Economista-chefe e sócio da Warren Investimentos, professor do IDP, foi secretário da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo e o primeiro diretor executivo da IFI. Felipe Scudeler Salto escreve quinzenalmente na seção Espaço Aberto

Opinião|Galípolo é o nome certo para o BC


Não tenho dúvida de que realizará com maestria a tarefa de preservar o poder de compra da moeda, sem ignorar o PIB e o emprego

Por Felipe Salto

Conheço Gabriel Galípolo há tempos. Quem nos apresentou foi um estimado professor em comum, José Marcio Rego. Já presenciei, em muitas ocasiões, sua capacidade de analisar a economia nacional, sob perspectiva teórica e histórica; sempre com bom humor. Tem capacidade de entrega e dialoga com diferentes interlocutores, de matizes distintos, em benefício dos propósitos a que se dedica.

A notícia de que Galípolo será indicado à presidência do Banco Central (BC) é um bom agouro, que chegou pela boca do próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na tarde de ontem. Não tenho dúvida de que realizará com maestria a tarefa de preservar o poder de compra da moeda, sem ignorar o PIB e o emprego.

A condução da política monetária é um desafio complexo, técnica e politicamente. Destaco quatro requisitos: capacidade de comunicação, fundamentação técnica das decisões, uso permanente dos experientes servidores da autoridade monetária e boa interlocução com o governo, o Congresso, o mercado, a academia e a chamada economia real.

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A autonomia operacional do BC consolidou-se com o próprio sistema de metas à inflação, em 1999, no governo FHC. O novo regime complementava-se por outros dois pilares: a responsabilidade fiscal, materializada nas metas de superávit, e a flutuação da taxa de câmbio, com livre mobilidade de capitais.

Por alguns anos, após o Plano Real (1994) debelar a hiperinflação, a âncora cambial serviu ao propósito de evitar o retorno do fantasma. A saber, o manejo do preço do dólar medido em reais, isto é, a taxa de câmbio, permitia influenciar o nível de preços, em que pesem os efeitos deletérios do real apreciado sobre a produção.

Ninguém mais aceitaria a volta de um regime econômico marcado por carestia e falta de previsibilidade. Mas, para suplantar a âncora cambial e estimular a entrada de capitais de boa qualidade no País, foi preciso formular uma nova política econômica.

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Trocou-se a âncora cambial pela fiscal. As metas para a inflação seriam fixadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), composto pelos ministros do Planejamento e da Fazenda e pelo próprio presidente do BC. O Conselho de Política Monetária (Copom) do BC fixaria a meta Selic para cumprir esses compromissos. As metas de superávit primário levariam, no longo prazo, à redução dos juros.

O Copom deve usar com autonomia os instrumentos à sua disposição, mormente, a meta Selic, referência para os juros praticados no mercado, que troca recursos por títulos públicos e vice-versa (incluídas, aqui, as chamadas operações compromissadas), sujeitos à Selic.

Daí a importância do BC. Se ele é capaz de influenciar o custo do crédito, por meio da Selic, então pode colaborar para domar as pressões advindas do consumo, por exemplo, sobre a inflação.

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Essa complexa política de juros precisa blindar-se de interesses estranhos aos já elucidados. Mas seus gestores devem satisfações à sociedade. É por essa razão que a lei determina a ida periódica do representante do BC ao Congresso, aliás.

A Selic é um instrumento de política econômica e, assim, a veleidade de levar o juro a este ou àquele patamar é só isto: puro desejo. Quanto maior a capacidade e a disposição do governo em cumprir as regras legais previstas para a política fiscal, com vistas à obtenção das condições de sustentabilidade da dívida pública em relação ao PIB, tanto maiores as chances de se ter juro civilizado. Sem isso, nada feito.

A ida do ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda para a Diretoria de Política Monetária, a mais técnica de todas as nove cadeiras, foi bem aceita. O mesmo tende a acontecer com sua indicação para presidi-lo, confirmada ontem.

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Galípolo tem experiência nos setores público e privado. Ocupou postos importantes no governo do Estado de São Paulo, na área de concessões e parcerias público-privadas, presidiu o Banco Fator, foi secretário-executivo do Ministério da Fazenda e exerce, atualmente, mandato como diretor do BC.

Nesse último cargo, que é bastante técnico, apresentou amplo conhecimento do mercado, especialmente no que se refere aos títulos públicos e ao dólar. Incorporou a ideia da boa gestão como sinônima de: boa interlocução com os mercados, aqui e lá fora, de modo transparente; capacidade de comunicação fundamentada nos documentos oficiais; e flexibilidade para lidar com a política. Está forjado para o novo desafio.

É sintomático que Galípolo tenha conquistado a burocracia permanente do BC em tão pouco tempo. Ela é reconhecida pelas elevadas competência técnica e capacidade analítica. Ali, a música toca sempre afinada, sem notas amassadas e melodias confusas. Não aceita maus dançarinos, vale dizer.

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Por fim, sobre a relação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o economista Gabriel Galípolo, só vejo vantagens. É natural que o presidente se preocupe com o custo do crédito, o desemprego, a inflação e o crescimento econômico. Cabe aos dirigentes do BC o diálogo, dentro das limitações e obrigações impostas por seus mandatos.

Boa sorte a Gabriel Galípolo no processo, que ainda contará com a indicação formal do presidente e a sabatina e aprovação pelo Senado.

*

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ECONOMISTA-CHEFE DA WARREN INVESTIMENTOS, EX-SECRETÁRIO DA FAZENDA E PLANEJAMENTO DO ESTADO DE SÃO PAULO, PRIMEIRO DIRETOR-EXECUTIVO DA IFI, FOI ELEITO ECONOMISTA DO ANO PELA ORDEM DOS ECONOMISTAS DO BRASIL (2023)

Conheço Gabriel Galípolo há tempos. Quem nos apresentou foi um estimado professor em comum, José Marcio Rego. Já presenciei, em muitas ocasiões, sua capacidade de analisar a economia nacional, sob perspectiva teórica e histórica; sempre com bom humor. Tem capacidade de entrega e dialoga com diferentes interlocutores, de matizes distintos, em benefício dos propósitos a que se dedica.

A notícia de que Galípolo será indicado à presidência do Banco Central (BC) é um bom agouro, que chegou pela boca do próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na tarde de ontem. Não tenho dúvida de que realizará com maestria a tarefa de preservar o poder de compra da moeda, sem ignorar o PIB e o emprego.

A condução da política monetária é um desafio complexo, técnica e politicamente. Destaco quatro requisitos: capacidade de comunicação, fundamentação técnica das decisões, uso permanente dos experientes servidores da autoridade monetária e boa interlocução com o governo, o Congresso, o mercado, a academia e a chamada economia real.

A autonomia operacional do BC consolidou-se com o próprio sistema de metas à inflação, em 1999, no governo FHC. O novo regime complementava-se por outros dois pilares: a responsabilidade fiscal, materializada nas metas de superávit, e a flutuação da taxa de câmbio, com livre mobilidade de capitais.

Por alguns anos, após o Plano Real (1994) debelar a hiperinflação, a âncora cambial serviu ao propósito de evitar o retorno do fantasma. A saber, o manejo do preço do dólar medido em reais, isto é, a taxa de câmbio, permitia influenciar o nível de preços, em que pesem os efeitos deletérios do real apreciado sobre a produção.

Ninguém mais aceitaria a volta de um regime econômico marcado por carestia e falta de previsibilidade. Mas, para suplantar a âncora cambial e estimular a entrada de capitais de boa qualidade no País, foi preciso formular uma nova política econômica.

Trocou-se a âncora cambial pela fiscal. As metas para a inflação seriam fixadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), composto pelos ministros do Planejamento e da Fazenda e pelo próprio presidente do BC. O Conselho de Política Monetária (Copom) do BC fixaria a meta Selic para cumprir esses compromissos. As metas de superávit primário levariam, no longo prazo, à redução dos juros.

O Copom deve usar com autonomia os instrumentos à sua disposição, mormente, a meta Selic, referência para os juros praticados no mercado, que troca recursos por títulos públicos e vice-versa (incluídas, aqui, as chamadas operações compromissadas), sujeitos à Selic.

Daí a importância do BC. Se ele é capaz de influenciar o custo do crédito, por meio da Selic, então pode colaborar para domar as pressões advindas do consumo, por exemplo, sobre a inflação.

Essa complexa política de juros precisa blindar-se de interesses estranhos aos já elucidados. Mas seus gestores devem satisfações à sociedade. É por essa razão que a lei determina a ida periódica do representante do BC ao Congresso, aliás.

A Selic é um instrumento de política econômica e, assim, a veleidade de levar o juro a este ou àquele patamar é só isto: puro desejo. Quanto maior a capacidade e a disposição do governo em cumprir as regras legais previstas para a política fiscal, com vistas à obtenção das condições de sustentabilidade da dívida pública em relação ao PIB, tanto maiores as chances de se ter juro civilizado. Sem isso, nada feito.

A ida do ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda para a Diretoria de Política Monetária, a mais técnica de todas as nove cadeiras, foi bem aceita. O mesmo tende a acontecer com sua indicação para presidi-lo, confirmada ontem.

Galípolo tem experiência nos setores público e privado. Ocupou postos importantes no governo do Estado de São Paulo, na área de concessões e parcerias público-privadas, presidiu o Banco Fator, foi secretário-executivo do Ministério da Fazenda e exerce, atualmente, mandato como diretor do BC.

Nesse último cargo, que é bastante técnico, apresentou amplo conhecimento do mercado, especialmente no que se refere aos títulos públicos e ao dólar. Incorporou a ideia da boa gestão como sinônima de: boa interlocução com os mercados, aqui e lá fora, de modo transparente; capacidade de comunicação fundamentada nos documentos oficiais; e flexibilidade para lidar com a política. Está forjado para o novo desafio.

É sintomático que Galípolo tenha conquistado a burocracia permanente do BC em tão pouco tempo. Ela é reconhecida pelas elevadas competência técnica e capacidade analítica. Ali, a música toca sempre afinada, sem notas amassadas e melodias confusas. Não aceita maus dançarinos, vale dizer.

Por fim, sobre a relação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o economista Gabriel Galípolo, só vejo vantagens. É natural que o presidente se preocupe com o custo do crédito, o desemprego, a inflação e o crescimento econômico. Cabe aos dirigentes do BC o diálogo, dentro das limitações e obrigações impostas por seus mandatos.

Boa sorte a Gabriel Galípolo no processo, que ainda contará com a indicação formal do presidente e a sabatina e aprovação pelo Senado.

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ECONOMISTA-CHEFE DA WARREN INVESTIMENTOS, EX-SECRETÁRIO DA FAZENDA E PLANEJAMENTO DO ESTADO DE SÃO PAULO, PRIMEIRO DIRETOR-EXECUTIVO DA IFI, FOI ELEITO ECONOMISTA DO ANO PELA ORDEM DOS ECONOMISTAS DO BRASIL (2023)

Conheço Gabriel Galípolo há tempos. Quem nos apresentou foi um estimado professor em comum, José Marcio Rego. Já presenciei, em muitas ocasiões, sua capacidade de analisar a economia nacional, sob perspectiva teórica e histórica; sempre com bom humor. Tem capacidade de entrega e dialoga com diferentes interlocutores, de matizes distintos, em benefício dos propósitos a que se dedica.

A notícia de que Galípolo será indicado à presidência do Banco Central (BC) é um bom agouro, que chegou pela boca do próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na tarde de ontem. Não tenho dúvida de que realizará com maestria a tarefa de preservar o poder de compra da moeda, sem ignorar o PIB e o emprego.

A condução da política monetária é um desafio complexo, técnica e politicamente. Destaco quatro requisitos: capacidade de comunicação, fundamentação técnica das decisões, uso permanente dos experientes servidores da autoridade monetária e boa interlocução com o governo, o Congresso, o mercado, a academia e a chamada economia real.

A autonomia operacional do BC consolidou-se com o próprio sistema de metas à inflação, em 1999, no governo FHC. O novo regime complementava-se por outros dois pilares: a responsabilidade fiscal, materializada nas metas de superávit, e a flutuação da taxa de câmbio, com livre mobilidade de capitais.

Por alguns anos, após o Plano Real (1994) debelar a hiperinflação, a âncora cambial serviu ao propósito de evitar o retorno do fantasma. A saber, o manejo do preço do dólar medido em reais, isto é, a taxa de câmbio, permitia influenciar o nível de preços, em que pesem os efeitos deletérios do real apreciado sobre a produção.

Ninguém mais aceitaria a volta de um regime econômico marcado por carestia e falta de previsibilidade. Mas, para suplantar a âncora cambial e estimular a entrada de capitais de boa qualidade no País, foi preciso formular uma nova política econômica.

Trocou-se a âncora cambial pela fiscal. As metas para a inflação seriam fixadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), composto pelos ministros do Planejamento e da Fazenda e pelo próprio presidente do BC. O Conselho de Política Monetária (Copom) do BC fixaria a meta Selic para cumprir esses compromissos. As metas de superávit primário levariam, no longo prazo, à redução dos juros.

O Copom deve usar com autonomia os instrumentos à sua disposição, mormente, a meta Selic, referência para os juros praticados no mercado, que troca recursos por títulos públicos e vice-versa (incluídas, aqui, as chamadas operações compromissadas), sujeitos à Selic.

Daí a importância do BC. Se ele é capaz de influenciar o custo do crédito, por meio da Selic, então pode colaborar para domar as pressões advindas do consumo, por exemplo, sobre a inflação.

Essa complexa política de juros precisa blindar-se de interesses estranhos aos já elucidados. Mas seus gestores devem satisfações à sociedade. É por essa razão que a lei determina a ida periódica do representante do BC ao Congresso, aliás.

A Selic é um instrumento de política econômica e, assim, a veleidade de levar o juro a este ou àquele patamar é só isto: puro desejo. Quanto maior a capacidade e a disposição do governo em cumprir as regras legais previstas para a política fiscal, com vistas à obtenção das condições de sustentabilidade da dívida pública em relação ao PIB, tanto maiores as chances de se ter juro civilizado. Sem isso, nada feito.

A ida do ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda para a Diretoria de Política Monetária, a mais técnica de todas as nove cadeiras, foi bem aceita. O mesmo tende a acontecer com sua indicação para presidi-lo, confirmada ontem.

Galípolo tem experiência nos setores público e privado. Ocupou postos importantes no governo do Estado de São Paulo, na área de concessões e parcerias público-privadas, presidiu o Banco Fator, foi secretário-executivo do Ministério da Fazenda e exerce, atualmente, mandato como diretor do BC.

Nesse último cargo, que é bastante técnico, apresentou amplo conhecimento do mercado, especialmente no que se refere aos títulos públicos e ao dólar. Incorporou a ideia da boa gestão como sinônima de: boa interlocução com os mercados, aqui e lá fora, de modo transparente; capacidade de comunicação fundamentada nos documentos oficiais; e flexibilidade para lidar com a política. Está forjado para o novo desafio.

É sintomático que Galípolo tenha conquistado a burocracia permanente do BC em tão pouco tempo. Ela é reconhecida pelas elevadas competência técnica e capacidade analítica. Ali, a música toca sempre afinada, sem notas amassadas e melodias confusas. Não aceita maus dançarinos, vale dizer.

Por fim, sobre a relação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o economista Gabriel Galípolo, só vejo vantagens. É natural que o presidente se preocupe com o custo do crédito, o desemprego, a inflação e o crescimento econômico. Cabe aos dirigentes do BC o diálogo, dentro das limitações e obrigações impostas por seus mandatos.

Boa sorte a Gabriel Galípolo no processo, que ainda contará com a indicação formal do presidente e a sabatina e aprovação pelo Senado.

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ECONOMISTA-CHEFE DA WARREN INVESTIMENTOS, EX-SECRETÁRIO DA FAZENDA E PLANEJAMENTO DO ESTADO DE SÃO PAULO, PRIMEIRO DIRETOR-EXECUTIVO DA IFI, FOI ELEITO ECONOMISTA DO ANO PELA ORDEM DOS ECONOMISTAS DO BRASIL (2023)

Conheço Gabriel Galípolo há tempos. Quem nos apresentou foi um estimado professor em comum, José Marcio Rego. Já presenciei, em muitas ocasiões, sua capacidade de analisar a economia nacional, sob perspectiva teórica e histórica; sempre com bom humor. Tem capacidade de entrega e dialoga com diferentes interlocutores, de matizes distintos, em benefício dos propósitos a que se dedica.

A notícia de que Galípolo será indicado à presidência do Banco Central (BC) é um bom agouro, que chegou pela boca do próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na tarde de ontem. Não tenho dúvida de que realizará com maestria a tarefa de preservar o poder de compra da moeda, sem ignorar o PIB e o emprego.

A condução da política monetária é um desafio complexo, técnica e politicamente. Destaco quatro requisitos: capacidade de comunicação, fundamentação técnica das decisões, uso permanente dos experientes servidores da autoridade monetária e boa interlocução com o governo, o Congresso, o mercado, a academia e a chamada economia real.

A autonomia operacional do BC consolidou-se com o próprio sistema de metas à inflação, em 1999, no governo FHC. O novo regime complementava-se por outros dois pilares: a responsabilidade fiscal, materializada nas metas de superávit, e a flutuação da taxa de câmbio, com livre mobilidade de capitais.

Por alguns anos, após o Plano Real (1994) debelar a hiperinflação, a âncora cambial serviu ao propósito de evitar o retorno do fantasma. A saber, o manejo do preço do dólar medido em reais, isto é, a taxa de câmbio, permitia influenciar o nível de preços, em que pesem os efeitos deletérios do real apreciado sobre a produção.

Ninguém mais aceitaria a volta de um regime econômico marcado por carestia e falta de previsibilidade. Mas, para suplantar a âncora cambial e estimular a entrada de capitais de boa qualidade no País, foi preciso formular uma nova política econômica.

Trocou-se a âncora cambial pela fiscal. As metas para a inflação seriam fixadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), composto pelos ministros do Planejamento e da Fazenda e pelo próprio presidente do BC. O Conselho de Política Monetária (Copom) do BC fixaria a meta Selic para cumprir esses compromissos. As metas de superávit primário levariam, no longo prazo, à redução dos juros.

O Copom deve usar com autonomia os instrumentos à sua disposição, mormente, a meta Selic, referência para os juros praticados no mercado, que troca recursos por títulos públicos e vice-versa (incluídas, aqui, as chamadas operações compromissadas), sujeitos à Selic.

Daí a importância do BC. Se ele é capaz de influenciar o custo do crédito, por meio da Selic, então pode colaborar para domar as pressões advindas do consumo, por exemplo, sobre a inflação.

Essa complexa política de juros precisa blindar-se de interesses estranhos aos já elucidados. Mas seus gestores devem satisfações à sociedade. É por essa razão que a lei determina a ida periódica do representante do BC ao Congresso, aliás.

A Selic é um instrumento de política econômica e, assim, a veleidade de levar o juro a este ou àquele patamar é só isto: puro desejo. Quanto maior a capacidade e a disposição do governo em cumprir as regras legais previstas para a política fiscal, com vistas à obtenção das condições de sustentabilidade da dívida pública em relação ao PIB, tanto maiores as chances de se ter juro civilizado. Sem isso, nada feito.

A ida do ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda para a Diretoria de Política Monetária, a mais técnica de todas as nove cadeiras, foi bem aceita. O mesmo tende a acontecer com sua indicação para presidi-lo, confirmada ontem.

Galípolo tem experiência nos setores público e privado. Ocupou postos importantes no governo do Estado de São Paulo, na área de concessões e parcerias público-privadas, presidiu o Banco Fator, foi secretário-executivo do Ministério da Fazenda e exerce, atualmente, mandato como diretor do BC.

Nesse último cargo, que é bastante técnico, apresentou amplo conhecimento do mercado, especialmente no que se refere aos títulos públicos e ao dólar. Incorporou a ideia da boa gestão como sinônima de: boa interlocução com os mercados, aqui e lá fora, de modo transparente; capacidade de comunicação fundamentada nos documentos oficiais; e flexibilidade para lidar com a política. Está forjado para o novo desafio.

É sintomático que Galípolo tenha conquistado a burocracia permanente do BC em tão pouco tempo. Ela é reconhecida pelas elevadas competência técnica e capacidade analítica. Ali, a música toca sempre afinada, sem notas amassadas e melodias confusas. Não aceita maus dançarinos, vale dizer.

Por fim, sobre a relação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o economista Gabriel Galípolo, só vejo vantagens. É natural que o presidente se preocupe com o custo do crédito, o desemprego, a inflação e o crescimento econômico. Cabe aos dirigentes do BC o diálogo, dentro das limitações e obrigações impostas por seus mandatos.

Boa sorte a Gabriel Galípolo no processo, que ainda contará com a indicação formal do presidente e a sabatina e aprovação pelo Senado.

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