Opinião|Você discorda dos israelenses?


Semanalmente, milhares se reúnem nas cidades de Israel para pedir um acordo pela volta dos reféns e mudanças nos rumos políticos do país

Por Anita Efraim

Não é preciso abrir a porta para entrar em uma das casas incendiadas no kibutz Nir Oz, uma das comunidades mais atingidas pelo Hamas em 7 de outubro. Em cinzas, o local é o resto do que já foi um lar. Os casacos pendurados na entrada estão incinerados e o cheiro de queimado permanece, mesmo após dez meses. Dos 400 moradores, 100 deles foram mortos ou sequestrados. Apenas quatro casas não foram atacadas.

Essa cena resume o trauma que permeia o dia a dia dos israelenses desde o 7 de outubro. Quase todos conhecem alguém que morreu ou foi sequestrado, alguém cuja casa foi incendiada. Afinal, 1.200 pessoas morreram e 240 foram levadas para Gaza. É por isso que andar pelas ruas em Israel, seja qual for a cidade, é ser lembrado do que aconteceu mais de 300 dias atrás. Por todo o país há cartazes com os rostos daqueles que permanecem na Faixa de Gaza, ainda que não seja claro quais estão vivos, quais não.

Estar no sul de Israel é devastador. Estar perto do pior que o ser humano pode produzir tira de nós a capacidade de vislumbrar um futuro melhor.

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As pessoas que moram nos kibutzim compartilham uma ideologia comunitária. Dividem espaços comuns, comemoram juntos as festividades judaicas, criam os filhos de forma conjunta, envelhecem em comunidade e colocam em prática valores inegociáveis, de empatia e respeito ao próximo. Muitas das vítimas do ataque eram pacifistas, pessoas que acreditavam na possibilidade de coexistência. A vida que era permeada pelo desejo de paz, no entanto, se tornou um grande pesadelo.

Quem não se sentiria quebrado ao ter a vida devastada dessa forma?

Talvez alguns pensem que, por trás de tanta dor e luto, esteja o sentimento de vingança. Para alguns, essa até pode ser a resposta. Boa parte da sociedade civil organizada de Israel, porém, não quer a continuidade da guerra ou a punição coletiva da população de Gaza – pelo contrário. Semanalmente, aos sábados à noite, milhares se reúnem nas cidades israelenses para pedir um acordo pela volta dos reféns e mudanças nos rumos políticos do país.

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Estar em uma dessas manifestações é mergulhar em esperança.

A maior delas acontece na Rua Kaplan, em Tel-Aviv, uma grande avenida que fica inteiramente fechada, tomada por idosos, jovens, homens, mulheres, crianças, nascidos em Israel ou imigrantes.

Ao falar sobre o 7 de outubro, a população de Israel não questiona por que o Hamas fez isso. O Hamas, sabe ela, é um grupo terrorista cujo objetivo é o fim de Israel e a instauração de uma teocracia islâmica. A pergunta repetida por tantos israelenses é: onde estava o governo, que deveria cuidar de nós?

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Quem falhou em 7 de outubro não foi o Hamas. Pelo contrário. Quem falhou foi o governo de Israel.

Benjamin Netanyahu se elegeu repetidamente como primeiro-ministro sob a bandeira da segurança. Repetiu incessantemente que os setores progressistas, dispostos a negociar com os palestinos, não seriam capazes de proteger a população. Mas foi sob os cuidados de Bibi que Israel sofreu o maior ataque de sua história.

Assim, todo sábado, há dez meses, quando o Sol começa a se pôr, israelenses de todos os cantos do país saem das casas onde vivem e deixam para trás a dor, o luto, a raiva. Levam consigo bandeiras de Israel e placas com críticas ao atual governo, e se reúnem em torno do mesmo pedido: que os reféns sejam trazidos de volta para casa agora. Agora, agora, agora, repetem.

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E qual o motivo dessa mobilização? Eles sabem que grande parte da dificuldade em negociar o retorno dos que seguem sequestrados em Gaza é Benjamin Netanyahu. No momento em que a guerra acabar, o governo cai, e ele será para sempre lembrado como o primeiro-ministro que deixou mais de 3 mil terroristas entrarem em solo israelense, onde mataram, sequestraram e estupraram a população, sem distinguir idade, origem, religião, nacionalidade. Não à toa que uma das maiores faixas estendidas todas as semanas na Kaplan, em Tel-Aviv, tem uma foto de Bibi com os dizerem “crime minister” (ministro criminoso, em inglês), um trocadilho com “prime minister” (primeiro-ministro).

Imersos em dor e trauma, milhares de israelenses têm a disposição de lutar dia a dia por um país mais democrático e seguro. Ao mesmo tempo, com campanhas internacionais, a população em Israel tenta relembrar ao mundo que 120 pessoas seguem na Faixa de Gaza, não se sabe em que condições. Não se sabe a saúde dos idosos, se as mulheres estão sendo violentadas. Se os reféns estão vivos ou mortos.

Não há ilusões de que a continuidade da guerra trará resultados melhores, a estratégia é pressionar por um acordo. Há disposição entre a população para pagar o preço que for necessário, tudo para trazer para casa quem está há mais de dez meses nas mãos do Hamas.

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A oposição contra o governo é grande, latente e organizada. Essa é a realidade do país hoje. Então, por que a insistência em criminalizar a sociedade civil de Israel? Será que o mundo discorda tanto assim dos israelenses?

*

MESTRE EM COMUNICAÇÃO POLÍTICA, É COORDENADORA DE COMUNICAÇÃO DO INSTITUTO BRASIL-ISRAEL

Não é preciso abrir a porta para entrar em uma das casas incendiadas no kibutz Nir Oz, uma das comunidades mais atingidas pelo Hamas em 7 de outubro. Em cinzas, o local é o resto do que já foi um lar. Os casacos pendurados na entrada estão incinerados e o cheiro de queimado permanece, mesmo após dez meses. Dos 400 moradores, 100 deles foram mortos ou sequestrados. Apenas quatro casas não foram atacadas.

Essa cena resume o trauma que permeia o dia a dia dos israelenses desde o 7 de outubro. Quase todos conhecem alguém que morreu ou foi sequestrado, alguém cuja casa foi incendiada. Afinal, 1.200 pessoas morreram e 240 foram levadas para Gaza. É por isso que andar pelas ruas em Israel, seja qual for a cidade, é ser lembrado do que aconteceu mais de 300 dias atrás. Por todo o país há cartazes com os rostos daqueles que permanecem na Faixa de Gaza, ainda que não seja claro quais estão vivos, quais não.

Estar no sul de Israel é devastador. Estar perto do pior que o ser humano pode produzir tira de nós a capacidade de vislumbrar um futuro melhor.

As pessoas que moram nos kibutzim compartilham uma ideologia comunitária. Dividem espaços comuns, comemoram juntos as festividades judaicas, criam os filhos de forma conjunta, envelhecem em comunidade e colocam em prática valores inegociáveis, de empatia e respeito ao próximo. Muitas das vítimas do ataque eram pacifistas, pessoas que acreditavam na possibilidade de coexistência. A vida que era permeada pelo desejo de paz, no entanto, se tornou um grande pesadelo.

Quem não se sentiria quebrado ao ter a vida devastada dessa forma?

Talvez alguns pensem que, por trás de tanta dor e luto, esteja o sentimento de vingança. Para alguns, essa até pode ser a resposta. Boa parte da sociedade civil organizada de Israel, porém, não quer a continuidade da guerra ou a punição coletiva da população de Gaza – pelo contrário. Semanalmente, aos sábados à noite, milhares se reúnem nas cidades israelenses para pedir um acordo pela volta dos reféns e mudanças nos rumos políticos do país.

Estar em uma dessas manifestações é mergulhar em esperança.

A maior delas acontece na Rua Kaplan, em Tel-Aviv, uma grande avenida que fica inteiramente fechada, tomada por idosos, jovens, homens, mulheres, crianças, nascidos em Israel ou imigrantes.

Ao falar sobre o 7 de outubro, a população de Israel não questiona por que o Hamas fez isso. O Hamas, sabe ela, é um grupo terrorista cujo objetivo é o fim de Israel e a instauração de uma teocracia islâmica. A pergunta repetida por tantos israelenses é: onde estava o governo, que deveria cuidar de nós?

Quem falhou em 7 de outubro não foi o Hamas. Pelo contrário. Quem falhou foi o governo de Israel.

Benjamin Netanyahu se elegeu repetidamente como primeiro-ministro sob a bandeira da segurança. Repetiu incessantemente que os setores progressistas, dispostos a negociar com os palestinos, não seriam capazes de proteger a população. Mas foi sob os cuidados de Bibi que Israel sofreu o maior ataque de sua história.

Assim, todo sábado, há dez meses, quando o Sol começa a se pôr, israelenses de todos os cantos do país saem das casas onde vivem e deixam para trás a dor, o luto, a raiva. Levam consigo bandeiras de Israel e placas com críticas ao atual governo, e se reúnem em torno do mesmo pedido: que os reféns sejam trazidos de volta para casa agora. Agora, agora, agora, repetem.

E qual o motivo dessa mobilização? Eles sabem que grande parte da dificuldade em negociar o retorno dos que seguem sequestrados em Gaza é Benjamin Netanyahu. No momento em que a guerra acabar, o governo cai, e ele será para sempre lembrado como o primeiro-ministro que deixou mais de 3 mil terroristas entrarem em solo israelense, onde mataram, sequestraram e estupraram a população, sem distinguir idade, origem, religião, nacionalidade. Não à toa que uma das maiores faixas estendidas todas as semanas na Kaplan, em Tel-Aviv, tem uma foto de Bibi com os dizerem “crime minister” (ministro criminoso, em inglês), um trocadilho com “prime minister” (primeiro-ministro).

Imersos em dor e trauma, milhares de israelenses têm a disposição de lutar dia a dia por um país mais democrático e seguro. Ao mesmo tempo, com campanhas internacionais, a população em Israel tenta relembrar ao mundo que 120 pessoas seguem na Faixa de Gaza, não se sabe em que condições. Não se sabe a saúde dos idosos, se as mulheres estão sendo violentadas. Se os reféns estão vivos ou mortos.

Não há ilusões de que a continuidade da guerra trará resultados melhores, a estratégia é pressionar por um acordo. Há disposição entre a população para pagar o preço que for necessário, tudo para trazer para casa quem está há mais de dez meses nas mãos do Hamas.

A oposição contra o governo é grande, latente e organizada. Essa é a realidade do país hoje. Então, por que a insistência em criminalizar a sociedade civil de Israel? Será que o mundo discorda tanto assim dos israelenses?

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MESTRE EM COMUNICAÇÃO POLÍTICA, É COORDENADORA DE COMUNICAÇÃO DO INSTITUTO BRASIL-ISRAEL

Não é preciso abrir a porta para entrar em uma das casas incendiadas no kibutz Nir Oz, uma das comunidades mais atingidas pelo Hamas em 7 de outubro. Em cinzas, o local é o resto do que já foi um lar. Os casacos pendurados na entrada estão incinerados e o cheiro de queimado permanece, mesmo após dez meses. Dos 400 moradores, 100 deles foram mortos ou sequestrados. Apenas quatro casas não foram atacadas.

Essa cena resume o trauma que permeia o dia a dia dos israelenses desde o 7 de outubro. Quase todos conhecem alguém que morreu ou foi sequestrado, alguém cuja casa foi incendiada. Afinal, 1.200 pessoas morreram e 240 foram levadas para Gaza. É por isso que andar pelas ruas em Israel, seja qual for a cidade, é ser lembrado do que aconteceu mais de 300 dias atrás. Por todo o país há cartazes com os rostos daqueles que permanecem na Faixa de Gaza, ainda que não seja claro quais estão vivos, quais não.

Estar no sul de Israel é devastador. Estar perto do pior que o ser humano pode produzir tira de nós a capacidade de vislumbrar um futuro melhor.

As pessoas que moram nos kibutzim compartilham uma ideologia comunitária. Dividem espaços comuns, comemoram juntos as festividades judaicas, criam os filhos de forma conjunta, envelhecem em comunidade e colocam em prática valores inegociáveis, de empatia e respeito ao próximo. Muitas das vítimas do ataque eram pacifistas, pessoas que acreditavam na possibilidade de coexistência. A vida que era permeada pelo desejo de paz, no entanto, se tornou um grande pesadelo.

Quem não se sentiria quebrado ao ter a vida devastada dessa forma?

Talvez alguns pensem que, por trás de tanta dor e luto, esteja o sentimento de vingança. Para alguns, essa até pode ser a resposta. Boa parte da sociedade civil organizada de Israel, porém, não quer a continuidade da guerra ou a punição coletiva da população de Gaza – pelo contrário. Semanalmente, aos sábados à noite, milhares se reúnem nas cidades israelenses para pedir um acordo pela volta dos reféns e mudanças nos rumos políticos do país.

Estar em uma dessas manifestações é mergulhar em esperança.

A maior delas acontece na Rua Kaplan, em Tel-Aviv, uma grande avenida que fica inteiramente fechada, tomada por idosos, jovens, homens, mulheres, crianças, nascidos em Israel ou imigrantes.

Ao falar sobre o 7 de outubro, a população de Israel não questiona por que o Hamas fez isso. O Hamas, sabe ela, é um grupo terrorista cujo objetivo é o fim de Israel e a instauração de uma teocracia islâmica. A pergunta repetida por tantos israelenses é: onde estava o governo, que deveria cuidar de nós?

Quem falhou em 7 de outubro não foi o Hamas. Pelo contrário. Quem falhou foi o governo de Israel.

Benjamin Netanyahu se elegeu repetidamente como primeiro-ministro sob a bandeira da segurança. Repetiu incessantemente que os setores progressistas, dispostos a negociar com os palestinos, não seriam capazes de proteger a população. Mas foi sob os cuidados de Bibi que Israel sofreu o maior ataque de sua história.

Assim, todo sábado, há dez meses, quando o Sol começa a se pôr, israelenses de todos os cantos do país saem das casas onde vivem e deixam para trás a dor, o luto, a raiva. Levam consigo bandeiras de Israel e placas com críticas ao atual governo, e se reúnem em torno do mesmo pedido: que os reféns sejam trazidos de volta para casa agora. Agora, agora, agora, repetem.

E qual o motivo dessa mobilização? Eles sabem que grande parte da dificuldade em negociar o retorno dos que seguem sequestrados em Gaza é Benjamin Netanyahu. No momento em que a guerra acabar, o governo cai, e ele será para sempre lembrado como o primeiro-ministro que deixou mais de 3 mil terroristas entrarem em solo israelense, onde mataram, sequestraram e estupraram a população, sem distinguir idade, origem, religião, nacionalidade. Não à toa que uma das maiores faixas estendidas todas as semanas na Kaplan, em Tel-Aviv, tem uma foto de Bibi com os dizerem “crime minister” (ministro criminoso, em inglês), um trocadilho com “prime minister” (primeiro-ministro).

Imersos em dor e trauma, milhares de israelenses têm a disposição de lutar dia a dia por um país mais democrático e seguro. Ao mesmo tempo, com campanhas internacionais, a população em Israel tenta relembrar ao mundo que 120 pessoas seguem na Faixa de Gaza, não se sabe em que condições. Não se sabe a saúde dos idosos, se as mulheres estão sendo violentadas. Se os reféns estão vivos ou mortos.

Não há ilusões de que a continuidade da guerra trará resultados melhores, a estratégia é pressionar por um acordo. Há disposição entre a população para pagar o preço que for necessário, tudo para trazer para casa quem está há mais de dez meses nas mãos do Hamas.

A oposição contra o governo é grande, latente e organizada. Essa é a realidade do país hoje. Então, por que a insistência em criminalizar a sociedade civil de Israel? Será que o mundo discorda tanto assim dos israelenses?

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MESTRE EM COMUNICAÇÃO POLÍTICA, É COORDENADORA DE COMUNICAÇÃO DO INSTITUTO BRASIL-ISRAEL

Não é preciso abrir a porta para entrar em uma das casas incendiadas no kibutz Nir Oz, uma das comunidades mais atingidas pelo Hamas em 7 de outubro. Em cinzas, o local é o resto do que já foi um lar. Os casacos pendurados na entrada estão incinerados e o cheiro de queimado permanece, mesmo após dez meses. Dos 400 moradores, 100 deles foram mortos ou sequestrados. Apenas quatro casas não foram atacadas.

Essa cena resume o trauma que permeia o dia a dia dos israelenses desde o 7 de outubro. Quase todos conhecem alguém que morreu ou foi sequestrado, alguém cuja casa foi incendiada. Afinal, 1.200 pessoas morreram e 240 foram levadas para Gaza. É por isso que andar pelas ruas em Israel, seja qual for a cidade, é ser lembrado do que aconteceu mais de 300 dias atrás. Por todo o país há cartazes com os rostos daqueles que permanecem na Faixa de Gaza, ainda que não seja claro quais estão vivos, quais não.

Estar no sul de Israel é devastador. Estar perto do pior que o ser humano pode produzir tira de nós a capacidade de vislumbrar um futuro melhor.

As pessoas que moram nos kibutzim compartilham uma ideologia comunitária. Dividem espaços comuns, comemoram juntos as festividades judaicas, criam os filhos de forma conjunta, envelhecem em comunidade e colocam em prática valores inegociáveis, de empatia e respeito ao próximo. Muitas das vítimas do ataque eram pacifistas, pessoas que acreditavam na possibilidade de coexistência. A vida que era permeada pelo desejo de paz, no entanto, se tornou um grande pesadelo.

Quem não se sentiria quebrado ao ter a vida devastada dessa forma?

Talvez alguns pensem que, por trás de tanta dor e luto, esteja o sentimento de vingança. Para alguns, essa até pode ser a resposta. Boa parte da sociedade civil organizada de Israel, porém, não quer a continuidade da guerra ou a punição coletiva da população de Gaza – pelo contrário. Semanalmente, aos sábados à noite, milhares se reúnem nas cidades israelenses para pedir um acordo pela volta dos reféns e mudanças nos rumos políticos do país.

Estar em uma dessas manifestações é mergulhar em esperança.

A maior delas acontece na Rua Kaplan, em Tel-Aviv, uma grande avenida que fica inteiramente fechada, tomada por idosos, jovens, homens, mulheres, crianças, nascidos em Israel ou imigrantes.

Ao falar sobre o 7 de outubro, a população de Israel não questiona por que o Hamas fez isso. O Hamas, sabe ela, é um grupo terrorista cujo objetivo é o fim de Israel e a instauração de uma teocracia islâmica. A pergunta repetida por tantos israelenses é: onde estava o governo, que deveria cuidar de nós?

Quem falhou em 7 de outubro não foi o Hamas. Pelo contrário. Quem falhou foi o governo de Israel.

Benjamin Netanyahu se elegeu repetidamente como primeiro-ministro sob a bandeira da segurança. Repetiu incessantemente que os setores progressistas, dispostos a negociar com os palestinos, não seriam capazes de proteger a população. Mas foi sob os cuidados de Bibi que Israel sofreu o maior ataque de sua história.

Assim, todo sábado, há dez meses, quando o Sol começa a se pôr, israelenses de todos os cantos do país saem das casas onde vivem e deixam para trás a dor, o luto, a raiva. Levam consigo bandeiras de Israel e placas com críticas ao atual governo, e se reúnem em torno do mesmo pedido: que os reféns sejam trazidos de volta para casa agora. Agora, agora, agora, repetem.

E qual o motivo dessa mobilização? Eles sabem que grande parte da dificuldade em negociar o retorno dos que seguem sequestrados em Gaza é Benjamin Netanyahu. No momento em que a guerra acabar, o governo cai, e ele será para sempre lembrado como o primeiro-ministro que deixou mais de 3 mil terroristas entrarem em solo israelense, onde mataram, sequestraram e estupraram a população, sem distinguir idade, origem, religião, nacionalidade. Não à toa que uma das maiores faixas estendidas todas as semanas na Kaplan, em Tel-Aviv, tem uma foto de Bibi com os dizerem “crime minister” (ministro criminoso, em inglês), um trocadilho com “prime minister” (primeiro-ministro).

Imersos em dor e trauma, milhares de israelenses têm a disposição de lutar dia a dia por um país mais democrático e seguro. Ao mesmo tempo, com campanhas internacionais, a população em Israel tenta relembrar ao mundo que 120 pessoas seguem na Faixa de Gaza, não se sabe em que condições. Não se sabe a saúde dos idosos, se as mulheres estão sendo violentadas. Se os reféns estão vivos ou mortos.

Não há ilusões de que a continuidade da guerra trará resultados melhores, a estratégia é pressionar por um acordo. Há disposição entre a população para pagar o preço que for necessário, tudo para trazer para casa quem está há mais de dez meses nas mãos do Hamas.

A oposição contra o governo é grande, latente e organizada. Essa é a realidade do país hoje. Então, por que a insistência em criminalizar a sociedade civil de Israel? Será que o mundo discorda tanto assim dos israelenses?

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MESTRE EM COMUNICAÇÃO POLÍTICA, É COORDENADORA DE COMUNICAÇÃO DO INSTITUTO BRASIL-ISRAEL

Opinião por Anita Efraim

Mestre em Comunicação Política, é coordenadora de comunicação do Instituto Brasil-Israel

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