Opinião|Política ambiental desastrada e insustentável


Inevitável a demissão do ministro Ricardo Salles para encerrar a era de trevas na esfera federal

Por João Lara Mesquita

Depois de 18 meses de mandato o Brasil declinou da liderança ambiental no concerto das nações e galgou a posição de pária. Economistas, empresários, diplomatas e ex-ministros do Meio Ambiente alertaram sobre as consequências.

O ápice foi no Fórum Econômico Mundial. Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, e Paulo Guedes, da Economia, ouviram: “Ou o Brasil muda sua política, ou não haverá investimentos no País”. Davos não se conformava com o aumento de 34% no desmatamento ilegal em 2019, comparado a 2018. Essa a razão por trás do Conselho da Amazônia sem a presença de Ricardo Salles.  Maior reação em 2020? Sim, na forma de agressões contra o maior parceiro comercial, a China. Como agressões são parte indissociáveis da atual administração, aguardava-se algo novo. Em maio de 2020 foi apresentada a Operação Verde Brasil 2, pelo responsável do Conselho da Amazônia, o vice-presidente Hamilton Mourão. Mais uma vez o Exército foi chamado para conter queimadas ilegais.

Não durou muito. Em julho de 2020, início do período da seca, a operação abandonou a ação no Pará, em Uruará, município cortado pela Transamazônica, apinhado de madeireiras ilegais. A paralisação foi comunicada pelo Ibama, conforme reportagem do Estado: “Informo que, sem o apoio do Exército, se torna inviável a continuidade das ações, o que fez com que os agentes dos demais órgãos envolvidos, Polícia Rodoviária Federal, Força Nacional, além da empresa de logística contratada para a retirada e transporte das serrarias, fiquem parados, pagando diárias, aguardando resposta do Exército, uma vez que o mesmo não deixou claro se haverá ou não continuidade da sua participação na ação”.

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O jornal alertou que a Verde Brasil 2 “havia executado 0,7% do orçamento”. O governo negou. Parênteses: de janeiro de 2019 a março de 2020, de acordo com dados oficiais, a região onde vivem os indígenas, Arara, considerada pelo Ibama um dos principais focos de desmatamento, perdera mais de 8 mil hectares de floresta.

Não se ouviu mais falar em Verde Brasil 2. No entanto, ouviram-se, e muito, ameaças de fundos de investimento internacionais, e a improvável ratificação pelos países da União Europeia do acordo com o Mercosul.

Em maio de 2020 o Inpe apontou 13 meses de aumento consecutivo em relação ao mesmo período de 2019 na Amazônia, demonstrando tendência superior para 2020. Com o governo acuado, e por sugestão de Roberto Campos Neto, foi armada uma reunião entre Mourão e investidores na primeira semana de julho, depois de muita pressão nacional, quando grupos de empresários pesos-pesados, inclusos expoentes do agronegócio moderno, rogavam que Bolsonaro mudasse a política indigesta para a Amazônia. Mourão pôs a culpa no déficit de pessoal do Ibama e do ICMBio por governos passados e não se comprometeu com prazos ou metas. Segundo Ricardo Galvão, em entrevista ao programa Em Pauta de 13 de julho, o déficit é fato, “vem dos últimos dez anos e só no Ibama chega a cerca de 2 mil funcionários”.

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Mourão não explicou por que parou a Operação Verde Brasil 2, usando apenas 0,7% da verba. Nem que Jair Bolsonaro fez igual ao PT, que acusava com razão: aparelhou os órgãos desde que seus ocupantes professem fé no espectro político da extrema direita. Mas não informou que nenhum novo concurso foi aberto para os quadros do Ibama, enquanto Bolsonaro e seu ministro não fizeram senão demonizar a fiscalização.

Não havia passado uma semana da reunião quando vieram à tona novos dados do desmatamento. O Inpe divulgou que junho teve o maior número de alertas de desmatamento da série histórica iniciada em 2015. Nova ação desastrada: exoneração da coordenadora de Observação da Terra, Lubia Vinhas, do Inpe.

Os negacionistas dizem que a exoneração nada tem que ver com dados de desmatamento, mas, sim, reestruturação do Inpe. Para nós, o Inpe passa pelo mesmo processo que o MMA: desmonte sob auspícios presidenciais, suspeita amparada por carta de técnicos denunciando “estruturas paralelas”, nos “moldes militares”.

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Mesmo que a “reestruturação” fosse verdadeira, era o momento adequado, depois de tanto barulho, reuniões e alertas? Imagino o que devem pensar os investidores e a comunidade internacional. A esta altura a mídia lá fora já repercutiu esse ato.

Quando não gosta dos dados, o governo exonera a portadora ou o portador. Simplório, como sempre. Um ano e meio perdido na Educação por obtusidade; na Saúde, por negligência; e no Meio Ambiente, por inconsequência.

Ele pode e deve continuar teimando, como fez com a covid-19. Mas a qualificação de pária só muda quando abaixar as armas e escolher para ministro do Meio Ambiente alguém com mínimas qualificações, como depois de 18 meses fez com o da Educação. E está na iminência de fazer com o da Saúde.

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“O governo está nas cordas”, admitiu Mourão. Para sair delas será forçado a demitir Ricardo Salles, último “ministro” (idem) escolhido. Inevitável ato a encerrar a era de trevas na esfera federal.

JORNALISTA, MANTENEDOR DO SITE WWW.MARSEMFIM.COM.BR

Depois de 18 meses de mandato o Brasil declinou da liderança ambiental no concerto das nações e galgou a posição de pária. Economistas, empresários, diplomatas e ex-ministros do Meio Ambiente alertaram sobre as consequências.

O ápice foi no Fórum Econômico Mundial. Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, e Paulo Guedes, da Economia, ouviram: “Ou o Brasil muda sua política, ou não haverá investimentos no País”. Davos não se conformava com o aumento de 34% no desmatamento ilegal em 2019, comparado a 2018. Essa a razão por trás do Conselho da Amazônia sem a presença de Ricardo Salles.  Maior reação em 2020? Sim, na forma de agressões contra o maior parceiro comercial, a China. Como agressões são parte indissociáveis da atual administração, aguardava-se algo novo. Em maio de 2020 foi apresentada a Operação Verde Brasil 2, pelo responsável do Conselho da Amazônia, o vice-presidente Hamilton Mourão. Mais uma vez o Exército foi chamado para conter queimadas ilegais.

Não durou muito. Em julho de 2020, início do período da seca, a operação abandonou a ação no Pará, em Uruará, município cortado pela Transamazônica, apinhado de madeireiras ilegais. A paralisação foi comunicada pelo Ibama, conforme reportagem do Estado: “Informo que, sem o apoio do Exército, se torna inviável a continuidade das ações, o que fez com que os agentes dos demais órgãos envolvidos, Polícia Rodoviária Federal, Força Nacional, além da empresa de logística contratada para a retirada e transporte das serrarias, fiquem parados, pagando diárias, aguardando resposta do Exército, uma vez que o mesmo não deixou claro se haverá ou não continuidade da sua participação na ação”.

O jornal alertou que a Verde Brasil 2 “havia executado 0,7% do orçamento”. O governo negou. Parênteses: de janeiro de 2019 a março de 2020, de acordo com dados oficiais, a região onde vivem os indígenas, Arara, considerada pelo Ibama um dos principais focos de desmatamento, perdera mais de 8 mil hectares de floresta.

Não se ouviu mais falar em Verde Brasil 2. No entanto, ouviram-se, e muito, ameaças de fundos de investimento internacionais, e a improvável ratificação pelos países da União Europeia do acordo com o Mercosul.

Em maio de 2020 o Inpe apontou 13 meses de aumento consecutivo em relação ao mesmo período de 2019 na Amazônia, demonstrando tendência superior para 2020. Com o governo acuado, e por sugestão de Roberto Campos Neto, foi armada uma reunião entre Mourão e investidores na primeira semana de julho, depois de muita pressão nacional, quando grupos de empresários pesos-pesados, inclusos expoentes do agronegócio moderno, rogavam que Bolsonaro mudasse a política indigesta para a Amazônia. Mourão pôs a culpa no déficit de pessoal do Ibama e do ICMBio por governos passados e não se comprometeu com prazos ou metas. Segundo Ricardo Galvão, em entrevista ao programa Em Pauta de 13 de julho, o déficit é fato, “vem dos últimos dez anos e só no Ibama chega a cerca de 2 mil funcionários”.

Mourão não explicou por que parou a Operação Verde Brasil 2, usando apenas 0,7% da verba. Nem que Jair Bolsonaro fez igual ao PT, que acusava com razão: aparelhou os órgãos desde que seus ocupantes professem fé no espectro político da extrema direita. Mas não informou que nenhum novo concurso foi aberto para os quadros do Ibama, enquanto Bolsonaro e seu ministro não fizeram senão demonizar a fiscalização.

Não havia passado uma semana da reunião quando vieram à tona novos dados do desmatamento. O Inpe divulgou que junho teve o maior número de alertas de desmatamento da série histórica iniciada em 2015. Nova ação desastrada: exoneração da coordenadora de Observação da Terra, Lubia Vinhas, do Inpe.

Os negacionistas dizem que a exoneração nada tem que ver com dados de desmatamento, mas, sim, reestruturação do Inpe. Para nós, o Inpe passa pelo mesmo processo que o MMA: desmonte sob auspícios presidenciais, suspeita amparada por carta de técnicos denunciando “estruturas paralelas”, nos “moldes militares”.

Mesmo que a “reestruturação” fosse verdadeira, era o momento adequado, depois de tanto barulho, reuniões e alertas? Imagino o que devem pensar os investidores e a comunidade internacional. A esta altura a mídia lá fora já repercutiu esse ato.

Quando não gosta dos dados, o governo exonera a portadora ou o portador. Simplório, como sempre. Um ano e meio perdido na Educação por obtusidade; na Saúde, por negligência; e no Meio Ambiente, por inconsequência.

Ele pode e deve continuar teimando, como fez com a covid-19. Mas a qualificação de pária só muda quando abaixar as armas e escolher para ministro do Meio Ambiente alguém com mínimas qualificações, como depois de 18 meses fez com o da Educação. E está na iminência de fazer com o da Saúde.

“O governo está nas cordas”, admitiu Mourão. Para sair delas será forçado a demitir Ricardo Salles, último “ministro” (idem) escolhido. Inevitável ato a encerrar a era de trevas na esfera federal.

JORNALISTA, MANTENEDOR DO SITE WWW.MARSEMFIM.COM.BR

Depois de 18 meses de mandato o Brasil declinou da liderança ambiental no concerto das nações e galgou a posição de pária. Economistas, empresários, diplomatas e ex-ministros do Meio Ambiente alertaram sobre as consequências.

O ápice foi no Fórum Econômico Mundial. Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, e Paulo Guedes, da Economia, ouviram: “Ou o Brasil muda sua política, ou não haverá investimentos no País”. Davos não se conformava com o aumento de 34% no desmatamento ilegal em 2019, comparado a 2018. Essa a razão por trás do Conselho da Amazônia sem a presença de Ricardo Salles.  Maior reação em 2020? Sim, na forma de agressões contra o maior parceiro comercial, a China. Como agressões são parte indissociáveis da atual administração, aguardava-se algo novo. Em maio de 2020 foi apresentada a Operação Verde Brasil 2, pelo responsável do Conselho da Amazônia, o vice-presidente Hamilton Mourão. Mais uma vez o Exército foi chamado para conter queimadas ilegais.

Não durou muito. Em julho de 2020, início do período da seca, a operação abandonou a ação no Pará, em Uruará, município cortado pela Transamazônica, apinhado de madeireiras ilegais. A paralisação foi comunicada pelo Ibama, conforme reportagem do Estado: “Informo que, sem o apoio do Exército, se torna inviável a continuidade das ações, o que fez com que os agentes dos demais órgãos envolvidos, Polícia Rodoviária Federal, Força Nacional, além da empresa de logística contratada para a retirada e transporte das serrarias, fiquem parados, pagando diárias, aguardando resposta do Exército, uma vez que o mesmo não deixou claro se haverá ou não continuidade da sua participação na ação”.

O jornal alertou que a Verde Brasil 2 “havia executado 0,7% do orçamento”. O governo negou. Parênteses: de janeiro de 2019 a março de 2020, de acordo com dados oficiais, a região onde vivem os indígenas, Arara, considerada pelo Ibama um dos principais focos de desmatamento, perdera mais de 8 mil hectares de floresta.

Não se ouviu mais falar em Verde Brasil 2. No entanto, ouviram-se, e muito, ameaças de fundos de investimento internacionais, e a improvável ratificação pelos países da União Europeia do acordo com o Mercosul.

Em maio de 2020 o Inpe apontou 13 meses de aumento consecutivo em relação ao mesmo período de 2019 na Amazônia, demonstrando tendência superior para 2020. Com o governo acuado, e por sugestão de Roberto Campos Neto, foi armada uma reunião entre Mourão e investidores na primeira semana de julho, depois de muita pressão nacional, quando grupos de empresários pesos-pesados, inclusos expoentes do agronegócio moderno, rogavam que Bolsonaro mudasse a política indigesta para a Amazônia. Mourão pôs a culpa no déficit de pessoal do Ibama e do ICMBio por governos passados e não se comprometeu com prazos ou metas. Segundo Ricardo Galvão, em entrevista ao programa Em Pauta de 13 de julho, o déficit é fato, “vem dos últimos dez anos e só no Ibama chega a cerca de 2 mil funcionários”.

Mourão não explicou por que parou a Operação Verde Brasil 2, usando apenas 0,7% da verba. Nem que Jair Bolsonaro fez igual ao PT, que acusava com razão: aparelhou os órgãos desde que seus ocupantes professem fé no espectro político da extrema direita. Mas não informou que nenhum novo concurso foi aberto para os quadros do Ibama, enquanto Bolsonaro e seu ministro não fizeram senão demonizar a fiscalização.

Não havia passado uma semana da reunião quando vieram à tona novos dados do desmatamento. O Inpe divulgou que junho teve o maior número de alertas de desmatamento da série histórica iniciada em 2015. Nova ação desastrada: exoneração da coordenadora de Observação da Terra, Lubia Vinhas, do Inpe.

Os negacionistas dizem que a exoneração nada tem que ver com dados de desmatamento, mas, sim, reestruturação do Inpe. Para nós, o Inpe passa pelo mesmo processo que o MMA: desmonte sob auspícios presidenciais, suspeita amparada por carta de técnicos denunciando “estruturas paralelas”, nos “moldes militares”.

Mesmo que a “reestruturação” fosse verdadeira, era o momento adequado, depois de tanto barulho, reuniões e alertas? Imagino o que devem pensar os investidores e a comunidade internacional. A esta altura a mídia lá fora já repercutiu esse ato.

Quando não gosta dos dados, o governo exonera a portadora ou o portador. Simplório, como sempre. Um ano e meio perdido na Educação por obtusidade; na Saúde, por negligência; e no Meio Ambiente, por inconsequência.

Ele pode e deve continuar teimando, como fez com a covid-19. Mas a qualificação de pária só muda quando abaixar as armas e escolher para ministro do Meio Ambiente alguém com mínimas qualificações, como depois de 18 meses fez com o da Educação. E está na iminência de fazer com o da Saúde.

“O governo está nas cordas”, admitiu Mourão. Para sair delas será forçado a demitir Ricardo Salles, último “ministro” (idem) escolhido. Inevitável ato a encerrar a era de trevas na esfera federal.

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