Gângster reeleito


Putin faz da Rússia maior ameaça à Europa desde totalitarismo do séc. 20. Para enfrentá-la, é preciso paciência e determinação. Mas tem havido muito da primeira e pouco da última

Por Notas & Informações

As eleições fraudulentas na Rússia oficializaram um quinto mandato de Vladimir Putin. Após seus oponentes serem eliminados por mortes “misteriosas”, o único adversário capaz de derrubá-lo é a morte. É um opositor inexorável, mas caprichoso, e a probabilidade é de que Putin chegue a 2030 liderando a Rússia por 30 anos, mais tempo do que Stalin.

Putin tem mais em comum com Stalin do que a longevidade. O ex-oficial da KGB também é paranoico e se cercou de milhares de serviçais da polícia secreta. Como Stalin, Putin sabe estimular e explorar divisões das facções de seu regime para manter o poder – como um “chefe mafioso”, nas palavras de Yulia Navalnia, viúva do ativista Alexei Navalni.

Como Stalin, Putin é um mestre da desinformação e tem o apoio de um segmento poderoso da opinião pública, incluindo militares, burocratas e a intelligentsia da velha hierarquia soviética, além da Igreja Ortodoxa. Após o caos dos anos 90, ele se vendeu à população da Rússia profunda como um garantidor da ordem, atuando como tirano e posando de populista – como um chefe mafioso.

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Assim como Hitler abasteceu sua máquina totalitária inflamando o revanchismo e o ressentimento após a Grande Guerra e o Tratado de Versalhes, Putin culpa o Ocidente pelo colapso da União Soviética e o desmoronamento do império russo. Para reconstruí-lo, Putin conta com as armas nucleares herdadas da URSS e imensas reservas de petróleo e gás. Como Hitler buscou fundir os povos germânicos em uma cultura e um Estado, Putin conta, nas antigas colônias soviéticas, com ex-líderes desapropriados e minorias étnicas russas que ele pode agitar – como Hitler fez com as minorias germânicas, por exemplo, na Checoslováquia – para justificar intervenções russas. Suas milícias mercenárias no Oriente Médio e África são uma ferramenta para extorquir de regimes vassalos dinheiro e recursos naturais – como um chefe mafioso. No “Sul Global”, ele conta com um plantel de “idiotas úteis” prontos a aplaudir suas agressões como resistência ao “imperialismo estadunidense”.

Mas Putin tem suas fraquezas. Como Mussolini, ele é vaidoso. A Rússia é mais fraca do que foi um dia. A aliança tática contingencial com a China não reverte sua rivalidade estratégica estrutural. No longo prazo, o desacoplamento com o Ocidente e a dependência da China enfraquecem a posição russa. Desviando suas exportações para regimes autocráticos e reengendrando uma economia de guerra, Putin tem conseguido sustentar a economia. Mas isso impactará a produtividade. A população é declinante e a ruptura com o Ocidente obliterará possibilidades de inovação, condenando a economia à mediocridade e à dependência de commodities.

O que falta ao Ocidente é uma estratégia coerente para explorar essas vulnerabilidades. Armar e financiar a Ucrânia ainda é o melhor meio de impor custos a Putin. Mas, se às vezes os líderes ocidentais falam grosso – como Churchill contra Hitler –, com frequência cedem à ilusão do apaziguamento – como Chamberlain. As sanções são importantes, mas seu impacto é limitado. A dissuasão pelo fortalecimento militar progride, mas não tanto quanto o necessário.

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O Ocidente claudica na guerra das ideias, falhando em convencer o “Sul Global” não só do valor dos princípios liberais, mas de sua eficácia. Também deveria ficar claro que o pária é Putin, não o povo russo. “Precisamos criar uma matriz de uma Rússia livre fora da Rússia”, alertou o ativista Garry Kasparov. Putin decapitou a oposição, mas seu espírito vive em antagonistas exilados e numa comunidade silenciosa disposta a protestar corajosamente, como se viu no funeral de Navalni e nas filas para votar ao meio-dia em sinal de protesto, como pediu Navalni antes de morrer.

Sem derramamento de sangue, os russos neutralizaram o aventureirismo do sucessor de Stalin, Nikita Kruchev, e o Ocidente pôs fim à guerra fria. Para impor o mesmo destino ao regime de Putin, será preciso uma combinação equivalente de paciência e determinação. Mas, até agora, tem havido muito da primeira e muito pouco da última.

As eleições fraudulentas na Rússia oficializaram um quinto mandato de Vladimir Putin. Após seus oponentes serem eliminados por mortes “misteriosas”, o único adversário capaz de derrubá-lo é a morte. É um opositor inexorável, mas caprichoso, e a probabilidade é de que Putin chegue a 2030 liderando a Rússia por 30 anos, mais tempo do que Stalin.

Putin tem mais em comum com Stalin do que a longevidade. O ex-oficial da KGB também é paranoico e se cercou de milhares de serviçais da polícia secreta. Como Stalin, Putin sabe estimular e explorar divisões das facções de seu regime para manter o poder – como um “chefe mafioso”, nas palavras de Yulia Navalnia, viúva do ativista Alexei Navalni.

Como Stalin, Putin é um mestre da desinformação e tem o apoio de um segmento poderoso da opinião pública, incluindo militares, burocratas e a intelligentsia da velha hierarquia soviética, além da Igreja Ortodoxa. Após o caos dos anos 90, ele se vendeu à população da Rússia profunda como um garantidor da ordem, atuando como tirano e posando de populista – como um chefe mafioso.

Assim como Hitler abasteceu sua máquina totalitária inflamando o revanchismo e o ressentimento após a Grande Guerra e o Tratado de Versalhes, Putin culpa o Ocidente pelo colapso da União Soviética e o desmoronamento do império russo. Para reconstruí-lo, Putin conta com as armas nucleares herdadas da URSS e imensas reservas de petróleo e gás. Como Hitler buscou fundir os povos germânicos em uma cultura e um Estado, Putin conta, nas antigas colônias soviéticas, com ex-líderes desapropriados e minorias étnicas russas que ele pode agitar – como Hitler fez com as minorias germânicas, por exemplo, na Checoslováquia – para justificar intervenções russas. Suas milícias mercenárias no Oriente Médio e África são uma ferramenta para extorquir de regimes vassalos dinheiro e recursos naturais – como um chefe mafioso. No “Sul Global”, ele conta com um plantel de “idiotas úteis” prontos a aplaudir suas agressões como resistência ao “imperialismo estadunidense”.

Mas Putin tem suas fraquezas. Como Mussolini, ele é vaidoso. A Rússia é mais fraca do que foi um dia. A aliança tática contingencial com a China não reverte sua rivalidade estratégica estrutural. No longo prazo, o desacoplamento com o Ocidente e a dependência da China enfraquecem a posição russa. Desviando suas exportações para regimes autocráticos e reengendrando uma economia de guerra, Putin tem conseguido sustentar a economia. Mas isso impactará a produtividade. A população é declinante e a ruptura com o Ocidente obliterará possibilidades de inovação, condenando a economia à mediocridade e à dependência de commodities.

O que falta ao Ocidente é uma estratégia coerente para explorar essas vulnerabilidades. Armar e financiar a Ucrânia ainda é o melhor meio de impor custos a Putin. Mas, se às vezes os líderes ocidentais falam grosso – como Churchill contra Hitler –, com frequência cedem à ilusão do apaziguamento – como Chamberlain. As sanções são importantes, mas seu impacto é limitado. A dissuasão pelo fortalecimento militar progride, mas não tanto quanto o necessário.

O Ocidente claudica na guerra das ideias, falhando em convencer o “Sul Global” não só do valor dos princípios liberais, mas de sua eficácia. Também deveria ficar claro que o pária é Putin, não o povo russo. “Precisamos criar uma matriz de uma Rússia livre fora da Rússia”, alertou o ativista Garry Kasparov. Putin decapitou a oposição, mas seu espírito vive em antagonistas exilados e numa comunidade silenciosa disposta a protestar corajosamente, como se viu no funeral de Navalni e nas filas para votar ao meio-dia em sinal de protesto, como pediu Navalni antes de morrer.

Sem derramamento de sangue, os russos neutralizaram o aventureirismo do sucessor de Stalin, Nikita Kruchev, e o Ocidente pôs fim à guerra fria. Para impor o mesmo destino ao regime de Putin, será preciso uma combinação equivalente de paciência e determinação. Mas, até agora, tem havido muito da primeira e muito pouco da última.

As eleições fraudulentas na Rússia oficializaram um quinto mandato de Vladimir Putin. Após seus oponentes serem eliminados por mortes “misteriosas”, o único adversário capaz de derrubá-lo é a morte. É um opositor inexorável, mas caprichoso, e a probabilidade é de que Putin chegue a 2030 liderando a Rússia por 30 anos, mais tempo do que Stalin.

Putin tem mais em comum com Stalin do que a longevidade. O ex-oficial da KGB também é paranoico e se cercou de milhares de serviçais da polícia secreta. Como Stalin, Putin sabe estimular e explorar divisões das facções de seu regime para manter o poder – como um “chefe mafioso”, nas palavras de Yulia Navalnia, viúva do ativista Alexei Navalni.

Como Stalin, Putin é um mestre da desinformação e tem o apoio de um segmento poderoso da opinião pública, incluindo militares, burocratas e a intelligentsia da velha hierarquia soviética, além da Igreja Ortodoxa. Após o caos dos anos 90, ele se vendeu à população da Rússia profunda como um garantidor da ordem, atuando como tirano e posando de populista – como um chefe mafioso.

Assim como Hitler abasteceu sua máquina totalitária inflamando o revanchismo e o ressentimento após a Grande Guerra e o Tratado de Versalhes, Putin culpa o Ocidente pelo colapso da União Soviética e o desmoronamento do império russo. Para reconstruí-lo, Putin conta com as armas nucleares herdadas da URSS e imensas reservas de petróleo e gás. Como Hitler buscou fundir os povos germânicos em uma cultura e um Estado, Putin conta, nas antigas colônias soviéticas, com ex-líderes desapropriados e minorias étnicas russas que ele pode agitar – como Hitler fez com as minorias germânicas, por exemplo, na Checoslováquia – para justificar intervenções russas. Suas milícias mercenárias no Oriente Médio e África são uma ferramenta para extorquir de regimes vassalos dinheiro e recursos naturais – como um chefe mafioso. No “Sul Global”, ele conta com um plantel de “idiotas úteis” prontos a aplaudir suas agressões como resistência ao “imperialismo estadunidense”.

Mas Putin tem suas fraquezas. Como Mussolini, ele é vaidoso. A Rússia é mais fraca do que foi um dia. A aliança tática contingencial com a China não reverte sua rivalidade estratégica estrutural. No longo prazo, o desacoplamento com o Ocidente e a dependência da China enfraquecem a posição russa. Desviando suas exportações para regimes autocráticos e reengendrando uma economia de guerra, Putin tem conseguido sustentar a economia. Mas isso impactará a produtividade. A população é declinante e a ruptura com o Ocidente obliterará possibilidades de inovação, condenando a economia à mediocridade e à dependência de commodities.

O que falta ao Ocidente é uma estratégia coerente para explorar essas vulnerabilidades. Armar e financiar a Ucrânia ainda é o melhor meio de impor custos a Putin. Mas, se às vezes os líderes ocidentais falam grosso – como Churchill contra Hitler –, com frequência cedem à ilusão do apaziguamento – como Chamberlain. As sanções são importantes, mas seu impacto é limitado. A dissuasão pelo fortalecimento militar progride, mas não tanto quanto o necessário.

O Ocidente claudica na guerra das ideias, falhando em convencer o “Sul Global” não só do valor dos princípios liberais, mas de sua eficácia. Também deveria ficar claro que o pária é Putin, não o povo russo. “Precisamos criar uma matriz de uma Rússia livre fora da Rússia”, alertou o ativista Garry Kasparov. Putin decapitou a oposição, mas seu espírito vive em antagonistas exilados e numa comunidade silenciosa disposta a protestar corajosamente, como se viu no funeral de Navalni e nas filas para votar ao meio-dia em sinal de protesto, como pediu Navalni antes de morrer.

Sem derramamento de sangue, os russos neutralizaram o aventureirismo do sucessor de Stalin, Nikita Kruchev, e o Ocidente pôs fim à guerra fria. Para impor o mesmo destino ao regime de Putin, será preciso uma combinação equivalente de paciência e determinação. Mas, até agora, tem havido muito da primeira e muito pouco da última.

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