Opinião|Segurança alimentar é um desafio de todos


Há capacidade objetiva para alimentar todos, mas faltam políticas para a alocação correta desses recursos e incentivo à produção que de fato chegue à mesa dos brasileiros

Por Ruy Altenfelder e Cláudia Buzzette Calais

O sociólogo Herbert de Sousa, o Betinho, criou o famoso mote “quem tem fome tem pressa”. O mundo tem hoje mais de 700 milhões de pessoas passando fome, segundo a ONU. No Brasil, um relatório publicado pela entidade no ano passado indicou que 21 milhões de pessoas não têm o que comer.

Esses dados só levam em conta a insegurança alimentar severa, isto é, a fome propriamente dita. Se considerarmos níveis moderados, são 70 milhões de brasileiros afetados pelo problema. Um levantamento de 2022 da Rede Penssan pintava um quadro ainda mais grave: incluídas as famílias que não sabem se conseguirão comer em quantidade adequada num futuro próximo (insegurança alimentar leve), mais da metade do País está privada, em alguma medida, do seu direito fundamental à alimentação.

São 125 milhões de pessoas que, como dizia Betinho, têm pressa. Solucionar esse problema, sobretudo num contexto de recuperação pós-pandemia de covid-19, que agravou a fome em escala global, exige um esforço tremendo de todos os atores, sejam eles políticos, acadêmicos, empresariais ou sociais.

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Por isso, é muito bem-vinda a publicação da obra Segurança Alimentar e Nutricional: o papel da ciência brasileira no combate à fome, pela Academia Brasileira de Ciências. O livro é organizado por Mariangela Hungria, referência mundial em microbiologia, e conta com a colaboração de 41 cientistas que, por um lado, expõem as conquistas do País no desenvolvimento de tecnologias inovadoras para a produção de alimentos e, por outro, mapeiam as possibilidades de avanço.

A obra evidencia como o problema da fome não é técnico, mas social e político. Segundo o IBGE, o Brasil produziu no ano passado impressionantes 300 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosas. Há capacidade objetiva, portanto, para alimentar todos, mas faltam políticas para a alocação correta desses recursos e incentivo à produção que de fato chegue à mesa dos brasileiros.

Isso porque, embora as commodities agrícolas sejam fundamentais para trazer divisas ao País, alimentar rebanhos e produzir biocombustíveis, é da pequena propriedade que sai a maior parte do que comemos. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) calcula que 80% da produção global de alimentos vem de produtores de pequeno e médio portes.

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Esses produtores precisam de condições tecnológicas e financeiras para ampliar sua produtividade e, ao mesmo tempo, permitirem uma produção regenerativa, de baixo carbono.

Exemplo disso é um projeto desenvolvido no Cerrado brasileiro, mais especificamente em Canarana (MT), com pequenos produtores de mel e grandes fazendas de soja e milho. Os apicultores alugam suas abelhas para a polinização das lavouras, uma parceria que gera renda extra para os pequenos e aumento de produtividade e redução no uso de defensivos químicos nas grandes propriedades. Um exemplo que a Fundação Bunge teve oportunidade de apresentar num dos capítulos do livro.

Ressaltamos a aplicação prática de conhecimentos desenvolvidos pela ciência brasileira no fortalecimento de produções locais, tão importantes para garantir não apenas a quantidade, mas também a diversidade cultural e regional dos alimentos disponíveis à população, e como a integração do grande produtor com o agricultor familiar e povos tradicionais é possível e fundamental para garantirmos a segurança alimentar.

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O livro também esclarece o quanto a ciência pode ajudar na modernização da grande lavoura. É incontestável que o agronegócio brasileiro é um sucesso econômico, em larga medida, pela produção intelectual de ponta de instituições como a Embrapa, que viabiliza a gigantesca produtividade das terras brasileiras nas últimas décadas. Mas o mundo enfrenta um novo desafio, o das mudanças climáticas, que exige adaptações em algumas culturas – haja vista as inevitáveis transformações na temperatura e no regime de chuvas de algumas regiões – e, sobretudo, a elaboração de métodos mais verdes e sustentáveis de manejo das lavouras.

Durante a leitura, fica evidente como as instituições científicas brasileiras têm feito sua parte, mapeando mudanças nos ecossistemas do campo e desenvolvendo soluções de agricultura regenerativa, rotação de lavouras, agroflorestas, bioinsumos, entre outras iniciativas. Agora, é preciso que esse conhecimento chegue para todos os que estão produzindo no campo, e o projeto Semêa, desenvolvido em Canarana, se propõe a isso junto com os agricultores.

Nada disso é possível sem o envolvimento do conjunto da sociedade. O conhecimento gestado na academia precisa ser convertido em políticas públicas e ações ou produtos para gerar impacto positivo na sociedade. Estas, por sua vez, são ineficazes sem a retaguarda da produção científica de ponta, que gera inovação na solução de problemas complexos. E os esforços do Estado são insuficientes sem o envolvimento do setor privado, na produção e na geração de riqueza que retorna para a sociedade em forma de impostos. E a segurança alimentar, sobretudo dos que têm pressa, é um desafio complexo que precisa do engajamento de todos.

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SÃO, RESPECTIVAMENTE, ADVOGADO, PRESIDENTE DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS JURÍDICAS; E DIRETORA-EXECUTIVA DA FUNDAÇÃO BUNGE

O sociólogo Herbert de Sousa, o Betinho, criou o famoso mote “quem tem fome tem pressa”. O mundo tem hoje mais de 700 milhões de pessoas passando fome, segundo a ONU. No Brasil, um relatório publicado pela entidade no ano passado indicou que 21 milhões de pessoas não têm o que comer.

Esses dados só levam em conta a insegurança alimentar severa, isto é, a fome propriamente dita. Se considerarmos níveis moderados, são 70 milhões de brasileiros afetados pelo problema. Um levantamento de 2022 da Rede Penssan pintava um quadro ainda mais grave: incluídas as famílias que não sabem se conseguirão comer em quantidade adequada num futuro próximo (insegurança alimentar leve), mais da metade do País está privada, em alguma medida, do seu direito fundamental à alimentação.

São 125 milhões de pessoas que, como dizia Betinho, têm pressa. Solucionar esse problema, sobretudo num contexto de recuperação pós-pandemia de covid-19, que agravou a fome em escala global, exige um esforço tremendo de todos os atores, sejam eles políticos, acadêmicos, empresariais ou sociais.

Por isso, é muito bem-vinda a publicação da obra Segurança Alimentar e Nutricional: o papel da ciência brasileira no combate à fome, pela Academia Brasileira de Ciências. O livro é organizado por Mariangela Hungria, referência mundial em microbiologia, e conta com a colaboração de 41 cientistas que, por um lado, expõem as conquistas do País no desenvolvimento de tecnologias inovadoras para a produção de alimentos e, por outro, mapeiam as possibilidades de avanço.

A obra evidencia como o problema da fome não é técnico, mas social e político. Segundo o IBGE, o Brasil produziu no ano passado impressionantes 300 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosas. Há capacidade objetiva, portanto, para alimentar todos, mas faltam políticas para a alocação correta desses recursos e incentivo à produção que de fato chegue à mesa dos brasileiros.

Isso porque, embora as commodities agrícolas sejam fundamentais para trazer divisas ao País, alimentar rebanhos e produzir biocombustíveis, é da pequena propriedade que sai a maior parte do que comemos. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) calcula que 80% da produção global de alimentos vem de produtores de pequeno e médio portes.

Esses produtores precisam de condições tecnológicas e financeiras para ampliar sua produtividade e, ao mesmo tempo, permitirem uma produção regenerativa, de baixo carbono.

Exemplo disso é um projeto desenvolvido no Cerrado brasileiro, mais especificamente em Canarana (MT), com pequenos produtores de mel e grandes fazendas de soja e milho. Os apicultores alugam suas abelhas para a polinização das lavouras, uma parceria que gera renda extra para os pequenos e aumento de produtividade e redução no uso de defensivos químicos nas grandes propriedades. Um exemplo que a Fundação Bunge teve oportunidade de apresentar num dos capítulos do livro.

Ressaltamos a aplicação prática de conhecimentos desenvolvidos pela ciência brasileira no fortalecimento de produções locais, tão importantes para garantir não apenas a quantidade, mas também a diversidade cultural e regional dos alimentos disponíveis à população, e como a integração do grande produtor com o agricultor familiar e povos tradicionais é possível e fundamental para garantirmos a segurança alimentar.

O livro também esclarece o quanto a ciência pode ajudar na modernização da grande lavoura. É incontestável que o agronegócio brasileiro é um sucesso econômico, em larga medida, pela produção intelectual de ponta de instituições como a Embrapa, que viabiliza a gigantesca produtividade das terras brasileiras nas últimas décadas. Mas o mundo enfrenta um novo desafio, o das mudanças climáticas, que exige adaptações em algumas culturas – haja vista as inevitáveis transformações na temperatura e no regime de chuvas de algumas regiões – e, sobretudo, a elaboração de métodos mais verdes e sustentáveis de manejo das lavouras.

Durante a leitura, fica evidente como as instituições científicas brasileiras têm feito sua parte, mapeando mudanças nos ecossistemas do campo e desenvolvendo soluções de agricultura regenerativa, rotação de lavouras, agroflorestas, bioinsumos, entre outras iniciativas. Agora, é preciso que esse conhecimento chegue para todos os que estão produzindo no campo, e o projeto Semêa, desenvolvido em Canarana, se propõe a isso junto com os agricultores.

Nada disso é possível sem o envolvimento do conjunto da sociedade. O conhecimento gestado na academia precisa ser convertido em políticas públicas e ações ou produtos para gerar impacto positivo na sociedade. Estas, por sua vez, são ineficazes sem a retaguarda da produção científica de ponta, que gera inovação na solução de problemas complexos. E os esforços do Estado são insuficientes sem o envolvimento do setor privado, na produção e na geração de riqueza que retorna para a sociedade em forma de impostos. E a segurança alimentar, sobretudo dos que têm pressa, é um desafio complexo que precisa do engajamento de todos.

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SÃO, RESPECTIVAMENTE, ADVOGADO, PRESIDENTE DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS JURÍDICAS; E DIRETORA-EXECUTIVA DA FUNDAÇÃO BUNGE

O sociólogo Herbert de Sousa, o Betinho, criou o famoso mote “quem tem fome tem pressa”. O mundo tem hoje mais de 700 milhões de pessoas passando fome, segundo a ONU. No Brasil, um relatório publicado pela entidade no ano passado indicou que 21 milhões de pessoas não têm o que comer.

Esses dados só levam em conta a insegurança alimentar severa, isto é, a fome propriamente dita. Se considerarmos níveis moderados, são 70 milhões de brasileiros afetados pelo problema. Um levantamento de 2022 da Rede Penssan pintava um quadro ainda mais grave: incluídas as famílias que não sabem se conseguirão comer em quantidade adequada num futuro próximo (insegurança alimentar leve), mais da metade do País está privada, em alguma medida, do seu direito fundamental à alimentação.

São 125 milhões de pessoas que, como dizia Betinho, têm pressa. Solucionar esse problema, sobretudo num contexto de recuperação pós-pandemia de covid-19, que agravou a fome em escala global, exige um esforço tremendo de todos os atores, sejam eles políticos, acadêmicos, empresariais ou sociais.

Por isso, é muito bem-vinda a publicação da obra Segurança Alimentar e Nutricional: o papel da ciência brasileira no combate à fome, pela Academia Brasileira de Ciências. O livro é organizado por Mariangela Hungria, referência mundial em microbiologia, e conta com a colaboração de 41 cientistas que, por um lado, expõem as conquistas do País no desenvolvimento de tecnologias inovadoras para a produção de alimentos e, por outro, mapeiam as possibilidades de avanço.

A obra evidencia como o problema da fome não é técnico, mas social e político. Segundo o IBGE, o Brasil produziu no ano passado impressionantes 300 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosas. Há capacidade objetiva, portanto, para alimentar todos, mas faltam políticas para a alocação correta desses recursos e incentivo à produção que de fato chegue à mesa dos brasileiros.

Isso porque, embora as commodities agrícolas sejam fundamentais para trazer divisas ao País, alimentar rebanhos e produzir biocombustíveis, é da pequena propriedade que sai a maior parte do que comemos. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) calcula que 80% da produção global de alimentos vem de produtores de pequeno e médio portes.

Esses produtores precisam de condições tecnológicas e financeiras para ampliar sua produtividade e, ao mesmo tempo, permitirem uma produção regenerativa, de baixo carbono.

Exemplo disso é um projeto desenvolvido no Cerrado brasileiro, mais especificamente em Canarana (MT), com pequenos produtores de mel e grandes fazendas de soja e milho. Os apicultores alugam suas abelhas para a polinização das lavouras, uma parceria que gera renda extra para os pequenos e aumento de produtividade e redução no uso de defensivos químicos nas grandes propriedades. Um exemplo que a Fundação Bunge teve oportunidade de apresentar num dos capítulos do livro.

Ressaltamos a aplicação prática de conhecimentos desenvolvidos pela ciência brasileira no fortalecimento de produções locais, tão importantes para garantir não apenas a quantidade, mas também a diversidade cultural e regional dos alimentos disponíveis à população, e como a integração do grande produtor com o agricultor familiar e povos tradicionais é possível e fundamental para garantirmos a segurança alimentar.

O livro também esclarece o quanto a ciência pode ajudar na modernização da grande lavoura. É incontestável que o agronegócio brasileiro é um sucesso econômico, em larga medida, pela produção intelectual de ponta de instituições como a Embrapa, que viabiliza a gigantesca produtividade das terras brasileiras nas últimas décadas. Mas o mundo enfrenta um novo desafio, o das mudanças climáticas, que exige adaptações em algumas culturas – haja vista as inevitáveis transformações na temperatura e no regime de chuvas de algumas regiões – e, sobretudo, a elaboração de métodos mais verdes e sustentáveis de manejo das lavouras.

Durante a leitura, fica evidente como as instituições científicas brasileiras têm feito sua parte, mapeando mudanças nos ecossistemas do campo e desenvolvendo soluções de agricultura regenerativa, rotação de lavouras, agroflorestas, bioinsumos, entre outras iniciativas. Agora, é preciso que esse conhecimento chegue para todos os que estão produzindo no campo, e o projeto Semêa, desenvolvido em Canarana, se propõe a isso junto com os agricultores.

Nada disso é possível sem o envolvimento do conjunto da sociedade. O conhecimento gestado na academia precisa ser convertido em políticas públicas e ações ou produtos para gerar impacto positivo na sociedade. Estas, por sua vez, são ineficazes sem a retaguarda da produção científica de ponta, que gera inovação na solução de problemas complexos. E os esforços do Estado são insuficientes sem o envolvimento do setor privado, na produção e na geração de riqueza que retorna para a sociedade em forma de impostos. E a segurança alimentar, sobretudo dos que têm pressa, é um desafio complexo que precisa do engajamento de todos.

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SÃO, RESPECTIVAMENTE, ADVOGADO, PRESIDENTE DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS JURÍDICAS; E DIRETORA-EXECUTIVA DA FUNDAÇÃO BUNGE

O sociólogo Herbert de Sousa, o Betinho, criou o famoso mote “quem tem fome tem pressa”. O mundo tem hoje mais de 700 milhões de pessoas passando fome, segundo a ONU. No Brasil, um relatório publicado pela entidade no ano passado indicou que 21 milhões de pessoas não têm o que comer.

Esses dados só levam em conta a insegurança alimentar severa, isto é, a fome propriamente dita. Se considerarmos níveis moderados, são 70 milhões de brasileiros afetados pelo problema. Um levantamento de 2022 da Rede Penssan pintava um quadro ainda mais grave: incluídas as famílias que não sabem se conseguirão comer em quantidade adequada num futuro próximo (insegurança alimentar leve), mais da metade do País está privada, em alguma medida, do seu direito fundamental à alimentação.

São 125 milhões de pessoas que, como dizia Betinho, têm pressa. Solucionar esse problema, sobretudo num contexto de recuperação pós-pandemia de covid-19, que agravou a fome em escala global, exige um esforço tremendo de todos os atores, sejam eles políticos, acadêmicos, empresariais ou sociais.

Por isso, é muito bem-vinda a publicação da obra Segurança Alimentar e Nutricional: o papel da ciência brasileira no combate à fome, pela Academia Brasileira de Ciências. O livro é organizado por Mariangela Hungria, referência mundial em microbiologia, e conta com a colaboração de 41 cientistas que, por um lado, expõem as conquistas do País no desenvolvimento de tecnologias inovadoras para a produção de alimentos e, por outro, mapeiam as possibilidades de avanço.

A obra evidencia como o problema da fome não é técnico, mas social e político. Segundo o IBGE, o Brasil produziu no ano passado impressionantes 300 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosas. Há capacidade objetiva, portanto, para alimentar todos, mas faltam políticas para a alocação correta desses recursos e incentivo à produção que de fato chegue à mesa dos brasileiros.

Isso porque, embora as commodities agrícolas sejam fundamentais para trazer divisas ao País, alimentar rebanhos e produzir biocombustíveis, é da pequena propriedade que sai a maior parte do que comemos. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) calcula que 80% da produção global de alimentos vem de produtores de pequeno e médio portes.

Esses produtores precisam de condições tecnológicas e financeiras para ampliar sua produtividade e, ao mesmo tempo, permitirem uma produção regenerativa, de baixo carbono.

Exemplo disso é um projeto desenvolvido no Cerrado brasileiro, mais especificamente em Canarana (MT), com pequenos produtores de mel e grandes fazendas de soja e milho. Os apicultores alugam suas abelhas para a polinização das lavouras, uma parceria que gera renda extra para os pequenos e aumento de produtividade e redução no uso de defensivos químicos nas grandes propriedades. Um exemplo que a Fundação Bunge teve oportunidade de apresentar num dos capítulos do livro.

Ressaltamos a aplicação prática de conhecimentos desenvolvidos pela ciência brasileira no fortalecimento de produções locais, tão importantes para garantir não apenas a quantidade, mas também a diversidade cultural e regional dos alimentos disponíveis à população, e como a integração do grande produtor com o agricultor familiar e povos tradicionais é possível e fundamental para garantirmos a segurança alimentar.

O livro também esclarece o quanto a ciência pode ajudar na modernização da grande lavoura. É incontestável que o agronegócio brasileiro é um sucesso econômico, em larga medida, pela produção intelectual de ponta de instituições como a Embrapa, que viabiliza a gigantesca produtividade das terras brasileiras nas últimas décadas. Mas o mundo enfrenta um novo desafio, o das mudanças climáticas, que exige adaptações em algumas culturas – haja vista as inevitáveis transformações na temperatura e no regime de chuvas de algumas regiões – e, sobretudo, a elaboração de métodos mais verdes e sustentáveis de manejo das lavouras.

Durante a leitura, fica evidente como as instituições científicas brasileiras têm feito sua parte, mapeando mudanças nos ecossistemas do campo e desenvolvendo soluções de agricultura regenerativa, rotação de lavouras, agroflorestas, bioinsumos, entre outras iniciativas. Agora, é preciso que esse conhecimento chegue para todos os que estão produzindo no campo, e o projeto Semêa, desenvolvido em Canarana, se propõe a isso junto com os agricultores.

Nada disso é possível sem o envolvimento do conjunto da sociedade. O conhecimento gestado na academia precisa ser convertido em políticas públicas e ações ou produtos para gerar impacto positivo na sociedade. Estas, por sua vez, são ineficazes sem a retaguarda da produção científica de ponta, que gera inovação na solução de problemas complexos. E os esforços do Estado são insuficientes sem o envolvimento do setor privado, na produção e na geração de riqueza que retorna para a sociedade em forma de impostos. E a segurança alimentar, sobretudo dos que têm pressa, é um desafio complexo que precisa do engajamento de todos.

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SÃO, RESPECTIVAMENTE, ADVOGADO, PRESIDENTE DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS JURÍDICAS; E DIRETORA-EXECUTIVA DA FUNDAÇÃO BUNGE

O sociólogo Herbert de Sousa, o Betinho, criou o famoso mote “quem tem fome tem pressa”. O mundo tem hoje mais de 700 milhões de pessoas passando fome, segundo a ONU. No Brasil, um relatório publicado pela entidade no ano passado indicou que 21 milhões de pessoas não têm o que comer.

Esses dados só levam em conta a insegurança alimentar severa, isto é, a fome propriamente dita. Se considerarmos níveis moderados, são 70 milhões de brasileiros afetados pelo problema. Um levantamento de 2022 da Rede Penssan pintava um quadro ainda mais grave: incluídas as famílias que não sabem se conseguirão comer em quantidade adequada num futuro próximo (insegurança alimentar leve), mais da metade do País está privada, em alguma medida, do seu direito fundamental à alimentação.

São 125 milhões de pessoas que, como dizia Betinho, têm pressa. Solucionar esse problema, sobretudo num contexto de recuperação pós-pandemia de covid-19, que agravou a fome em escala global, exige um esforço tremendo de todos os atores, sejam eles políticos, acadêmicos, empresariais ou sociais.

Por isso, é muito bem-vinda a publicação da obra Segurança Alimentar e Nutricional: o papel da ciência brasileira no combate à fome, pela Academia Brasileira de Ciências. O livro é organizado por Mariangela Hungria, referência mundial em microbiologia, e conta com a colaboração de 41 cientistas que, por um lado, expõem as conquistas do País no desenvolvimento de tecnologias inovadoras para a produção de alimentos e, por outro, mapeiam as possibilidades de avanço.

A obra evidencia como o problema da fome não é técnico, mas social e político. Segundo o IBGE, o Brasil produziu no ano passado impressionantes 300 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosas. Há capacidade objetiva, portanto, para alimentar todos, mas faltam políticas para a alocação correta desses recursos e incentivo à produção que de fato chegue à mesa dos brasileiros.

Isso porque, embora as commodities agrícolas sejam fundamentais para trazer divisas ao País, alimentar rebanhos e produzir biocombustíveis, é da pequena propriedade que sai a maior parte do que comemos. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) calcula que 80% da produção global de alimentos vem de produtores de pequeno e médio portes.

Esses produtores precisam de condições tecnológicas e financeiras para ampliar sua produtividade e, ao mesmo tempo, permitirem uma produção regenerativa, de baixo carbono.

Exemplo disso é um projeto desenvolvido no Cerrado brasileiro, mais especificamente em Canarana (MT), com pequenos produtores de mel e grandes fazendas de soja e milho. Os apicultores alugam suas abelhas para a polinização das lavouras, uma parceria que gera renda extra para os pequenos e aumento de produtividade e redução no uso de defensivos químicos nas grandes propriedades. Um exemplo que a Fundação Bunge teve oportunidade de apresentar num dos capítulos do livro.

Ressaltamos a aplicação prática de conhecimentos desenvolvidos pela ciência brasileira no fortalecimento de produções locais, tão importantes para garantir não apenas a quantidade, mas também a diversidade cultural e regional dos alimentos disponíveis à população, e como a integração do grande produtor com o agricultor familiar e povos tradicionais é possível e fundamental para garantirmos a segurança alimentar.

O livro também esclarece o quanto a ciência pode ajudar na modernização da grande lavoura. É incontestável que o agronegócio brasileiro é um sucesso econômico, em larga medida, pela produção intelectual de ponta de instituições como a Embrapa, que viabiliza a gigantesca produtividade das terras brasileiras nas últimas décadas. Mas o mundo enfrenta um novo desafio, o das mudanças climáticas, que exige adaptações em algumas culturas – haja vista as inevitáveis transformações na temperatura e no regime de chuvas de algumas regiões – e, sobretudo, a elaboração de métodos mais verdes e sustentáveis de manejo das lavouras.

Durante a leitura, fica evidente como as instituições científicas brasileiras têm feito sua parte, mapeando mudanças nos ecossistemas do campo e desenvolvendo soluções de agricultura regenerativa, rotação de lavouras, agroflorestas, bioinsumos, entre outras iniciativas. Agora, é preciso que esse conhecimento chegue para todos os que estão produzindo no campo, e o projeto Semêa, desenvolvido em Canarana, se propõe a isso junto com os agricultores.

Nada disso é possível sem o envolvimento do conjunto da sociedade. O conhecimento gestado na academia precisa ser convertido em políticas públicas e ações ou produtos para gerar impacto positivo na sociedade. Estas, por sua vez, são ineficazes sem a retaguarda da produção científica de ponta, que gera inovação na solução de problemas complexos. E os esforços do Estado são insuficientes sem o envolvimento do setor privado, na produção e na geração de riqueza que retorna para a sociedade em forma de impostos. E a segurança alimentar, sobretudo dos que têm pressa, é um desafio complexo que precisa do engajamento de todos.

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SÃO, RESPECTIVAMENTE, ADVOGADO, PRESIDENTE DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS JURÍDICAS; E DIRETORA-EXECUTIVA DA FUNDAÇÃO BUNGE

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