O jornalista Fernando Gabeira escreve quinzenalmente na seção Espaço Aberto

Opinião|A tragédia venezuelana


De fato, como observaram muitos, é rara a possibilidade de uma ditadura se afastar por meio de eleições livres

Por Fernando Gabeira

Aliados brasileiros de Nicolás Maduro acham que a Venezuela tem eleições até demais. O problema é que nestes 25 anos o chavismo perde terreno e não se pode falar de eleição limpa: há fraudes demais.

Na noite anterior ao domingo de 28/7, os mais ansiosos nem dormiram. Queriam estar cedo nas urnas para derrotar Maduro. Era a maior chance que a oposição já teve.

Foram eleições deformadas, mas ainda assim competitivas. Maduro impediu que a oposição tivesse a candidata que escolheu, María Corina Machado. Ao longo desse processo, prendeu um oposicionista a cada três dias.

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O acordo celebrado em Barbados com a participação do Brasil não foi cumprido. Estados Unidos e União Europeia perceberam que Maduro trapaceava.

De fato, como observaram muitos, é rara a possibilidade de uma ditadura se afastar por meio de eleições livres.

Maduro bloqueou a possibilidade de participação de observadores europeus. São os mais experientes do planeta, costumam empregar 120 pessoas e realizar um trabalho rigoroso. Expulsou da Venezuela alguns deputados independentes que queriam acompanhar o processo. E, finalmente, impediu a entrada no país de quatro ex-presidentes latino-americanos: Mireya Moscoso (Panamá), Miguel Ángel (Costa Rica), Jorge Quiroga (Bolívia) e Vicente Fox (México).

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Quem acompanhou o passo a passo das eleições de domingo encontrou poucos incidentes, sobretudo alguns casos de voto assistido, como o de estudantes forçados a votar em Maduro. O problema central surgiu logo após o término das eleições. Os delegados da oposição foram impedidos de acompanhar as apurações. Nesse momento, creio, o acordo de Barbados foi totalmente para o espaço. A lei garante a presença de opositores pois o processo precisa de transparência.

O governo brasileiro se fez representar pelo ex-ministro Celso Amorim. Mas ele não comentou esse incidente, que foi decisivo para que se articulasse a fraude.

De madrugada, o Conselho Nacional Eleitoral, presidido por Elvis Amoroso, amigo de Maduro, proclama a vitória de forma patética. Segundo ele, a diferença em favor de Maduro era de um pouco mais de 700 mil votos e faltavam 2,3 milhões para serem apurados. Os matemáticos contestaram a visão de irreversibilidade de Amoroso.

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O que se seguiu a partir dessa farsa foi uma previsível coreografia internacional. Os amigos de sempre – governos autoritários, como Rússia, China, Irã e Síria – reconheceram a suposta vitória de Maduro. Mas os outros não. Com nuances, todos querem conhecer as atas, mesmo porque a oposição afirma que ganhou com pouco mais de 70% dos votos.

As nuances são importantes para localizar o Brasil, o grande fiador dessas eleições, que se coloca agora numa posição delicada. Países como o Chile e o Uruguai pedem transparência, mas duvidam abertamente da vitória de Maduro. O Brasil se limita a pedir a publicação das atas eleitorais. E Lula da Silva afirma que não houve nada de grave.

Se a ideia inicial era a de legitimar Maduro por meio das eleições, para grande parte do mundo o processo apenas realçou seu viés autoritário. O isolamento de Maduro ficou mais dramático, sobretudo agora, que pediu a retirada de diplomatas de sete países latino-americanos. O Panamá, por exemplo, já suspendeu as relações com a Venezuela.

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O período que se inicia é de grande tensão. Os opositores vão tentar valer o que consideram uma ampla vitória sobre a ditadura. Ao mesmo tempo, o regime se prepara para reprimir, prender e, se possível, retirar de cena a grande líder da oposição, María Corina Machado.

Os venezuelanos que contavam com a volta dos 8 milhões de compatriotas que se foram no período ditatorial estão frustrados. A juventude que votou na oposição para não ter de sair do país possivelmente tomará o caminho do exílio.

O êxodo maciço dos venezuelanos se reflete até nas eleições norte-americanas, pois Donald Trump costuma atacar a presença deles nos EUA. Colômbia e Brasil já receberam grande parte desses refugiados. Isso aconteceu num momento em que os governos dos dois países eram adversários de Maduro. Mas, de qualquer forma, caso a Venezuela mergulhe mais na ditadura e, sobretudo, na pobreza, no colapso dos serviços públicos e na corrupção, a tendência é de que escapem pelas fronteiras.

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A posição de romper com a Venezuela não resolve. Apoiar o regime de Maduro, por outro lado, não expressa o consenso nacional, apesar de o PT ter divulgado nota reconhecendo uma eleição misteriosa, talvez por ter recebido as atas eleitorais por telepatia.

Continuaremos tendo questões comuns que não se resumem aos 300 mil refugiados, mas à compra de eletricidade, proteção da Amazônia e dos yanomamis, o monumento turístico que é o Monte Roraima – enfim, é preciso pragmaticamente tratar de tudo isso, sem comprometer a defesa da democracia, sepultada pelo regime de Maduro.

Se o governo, como o PT, for além do pragmatismo e defender a existência de um regime democrático onde ele escandalosamente não existe, entrará em conflito com o consenso nacional e se transformará em mais um dinossauro no continente.

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JORNALISTA

Aliados brasileiros de Nicolás Maduro acham que a Venezuela tem eleições até demais. O problema é que nestes 25 anos o chavismo perde terreno e não se pode falar de eleição limpa: há fraudes demais.

Na noite anterior ao domingo de 28/7, os mais ansiosos nem dormiram. Queriam estar cedo nas urnas para derrotar Maduro. Era a maior chance que a oposição já teve.

Foram eleições deformadas, mas ainda assim competitivas. Maduro impediu que a oposição tivesse a candidata que escolheu, María Corina Machado. Ao longo desse processo, prendeu um oposicionista a cada três dias.

O acordo celebrado em Barbados com a participação do Brasil não foi cumprido. Estados Unidos e União Europeia perceberam que Maduro trapaceava.

De fato, como observaram muitos, é rara a possibilidade de uma ditadura se afastar por meio de eleições livres.

Maduro bloqueou a possibilidade de participação de observadores europeus. São os mais experientes do planeta, costumam empregar 120 pessoas e realizar um trabalho rigoroso. Expulsou da Venezuela alguns deputados independentes que queriam acompanhar o processo. E, finalmente, impediu a entrada no país de quatro ex-presidentes latino-americanos: Mireya Moscoso (Panamá), Miguel Ángel (Costa Rica), Jorge Quiroga (Bolívia) e Vicente Fox (México).

Quem acompanhou o passo a passo das eleições de domingo encontrou poucos incidentes, sobretudo alguns casos de voto assistido, como o de estudantes forçados a votar em Maduro. O problema central surgiu logo após o término das eleições. Os delegados da oposição foram impedidos de acompanhar as apurações. Nesse momento, creio, o acordo de Barbados foi totalmente para o espaço. A lei garante a presença de opositores pois o processo precisa de transparência.

O governo brasileiro se fez representar pelo ex-ministro Celso Amorim. Mas ele não comentou esse incidente, que foi decisivo para que se articulasse a fraude.

De madrugada, o Conselho Nacional Eleitoral, presidido por Elvis Amoroso, amigo de Maduro, proclama a vitória de forma patética. Segundo ele, a diferença em favor de Maduro era de um pouco mais de 700 mil votos e faltavam 2,3 milhões para serem apurados. Os matemáticos contestaram a visão de irreversibilidade de Amoroso.

O que se seguiu a partir dessa farsa foi uma previsível coreografia internacional. Os amigos de sempre – governos autoritários, como Rússia, China, Irã e Síria – reconheceram a suposta vitória de Maduro. Mas os outros não. Com nuances, todos querem conhecer as atas, mesmo porque a oposição afirma que ganhou com pouco mais de 70% dos votos.

As nuances são importantes para localizar o Brasil, o grande fiador dessas eleições, que se coloca agora numa posição delicada. Países como o Chile e o Uruguai pedem transparência, mas duvidam abertamente da vitória de Maduro. O Brasil se limita a pedir a publicação das atas eleitorais. E Lula da Silva afirma que não houve nada de grave.

Se a ideia inicial era a de legitimar Maduro por meio das eleições, para grande parte do mundo o processo apenas realçou seu viés autoritário. O isolamento de Maduro ficou mais dramático, sobretudo agora, que pediu a retirada de diplomatas de sete países latino-americanos. O Panamá, por exemplo, já suspendeu as relações com a Venezuela.

O período que se inicia é de grande tensão. Os opositores vão tentar valer o que consideram uma ampla vitória sobre a ditadura. Ao mesmo tempo, o regime se prepara para reprimir, prender e, se possível, retirar de cena a grande líder da oposição, María Corina Machado.

Os venezuelanos que contavam com a volta dos 8 milhões de compatriotas que se foram no período ditatorial estão frustrados. A juventude que votou na oposição para não ter de sair do país possivelmente tomará o caminho do exílio.

O êxodo maciço dos venezuelanos se reflete até nas eleições norte-americanas, pois Donald Trump costuma atacar a presença deles nos EUA. Colômbia e Brasil já receberam grande parte desses refugiados. Isso aconteceu num momento em que os governos dos dois países eram adversários de Maduro. Mas, de qualquer forma, caso a Venezuela mergulhe mais na ditadura e, sobretudo, na pobreza, no colapso dos serviços públicos e na corrupção, a tendência é de que escapem pelas fronteiras.

A posição de romper com a Venezuela não resolve. Apoiar o regime de Maduro, por outro lado, não expressa o consenso nacional, apesar de o PT ter divulgado nota reconhecendo uma eleição misteriosa, talvez por ter recebido as atas eleitorais por telepatia.

Continuaremos tendo questões comuns que não se resumem aos 300 mil refugiados, mas à compra de eletricidade, proteção da Amazônia e dos yanomamis, o monumento turístico que é o Monte Roraima – enfim, é preciso pragmaticamente tratar de tudo isso, sem comprometer a defesa da democracia, sepultada pelo regime de Maduro.

Se o governo, como o PT, for além do pragmatismo e defender a existência de um regime democrático onde ele escandalosamente não existe, entrará em conflito com o consenso nacional e se transformará em mais um dinossauro no continente.

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JORNALISTA

Aliados brasileiros de Nicolás Maduro acham que a Venezuela tem eleições até demais. O problema é que nestes 25 anos o chavismo perde terreno e não se pode falar de eleição limpa: há fraudes demais.

Na noite anterior ao domingo de 28/7, os mais ansiosos nem dormiram. Queriam estar cedo nas urnas para derrotar Maduro. Era a maior chance que a oposição já teve.

Foram eleições deformadas, mas ainda assim competitivas. Maduro impediu que a oposição tivesse a candidata que escolheu, María Corina Machado. Ao longo desse processo, prendeu um oposicionista a cada três dias.

O acordo celebrado em Barbados com a participação do Brasil não foi cumprido. Estados Unidos e União Europeia perceberam que Maduro trapaceava.

De fato, como observaram muitos, é rara a possibilidade de uma ditadura se afastar por meio de eleições livres.

Maduro bloqueou a possibilidade de participação de observadores europeus. São os mais experientes do planeta, costumam empregar 120 pessoas e realizar um trabalho rigoroso. Expulsou da Venezuela alguns deputados independentes que queriam acompanhar o processo. E, finalmente, impediu a entrada no país de quatro ex-presidentes latino-americanos: Mireya Moscoso (Panamá), Miguel Ángel (Costa Rica), Jorge Quiroga (Bolívia) e Vicente Fox (México).

Quem acompanhou o passo a passo das eleições de domingo encontrou poucos incidentes, sobretudo alguns casos de voto assistido, como o de estudantes forçados a votar em Maduro. O problema central surgiu logo após o término das eleições. Os delegados da oposição foram impedidos de acompanhar as apurações. Nesse momento, creio, o acordo de Barbados foi totalmente para o espaço. A lei garante a presença de opositores pois o processo precisa de transparência.

O governo brasileiro se fez representar pelo ex-ministro Celso Amorim. Mas ele não comentou esse incidente, que foi decisivo para que se articulasse a fraude.

De madrugada, o Conselho Nacional Eleitoral, presidido por Elvis Amoroso, amigo de Maduro, proclama a vitória de forma patética. Segundo ele, a diferença em favor de Maduro era de um pouco mais de 700 mil votos e faltavam 2,3 milhões para serem apurados. Os matemáticos contestaram a visão de irreversibilidade de Amoroso.

O que se seguiu a partir dessa farsa foi uma previsível coreografia internacional. Os amigos de sempre – governos autoritários, como Rússia, China, Irã e Síria – reconheceram a suposta vitória de Maduro. Mas os outros não. Com nuances, todos querem conhecer as atas, mesmo porque a oposição afirma que ganhou com pouco mais de 70% dos votos.

As nuances são importantes para localizar o Brasil, o grande fiador dessas eleições, que se coloca agora numa posição delicada. Países como o Chile e o Uruguai pedem transparência, mas duvidam abertamente da vitória de Maduro. O Brasil se limita a pedir a publicação das atas eleitorais. E Lula da Silva afirma que não houve nada de grave.

Se a ideia inicial era a de legitimar Maduro por meio das eleições, para grande parte do mundo o processo apenas realçou seu viés autoritário. O isolamento de Maduro ficou mais dramático, sobretudo agora, que pediu a retirada de diplomatas de sete países latino-americanos. O Panamá, por exemplo, já suspendeu as relações com a Venezuela.

O período que se inicia é de grande tensão. Os opositores vão tentar valer o que consideram uma ampla vitória sobre a ditadura. Ao mesmo tempo, o regime se prepara para reprimir, prender e, se possível, retirar de cena a grande líder da oposição, María Corina Machado.

Os venezuelanos que contavam com a volta dos 8 milhões de compatriotas que se foram no período ditatorial estão frustrados. A juventude que votou na oposição para não ter de sair do país possivelmente tomará o caminho do exílio.

O êxodo maciço dos venezuelanos se reflete até nas eleições norte-americanas, pois Donald Trump costuma atacar a presença deles nos EUA. Colômbia e Brasil já receberam grande parte desses refugiados. Isso aconteceu num momento em que os governos dos dois países eram adversários de Maduro. Mas, de qualquer forma, caso a Venezuela mergulhe mais na ditadura e, sobretudo, na pobreza, no colapso dos serviços públicos e na corrupção, a tendência é de que escapem pelas fronteiras.

A posição de romper com a Venezuela não resolve. Apoiar o regime de Maduro, por outro lado, não expressa o consenso nacional, apesar de o PT ter divulgado nota reconhecendo uma eleição misteriosa, talvez por ter recebido as atas eleitorais por telepatia.

Continuaremos tendo questões comuns que não se resumem aos 300 mil refugiados, mas à compra de eletricidade, proteção da Amazônia e dos yanomamis, o monumento turístico que é o Monte Roraima – enfim, é preciso pragmaticamente tratar de tudo isso, sem comprometer a defesa da democracia, sepultada pelo regime de Maduro.

Se o governo, como o PT, for além do pragmatismo e defender a existência de um regime democrático onde ele escandalosamente não existe, entrará em conflito com o consenso nacional e se transformará em mais um dinossauro no continente.

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JORNALISTA

Aliados brasileiros de Nicolás Maduro acham que a Venezuela tem eleições até demais. O problema é que nestes 25 anos o chavismo perde terreno e não se pode falar de eleição limpa: há fraudes demais.

Na noite anterior ao domingo de 28/7, os mais ansiosos nem dormiram. Queriam estar cedo nas urnas para derrotar Maduro. Era a maior chance que a oposição já teve.

Foram eleições deformadas, mas ainda assim competitivas. Maduro impediu que a oposição tivesse a candidata que escolheu, María Corina Machado. Ao longo desse processo, prendeu um oposicionista a cada três dias.

O acordo celebrado em Barbados com a participação do Brasil não foi cumprido. Estados Unidos e União Europeia perceberam que Maduro trapaceava.

De fato, como observaram muitos, é rara a possibilidade de uma ditadura se afastar por meio de eleições livres.

Maduro bloqueou a possibilidade de participação de observadores europeus. São os mais experientes do planeta, costumam empregar 120 pessoas e realizar um trabalho rigoroso. Expulsou da Venezuela alguns deputados independentes que queriam acompanhar o processo. E, finalmente, impediu a entrada no país de quatro ex-presidentes latino-americanos: Mireya Moscoso (Panamá), Miguel Ángel (Costa Rica), Jorge Quiroga (Bolívia) e Vicente Fox (México).

Quem acompanhou o passo a passo das eleições de domingo encontrou poucos incidentes, sobretudo alguns casos de voto assistido, como o de estudantes forçados a votar em Maduro. O problema central surgiu logo após o término das eleições. Os delegados da oposição foram impedidos de acompanhar as apurações. Nesse momento, creio, o acordo de Barbados foi totalmente para o espaço. A lei garante a presença de opositores pois o processo precisa de transparência.

O governo brasileiro se fez representar pelo ex-ministro Celso Amorim. Mas ele não comentou esse incidente, que foi decisivo para que se articulasse a fraude.

De madrugada, o Conselho Nacional Eleitoral, presidido por Elvis Amoroso, amigo de Maduro, proclama a vitória de forma patética. Segundo ele, a diferença em favor de Maduro era de um pouco mais de 700 mil votos e faltavam 2,3 milhões para serem apurados. Os matemáticos contestaram a visão de irreversibilidade de Amoroso.

O que se seguiu a partir dessa farsa foi uma previsível coreografia internacional. Os amigos de sempre – governos autoritários, como Rússia, China, Irã e Síria – reconheceram a suposta vitória de Maduro. Mas os outros não. Com nuances, todos querem conhecer as atas, mesmo porque a oposição afirma que ganhou com pouco mais de 70% dos votos.

As nuances são importantes para localizar o Brasil, o grande fiador dessas eleições, que se coloca agora numa posição delicada. Países como o Chile e o Uruguai pedem transparência, mas duvidam abertamente da vitória de Maduro. O Brasil se limita a pedir a publicação das atas eleitorais. E Lula da Silva afirma que não houve nada de grave.

Se a ideia inicial era a de legitimar Maduro por meio das eleições, para grande parte do mundo o processo apenas realçou seu viés autoritário. O isolamento de Maduro ficou mais dramático, sobretudo agora, que pediu a retirada de diplomatas de sete países latino-americanos. O Panamá, por exemplo, já suspendeu as relações com a Venezuela.

O período que se inicia é de grande tensão. Os opositores vão tentar valer o que consideram uma ampla vitória sobre a ditadura. Ao mesmo tempo, o regime se prepara para reprimir, prender e, se possível, retirar de cena a grande líder da oposição, María Corina Machado.

Os venezuelanos que contavam com a volta dos 8 milhões de compatriotas que se foram no período ditatorial estão frustrados. A juventude que votou na oposição para não ter de sair do país possivelmente tomará o caminho do exílio.

O êxodo maciço dos venezuelanos se reflete até nas eleições norte-americanas, pois Donald Trump costuma atacar a presença deles nos EUA. Colômbia e Brasil já receberam grande parte desses refugiados. Isso aconteceu num momento em que os governos dos dois países eram adversários de Maduro. Mas, de qualquer forma, caso a Venezuela mergulhe mais na ditadura e, sobretudo, na pobreza, no colapso dos serviços públicos e na corrupção, a tendência é de que escapem pelas fronteiras.

A posição de romper com a Venezuela não resolve. Apoiar o regime de Maduro, por outro lado, não expressa o consenso nacional, apesar de o PT ter divulgado nota reconhecendo uma eleição misteriosa, talvez por ter recebido as atas eleitorais por telepatia.

Continuaremos tendo questões comuns que não se resumem aos 300 mil refugiados, mas à compra de eletricidade, proteção da Amazônia e dos yanomamis, o monumento turístico que é o Monte Roraima – enfim, é preciso pragmaticamente tratar de tudo isso, sem comprometer a defesa da democracia, sepultada pelo regime de Maduro.

Se o governo, como o PT, for além do pragmatismo e defender a existência de um regime democrático onde ele escandalosamente não existe, entrará em conflito com o consenso nacional e se transformará em mais um dinossauro no continente.

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Aliados brasileiros de Nicolás Maduro acham que a Venezuela tem eleições até demais. O problema é que nestes 25 anos o chavismo perde terreno e não se pode falar de eleição limpa: há fraudes demais.

Na noite anterior ao domingo de 28/7, os mais ansiosos nem dormiram. Queriam estar cedo nas urnas para derrotar Maduro. Era a maior chance que a oposição já teve.

Foram eleições deformadas, mas ainda assim competitivas. Maduro impediu que a oposição tivesse a candidata que escolheu, María Corina Machado. Ao longo desse processo, prendeu um oposicionista a cada três dias.

O acordo celebrado em Barbados com a participação do Brasil não foi cumprido. Estados Unidos e União Europeia perceberam que Maduro trapaceava.

De fato, como observaram muitos, é rara a possibilidade de uma ditadura se afastar por meio de eleições livres.

Maduro bloqueou a possibilidade de participação de observadores europeus. São os mais experientes do planeta, costumam empregar 120 pessoas e realizar um trabalho rigoroso. Expulsou da Venezuela alguns deputados independentes que queriam acompanhar o processo. E, finalmente, impediu a entrada no país de quatro ex-presidentes latino-americanos: Mireya Moscoso (Panamá), Miguel Ángel (Costa Rica), Jorge Quiroga (Bolívia) e Vicente Fox (México).

Quem acompanhou o passo a passo das eleições de domingo encontrou poucos incidentes, sobretudo alguns casos de voto assistido, como o de estudantes forçados a votar em Maduro. O problema central surgiu logo após o término das eleições. Os delegados da oposição foram impedidos de acompanhar as apurações. Nesse momento, creio, o acordo de Barbados foi totalmente para o espaço. A lei garante a presença de opositores pois o processo precisa de transparência.

O governo brasileiro se fez representar pelo ex-ministro Celso Amorim. Mas ele não comentou esse incidente, que foi decisivo para que se articulasse a fraude.

De madrugada, o Conselho Nacional Eleitoral, presidido por Elvis Amoroso, amigo de Maduro, proclama a vitória de forma patética. Segundo ele, a diferença em favor de Maduro era de um pouco mais de 700 mil votos e faltavam 2,3 milhões para serem apurados. Os matemáticos contestaram a visão de irreversibilidade de Amoroso.

O que se seguiu a partir dessa farsa foi uma previsível coreografia internacional. Os amigos de sempre – governos autoritários, como Rússia, China, Irã e Síria – reconheceram a suposta vitória de Maduro. Mas os outros não. Com nuances, todos querem conhecer as atas, mesmo porque a oposição afirma que ganhou com pouco mais de 70% dos votos.

As nuances são importantes para localizar o Brasil, o grande fiador dessas eleições, que se coloca agora numa posição delicada. Países como o Chile e o Uruguai pedem transparência, mas duvidam abertamente da vitória de Maduro. O Brasil se limita a pedir a publicação das atas eleitorais. E Lula da Silva afirma que não houve nada de grave.

Se a ideia inicial era a de legitimar Maduro por meio das eleições, para grande parte do mundo o processo apenas realçou seu viés autoritário. O isolamento de Maduro ficou mais dramático, sobretudo agora, que pediu a retirada de diplomatas de sete países latino-americanos. O Panamá, por exemplo, já suspendeu as relações com a Venezuela.

O período que se inicia é de grande tensão. Os opositores vão tentar valer o que consideram uma ampla vitória sobre a ditadura. Ao mesmo tempo, o regime se prepara para reprimir, prender e, se possível, retirar de cena a grande líder da oposição, María Corina Machado.

Os venezuelanos que contavam com a volta dos 8 milhões de compatriotas que se foram no período ditatorial estão frustrados. A juventude que votou na oposição para não ter de sair do país possivelmente tomará o caminho do exílio.

O êxodo maciço dos venezuelanos se reflete até nas eleições norte-americanas, pois Donald Trump costuma atacar a presença deles nos EUA. Colômbia e Brasil já receberam grande parte desses refugiados. Isso aconteceu num momento em que os governos dos dois países eram adversários de Maduro. Mas, de qualquer forma, caso a Venezuela mergulhe mais na ditadura e, sobretudo, na pobreza, no colapso dos serviços públicos e na corrupção, a tendência é de que escapem pelas fronteiras.

A posição de romper com a Venezuela não resolve. Apoiar o regime de Maduro, por outro lado, não expressa o consenso nacional, apesar de o PT ter divulgado nota reconhecendo uma eleição misteriosa, talvez por ter recebido as atas eleitorais por telepatia.

Continuaremos tendo questões comuns que não se resumem aos 300 mil refugiados, mas à compra de eletricidade, proteção da Amazônia e dos yanomamis, o monumento turístico que é o Monte Roraima – enfim, é preciso pragmaticamente tratar de tudo isso, sem comprometer a defesa da democracia, sepultada pelo regime de Maduro.

Se o governo, como o PT, for além do pragmatismo e defender a existência de um regime democrático onde ele escandalosamente não existe, entrará em conflito com o consenso nacional e se transformará em mais um dinossauro no continente.

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