente, lemos o que vem acontecendo na chamada CPI da Covid, para entender o que ali está escrito e tirar conclusões próprias?

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Debatemos uma reforma tributária – que mais se assemelha a um pacote –, mas será que o que vem sendo dito está redigido? Bem sabemos que o perigo mora nos detalhes. O diabo também. Sem correto entendimento não temos como dialogar com os nossos parlamentares.

E quando assinamos um contrato, será que compreendemos realmente os compromissos pactuados? Precisam ser lidos e perfeitamente entendidos para que de fato expressem a vontade entre as partes.

E quando simplesmente aceitamos as políticas ou regras para seguir em determinados sites? Alguém já leu o que ali está escrito?

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O mesmo acontece na produção de projetos de lei e sua aprovação. Uma vírgula muda tudo. Quantos, todavia, se dedicaram a interpretar o seu real significado? E, não bastasse, vêm os “jabutis”, temas que pegam carona em matérias exógenas aos objetivos de determinados projetos. A proposta de privatização da Eletrobras que o diga.

Triste constatar que muitos de nós se contentam com o supérfluo. Ler, entender, checar, confirmar e concluir é trabalhoso. Formar pensamento próprio exige o constante exercício da musculatura mental. Mesmo os mais eruditos sabem disso.

Outro filósofo alemão, Arthur Schopenhauer, sentenciou que “só quando a verdade for adquirida por seu próprio pensamento, através dos esforços de seu intelecto, ela se torna membro de seu próprio corpo, e só essa verdade realmente nos pertence”.

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E, reforçando a tese, a conterrânea e também filósofa, Hannah Arendt adiciona: “Uma vida sem pensamento é totalmente possível, mas ela fracassa em fazer desabrochar sua própria essência – ela não é apenas sem sentido; ela não é totalmente viva. Pessoas que não pensam são como sonâmbulos”. E arremata: “Em nome de interesses pessoais, muitos abdicam do pensamento crítico, engolem abusos e sorriem para quem desprezam. Abdicar de pensar também é crime”.

Preparamo-nos para 2022, ano eleitoral, sem saber o que poderá acontecer até lá. Se teremos uma enxurrada de medidas populistas. Se haverá uma terceira via, ou coluna do meio. Se a retomada econômica, ora verificada, se vai sustentar. Se a inflação continuará subindo, assim como a taxa básica de juros, o dólar, os preços dos materiais de construção e, consequentemente, da habitação.

São questões por demais inquietantes para que as pessoas abdiquem de ler e compreender antes de opinar. Antes de optar.

Se não cuidarmos de fazer isso agora – e para sempre –, seremos todos vítimas da nossa própria ignorância, consequência da nossa própria apatia.

PRESIDENTE DO SECOVI-SP, A CASA DO MERCADO IMOBILIÁRIO

Não ler enseja perigos. Torna-nos reféns de palavras, em vez de contextos.

Atualmente, vê-se muito, lê-se pouco. Vemos escritos, sem nos darmos conta de que temos todas as condições para nos dedicarmos de fato à leitura.

Podemos fazê-la nos deslocamentos de trem, ônibus, metrô, em livros ou celular, o que era impossível quando cavalos e charretes eram o meio de transporte.

Temos hoje uma vida muito mais intensa e líquida. Chegamos rapidamente aos destinos. Somos impacientes, habituados que estamos cada vez mais com a instantaneidade.

A ditadura da internet consumiu o tempo necessário à interpretação dos textos que nos chegam, mesmo aqueles criptografados em emojis. Tempo para a intelecção.

Restou a rápida aceitação de tudo o que nos chega de forma pronta. Temos pressa. O comercial de TV de um minuto deve transmitir tudo em cinco segundos para ter audiência num celular.

Aqueles que sentem e sofrem com as lacunas de conteúdo, e não aceitam tudo como verdade, costumam selecionar e arquivar textos para ler quando... sobrar tempo.

Nessa prática nos deparamos com coisas mais que curiosas. Em verdade, necessárias. Caso este de entrevista concedida por um dos mais provocativos filósofos da atualidade, o alemão Peter Sloterdijk, ao jornal El País.

“Perdemos a capacidade de pensar?”, indaga o jornalista.

Responde o filósofo: “Não a capacidade como tal. Mas não ocorrem as circunstâncias vitais que nos permitem afastar e ganhar distância... O dispositivo mais elementar era sempre dar um passo atrás. Essa ação permite que você se transforme em observador. Sem uma certa distância, sem uma certa desconexão, a atitude teórica é impossível. A vida atual não convida a pensar”.

Não pensar diminui a capacidade das análises amplas que caracterizam pessoas estruturadas. Assim, temos seres sociais menos preparados, que adotam pressupostos, alvos fáceis de fake news, manipuláveis, domáveis, subjugáveis. E que terminam por criar convicções que, conforme Friedrich Nietzsche, “são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras”.

Preocupante a situação de uma sociedade que não lê. Quantos de nós, efetivamente, lemos o que vem acontecendo na chamada CPI da Covid, para entender o que ali está escrito e tirar conclusões próprias?

Debatemos uma reforma tributária – que mais se assemelha a um pacote –, mas será que o que vem sendo dito está redigido? Bem sabemos que o perigo mora nos detalhes. O diabo também. Sem correto entendimento não temos como dialogar com os nossos parlamentares.

E quando assinamos um contrato, será que compreendemos realmente os compromissos pactuados? Precisam ser lidos e perfeitamente entendidos para que de fato expressem a vontade entre as partes.

E quando simplesmente aceitamos as políticas ou regras para seguir em determinados sites? Alguém já leu o que ali está escrito?

O mesmo acontece na produção de projetos de lei e sua aprovação. Uma vírgula muda tudo. Quantos, todavia, se dedicaram a interpretar o seu real significado? E, não bastasse, vêm os “jabutis”, temas que pegam carona em matérias exógenas aos objetivos de determinados projetos. A proposta de privatização da Eletrobras que o diga.

Triste constatar que muitos de nós se contentam com o supérfluo. Ler, entender, checar, confirmar e concluir é trabalhoso. Formar pensamento próprio exige o constante exercício da musculatura mental. Mesmo os mais eruditos sabem disso.

Outro filósofo alemão, Arthur Schopenhauer, sentenciou que “só quando a verdade for adquirida por seu próprio pensamento, através dos esforços de seu intelecto, ela se torna membro de seu próprio corpo, e só essa verdade realmente nos pertence”.

E, reforçando a tese, a conterrânea e também filósofa, Hannah Arendt adiciona: “Uma vida sem pensamento é totalmente possível, mas ela fracassa em fazer desabrochar sua própria essência – ela não é apenas sem sentido; ela não é totalmente viva. Pessoas que não pensam são como sonâmbulos”. E arremata: “Em nome de interesses pessoais, muitos abdicam do pensamento crítico, engolem abusos e sorriem para quem desprezam. Abdicar de pensar também é crime”.

Preparamo-nos para 2022, ano eleitoral, sem saber o que poderá acontecer até lá. Se teremos uma enxurrada de medidas populistas. Se haverá uma terceira via, ou coluna do meio. Se a retomada econômica, ora verificada, se vai sustentar. Se a inflação continuará subindo, assim como a taxa básica de juros, o dólar, os preços dos materiais de construção e, consequentemente, da habitação.

São questões por demais inquietantes para que as pessoas abdiquem de ler e compreender antes de opinar. Antes de optar.

Se não cuidarmos de fazer isso agora – e para sempre –, seremos todos vítimas da nossa própria ignorância, consequência da nossa própria apatia.

PRESIDENTE DO SECOVI-SP, A CASA DO MERCADO IMOBILIÁRIO

Não ler enseja perigos. Torna-nos reféns de palavras, em vez de contextos.

Atualmente, vê-se muito, lê-se pouco. Vemos escritos, sem nos darmos conta de que temos todas as condições para nos dedicarmos de fato à leitura.

Podemos fazê-la nos deslocamentos de trem, ônibus, metrô, em livros ou celular, o que era impossível quando cavalos e charretes eram o meio de transporte.

Temos hoje uma vida muito mais intensa e líquida. Chegamos rapidamente aos destinos. Somos impacientes, habituados que estamos cada vez mais com a instantaneidade.

A ditadura da internet consumiu o tempo necessário à interpretação dos textos que nos chegam, mesmo aqueles criptografados em emojis. Tempo para a intelecção.

Restou a rápida aceitação de tudo o que nos chega de forma pronta. Temos pressa. O comercial de TV de um minuto deve transmitir tudo em cinco segundos para ter audiência num celular.

Aqueles que sentem e sofrem com as lacunas de conteúdo, e não aceitam tudo como verdade, costumam selecionar e arquivar textos para ler quando... sobrar tempo.

Nessa prática nos deparamos com coisas mais que curiosas. Em verdade, necessárias. Caso este de entrevista concedida por um dos mais provocativos filósofos da atualidade, o alemão Peter Sloterdijk, ao jornal El País.

“Perdemos a capacidade de pensar?”, indaga o jornalista.

Responde o filósofo: “Não a capacidade como tal. Mas não ocorrem as circunstâncias vitais que nos permitem afastar e ganhar distância... O dispositivo mais elementar era sempre dar um passo atrás. Essa ação permite que você se transforme em observador. Sem uma certa distância, sem uma certa desconexão, a atitude teórica é impossível. A vida atual não convida a pensar”.

Não pensar diminui a capacidade das análises amplas que caracterizam pessoas estruturadas. Assim, temos seres sociais menos preparados, que adotam pressupostos, alvos fáceis de fake news, manipuláveis, domáveis, subjugáveis. E que terminam por criar convicções que, conforme Friedrich Nietzsche, “são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras”.

Preocupante a situação de uma sociedade que não lê. Quantos de nós, efetivamente, lemos o que vem acontecendo na chamada CPI da Covid, para entender o que ali está escrito e tirar conclusões próprias?

Debatemos uma reforma tributária – que mais se assemelha a um pacote –, mas será que o que vem sendo dito está redigido? Bem sabemos que o perigo mora nos detalhes. O diabo também. Sem correto entendimento não temos como dialogar com os nossos parlamentares.

E quando assinamos um contrato, será que compreendemos realmente os compromissos pactuados? Precisam ser lidos e perfeitamente entendidos para que de fato expressem a vontade entre as partes.

E quando simplesmente aceitamos as políticas ou regras para seguir em determinados sites? Alguém já leu o que ali está escrito?

O mesmo acontece na produção de projetos de lei e sua aprovação. Uma vírgula muda tudo. Quantos, todavia, se dedicaram a interpretar o seu real significado? E, não bastasse, vêm os “jabutis”, temas que pegam carona em matérias exógenas aos objetivos de determinados projetos. A proposta de privatização da Eletrobras que o diga.

Triste constatar que muitos de nós se contentam com o supérfluo. Ler, entender, checar, confirmar e concluir é trabalhoso. Formar pensamento próprio exige o constante exercício da musculatura mental. Mesmo os mais eruditos sabem disso.

Outro filósofo alemão, Arthur Schopenhauer, sentenciou que “só quando a verdade for adquirida por seu próprio pensamento, através dos esforços de seu intelecto, ela se torna membro de seu próprio corpo, e só essa verdade realmente nos pertence”.

E, reforçando a tese, a conterrânea e também filósofa, Hannah Arendt adiciona: “Uma vida sem pensamento é totalmente possível, mas ela fracassa em fazer desabrochar sua própria essência – ela não é apenas sem sentido; ela não é totalmente viva. Pessoas que não pensam são como sonâmbulos”. E arremata: “Em nome de interesses pessoais, muitos abdicam do pensamento crítico, engolem abusos e sorriem para quem desprezam. Abdicar de pensar também é crime”.

Preparamo-nos para 2022, ano eleitoral, sem saber o que poderá acontecer até lá. Se teremos uma enxurrada de medidas populistas. Se haverá uma terceira via, ou coluna do meio. Se a retomada econômica, ora verificada, se vai sustentar. Se a inflação continuará subindo, assim como a taxa básica de juros, o dólar, os preços dos materiais de construção e, consequentemente, da habitação.

São questões por demais inquietantes para que as pessoas abdiquem de ler e compreender antes de opinar. Antes de optar.

Se não cuidarmos de fazer isso agora – e para sempre –, seremos todos vítimas da nossa própria ignorância, consequência da nossa própria apatia.

PRESIDENTE DO SECOVI-SP, A CASA DO MERCADO IMOBILIÁRIO

Não ler enseja perigos. Torna-nos reféns de palavras, em vez de contextos.

Atualmente, vê-se muito, lê-se pouco. Vemos escritos, sem nos darmos conta de que temos todas as condições para nos dedicarmos de fato à leitura.

Podemos fazê-la nos deslocamentos de trem, ônibus, metrô, em livros ou celular, o que era impossível quando cavalos e charretes eram o meio de transporte.

Temos hoje uma vida muito mais intensa e líquida. Chegamos rapidamente aos destinos. Somos impacientes, habituados que estamos cada vez mais com a instantaneidade.

A ditadura da internet consumiu o tempo necessário à interpretação dos textos que nos chegam, mesmo aqueles criptografados em emojis. Tempo para a intelecção.

Restou a rápida aceitação de tudo o que nos chega de forma pronta. Temos pressa. O comercial de TV de um minuto deve transmitir tudo em cinco segundos para ter audiência num celular.

Aqueles que sentem e sofrem com as lacunas de conteúdo, e não aceitam tudo como verdade, costumam selecionar e arquivar textos para ler quando... sobrar tempo.

Nessa prática nos deparamos com coisas mais que curiosas. Em verdade, necessárias. Caso este de entrevista concedida por um dos mais provocativos filósofos da atualidade, o alemão Peter Sloterdijk, ao jornal El País.

“Perdemos a capacidade de pensar?”, indaga o jornalista.

Responde o filósofo: “Não a capacidade como tal. Mas não ocorrem as circunstâncias vitais que nos permitem afastar e ganhar distância... O dispositivo mais elementar era sempre dar um passo atrás. Essa ação permite que você se transforme em observador. Sem uma certa distância, sem uma certa desconexão, a atitude teórica é impossível. A vida atual não convida a pensar”.

Não pensar diminui a capacidade das análises amplas que caracterizam pessoas estruturadas. Assim, temos seres sociais menos preparados, que adotam pressupostos, alvos fáceis de fake news, manipuláveis, domáveis, subjugáveis. E que terminam por criar convicções que, conforme Friedrich Nietzsche, “são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras”.

Preocupante a situação de uma sociedade que não lê. Quantos de nós, efetivamente, lemos o que vem acontecendo na chamada CPI da Covid, para entender o que ali está escrito e tirar conclusões próprias?

Debatemos uma reforma tributária – que mais se assemelha a um pacote –, mas será que o que vem sendo dito está redigido? Bem sabemos que o perigo mora nos detalhes. O diabo também. Sem correto entendimento não temos como dialogar com os nossos parlamentares.

E quando assinamos um contrato, será que compreendemos realmente os compromissos pactuados? Precisam ser lidos e perfeitamente entendidos para que de fato expressem a vontade entre as partes.

E quando simplesmente aceitamos as políticas ou regras para seguir em determinados sites? Alguém já leu o que ali está escrito?

O mesmo acontece na produção de projetos de lei e sua aprovação. Uma vírgula muda tudo. Quantos, todavia, se dedicaram a interpretar o seu real significado? E, não bastasse, vêm os “jabutis”, temas que pegam carona em matérias exógenas aos objetivos de determinados projetos. A proposta de privatização da Eletrobras que o diga.

Triste constatar que muitos de nós se contentam com o supérfluo. Ler, entender, checar, confirmar e concluir é trabalhoso. Formar pensamento próprio exige o constante exercício da musculatura mental. Mesmo os mais eruditos sabem disso.

Outro filósofo alemão, Arthur Schopenhauer, sentenciou que “só quando a verdade for adquirida por seu próprio pensamento, através dos esforços de seu intelecto, ela se torna membro de seu próprio corpo, e só essa verdade realmente nos pertence”.

E, reforçando a tese, a conterrânea e também filósofa, Hannah Arendt adiciona: “Uma vida sem pensamento é totalmente possível, mas ela fracassa em fazer desabrochar sua própria essência – ela não é apenas sem sentido; ela não é totalmente viva. Pessoas que não pensam são como sonâmbulos”. E arremata: “Em nome de interesses pessoais, muitos abdicam do pensamento crítico, engolem abusos e sorriem para quem desprezam. Abdicar de pensar também é crime”.

Preparamo-nos para 2022, ano eleitoral, sem saber o que poderá acontecer até lá. Se teremos uma enxurrada de medidas populistas. Se haverá uma terceira via, ou coluna do meio. Se a retomada econômica, ora verificada, se vai sustentar. Se a inflação continuará subindo, assim como a taxa básica de juros, o dólar, os preços dos materiais de construção e, consequentemente, da habitação.

São questões por demais inquietantes para que as pessoas abdiquem de ler e compreender antes de opinar. Antes de optar.

Se não cuidarmos de fazer isso agora – e para sempre –, seremos todos vítimas da nossa própria ignorância, consequência da nossa própria apatia.

PRESIDENTE DO SECOVI-SP, A CASA DO MERCADO IMOBILIÁRIO

Não ler enseja perigos. Torna-nos reféns de palavras, em vez de contextos.

Atualmente, vê-se muito, lê-se pouco. Vemos escritos, sem nos darmos conta de que temos todas as condições para nos dedicarmos de fato à leitura.

Podemos fazê-la nos deslocamentos de trem, ônibus, metrô, em livros ou celular, o que era impossível quando cavalos e charretes eram o meio de transporte.

Temos hoje uma vida muito mais intensa e líquida. Chegamos rapidamente aos destinos. Somos impacientes, habituados que estamos cada vez mais com a instantaneidade.

A ditadura da internet consumiu o tempo necessário à interpretação dos textos que nos chegam, mesmo aqueles criptografados em emojis. Tempo para a intelecção.

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Aqueles que sentem e sofrem com as lacunas de conteúdo, e não aceitam tudo como verdade, costumam selecionar e arquivar textos para ler quando... sobrar tempo.

Nessa prática nos deparamos com coisas mais que curiosas. Em verdade, necessárias. Caso este de entrevista concedida por um dos mais provocativos filósofos da atualidade, o alemão Peter Sloterdijk, ao jornal El País.

“Perdemos a capacidade de pensar?”, indaga o jornalista.

Responde o filósofo: “Não a capacidade como tal. Mas não ocorrem as circunstâncias vitais que nos permitem afastar e ganhar distância... O dispositivo mais elementar era sempre dar um passo atrás. Essa ação permite que você se transforme em observador. Sem uma certa distância, sem uma certa desconexão, a atitude teórica é impossível. A vida atual não convida a pensar”.

Não pensar diminui a capacidade das análises amplas que caracterizam pessoas estruturadas. Assim, temos seres sociais menos preparados, que adotam pressupostos, alvos fáceis de fake news, manipuláveis, domáveis, subjugáveis. E que terminam por criar convicções que, conforme Friedrich Nietzsche, “são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras”.

Preocupante a situação de uma sociedade que não lê. Quantos de nós, efetivamente, lemos o que vem acontecendo na chamada CPI da Covid, para entender o que ali está escrito e tirar conclusões próprias?

Debatemos uma reforma tributária – que mais se assemelha a um pacote –, mas será que o que vem sendo dito está redigido? Bem sabemos que o perigo mora nos detalhes. O diabo também. Sem correto entendimento não temos como dialogar com os nossos parlamentares.

E quando assinamos um contrato, será que compreendemos realmente os compromissos pactuados? Precisam ser lidos e perfeitamente entendidos para que de fato expressem a vontade entre as partes.

E quando simplesmente aceitamos as políticas ou regras para seguir em determinados sites? Alguém já leu o que ali está escrito?

O mesmo acontece na produção de projetos de lei e sua aprovação. Uma vírgula muda tudo. Quantos, todavia, se dedicaram a interpretar o seu real significado? E, não bastasse, vêm os “jabutis”, temas que pegam carona em matérias exógenas aos objetivos de determinados projetos. A proposta de privatização da Eletrobras que o diga.

Triste constatar que muitos de nós se contentam com o supérfluo. Ler, entender, checar, confirmar e concluir é trabalhoso. Formar pensamento próprio exige o constante exercício da musculatura mental. Mesmo os mais eruditos sabem disso.

Outro filósofo alemão, Arthur Schopenhauer, sentenciou que “só quando a verdade for adquirida por seu próprio pensamento, através dos esforços de seu intelecto, ela se torna membro de seu próprio corpo, e só essa verdade realmente nos pertence”.

E, reforçando a tese, a conterrânea e também filósofa, Hannah Arendt adiciona: “Uma vida sem pensamento é totalmente possível, mas ela fracassa em fazer desabrochar sua própria essência – ela não é apenas sem sentido; ela não é totalmente viva. Pessoas que não pensam são como sonâmbulos”. E arremata: “Em nome de interesses pessoais, muitos abdicam do pensamento crítico, engolem abusos e sorriem para quem desprezam. Abdicar de pensar também é crime”.

Preparamo-nos para 2022, ano eleitoral, sem saber o que poderá acontecer até lá. Se teremos uma enxurrada de medidas populistas. Se haverá uma terceira via, ou coluna do meio. Se a retomada econômica, ora verificada, se vai sustentar. Se a inflação continuará subindo, assim como a taxa básica de juros, o dólar, os preços dos materiais de construção e, consequentemente, da habitação.

São questões por demais inquietantes para que as pessoas abdiquem de ler e compreender antes de opinar. Antes de optar.

Se não cuidarmos de fazer isso agora – e para sempre –, seremos todos vítimas da nossa própria ignorância, consequência da nossa própria apatia.

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