Opinião|Uma nova era dos extremos – e como se adaptar a ela


A realidade atual já mostra que o custo da inação é alto; mas é possível reduzir a vulnerabilidade da população brasileira aos impactos da crise climática com gestão de riscos, planejamento e investimento

Por Marina Grossi

Nunca houve uma primavera como a de 2023. Os brasileiros estão sentindo na pele os impactos de eventos climáticos extremos, que por aqui se traduzem em ondas de calor nunca sentidas para esta época do ano, uma seca extrema na Amazônia, queimadas no Pantanal e fortes chuvas e inundações na Região Sul do País. De setembro a novembro, duas intensas ondas de calor já acometeram o País, fazendo com que as temperaturas de capitais como Rio de Janeiro e São Paulo atingissem índices históricos.

Entre 1990 e 2020, a média de dias em que o território brasileiro atravessou ondas de calor intenso aumentou de 7 para 52, segundo um novo estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O levantamento considera como ondas de calor o período de ao menos seis dias consecutivos com temperaturas mais altas que a média do período comparativo anterior; e alerta para a mudança nos padrões de seca e precipitação, que vêm se alterando significativamente desde 1961. A análise do Inpe não leva em consideração as temperaturas registradas ao longo deste ano de 2023, que deve se consolidar como o mais quente da História, segundo a Organização Meteorológica Mundial. No dia 17 de novembro, pela primeira vez, o mundo registrou um dia com temperatura média global 2°C acima da era pré-industrial.

Os prejuízos econômicos dos eventos climáticos extremos já se avolumam. Só neste ano, a agropecuária brasileira teve perdas estimadas em R$ 33,7 bilhões, uma fatia expressiva dos R$ 300 bilhões de prejuízos registrados ao longo dos últimos dez anos, segundo a Confederação Nacional dos Municípios. Já as cidades amazônicas sofreram perdas de ao menos R$ 298,6 milhões desde o agravamento da severa estiagem, em setembro, com mais de 800 mil pessoas afetadas nos Estados do Amazonas, Pará, Acre e Rondônia.

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Este novo normal do clima traz inúmeros desafios para as cidades brasileiras, especialmente as metrópoles, áreas costeiras e outras regiões densamente povoadas. Mais do que nunca, o planejamento urbano terá de considerar os aspectos climáticos na tomada de decisão, especialmente a adaptação às mudanças climáticas. Dos 5.570 municípios brasileiros, 3.679 têm capacidade de adaptação baixa ou muito baixa para desastres como inundações, enxurradas e deslizamentos de terra – e ao menos 900 cidades estão muito suscetíveis a esses eventos, segundo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. O quadro vem se agravando ao longo das últimas décadas: a ocupação de áreas de riscos no Brasil triplicou desde 1985.

Aumentar a resiliência das cidades a eventos climáticos extremos vai demandar mudanças não só do poder público, mas de toda a sociedade, que terá de incorporar análises de risco climáticas às esferas de decisão. Eventos extremos tendem a trazer danos sistêmicos – uma das fortes chuvas que acometeram o Estado de São Paulo no início de novembro resultou em 4,2 milhões de domicílios sem energia elétrica, situação que perdurou por mais de cinco dias em algumas regiões, especialmente na capital paulista. As empresas prestadoras de serviços essenciais, como energia elétrica e água, terão de incorporar essa matriz de risco ao dia a dia de seus negócios e se preparar de forma programática para esses incidentes, para não incorrerem no risco de serem surpreendidas com os impactos do clima extremo.

A adaptação a este novo cenário vai demandar planejamento e políticas públicas eficientes. O Brasil está finalizando o Plano Clima Adaptação, uma revisão do Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (PNA), criado em 2016 como prerrogativa do Acordo de Paris, mas que não chegou a ser implementado. A atualização da política prevê 14 planos setoriais, voltados a segmentos como agricultura, indústria, saúde e recursos hídricos, que serão elaborados pelos ministérios correspondentes e acompanhados de metas que coincidam com os períodos do Plano Plurianual (PPA).

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A ação para proteger as pessoas e a natureza é urgente e a adaptação será um dos grandes temas na COP 28, que começa amanhã, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Boa parte da discussão será sobre financiamento da adaptação, e, nessa seara, as necessidades dos países em desenvolvimento são de 10 a 18 vezes maiores do que os fluxos das finanças públicas internacionais disponíveis – ou seja, será preciso destravar esses recursos, o que dependerá de negociação e da busca por mecanismos combinados de financiamentos público e privado. A realidade atual já mostra que o custo da inação é alto – porém, é possível reduzir a vulnerabilidade da população brasileira aos impactos da crise climática com gestão de riscos, planejamento e investimento.

*

É PRESIDENTE DO CONSELHO EMPRESARIAL BRASILEIRO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (CBDS), ENTIDADE COM MAIS DE 110 EMPRESAS ASSOCIADAS CUJO FATURAMENTO SOMADO EQUIVALE A QUASE 50% DO PIB BRASILEIRO

Nunca houve uma primavera como a de 2023. Os brasileiros estão sentindo na pele os impactos de eventos climáticos extremos, que por aqui se traduzem em ondas de calor nunca sentidas para esta época do ano, uma seca extrema na Amazônia, queimadas no Pantanal e fortes chuvas e inundações na Região Sul do País. De setembro a novembro, duas intensas ondas de calor já acometeram o País, fazendo com que as temperaturas de capitais como Rio de Janeiro e São Paulo atingissem índices históricos.

Entre 1990 e 2020, a média de dias em que o território brasileiro atravessou ondas de calor intenso aumentou de 7 para 52, segundo um novo estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O levantamento considera como ondas de calor o período de ao menos seis dias consecutivos com temperaturas mais altas que a média do período comparativo anterior; e alerta para a mudança nos padrões de seca e precipitação, que vêm se alterando significativamente desde 1961. A análise do Inpe não leva em consideração as temperaturas registradas ao longo deste ano de 2023, que deve se consolidar como o mais quente da História, segundo a Organização Meteorológica Mundial. No dia 17 de novembro, pela primeira vez, o mundo registrou um dia com temperatura média global 2°C acima da era pré-industrial.

Os prejuízos econômicos dos eventos climáticos extremos já se avolumam. Só neste ano, a agropecuária brasileira teve perdas estimadas em R$ 33,7 bilhões, uma fatia expressiva dos R$ 300 bilhões de prejuízos registrados ao longo dos últimos dez anos, segundo a Confederação Nacional dos Municípios. Já as cidades amazônicas sofreram perdas de ao menos R$ 298,6 milhões desde o agravamento da severa estiagem, em setembro, com mais de 800 mil pessoas afetadas nos Estados do Amazonas, Pará, Acre e Rondônia.

Este novo normal do clima traz inúmeros desafios para as cidades brasileiras, especialmente as metrópoles, áreas costeiras e outras regiões densamente povoadas. Mais do que nunca, o planejamento urbano terá de considerar os aspectos climáticos na tomada de decisão, especialmente a adaptação às mudanças climáticas. Dos 5.570 municípios brasileiros, 3.679 têm capacidade de adaptação baixa ou muito baixa para desastres como inundações, enxurradas e deslizamentos de terra – e ao menos 900 cidades estão muito suscetíveis a esses eventos, segundo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. O quadro vem se agravando ao longo das últimas décadas: a ocupação de áreas de riscos no Brasil triplicou desde 1985.

Aumentar a resiliência das cidades a eventos climáticos extremos vai demandar mudanças não só do poder público, mas de toda a sociedade, que terá de incorporar análises de risco climáticas às esferas de decisão. Eventos extremos tendem a trazer danos sistêmicos – uma das fortes chuvas que acometeram o Estado de São Paulo no início de novembro resultou em 4,2 milhões de domicílios sem energia elétrica, situação que perdurou por mais de cinco dias em algumas regiões, especialmente na capital paulista. As empresas prestadoras de serviços essenciais, como energia elétrica e água, terão de incorporar essa matriz de risco ao dia a dia de seus negócios e se preparar de forma programática para esses incidentes, para não incorrerem no risco de serem surpreendidas com os impactos do clima extremo.

A adaptação a este novo cenário vai demandar planejamento e políticas públicas eficientes. O Brasil está finalizando o Plano Clima Adaptação, uma revisão do Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (PNA), criado em 2016 como prerrogativa do Acordo de Paris, mas que não chegou a ser implementado. A atualização da política prevê 14 planos setoriais, voltados a segmentos como agricultura, indústria, saúde e recursos hídricos, que serão elaborados pelos ministérios correspondentes e acompanhados de metas que coincidam com os períodos do Plano Plurianual (PPA).

A ação para proteger as pessoas e a natureza é urgente e a adaptação será um dos grandes temas na COP 28, que começa amanhã, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Boa parte da discussão será sobre financiamento da adaptação, e, nessa seara, as necessidades dos países em desenvolvimento são de 10 a 18 vezes maiores do que os fluxos das finanças públicas internacionais disponíveis – ou seja, será preciso destravar esses recursos, o que dependerá de negociação e da busca por mecanismos combinados de financiamentos público e privado. A realidade atual já mostra que o custo da inação é alto – porém, é possível reduzir a vulnerabilidade da população brasileira aos impactos da crise climática com gestão de riscos, planejamento e investimento.

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É PRESIDENTE DO CONSELHO EMPRESARIAL BRASILEIRO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (CBDS), ENTIDADE COM MAIS DE 110 EMPRESAS ASSOCIADAS CUJO FATURAMENTO SOMADO EQUIVALE A QUASE 50% DO PIB BRASILEIRO

Nunca houve uma primavera como a de 2023. Os brasileiros estão sentindo na pele os impactos de eventos climáticos extremos, que por aqui se traduzem em ondas de calor nunca sentidas para esta época do ano, uma seca extrema na Amazônia, queimadas no Pantanal e fortes chuvas e inundações na Região Sul do País. De setembro a novembro, duas intensas ondas de calor já acometeram o País, fazendo com que as temperaturas de capitais como Rio de Janeiro e São Paulo atingissem índices históricos.

Entre 1990 e 2020, a média de dias em que o território brasileiro atravessou ondas de calor intenso aumentou de 7 para 52, segundo um novo estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O levantamento considera como ondas de calor o período de ao menos seis dias consecutivos com temperaturas mais altas que a média do período comparativo anterior; e alerta para a mudança nos padrões de seca e precipitação, que vêm se alterando significativamente desde 1961. A análise do Inpe não leva em consideração as temperaturas registradas ao longo deste ano de 2023, que deve se consolidar como o mais quente da História, segundo a Organização Meteorológica Mundial. No dia 17 de novembro, pela primeira vez, o mundo registrou um dia com temperatura média global 2°C acima da era pré-industrial.

Os prejuízos econômicos dos eventos climáticos extremos já se avolumam. Só neste ano, a agropecuária brasileira teve perdas estimadas em R$ 33,7 bilhões, uma fatia expressiva dos R$ 300 bilhões de prejuízos registrados ao longo dos últimos dez anos, segundo a Confederação Nacional dos Municípios. Já as cidades amazônicas sofreram perdas de ao menos R$ 298,6 milhões desde o agravamento da severa estiagem, em setembro, com mais de 800 mil pessoas afetadas nos Estados do Amazonas, Pará, Acre e Rondônia.

Este novo normal do clima traz inúmeros desafios para as cidades brasileiras, especialmente as metrópoles, áreas costeiras e outras regiões densamente povoadas. Mais do que nunca, o planejamento urbano terá de considerar os aspectos climáticos na tomada de decisão, especialmente a adaptação às mudanças climáticas. Dos 5.570 municípios brasileiros, 3.679 têm capacidade de adaptação baixa ou muito baixa para desastres como inundações, enxurradas e deslizamentos de terra – e ao menos 900 cidades estão muito suscetíveis a esses eventos, segundo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. O quadro vem se agravando ao longo das últimas décadas: a ocupação de áreas de riscos no Brasil triplicou desde 1985.

Aumentar a resiliência das cidades a eventos climáticos extremos vai demandar mudanças não só do poder público, mas de toda a sociedade, que terá de incorporar análises de risco climáticas às esferas de decisão. Eventos extremos tendem a trazer danos sistêmicos – uma das fortes chuvas que acometeram o Estado de São Paulo no início de novembro resultou em 4,2 milhões de domicílios sem energia elétrica, situação que perdurou por mais de cinco dias em algumas regiões, especialmente na capital paulista. As empresas prestadoras de serviços essenciais, como energia elétrica e água, terão de incorporar essa matriz de risco ao dia a dia de seus negócios e se preparar de forma programática para esses incidentes, para não incorrerem no risco de serem surpreendidas com os impactos do clima extremo.

A adaptação a este novo cenário vai demandar planejamento e políticas públicas eficientes. O Brasil está finalizando o Plano Clima Adaptação, uma revisão do Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (PNA), criado em 2016 como prerrogativa do Acordo de Paris, mas que não chegou a ser implementado. A atualização da política prevê 14 planos setoriais, voltados a segmentos como agricultura, indústria, saúde e recursos hídricos, que serão elaborados pelos ministérios correspondentes e acompanhados de metas que coincidam com os períodos do Plano Plurianual (PPA).

A ação para proteger as pessoas e a natureza é urgente e a adaptação será um dos grandes temas na COP 28, que começa amanhã, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Boa parte da discussão será sobre financiamento da adaptação, e, nessa seara, as necessidades dos países em desenvolvimento são de 10 a 18 vezes maiores do que os fluxos das finanças públicas internacionais disponíveis – ou seja, será preciso destravar esses recursos, o que dependerá de negociação e da busca por mecanismos combinados de financiamentos público e privado. A realidade atual já mostra que o custo da inação é alto – porém, é possível reduzir a vulnerabilidade da população brasileira aos impactos da crise climática com gestão de riscos, planejamento e investimento.

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É PRESIDENTE DO CONSELHO EMPRESARIAL BRASILEIRO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (CBDS), ENTIDADE COM MAIS DE 110 EMPRESAS ASSOCIADAS CUJO FATURAMENTO SOMADO EQUIVALE A QUASE 50% DO PIB BRASILEIRO

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