Opinião|Poderes ocultos na falsa república


Quando examinamos os conselheiros do nosso príncipe, um nome vem à mente: Rasputin

Por Roberto Romano

Raros governos na história política mundial agiram sem conselheiros. Embora já na Ilíada o astuto Ulisses recomende o poder de um só, a liderança exige partilhas. Reunir num dirigente decisões estratégicas traz inconvenientes só remediados pela tirania. Escritos clássicos evidenciam a relevância dos ministros, secretários e similares na ordem estatal. Os conselheiros podem agir às claras ou exercer seu ofício nas sombras. Não raro surgem conflitos entre poderosos e auxiliares, o que traz desgraças aos dois.

Platão exemplifica a tragédia do aconselhamento. Dionísio, tirano da Sicília, pediu-lhe ajuda para definir uma administração justa e verdadeira. O autor da República caiu na armadilha, ensinou ao hospedeiro verdades insuportáveis. Como “prêmio” ele foi vendido como escravo. A Carta Sétima platônica narra as desventuras do infeliz conselheiro. Maquiavel entra no rol dos sapientes em desgraça após cumprir as missões secretas da república. É imensa a lista dos desenganos vividos nos palácios.

Um ajudante governamental bem-sucedido e que agiu nas sombras é o famoso Père Joseph, alma gêmea do cardeal Richelieu. Ele auxiliou na tarefa de edificar o moderno Estado francês, modelo dos Estados europeus desde então. Na política internacional e nos assuntos internos nota-se o mencionado clérigo agindo como eminência oculta.

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Aconselhar o dirigente máximo de uma coletividade política – inserida em territórios controlados por outras soberanias – exige treino, ciência, prudência. O Père Joseph, religioso erudito, desde a mais tenra idade aprendeu as bases do saber. Aos 16 anos ele dominava a língua italiana e o espanhol, o latim e o grego. Era também capacitado em direito e matemáticas superiores, lia o hebreu, nas artes militares praticava tiro e equitação. Ao conhecer Richelieu o frade estava a par da política internacional e impulsionou opções diplomáticas da França. “O Père Joseph, não apenas cumpriu brilhantemente as missões das quais foi encarregado, mas ele também sabia, único entre todos, apresentar críticas que sempre impressionaram Richelieu. Este último com frequência levava em conta seus alertas” (Carl J. Burckhardt, Richelieu).

Gabriel Naudé reserva o capítulo quinto de sua obra sobre os golpes de Estado à escolha de auxiliares pelo governante. Fundador de instituições sólidas na construção do Estado francês, como a Biblioteca Mazarino, ele recomenda opção por conselheiros prudentes, amorosos da coisa pública, de espírito agudo.

No Brasil, personagens ilustres cumpriram o papel de aconselhar o príncipe. De José Bonifácio a San Tiago Dantas, a política governamental sempre teve pessoas sábias que desenharam saídas para os dilemas pátrios. Nem sempre tais ajudantes demonstraram espírito democrático. Francisco Campos e Golbery do Couto e Silva exibiam perfis tirânicos. Mas sua presença nos palácios definiu rotas para o Estado.

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Chegamos aos nossos dias. Nos Estados Unidos, Donald Trump cerca-se de conselheiros tão ignaros quanto ele. Nas sombras, Bannon e seus manejos internacionais pioram a política estadunidense, interna ou externa. Na Itália, Berlusconi acolhe uma intelectualidade cuja marca principal é a ideologia autoritária. Na França, Sarkosy vê-se rodeado de auxiliares opostos a tudo o que significa a antiga república. Angela Merkel brilha – estrela solitária – numa constelação governamental obscura e obscurantista. A União Europeia, assim, nem sequer conseguiu definir uma sólida Constituição.

No Brasil a Presidência da República é aconselhada por um gabinete oculto, com várias atribuições. Nenhuma delas integra a lista das mais relevantes missões estatais. Na política externa, o grupo é liderado por Eduardo Bolsonaro. A experiência demonstrada por ele é interessante: trabalhou em lanchonete nos Estados Unidos. Mas comanda a Comissão de Relações Internacionais da Câmara dos Deputados. No campo da saúde pública e das comunicações, temos outro membro da família, Carlos Bolsonaro. Pelos testemunhos na CPI da Covid, ele foi ouvido na recusa de vacinas, na administração de fármacos, etc. Não foi publicado até hoje o diploma médico do referido príncipe. Nos tratos com o Congresso o conselheiro é Flávio Bolsonaro. Sua competência não impediu a abertura da referida CPI e não consegue esconder procedimentos contrários a todo o direito público, como o escândalo tratoral do orçamento secreto. Sim, o gabinete oculto encarregado de espalhar fake news também opera no interior do Planalto.

Quando examinamos tais conselheiros semiocultos do nosso príncipe, um só nome vem à mente com celeridade: Rasputin. Ao usar a fé da imperatriz e cooptar com promessas de poder parte da corte russa, aquela pessoa apressou a queda do regime imperial, tantos foram os absurdos praticados pela casa reinante sob seus auspícios.

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Lida, a História política é cheia de exemplos quando se trata dos riscos no aconselhamento do governante. Mas quem hoje pratica a leitura no Palácio do Planalto?

PROFESSOR DA UNICAMP, É AUTOR DE ‘RAZÕES DE ESTADO E OUTROS ESTADOS DA RAZÃO’ (PERSPECTIVA)

Raros governos na história política mundial agiram sem conselheiros. Embora já na Ilíada o astuto Ulisses recomende o poder de um só, a liderança exige partilhas. Reunir num dirigente decisões estratégicas traz inconvenientes só remediados pela tirania. Escritos clássicos evidenciam a relevância dos ministros, secretários e similares na ordem estatal. Os conselheiros podem agir às claras ou exercer seu ofício nas sombras. Não raro surgem conflitos entre poderosos e auxiliares, o que traz desgraças aos dois.

Platão exemplifica a tragédia do aconselhamento. Dionísio, tirano da Sicília, pediu-lhe ajuda para definir uma administração justa e verdadeira. O autor da República caiu na armadilha, ensinou ao hospedeiro verdades insuportáveis. Como “prêmio” ele foi vendido como escravo. A Carta Sétima platônica narra as desventuras do infeliz conselheiro. Maquiavel entra no rol dos sapientes em desgraça após cumprir as missões secretas da república. É imensa a lista dos desenganos vividos nos palácios.

Um ajudante governamental bem-sucedido e que agiu nas sombras é o famoso Père Joseph, alma gêmea do cardeal Richelieu. Ele auxiliou na tarefa de edificar o moderno Estado francês, modelo dos Estados europeus desde então. Na política internacional e nos assuntos internos nota-se o mencionado clérigo agindo como eminência oculta.

Aconselhar o dirigente máximo de uma coletividade política – inserida em territórios controlados por outras soberanias – exige treino, ciência, prudência. O Père Joseph, religioso erudito, desde a mais tenra idade aprendeu as bases do saber. Aos 16 anos ele dominava a língua italiana e o espanhol, o latim e o grego. Era também capacitado em direito e matemáticas superiores, lia o hebreu, nas artes militares praticava tiro e equitação. Ao conhecer Richelieu o frade estava a par da política internacional e impulsionou opções diplomáticas da França. “O Père Joseph, não apenas cumpriu brilhantemente as missões das quais foi encarregado, mas ele também sabia, único entre todos, apresentar críticas que sempre impressionaram Richelieu. Este último com frequência levava em conta seus alertas” (Carl J. Burckhardt, Richelieu).

Gabriel Naudé reserva o capítulo quinto de sua obra sobre os golpes de Estado à escolha de auxiliares pelo governante. Fundador de instituições sólidas na construção do Estado francês, como a Biblioteca Mazarino, ele recomenda opção por conselheiros prudentes, amorosos da coisa pública, de espírito agudo.

No Brasil, personagens ilustres cumpriram o papel de aconselhar o príncipe. De José Bonifácio a San Tiago Dantas, a política governamental sempre teve pessoas sábias que desenharam saídas para os dilemas pátrios. Nem sempre tais ajudantes demonstraram espírito democrático. Francisco Campos e Golbery do Couto e Silva exibiam perfis tirânicos. Mas sua presença nos palácios definiu rotas para o Estado.

Chegamos aos nossos dias. Nos Estados Unidos, Donald Trump cerca-se de conselheiros tão ignaros quanto ele. Nas sombras, Bannon e seus manejos internacionais pioram a política estadunidense, interna ou externa. Na Itália, Berlusconi acolhe uma intelectualidade cuja marca principal é a ideologia autoritária. Na França, Sarkosy vê-se rodeado de auxiliares opostos a tudo o que significa a antiga república. Angela Merkel brilha – estrela solitária – numa constelação governamental obscura e obscurantista. A União Europeia, assim, nem sequer conseguiu definir uma sólida Constituição.

No Brasil a Presidência da República é aconselhada por um gabinete oculto, com várias atribuições. Nenhuma delas integra a lista das mais relevantes missões estatais. Na política externa, o grupo é liderado por Eduardo Bolsonaro. A experiência demonstrada por ele é interessante: trabalhou em lanchonete nos Estados Unidos. Mas comanda a Comissão de Relações Internacionais da Câmara dos Deputados. No campo da saúde pública e das comunicações, temos outro membro da família, Carlos Bolsonaro. Pelos testemunhos na CPI da Covid, ele foi ouvido na recusa de vacinas, na administração de fármacos, etc. Não foi publicado até hoje o diploma médico do referido príncipe. Nos tratos com o Congresso o conselheiro é Flávio Bolsonaro. Sua competência não impediu a abertura da referida CPI e não consegue esconder procedimentos contrários a todo o direito público, como o escândalo tratoral do orçamento secreto. Sim, o gabinete oculto encarregado de espalhar fake news também opera no interior do Planalto.

Quando examinamos tais conselheiros semiocultos do nosso príncipe, um só nome vem à mente com celeridade: Rasputin. Ao usar a fé da imperatriz e cooptar com promessas de poder parte da corte russa, aquela pessoa apressou a queda do regime imperial, tantos foram os absurdos praticados pela casa reinante sob seus auspícios.

Lida, a História política é cheia de exemplos quando se trata dos riscos no aconselhamento do governante. Mas quem hoje pratica a leitura no Palácio do Planalto?

PROFESSOR DA UNICAMP, É AUTOR DE ‘RAZÕES DE ESTADO E OUTROS ESTADOS DA RAZÃO’ (PERSPECTIVA)

Raros governos na história política mundial agiram sem conselheiros. Embora já na Ilíada o astuto Ulisses recomende o poder de um só, a liderança exige partilhas. Reunir num dirigente decisões estratégicas traz inconvenientes só remediados pela tirania. Escritos clássicos evidenciam a relevância dos ministros, secretários e similares na ordem estatal. Os conselheiros podem agir às claras ou exercer seu ofício nas sombras. Não raro surgem conflitos entre poderosos e auxiliares, o que traz desgraças aos dois.

Platão exemplifica a tragédia do aconselhamento. Dionísio, tirano da Sicília, pediu-lhe ajuda para definir uma administração justa e verdadeira. O autor da República caiu na armadilha, ensinou ao hospedeiro verdades insuportáveis. Como “prêmio” ele foi vendido como escravo. A Carta Sétima platônica narra as desventuras do infeliz conselheiro. Maquiavel entra no rol dos sapientes em desgraça após cumprir as missões secretas da república. É imensa a lista dos desenganos vividos nos palácios.

Um ajudante governamental bem-sucedido e que agiu nas sombras é o famoso Père Joseph, alma gêmea do cardeal Richelieu. Ele auxiliou na tarefa de edificar o moderno Estado francês, modelo dos Estados europeus desde então. Na política internacional e nos assuntos internos nota-se o mencionado clérigo agindo como eminência oculta.

Aconselhar o dirigente máximo de uma coletividade política – inserida em territórios controlados por outras soberanias – exige treino, ciência, prudência. O Père Joseph, religioso erudito, desde a mais tenra idade aprendeu as bases do saber. Aos 16 anos ele dominava a língua italiana e o espanhol, o latim e o grego. Era também capacitado em direito e matemáticas superiores, lia o hebreu, nas artes militares praticava tiro e equitação. Ao conhecer Richelieu o frade estava a par da política internacional e impulsionou opções diplomáticas da França. “O Père Joseph, não apenas cumpriu brilhantemente as missões das quais foi encarregado, mas ele também sabia, único entre todos, apresentar críticas que sempre impressionaram Richelieu. Este último com frequência levava em conta seus alertas” (Carl J. Burckhardt, Richelieu).

Gabriel Naudé reserva o capítulo quinto de sua obra sobre os golpes de Estado à escolha de auxiliares pelo governante. Fundador de instituições sólidas na construção do Estado francês, como a Biblioteca Mazarino, ele recomenda opção por conselheiros prudentes, amorosos da coisa pública, de espírito agudo.

No Brasil, personagens ilustres cumpriram o papel de aconselhar o príncipe. De José Bonifácio a San Tiago Dantas, a política governamental sempre teve pessoas sábias que desenharam saídas para os dilemas pátrios. Nem sempre tais ajudantes demonstraram espírito democrático. Francisco Campos e Golbery do Couto e Silva exibiam perfis tirânicos. Mas sua presença nos palácios definiu rotas para o Estado.

Chegamos aos nossos dias. Nos Estados Unidos, Donald Trump cerca-se de conselheiros tão ignaros quanto ele. Nas sombras, Bannon e seus manejos internacionais pioram a política estadunidense, interna ou externa. Na Itália, Berlusconi acolhe uma intelectualidade cuja marca principal é a ideologia autoritária. Na França, Sarkosy vê-se rodeado de auxiliares opostos a tudo o que significa a antiga república. Angela Merkel brilha – estrela solitária – numa constelação governamental obscura e obscurantista. A União Europeia, assim, nem sequer conseguiu definir uma sólida Constituição.

No Brasil a Presidência da República é aconselhada por um gabinete oculto, com várias atribuições. Nenhuma delas integra a lista das mais relevantes missões estatais. Na política externa, o grupo é liderado por Eduardo Bolsonaro. A experiência demonstrada por ele é interessante: trabalhou em lanchonete nos Estados Unidos. Mas comanda a Comissão de Relações Internacionais da Câmara dos Deputados. No campo da saúde pública e das comunicações, temos outro membro da família, Carlos Bolsonaro. Pelos testemunhos na CPI da Covid, ele foi ouvido na recusa de vacinas, na administração de fármacos, etc. Não foi publicado até hoje o diploma médico do referido príncipe. Nos tratos com o Congresso o conselheiro é Flávio Bolsonaro. Sua competência não impediu a abertura da referida CPI e não consegue esconder procedimentos contrários a todo o direito público, como o escândalo tratoral do orçamento secreto. Sim, o gabinete oculto encarregado de espalhar fake news também opera no interior do Planalto.

Quando examinamos tais conselheiros semiocultos do nosso príncipe, um só nome vem à mente com celeridade: Rasputin. Ao usar a fé da imperatriz e cooptar com promessas de poder parte da corte russa, aquela pessoa apressou a queda do regime imperial, tantos foram os absurdos praticados pela casa reinante sob seus auspícios.

Lida, a História política é cheia de exemplos quando se trata dos riscos no aconselhamento do governante. Mas quem hoje pratica a leitura no Palácio do Planalto?

PROFESSOR DA UNICAMP, É AUTOR DE ‘RAZÕES DE ESTADO E OUTROS ESTADOS DA RAZÃO’ (PERSPECTIVA)

Raros governos na história política mundial agiram sem conselheiros. Embora já na Ilíada o astuto Ulisses recomende o poder de um só, a liderança exige partilhas. Reunir num dirigente decisões estratégicas traz inconvenientes só remediados pela tirania. Escritos clássicos evidenciam a relevância dos ministros, secretários e similares na ordem estatal. Os conselheiros podem agir às claras ou exercer seu ofício nas sombras. Não raro surgem conflitos entre poderosos e auxiliares, o que traz desgraças aos dois.

Platão exemplifica a tragédia do aconselhamento. Dionísio, tirano da Sicília, pediu-lhe ajuda para definir uma administração justa e verdadeira. O autor da República caiu na armadilha, ensinou ao hospedeiro verdades insuportáveis. Como “prêmio” ele foi vendido como escravo. A Carta Sétima platônica narra as desventuras do infeliz conselheiro. Maquiavel entra no rol dos sapientes em desgraça após cumprir as missões secretas da república. É imensa a lista dos desenganos vividos nos palácios.

Um ajudante governamental bem-sucedido e que agiu nas sombras é o famoso Père Joseph, alma gêmea do cardeal Richelieu. Ele auxiliou na tarefa de edificar o moderno Estado francês, modelo dos Estados europeus desde então. Na política internacional e nos assuntos internos nota-se o mencionado clérigo agindo como eminência oculta.

Aconselhar o dirigente máximo de uma coletividade política – inserida em territórios controlados por outras soberanias – exige treino, ciência, prudência. O Père Joseph, religioso erudito, desde a mais tenra idade aprendeu as bases do saber. Aos 16 anos ele dominava a língua italiana e o espanhol, o latim e o grego. Era também capacitado em direito e matemáticas superiores, lia o hebreu, nas artes militares praticava tiro e equitação. Ao conhecer Richelieu o frade estava a par da política internacional e impulsionou opções diplomáticas da França. “O Père Joseph, não apenas cumpriu brilhantemente as missões das quais foi encarregado, mas ele também sabia, único entre todos, apresentar críticas que sempre impressionaram Richelieu. Este último com frequência levava em conta seus alertas” (Carl J. Burckhardt, Richelieu).

Gabriel Naudé reserva o capítulo quinto de sua obra sobre os golpes de Estado à escolha de auxiliares pelo governante. Fundador de instituições sólidas na construção do Estado francês, como a Biblioteca Mazarino, ele recomenda opção por conselheiros prudentes, amorosos da coisa pública, de espírito agudo.

No Brasil, personagens ilustres cumpriram o papel de aconselhar o príncipe. De José Bonifácio a San Tiago Dantas, a política governamental sempre teve pessoas sábias que desenharam saídas para os dilemas pátrios. Nem sempre tais ajudantes demonstraram espírito democrático. Francisco Campos e Golbery do Couto e Silva exibiam perfis tirânicos. Mas sua presença nos palácios definiu rotas para o Estado.

Chegamos aos nossos dias. Nos Estados Unidos, Donald Trump cerca-se de conselheiros tão ignaros quanto ele. Nas sombras, Bannon e seus manejos internacionais pioram a política estadunidense, interna ou externa. Na Itália, Berlusconi acolhe uma intelectualidade cuja marca principal é a ideologia autoritária. Na França, Sarkosy vê-se rodeado de auxiliares opostos a tudo o que significa a antiga república. Angela Merkel brilha – estrela solitária – numa constelação governamental obscura e obscurantista. A União Europeia, assim, nem sequer conseguiu definir uma sólida Constituição.

No Brasil a Presidência da República é aconselhada por um gabinete oculto, com várias atribuições. Nenhuma delas integra a lista das mais relevantes missões estatais. Na política externa, o grupo é liderado por Eduardo Bolsonaro. A experiência demonstrada por ele é interessante: trabalhou em lanchonete nos Estados Unidos. Mas comanda a Comissão de Relações Internacionais da Câmara dos Deputados. No campo da saúde pública e das comunicações, temos outro membro da família, Carlos Bolsonaro. Pelos testemunhos na CPI da Covid, ele foi ouvido na recusa de vacinas, na administração de fármacos, etc. Não foi publicado até hoje o diploma médico do referido príncipe. Nos tratos com o Congresso o conselheiro é Flávio Bolsonaro. Sua competência não impediu a abertura da referida CPI e não consegue esconder procedimentos contrários a todo o direito público, como o escândalo tratoral do orçamento secreto. Sim, o gabinete oculto encarregado de espalhar fake news também opera no interior do Planalto.

Quando examinamos tais conselheiros semiocultos do nosso príncipe, um só nome vem à mente com celeridade: Rasputin. Ao usar a fé da imperatriz e cooptar com promessas de poder parte da corte russa, aquela pessoa apressou a queda do regime imperial, tantos foram os absurdos praticados pela casa reinante sob seus auspícios.

Lida, a História política é cheia de exemplos quando se trata dos riscos no aconselhamento do governante. Mas quem hoje pratica a leitura no Palácio do Planalto?

PROFESSOR DA UNICAMP, É AUTOR DE ‘RAZÕES DE ESTADO E OUTROS ESTADOS DA RAZÃO’ (PERSPECTIVA)

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