Opinião|Reduzir emissões de metano é fator-chave para mitigar catástrofes climáticas


No Brasil, 90% das emissões são provenientes do setor da agropecuária e de aterros sanitários

Por Fabio Rubens Soares

As mudanças climáticas estão entre as maiores ameaças à humanidade no século 21. Eventos climáticos extremos, como enchentes, secas e incêndios florestais, estão se tornando cada vez mais frequentes e intensos, causando danos significativos às comunidades e ecossistemas. Um exemplo recente do impacto devastador dessas mudanças são as enchentes que presenciamos no Rio Grande do Sul, um desastre que causou perdas humanas e econômicas consideráveis.

Diversas vozes surgem buscando responsáveis pela morte de mais de uma centena de vítimas, e inúmeros especialistas aparecem oferecendo soluções “milagrosas”. No entanto, poucos se dedicam a investigar a raiz dos problemas e a propor soluções eficazes para combatê-los. A questão central é clara: os efeitos do aquecimento global. E a solução também é clara: combater as emissões de gases de efeito estufa. Desde a Eco-92 esse tema tem sido debatido, mas só agora parece ganhar a devida relevância.

Para combater essas mudanças, a redução das emissões de metano tem um papel crucial no cumprimento do Acordo de Paris e do Compromisso Global de Metano. O metano é um potente gás de efeito estufa com um impacto climático 86 vezes maior que o dióxido de carbono em um horizonte de 20 anos (GWP-20, IPCC). A redução das emissões de metano é vital para limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, conforme estabelecido pelo Acordo de Paris. O Compromisso Global de Metano, lançado durante a COP-26, visa a reduzir as emissões globais de metano em pelo menos 30% até 2030. Atingir esse objetivo pode evitar quase 0,3°C de aquecimento até 2045 e complementar os esforços de mitigação de longo prazo.

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Cerca de 45% das emissões de gases de efeito estufa no mundo são provenientes do metano. No Brasil, especificamente, 90% das emissões são provenientes do setor da agropecuária e de aterros sanitários. A geração de energia por meio dos resíduos, portanto, torna-se crucial para que o Brasil possa mitigar o surgimento de novas catástrofes e, ao mesmo tempo, atender ao Compromisso Global de Metano até 2030.

Estudos recentes realizados com a utilização de imagens de satélites com câmeras de espectrometria que detectam plumas de metano de superemissores (óleo, gás e aterros) indicam que aterros sanitários emitem três vezes mais metano do que está previsto nos inventários atuais (Revista Science, 2024). Nos Estados Unidos, um estudo da Agência Ambiental EPA (LMOP, 2021) indicou que os aterros capturam apenas 48% do metano, de acordo com 396 aterros investigados, e o quinto relatório do IPCC (2011) já indicava que a recuperação energética (waste-to-energy) é a melhor solução para desviar resíduos dos aterros sanitários e mitigar as emissões de metano.

O Fórum Econômico Mundial lançou recentemente o estudo Amplifying the Global Value of Earth Observation, em que destaca a importância das observações terrestres para enfrentar os desafios ambientais globais. A coleta de dados precisos e atualizados sobre o clima, o uso da terra e os recursos naturais são fundamentais para a formulação de políticas públicas eficazes e para a implementação de estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

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Investimentos em tecnologias de observação da Terra podem acelerar a transição para uma economia sustentável. O documento do Fórum Econômico Mundial argumenta que, com um investimento adequado, esses sistemas podem gerar retornos significativos, não apenas em termos ambientais, mas também econômicos. Estima-se que para cada dólar investido em tecnologias de observação da Terra, o retorno pode ser de até US$ 10 em benefícios econômicos e sociais.

O Brasil pode se beneficiar enormemente do uso de tecnologias de observação da Terra. A integração dessas tecnologias nas políticas públicas pode ajudar a monitorar e combater o desmatamento na Amazônia, melhorar a gestão dos recursos hídricos e aprimorar a resiliência às mudanças climáticas. Além disso, pode apoiar a produção sustentável de biometano, identificando áreas com maior potencial para a produção de biomassa e monitorando a eficiência das plantas de biogás.

O relatório Mudança do Clima 2023, do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), destaca a urgência de ações mais ambiciosas para mitigar as mudanças climáticas. O estudo aponta que, embora haja progresso na redução de emissões de gases de efeito estufa, as ações atuais ainda são insuficientes para limitar o aquecimento global a 1,5°C. Para alcançar as metas do Acordo de Paris, é necessário reduzir drasticamente as emissões de metano, que é responsável por uma parte significativa do aquecimento global a curto prazo.

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O IPCC ainda acrescenta a produção e transporte de combustíveis fosseis às emissões de metano da agricultura e da gestão de resíduos. No Brasil, a agricultura é a maior fonte de emissões de metano, especialmente devido à pecuária. Implementar práticas agrícolas mais sustentáveis, como a gestão eficiente de dejetos animais e a utilização de biodigestores, pode reduzir significativamente essas emissões. Além disso, a captura e o uso do biogás produzido podem contribuir para a produção de energia limpa e renovável.

O relatório também destaca a importância de políticas públicas robustas para a mitigação das emissões de metano. Incentivos financeiros, regulamentações rigorosas e programas de educação são essenciais para promover a adoção de tecnologias de redução de metano. No contexto brasileiro, políticas como o RenovaBio e o Programa Nacional de Biogás e Biometano são passos importantes, mas é necessário intensificar os esforços e garantir a implementação eficaz dessas políticas.

O documento do IPCC também chama a atenção para os cobenefícios das ações de mitigação do metano. Reduzir as emissões desse gás não apenas ajuda a combater as mudanças climáticas, mas também melhora a qualidade do ar e a saúde pública. A produção de biometano, por exemplo, pode reduzir a poluição atmosférica causada pela queima de combustíveis fósseis e proporcionar uma fonte de energia mais limpa para as comunidades.

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O Brasil possui um enorme potencial para a produção de biometano, um combustível renovável derivado do biogás, que pode ser produzido a partir de resíduos agrícolas, urbanos e industriais. Segundo dados da Associação Brasileira do Biogás (Abiogás), o potencial teórico de produção de biogás no Brasil é de 84,6 bilhões de metros cúbicos (m³) por ano, o que representa cerca de 40% das necessidades de eletricidade do País ou 70% do consumo de diesel. No entanto, a produção real em 2022 foi de apenas 2,9 bilhões de m³, o que corresponde a 3,4% do potencial teórico. Além disso, as usinas de tratamento térmico de resíduos (waste-to-energy) podem mitigar em 8,4 vezes as emissões de gases de efeito estufa quando comparadas com aterros mesmo com sistemas de captura e uso do biogás (BEP/UK, 2022).

A produção de biometano da agropecuária e a instalação de usinas de recuperação energética podem ter um impacto significativo no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Investir em infraestrutura de biogás e biometano pode gerar empregos, promover o desenvolvimento regional e reduzir a dependência de combustíveis fósseis. Além disso, a utilização de resíduos para a produção de energia contribui para a economia circular e reduz a emissão de gases de efeito estufa.

Para aproveitar plenamente o potencial de biometano, o Brasil precisa implementar políticas públicas eficazes. A experiência da União Europeia, especialmente da Alemanha e Dinamarca, pode servir de modelo. Essas nações estabeleceram subsídios, tarifas feed-in e incentivos fiscais para promover a produção de biometano e o desvio de resíduos de aterros sanitários com elevadas taxas. Além disso, regulamentações claras e os padrões técnicos garantem a qualidade e a segurança do biometano.

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Além do biometano, a produção de biofertilizantes a partir do digestato (resíduo da digestão anaeróbia) é uma solução sustentável para a agricultura. O uso de biofertilizantes, extraídos da biodigestão de orgânicos limpos, melhora a qualidade do solo e reduz a necessidade de fertilizantes químicos, contribuindo para a sustentabilidade ambiental.

A redução das emissões de metano é essencial para mitigar as mudanças climáticas, reduzir as catástrofes e alcançar os objetivos do Acordo de Paris. O Brasil, com seu vasto potencial de produção de biometano, pode desempenhar um papel crucial nessa luta. No entanto, para alcançar esse potencial, é necessário implementar políticas públicas eficazes, inspiradas nas melhores práticas da União Europeia. Investir em recuperação energética de resíduos, biogás e biometano não apenas contribui para a redução de emissões, mas também promove o desenvolvimento econômico sustentável e a segurança energética do País, com investimentos previstos de R$ 300 bilhões para os próximos anos.

*

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ENGENHEIRO QUÍMICO PELA OSWALDO CRUZ, É DOUTOR EM ENERGIA PELA UFABC E PÓS-DOUTOR EM BIOENERGIA PELA USP

As mudanças climáticas estão entre as maiores ameaças à humanidade no século 21. Eventos climáticos extremos, como enchentes, secas e incêndios florestais, estão se tornando cada vez mais frequentes e intensos, causando danos significativos às comunidades e ecossistemas. Um exemplo recente do impacto devastador dessas mudanças são as enchentes que presenciamos no Rio Grande do Sul, um desastre que causou perdas humanas e econômicas consideráveis.

Diversas vozes surgem buscando responsáveis pela morte de mais de uma centena de vítimas, e inúmeros especialistas aparecem oferecendo soluções “milagrosas”. No entanto, poucos se dedicam a investigar a raiz dos problemas e a propor soluções eficazes para combatê-los. A questão central é clara: os efeitos do aquecimento global. E a solução também é clara: combater as emissões de gases de efeito estufa. Desde a Eco-92 esse tema tem sido debatido, mas só agora parece ganhar a devida relevância.

Para combater essas mudanças, a redução das emissões de metano tem um papel crucial no cumprimento do Acordo de Paris e do Compromisso Global de Metano. O metano é um potente gás de efeito estufa com um impacto climático 86 vezes maior que o dióxido de carbono em um horizonte de 20 anos (GWP-20, IPCC). A redução das emissões de metano é vital para limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, conforme estabelecido pelo Acordo de Paris. O Compromisso Global de Metano, lançado durante a COP-26, visa a reduzir as emissões globais de metano em pelo menos 30% até 2030. Atingir esse objetivo pode evitar quase 0,3°C de aquecimento até 2045 e complementar os esforços de mitigação de longo prazo.

Cerca de 45% das emissões de gases de efeito estufa no mundo são provenientes do metano. No Brasil, especificamente, 90% das emissões são provenientes do setor da agropecuária e de aterros sanitários. A geração de energia por meio dos resíduos, portanto, torna-se crucial para que o Brasil possa mitigar o surgimento de novas catástrofes e, ao mesmo tempo, atender ao Compromisso Global de Metano até 2030.

Estudos recentes realizados com a utilização de imagens de satélites com câmeras de espectrometria que detectam plumas de metano de superemissores (óleo, gás e aterros) indicam que aterros sanitários emitem três vezes mais metano do que está previsto nos inventários atuais (Revista Science, 2024). Nos Estados Unidos, um estudo da Agência Ambiental EPA (LMOP, 2021) indicou que os aterros capturam apenas 48% do metano, de acordo com 396 aterros investigados, e o quinto relatório do IPCC (2011) já indicava que a recuperação energética (waste-to-energy) é a melhor solução para desviar resíduos dos aterros sanitários e mitigar as emissões de metano.

O Fórum Econômico Mundial lançou recentemente o estudo Amplifying the Global Value of Earth Observation, em que destaca a importância das observações terrestres para enfrentar os desafios ambientais globais. A coleta de dados precisos e atualizados sobre o clima, o uso da terra e os recursos naturais são fundamentais para a formulação de políticas públicas eficazes e para a implementação de estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

Investimentos em tecnologias de observação da Terra podem acelerar a transição para uma economia sustentável. O documento do Fórum Econômico Mundial argumenta que, com um investimento adequado, esses sistemas podem gerar retornos significativos, não apenas em termos ambientais, mas também econômicos. Estima-se que para cada dólar investido em tecnologias de observação da Terra, o retorno pode ser de até US$ 10 em benefícios econômicos e sociais.

O Brasil pode se beneficiar enormemente do uso de tecnologias de observação da Terra. A integração dessas tecnologias nas políticas públicas pode ajudar a monitorar e combater o desmatamento na Amazônia, melhorar a gestão dos recursos hídricos e aprimorar a resiliência às mudanças climáticas. Além disso, pode apoiar a produção sustentável de biometano, identificando áreas com maior potencial para a produção de biomassa e monitorando a eficiência das plantas de biogás.

O relatório Mudança do Clima 2023, do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), destaca a urgência de ações mais ambiciosas para mitigar as mudanças climáticas. O estudo aponta que, embora haja progresso na redução de emissões de gases de efeito estufa, as ações atuais ainda são insuficientes para limitar o aquecimento global a 1,5°C. Para alcançar as metas do Acordo de Paris, é necessário reduzir drasticamente as emissões de metano, que é responsável por uma parte significativa do aquecimento global a curto prazo.

O IPCC ainda acrescenta a produção e transporte de combustíveis fosseis às emissões de metano da agricultura e da gestão de resíduos. No Brasil, a agricultura é a maior fonte de emissões de metano, especialmente devido à pecuária. Implementar práticas agrícolas mais sustentáveis, como a gestão eficiente de dejetos animais e a utilização de biodigestores, pode reduzir significativamente essas emissões. Além disso, a captura e o uso do biogás produzido podem contribuir para a produção de energia limpa e renovável.

O relatório também destaca a importância de políticas públicas robustas para a mitigação das emissões de metano. Incentivos financeiros, regulamentações rigorosas e programas de educação são essenciais para promover a adoção de tecnologias de redução de metano. No contexto brasileiro, políticas como o RenovaBio e o Programa Nacional de Biogás e Biometano são passos importantes, mas é necessário intensificar os esforços e garantir a implementação eficaz dessas políticas.

O documento do IPCC também chama a atenção para os cobenefícios das ações de mitigação do metano. Reduzir as emissões desse gás não apenas ajuda a combater as mudanças climáticas, mas também melhora a qualidade do ar e a saúde pública. A produção de biometano, por exemplo, pode reduzir a poluição atmosférica causada pela queima de combustíveis fósseis e proporcionar uma fonte de energia mais limpa para as comunidades.

O Brasil possui um enorme potencial para a produção de biometano, um combustível renovável derivado do biogás, que pode ser produzido a partir de resíduos agrícolas, urbanos e industriais. Segundo dados da Associação Brasileira do Biogás (Abiogás), o potencial teórico de produção de biogás no Brasil é de 84,6 bilhões de metros cúbicos (m³) por ano, o que representa cerca de 40% das necessidades de eletricidade do País ou 70% do consumo de diesel. No entanto, a produção real em 2022 foi de apenas 2,9 bilhões de m³, o que corresponde a 3,4% do potencial teórico. Além disso, as usinas de tratamento térmico de resíduos (waste-to-energy) podem mitigar em 8,4 vezes as emissões de gases de efeito estufa quando comparadas com aterros mesmo com sistemas de captura e uso do biogás (BEP/UK, 2022).

A produção de biometano da agropecuária e a instalação de usinas de recuperação energética podem ter um impacto significativo no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Investir em infraestrutura de biogás e biometano pode gerar empregos, promover o desenvolvimento regional e reduzir a dependência de combustíveis fósseis. Além disso, a utilização de resíduos para a produção de energia contribui para a economia circular e reduz a emissão de gases de efeito estufa.

Para aproveitar plenamente o potencial de biometano, o Brasil precisa implementar políticas públicas eficazes. A experiência da União Europeia, especialmente da Alemanha e Dinamarca, pode servir de modelo. Essas nações estabeleceram subsídios, tarifas feed-in e incentivos fiscais para promover a produção de biometano e o desvio de resíduos de aterros sanitários com elevadas taxas. Além disso, regulamentações claras e os padrões técnicos garantem a qualidade e a segurança do biometano.

Além do biometano, a produção de biofertilizantes a partir do digestato (resíduo da digestão anaeróbia) é uma solução sustentável para a agricultura. O uso de biofertilizantes, extraídos da biodigestão de orgânicos limpos, melhora a qualidade do solo e reduz a necessidade de fertilizantes químicos, contribuindo para a sustentabilidade ambiental.

A redução das emissões de metano é essencial para mitigar as mudanças climáticas, reduzir as catástrofes e alcançar os objetivos do Acordo de Paris. O Brasil, com seu vasto potencial de produção de biometano, pode desempenhar um papel crucial nessa luta. No entanto, para alcançar esse potencial, é necessário implementar políticas públicas eficazes, inspiradas nas melhores práticas da União Europeia. Investir em recuperação energética de resíduos, biogás e biometano não apenas contribui para a redução de emissões, mas também promove o desenvolvimento econômico sustentável e a segurança energética do País, com investimentos previstos de R$ 300 bilhões para os próximos anos.

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ENGENHEIRO QUÍMICO PELA OSWALDO CRUZ, É DOUTOR EM ENERGIA PELA UFABC E PÓS-DOUTOR EM BIOENERGIA PELA USP

As mudanças climáticas estão entre as maiores ameaças à humanidade no século 21. Eventos climáticos extremos, como enchentes, secas e incêndios florestais, estão se tornando cada vez mais frequentes e intensos, causando danos significativos às comunidades e ecossistemas. Um exemplo recente do impacto devastador dessas mudanças são as enchentes que presenciamos no Rio Grande do Sul, um desastre que causou perdas humanas e econômicas consideráveis.

Diversas vozes surgem buscando responsáveis pela morte de mais de uma centena de vítimas, e inúmeros especialistas aparecem oferecendo soluções “milagrosas”. No entanto, poucos se dedicam a investigar a raiz dos problemas e a propor soluções eficazes para combatê-los. A questão central é clara: os efeitos do aquecimento global. E a solução também é clara: combater as emissões de gases de efeito estufa. Desde a Eco-92 esse tema tem sido debatido, mas só agora parece ganhar a devida relevância.

Para combater essas mudanças, a redução das emissões de metano tem um papel crucial no cumprimento do Acordo de Paris e do Compromisso Global de Metano. O metano é um potente gás de efeito estufa com um impacto climático 86 vezes maior que o dióxido de carbono em um horizonte de 20 anos (GWP-20, IPCC). A redução das emissões de metano é vital para limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, conforme estabelecido pelo Acordo de Paris. O Compromisso Global de Metano, lançado durante a COP-26, visa a reduzir as emissões globais de metano em pelo menos 30% até 2030. Atingir esse objetivo pode evitar quase 0,3°C de aquecimento até 2045 e complementar os esforços de mitigação de longo prazo.

Cerca de 45% das emissões de gases de efeito estufa no mundo são provenientes do metano. No Brasil, especificamente, 90% das emissões são provenientes do setor da agropecuária e de aterros sanitários. A geração de energia por meio dos resíduos, portanto, torna-se crucial para que o Brasil possa mitigar o surgimento de novas catástrofes e, ao mesmo tempo, atender ao Compromisso Global de Metano até 2030.

Estudos recentes realizados com a utilização de imagens de satélites com câmeras de espectrometria que detectam plumas de metano de superemissores (óleo, gás e aterros) indicam que aterros sanitários emitem três vezes mais metano do que está previsto nos inventários atuais (Revista Science, 2024). Nos Estados Unidos, um estudo da Agência Ambiental EPA (LMOP, 2021) indicou que os aterros capturam apenas 48% do metano, de acordo com 396 aterros investigados, e o quinto relatório do IPCC (2011) já indicava que a recuperação energética (waste-to-energy) é a melhor solução para desviar resíduos dos aterros sanitários e mitigar as emissões de metano.

O Fórum Econômico Mundial lançou recentemente o estudo Amplifying the Global Value of Earth Observation, em que destaca a importância das observações terrestres para enfrentar os desafios ambientais globais. A coleta de dados precisos e atualizados sobre o clima, o uso da terra e os recursos naturais são fundamentais para a formulação de políticas públicas eficazes e para a implementação de estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

Investimentos em tecnologias de observação da Terra podem acelerar a transição para uma economia sustentável. O documento do Fórum Econômico Mundial argumenta que, com um investimento adequado, esses sistemas podem gerar retornos significativos, não apenas em termos ambientais, mas também econômicos. Estima-se que para cada dólar investido em tecnologias de observação da Terra, o retorno pode ser de até US$ 10 em benefícios econômicos e sociais.

O Brasil pode se beneficiar enormemente do uso de tecnologias de observação da Terra. A integração dessas tecnologias nas políticas públicas pode ajudar a monitorar e combater o desmatamento na Amazônia, melhorar a gestão dos recursos hídricos e aprimorar a resiliência às mudanças climáticas. Além disso, pode apoiar a produção sustentável de biometano, identificando áreas com maior potencial para a produção de biomassa e monitorando a eficiência das plantas de biogás.

O relatório Mudança do Clima 2023, do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), destaca a urgência de ações mais ambiciosas para mitigar as mudanças climáticas. O estudo aponta que, embora haja progresso na redução de emissões de gases de efeito estufa, as ações atuais ainda são insuficientes para limitar o aquecimento global a 1,5°C. Para alcançar as metas do Acordo de Paris, é necessário reduzir drasticamente as emissões de metano, que é responsável por uma parte significativa do aquecimento global a curto prazo.

O IPCC ainda acrescenta a produção e transporte de combustíveis fosseis às emissões de metano da agricultura e da gestão de resíduos. No Brasil, a agricultura é a maior fonte de emissões de metano, especialmente devido à pecuária. Implementar práticas agrícolas mais sustentáveis, como a gestão eficiente de dejetos animais e a utilização de biodigestores, pode reduzir significativamente essas emissões. Além disso, a captura e o uso do biogás produzido podem contribuir para a produção de energia limpa e renovável.

O relatório também destaca a importância de políticas públicas robustas para a mitigação das emissões de metano. Incentivos financeiros, regulamentações rigorosas e programas de educação são essenciais para promover a adoção de tecnologias de redução de metano. No contexto brasileiro, políticas como o RenovaBio e o Programa Nacional de Biogás e Biometano são passos importantes, mas é necessário intensificar os esforços e garantir a implementação eficaz dessas políticas.

O documento do IPCC também chama a atenção para os cobenefícios das ações de mitigação do metano. Reduzir as emissões desse gás não apenas ajuda a combater as mudanças climáticas, mas também melhora a qualidade do ar e a saúde pública. A produção de biometano, por exemplo, pode reduzir a poluição atmosférica causada pela queima de combustíveis fósseis e proporcionar uma fonte de energia mais limpa para as comunidades.

O Brasil possui um enorme potencial para a produção de biometano, um combustível renovável derivado do biogás, que pode ser produzido a partir de resíduos agrícolas, urbanos e industriais. Segundo dados da Associação Brasileira do Biogás (Abiogás), o potencial teórico de produção de biogás no Brasil é de 84,6 bilhões de metros cúbicos (m³) por ano, o que representa cerca de 40% das necessidades de eletricidade do País ou 70% do consumo de diesel. No entanto, a produção real em 2022 foi de apenas 2,9 bilhões de m³, o que corresponde a 3,4% do potencial teórico. Além disso, as usinas de tratamento térmico de resíduos (waste-to-energy) podem mitigar em 8,4 vezes as emissões de gases de efeito estufa quando comparadas com aterros mesmo com sistemas de captura e uso do biogás (BEP/UK, 2022).

A produção de biometano da agropecuária e a instalação de usinas de recuperação energética podem ter um impacto significativo no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Investir em infraestrutura de biogás e biometano pode gerar empregos, promover o desenvolvimento regional e reduzir a dependência de combustíveis fósseis. Além disso, a utilização de resíduos para a produção de energia contribui para a economia circular e reduz a emissão de gases de efeito estufa.

Para aproveitar plenamente o potencial de biometano, o Brasil precisa implementar políticas públicas eficazes. A experiência da União Europeia, especialmente da Alemanha e Dinamarca, pode servir de modelo. Essas nações estabeleceram subsídios, tarifas feed-in e incentivos fiscais para promover a produção de biometano e o desvio de resíduos de aterros sanitários com elevadas taxas. Além disso, regulamentações claras e os padrões técnicos garantem a qualidade e a segurança do biometano.

Além do biometano, a produção de biofertilizantes a partir do digestato (resíduo da digestão anaeróbia) é uma solução sustentável para a agricultura. O uso de biofertilizantes, extraídos da biodigestão de orgânicos limpos, melhora a qualidade do solo e reduz a necessidade de fertilizantes químicos, contribuindo para a sustentabilidade ambiental.

A redução das emissões de metano é essencial para mitigar as mudanças climáticas, reduzir as catástrofes e alcançar os objetivos do Acordo de Paris. O Brasil, com seu vasto potencial de produção de biometano, pode desempenhar um papel crucial nessa luta. No entanto, para alcançar esse potencial, é necessário implementar políticas públicas eficazes, inspiradas nas melhores práticas da União Europeia. Investir em recuperação energética de resíduos, biogás e biometano não apenas contribui para a redução de emissões, mas também promove o desenvolvimento econômico sustentável e a segurança energética do País, com investimentos previstos de R$ 300 bilhões para os próximos anos.

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ENGENHEIRO QUÍMICO PELA OSWALDO CRUZ, É DOUTOR EM ENERGIA PELA UFABC E PÓS-DOUTOR EM BIOENERGIA PELA USP

As mudanças climáticas estão entre as maiores ameaças à humanidade no século 21. Eventos climáticos extremos, como enchentes, secas e incêndios florestais, estão se tornando cada vez mais frequentes e intensos, causando danos significativos às comunidades e ecossistemas. Um exemplo recente do impacto devastador dessas mudanças são as enchentes que presenciamos no Rio Grande do Sul, um desastre que causou perdas humanas e econômicas consideráveis.

Diversas vozes surgem buscando responsáveis pela morte de mais de uma centena de vítimas, e inúmeros especialistas aparecem oferecendo soluções “milagrosas”. No entanto, poucos se dedicam a investigar a raiz dos problemas e a propor soluções eficazes para combatê-los. A questão central é clara: os efeitos do aquecimento global. E a solução também é clara: combater as emissões de gases de efeito estufa. Desde a Eco-92 esse tema tem sido debatido, mas só agora parece ganhar a devida relevância.

Para combater essas mudanças, a redução das emissões de metano tem um papel crucial no cumprimento do Acordo de Paris e do Compromisso Global de Metano. O metano é um potente gás de efeito estufa com um impacto climático 86 vezes maior que o dióxido de carbono em um horizonte de 20 anos (GWP-20, IPCC). A redução das emissões de metano é vital para limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, conforme estabelecido pelo Acordo de Paris. O Compromisso Global de Metano, lançado durante a COP-26, visa a reduzir as emissões globais de metano em pelo menos 30% até 2030. Atingir esse objetivo pode evitar quase 0,3°C de aquecimento até 2045 e complementar os esforços de mitigação de longo prazo.

Cerca de 45% das emissões de gases de efeito estufa no mundo são provenientes do metano. No Brasil, especificamente, 90% das emissões são provenientes do setor da agropecuária e de aterros sanitários. A geração de energia por meio dos resíduos, portanto, torna-se crucial para que o Brasil possa mitigar o surgimento de novas catástrofes e, ao mesmo tempo, atender ao Compromisso Global de Metano até 2030.

Estudos recentes realizados com a utilização de imagens de satélites com câmeras de espectrometria que detectam plumas de metano de superemissores (óleo, gás e aterros) indicam que aterros sanitários emitem três vezes mais metano do que está previsto nos inventários atuais (Revista Science, 2024). Nos Estados Unidos, um estudo da Agência Ambiental EPA (LMOP, 2021) indicou que os aterros capturam apenas 48% do metano, de acordo com 396 aterros investigados, e o quinto relatório do IPCC (2011) já indicava que a recuperação energética (waste-to-energy) é a melhor solução para desviar resíduos dos aterros sanitários e mitigar as emissões de metano.

O Fórum Econômico Mundial lançou recentemente o estudo Amplifying the Global Value of Earth Observation, em que destaca a importância das observações terrestres para enfrentar os desafios ambientais globais. A coleta de dados precisos e atualizados sobre o clima, o uso da terra e os recursos naturais são fundamentais para a formulação de políticas públicas eficazes e para a implementação de estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

Investimentos em tecnologias de observação da Terra podem acelerar a transição para uma economia sustentável. O documento do Fórum Econômico Mundial argumenta que, com um investimento adequado, esses sistemas podem gerar retornos significativos, não apenas em termos ambientais, mas também econômicos. Estima-se que para cada dólar investido em tecnologias de observação da Terra, o retorno pode ser de até US$ 10 em benefícios econômicos e sociais.

O Brasil pode se beneficiar enormemente do uso de tecnologias de observação da Terra. A integração dessas tecnologias nas políticas públicas pode ajudar a monitorar e combater o desmatamento na Amazônia, melhorar a gestão dos recursos hídricos e aprimorar a resiliência às mudanças climáticas. Além disso, pode apoiar a produção sustentável de biometano, identificando áreas com maior potencial para a produção de biomassa e monitorando a eficiência das plantas de biogás.

O relatório Mudança do Clima 2023, do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), destaca a urgência de ações mais ambiciosas para mitigar as mudanças climáticas. O estudo aponta que, embora haja progresso na redução de emissões de gases de efeito estufa, as ações atuais ainda são insuficientes para limitar o aquecimento global a 1,5°C. Para alcançar as metas do Acordo de Paris, é necessário reduzir drasticamente as emissões de metano, que é responsável por uma parte significativa do aquecimento global a curto prazo.

O IPCC ainda acrescenta a produção e transporte de combustíveis fosseis às emissões de metano da agricultura e da gestão de resíduos. No Brasil, a agricultura é a maior fonte de emissões de metano, especialmente devido à pecuária. Implementar práticas agrícolas mais sustentáveis, como a gestão eficiente de dejetos animais e a utilização de biodigestores, pode reduzir significativamente essas emissões. Além disso, a captura e o uso do biogás produzido podem contribuir para a produção de energia limpa e renovável.

O relatório também destaca a importância de políticas públicas robustas para a mitigação das emissões de metano. Incentivos financeiros, regulamentações rigorosas e programas de educação são essenciais para promover a adoção de tecnologias de redução de metano. No contexto brasileiro, políticas como o RenovaBio e o Programa Nacional de Biogás e Biometano são passos importantes, mas é necessário intensificar os esforços e garantir a implementação eficaz dessas políticas.

O documento do IPCC também chama a atenção para os cobenefícios das ações de mitigação do metano. Reduzir as emissões desse gás não apenas ajuda a combater as mudanças climáticas, mas também melhora a qualidade do ar e a saúde pública. A produção de biometano, por exemplo, pode reduzir a poluição atmosférica causada pela queima de combustíveis fósseis e proporcionar uma fonte de energia mais limpa para as comunidades.

O Brasil possui um enorme potencial para a produção de biometano, um combustível renovável derivado do biogás, que pode ser produzido a partir de resíduos agrícolas, urbanos e industriais. Segundo dados da Associação Brasileira do Biogás (Abiogás), o potencial teórico de produção de biogás no Brasil é de 84,6 bilhões de metros cúbicos (m³) por ano, o que representa cerca de 40% das necessidades de eletricidade do País ou 70% do consumo de diesel. No entanto, a produção real em 2022 foi de apenas 2,9 bilhões de m³, o que corresponde a 3,4% do potencial teórico. Além disso, as usinas de tratamento térmico de resíduos (waste-to-energy) podem mitigar em 8,4 vezes as emissões de gases de efeito estufa quando comparadas com aterros mesmo com sistemas de captura e uso do biogás (BEP/UK, 2022).

A produção de biometano da agropecuária e a instalação de usinas de recuperação energética podem ter um impacto significativo no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Investir em infraestrutura de biogás e biometano pode gerar empregos, promover o desenvolvimento regional e reduzir a dependência de combustíveis fósseis. Além disso, a utilização de resíduos para a produção de energia contribui para a economia circular e reduz a emissão de gases de efeito estufa.

Para aproveitar plenamente o potencial de biometano, o Brasil precisa implementar políticas públicas eficazes. A experiência da União Europeia, especialmente da Alemanha e Dinamarca, pode servir de modelo. Essas nações estabeleceram subsídios, tarifas feed-in e incentivos fiscais para promover a produção de biometano e o desvio de resíduos de aterros sanitários com elevadas taxas. Além disso, regulamentações claras e os padrões técnicos garantem a qualidade e a segurança do biometano.

Além do biometano, a produção de biofertilizantes a partir do digestato (resíduo da digestão anaeróbia) é uma solução sustentável para a agricultura. O uso de biofertilizantes, extraídos da biodigestão de orgânicos limpos, melhora a qualidade do solo e reduz a necessidade de fertilizantes químicos, contribuindo para a sustentabilidade ambiental.

A redução das emissões de metano é essencial para mitigar as mudanças climáticas, reduzir as catástrofes e alcançar os objetivos do Acordo de Paris. O Brasil, com seu vasto potencial de produção de biometano, pode desempenhar um papel crucial nessa luta. No entanto, para alcançar esse potencial, é necessário implementar políticas públicas eficazes, inspiradas nas melhores práticas da União Europeia. Investir em recuperação energética de resíduos, biogás e biometano não apenas contribui para a redução de emissões, mas também promove o desenvolvimento econômico sustentável e a segurança energética do País, com investimentos previstos de R$ 300 bilhões para os próximos anos.

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ENGENHEIRO QUÍMICO PELA OSWALDO CRUZ, É DOUTOR EM ENERGIA PELA UFABC E PÓS-DOUTOR EM BIOENERGIA PELA USP

As mudanças climáticas estão entre as maiores ameaças à humanidade no século 21. Eventos climáticos extremos, como enchentes, secas e incêndios florestais, estão se tornando cada vez mais frequentes e intensos, causando danos significativos às comunidades e ecossistemas. Um exemplo recente do impacto devastador dessas mudanças são as enchentes que presenciamos no Rio Grande do Sul, um desastre que causou perdas humanas e econômicas consideráveis.

Diversas vozes surgem buscando responsáveis pela morte de mais de uma centena de vítimas, e inúmeros especialistas aparecem oferecendo soluções “milagrosas”. No entanto, poucos se dedicam a investigar a raiz dos problemas e a propor soluções eficazes para combatê-los. A questão central é clara: os efeitos do aquecimento global. E a solução também é clara: combater as emissões de gases de efeito estufa. Desde a Eco-92 esse tema tem sido debatido, mas só agora parece ganhar a devida relevância.

Para combater essas mudanças, a redução das emissões de metano tem um papel crucial no cumprimento do Acordo de Paris e do Compromisso Global de Metano. O metano é um potente gás de efeito estufa com um impacto climático 86 vezes maior que o dióxido de carbono em um horizonte de 20 anos (GWP-20, IPCC). A redução das emissões de metano é vital para limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, conforme estabelecido pelo Acordo de Paris. O Compromisso Global de Metano, lançado durante a COP-26, visa a reduzir as emissões globais de metano em pelo menos 30% até 2030. Atingir esse objetivo pode evitar quase 0,3°C de aquecimento até 2045 e complementar os esforços de mitigação de longo prazo.

Cerca de 45% das emissões de gases de efeito estufa no mundo são provenientes do metano. No Brasil, especificamente, 90% das emissões são provenientes do setor da agropecuária e de aterros sanitários. A geração de energia por meio dos resíduos, portanto, torna-se crucial para que o Brasil possa mitigar o surgimento de novas catástrofes e, ao mesmo tempo, atender ao Compromisso Global de Metano até 2030.

Estudos recentes realizados com a utilização de imagens de satélites com câmeras de espectrometria que detectam plumas de metano de superemissores (óleo, gás e aterros) indicam que aterros sanitários emitem três vezes mais metano do que está previsto nos inventários atuais (Revista Science, 2024). Nos Estados Unidos, um estudo da Agência Ambiental EPA (LMOP, 2021) indicou que os aterros capturam apenas 48% do metano, de acordo com 396 aterros investigados, e o quinto relatório do IPCC (2011) já indicava que a recuperação energética (waste-to-energy) é a melhor solução para desviar resíduos dos aterros sanitários e mitigar as emissões de metano.

O Fórum Econômico Mundial lançou recentemente o estudo Amplifying the Global Value of Earth Observation, em que destaca a importância das observações terrestres para enfrentar os desafios ambientais globais. A coleta de dados precisos e atualizados sobre o clima, o uso da terra e os recursos naturais são fundamentais para a formulação de políticas públicas eficazes e para a implementação de estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

Investimentos em tecnologias de observação da Terra podem acelerar a transição para uma economia sustentável. O documento do Fórum Econômico Mundial argumenta que, com um investimento adequado, esses sistemas podem gerar retornos significativos, não apenas em termos ambientais, mas também econômicos. Estima-se que para cada dólar investido em tecnologias de observação da Terra, o retorno pode ser de até US$ 10 em benefícios econômicos e sociais.

O Brasil pode se beneficiar enormemente do uso de tecnologias de observação da Terra. A integração dessas tecnologias nas políticas públicas pode ajudar a monitorar e combater o desmatamento na Amazônia, melhorar a gestão dos recursos hídricos e aprimorar a resiliência às mudanças climáticas. Além disso, pode apoiar a produção sustentável de biometano, identificando áreas com maior potencial para a produção de biomassa e monitorando a eficiência das plantas de biogás.

O relatório Mudança do Clima 2023, do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), destaca a urgência de ações mais ambiciosas para mitigar as mudanças climáticas. O estudo aponta que, embora haja progresso na redução de emissões de gases de efeito estufa, as ações atuais ainda são insuficientes para limitar o aquecimento global a 1,5°C. Para alcançar as metas do Acordo de Paris, é necessário reduzir drasticamente as emissões de metano, que é responsável por uma parte significativa do aquecimento global a curto prazo.

O IPCC ainda acrescenta a produção e transporte de combustíveis fosseis às emissões de metano da agricultura e da gestão de resíduos. No Brasil, a agricultura é a maior fonte de emissões de metano, especialmente devido à pecuária. Implementar práticas agrícolas mais sustentáveis, como a gestão eficiente de dejetos animais e a utilização de biodigestores, pode reduzir significativamente essas emissões. Além disso, a captura e o uso do biogás produzido podem contribuir para a produção de energia limpa e renovável.

O relatório também destaca a importância de políticas públicas robustas para a mitigação das emissões de metano. Incentivos financeiros, regulamentações rigorosas e programas de educação são essenciais para promover a adoção de tecnologias de redução de metano. No contexto brasileiro, políticas como o RenovaBio e o Programa Nacional de Biogás e Biometano são passos importantes, mas é necessário intensificar os esforços e garantir a implementação eficaz dessas políticas.

O documento do IPCC também chama a atenção para os cobenefícios das ações de mitigação do metano. Reduzir as emissões desse gás não apenas ajuda a combater as mudanças climáticas, mas também melhora a qualidade do ar e a saúde pública. A produção de biometano, por exemplo, pode reduzir a poluição atmosférica causada pela queima de combustíveis fósseis e proporcionar uma fonte de energia mais limpa para as comunidades.

O Brasil possui um enorme potencial para a produção de biometano, um combustível renovável derivado do biogás, que pode ser produzido a partir de resíduos agrícolas, urbanos e industriais. Segundo dados da Associação Brasileira do Biogás (Abiogás), o potencial teórico de produção de biogás no Brasil é de 84,6 bilhões de metros cúbicos (m³) por ano, o que representa cerca de 40% das necessidades de eletricidade do País ou 70% do consumo de diesel. No entanto, a produção real em 2022 foi de apenas 2,9 bilhões de m³, o que corresponde a 3,4% do potencial teórico. Além disso, as usinas de tratamento térmico de resíduos (waste-to-energy) podem mitigar em 8,4 vezes as emissões de gases de efeito estufa quando comparadas com aterros mesmo com sistemas de captura e uso do biogás (BEP/UK, 2022).

A produção de biometano da agropecuária e a instalação de usinas de recuperação energética podem ter um impacto significativo no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Investir em infraestrutura de biogás e biometano pode gerar empregos, promover o desenvolvimento regional e reduzir a dependência de combustíveis fósseis. Além disso, a utilização de resíduos para a produção de energia contribui para a economia circular e reduz a emissão de gases de efeito estufa.

Para aproveitar plenamente o potencial de biometano, o Brasil precisa implementar políticas públicas eficazes. A experiência da União Europeia, especialmente da Alemanha e Dinamarca, pode servir de modelo. Essas nações estabeleceram subsídios, tarifas feed-in e incentivos fiscais para promover a produção de biometano e o desvio de resíduos de aterros sanitários com elevadas taxas. Além disso, regulamentações claras e os padrões técnicos garantem a qualidade e a segurança do biometano.

Além do biometano, a produção de biofertilizantes a partir do digestato (resíduo da digestão anaeróbia) é uma solução sustentável para a agricultura. O uso de biofertilizantes, extraídos da biodigestão de orgânicos limpos, melhora a qualidade do solo e reduz a necessidade de fertilizantes químicos, contribuindo para a sustentabilidade ambiental.

A redução das emissões de metano é essencial para mitigar as mudanças climáticas, reduzir as catástrofes e alcançar os objetivos do Acordo de Paris. O Brasil, com seu vasto potencial de produção de biometano, pode desempenhar um papel crucial nessa luta. No entanto, para alcançar esse potencial, é necessário implementar políticas públicas eficazes, inspiradas nas melhores práticas da União Europeia. Investir em recuperação energética de resíduos, biogás e biometano não apenas contribui para a redução de emissões, mas também promove o desenvolvimento econômico sustentável e a segurança energética do País, com investimentos previstos de R$ 300 bilhões para os próximos anos.

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ENGENHEIRO QUÍMICO PELA OSWALDO CRUZ, É DOUTOR EM ENERGIA PELA UFABC E PÓS-DOUTOR EM BIOENERGIA PELA USP

Opinião por Fabio Rubens Soares

Engenheiro químico pela Oswaldo Cruz, é doutor em Energia pela UFABC e pós-doutor em Bioenergia pela USP

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