Inteligência artificial nas eleições


Usada nas eleições argentinas, a inteligência artificial já é realidade na política, o que levanta questões cruciais sobre a lisura das campanhas e sobre a qualidade da democracia

Por Notas & Informações

Reportagem no Estadão do dia 16 de novembro relata a invasão da inteligência artificial nas eleições presidenciais argentinas. Tanto a campanha de Javier Milei quanto a de Sergio Massa usaram a tecnologia para adulterar imagens e vídeos, além de colocar palavras nas bocas dos candidatos e inseri-los em filmes famosos e em memes.

A campanha de Massa, por exemplo, usou inteligência artificial para retratar o peronista como um homem destemido e carismático, incluindo-o em vídeos como soldado, como caça-fantasmas e como Indiana Jones. A campanha de Milei, atenta à personalidade algo colérica do candidato, optou por retratá-lo como um leão gracioso de desenho animado.

Mas a inteligência artificial não serviu apenas para a produção de conteúdo autoelogioso. A campanha de Milei compartilhou imagens aparentemente geradas por inteligência artificial retratando Massa como um líder comunista chinês. Já a campanha de Massa usou a inteligência artificial para criar uma série de imagens caricaturais de Milei e seus aliados como zumbis.

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A reportagem destaca que o conteúdo gerado por inteligência artificial compartilhado pelas campanhas normalmente recebia rótulos alertando para essa circunstância. Mesmo assim, alguns eleitores passaram a duvidar da realidade.

Foi o que ocorreu com um vídeo que mostrava Massa aparentemente exausto após um evento de campanha. O vídeo gerou teorias e acusações improcedentes de lado a lado, mas as imagens, em si, eram verdadeiras. Falso, porém, era o vídeo que mostrava Massa fazendo uso de cocaína, compartilhado por integrantes do partido de Milei nas redes sociais.

Em artigo de junho deste ano, Lawrence Lessig, professor de direito da Universidade Harvard e especialista na matéria, projeta o momento em que a inteligência artificial gerará instrumentos para maximizar as chances de convencer o eleitor a votar no candidato que os detenha.

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Esses instrumentos seriam capazes de aprimorar técnicas de identificação de público-alvo (microtargeting) e manipular comportamentos em escala e eficácia inéditas, de modo que os vídeos, textos e e-mails que passaríamos a receber se destinariam sempre mais a cada um de nós individualmente, pois a máquina “aprenderia” com o tempo as estratégias mais eficazes para o nosso convencimento – técnica denominada reinforcement learning.

A inteligência cogitada por Lessig poderia atuar das mais diferentes formas, como o envio de mensagens com conteúdos não políticos ao gosto do eleitor (esportes, entretenimento) para neutralizar mensagens de oponentes políticos, o envio de mensagens desagradáveis concomitantemente à visualização de mensagens desse oponente ou mesmo o ingresso em grupos de familiares e amigos do eleitor nas redes sociais para dar a impressão de que seu “candidato-cliente” tem a simpatia de membros desses grupos.

Um cenário como esse faz perguntar quem seria o real eleitor e o real vencedor da eleição. Mais ainda: se o único objetivo dessa potencial inteligência é angariar votos, especialmente pelo recurso a interesses, emoções e pulsões de cada eleitor, qual seria a preocupação dela com a verdade dos fatos levados ao conhecimento do público? Qual seria o papel das ideias e programas dos candidatos nas eleições? As campanhas seriam ainda instrumento para uma livre escolha?

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A aplicação da inteligência artificial nas eleições ainda é incipiente e imprevisível, mas tanto o ocorrido nas eleições presidenciais argentinas quanto os constantes alertas de especialistas – alertas que já repercutem nas legislações europeia e norte-americana – evidenciam a necessidade de regular o uso da inteligência artificial no Brasil. É hora, portanto, de se debruçar sobre projetos como o PL 5051/19, atualmente no Senado, que estabelece os princípios para o uso da inteligência artificial no País. É isso ou aguardar que as próprias empresas interessadas se autorregulem – o que, a julgar pela enxurrada de desinformação nas redes sociais durante as recentes eleições, é duvidoso.

Reportagem no Estadão do dia 16 de novembro relata a invasão da inteligência artificial nas eleições presidenciais argentinas. Tanto a campanha de Javier Milei quanto a de Sergio Massa usaram a tecnologia para adulterar imagens e vídeos, além de colocar palavras nas bocas dos candidatos e inseri-los em filmes famosos e em memes.

A campanha de Massa, por exemplo, usou inteligência artificial para retratar o peronista como um homem destemido e carismático, incluindo-o em vídeos como soldado, como caça-fantasmas e como Indiana Jones. A campanha de Milei, atenta à personalidade algo colérica do candidato, optou por retratá-lo como um leão gracioso de desenho animado.

Mas a inteligência artificial não serviu apenas para a produção de conteúdo autoelogioso. A campanha de Milei compartilhou imagens aparentemente geradas por inteligência artificial retratando Massa como um líder comunista chinês. Já a campanha de Massa usou a inteligência artificial para criar uma série de imagens caricaturais de Milei e seus aliados como zumbis.

A reportagem destaca que o conteúdo gerado por inteligência artificial compartilhado pelas campanhas normalmente recebia rótulos alertando para essa circunstância. Mesmo assim, alguns eleitores passaram a duvidar da realidade.

Foi o que ocorreu com um vídeo que mostrava Massa aparentemente exausto após um evento de campanha. O vídeo gerou teorias e acusações improcedentes de lado a lado, mas as imagens, em si, eram verdadeiras. Falso, porém, era o vídeo que mostrava Massa fazendo uso de cocaína, compartilhado por integrantes do partido de Milei nas redes sociais.

Em artigo de junho deste ano, Lawrence Lessig, professor de direito da Universidade Harvard e especialista na matéria, projeta o momento em que a inteligência artificial gerará instrumentos para maximizar as chances de convencer o eleitor a votar no candidato que os detenha.

Esses instrumentos seriam capazes de aprimorar técnicas de identificação de público-alvo (microtargeting) e manipular comportamentos em escala e eficácia inéditas, de modo que os vídeos, textos e e-mails que passaríamos a receber se destinariam sempre mais a cada um de nós individualmente, pois a máquina “aprenderia” com o tempo as estratégias mais eficazes para o nosso convencimento – técnica denominada reinforcement learning.

A inteligência cogitada por Lessig poderia atuar das mais diferentes formas, como o envio de mensagens com conteúdos não políticos ao gosto do eleitor (esportes, entretenimento) para neutralizar mensagens de oponentes políticos, o envio de mensagens desagradáveis concomitantemente à visualização de mensagens desse oponente ou mesmo o ingresso em grupos de familiares e amigos do eleitor nas redes sociais para dar a impressão de que seu “candidato-cliente” tem a simpatia de membros desses grupos.

Um cenário como esse faz perguntar quem seria o real eleitor e o real vencedor da eleição. Mais ainda: se o único objetivo dessa potencial inteligência é angariar votos, especialmente pelo recurso a interesses, emoções e pulsões de cada eleitor, qual seria a preocupação dela com a verdade dos fatos levados ao conhecimento do público? Qual seria o papel das ideias e programas dos candidatos nas eleições? As campanhas seriam ainda instrumento para uma livre escolha?

A aplicação da inteligência artificial nas eleições ainda é incipiente e imprevisível, mas tanto o ocorrido nas eleições presidenciais argentinas quanto os constantes alertas de especialistas – alertas que já repercutem nas legislações europeia e norte-americana – evidenciam a necessidade de regular o uso da inteligência artificial no Brasil. É hora, portanto, de se debruçar sobre projetos como o PL 5051/19, atualmente no Senado, que estabelece os princípios para o uso da inteligência artificial no País. É isso ou aguardar que as próprias empresas interessadas se autorregulem – o que, a julgar pela enxurrada de desinformação nas redes sociais durante as recentes eleições, é duvidoso.

Reportagem no Estadão do dia 16 de novembro relata a invasão da inteligência artificial nas eleições presidenciais argentinas. Tanto a campanha de Javier Milei quanto a de Sergio Massa usaram a tecnologia para adulterar imagens e vídeos, além de colocar palavras nas bocas dos candidatos e inseri-los em filmes famosos e em memes.

A campanha de Massa, por exemplo, usou inteligência artificial para retratar o peronista como um homem destemido e carismático, incluindo-o em vídeos como soldado, como caça-fantasmas e como Indiana Jones. A campanha de Milei, atenta à personalidade algo colérica do candidato, optou por retratá-lo como um leão gracioso de desenho animado.

Mas a inteligência artificial não serviu apenas para a produção de conteúdo autoelogioso. A campanha de Milei compartilhou imagens aparentemente geradas por inteligência artificial retratando Massa como um líder comunista chinês. Já a campanha de Massa usou a inteligência artificial para criar uma série de imagens caricaturais de Milei e seus aliados como zumbis.

A reportagem destaca que o conteúdo gerado por inteligência artificial compartilhado pelas campanhas normalmente recebia rótulos alertando para essa circunstância. Mesmo assim, alguns eleitores passaram a duvidar da realidade.

Foi o que ocorreu com um vídeo que mostrava Massa aparentemente exausto após um evento de campanha. O vídeo gerou teorias e acusações improcedentes de lado a lado, mas as imagens, em si, eram verdadeiras. Falso, porém, era o vídeo que mostrava Massa fazendo uso de cocaína, compartilhado por integrantes do partido de Milei nas redes sociais.

Em artigo de junho deste ano, Lawrence Lessig, professor de direito da Universidade Harvard e especialista na matéria, projeta o momento em que a inteligência artificial gerará instrumentos para maximizar as chances de convencer o eleitor a votar no candidato que os detenha.

Esses instrumentos seriam capazes de aprimorar técnicas de identificação de público-alvo (microtargeting) e manipular comportamentos em escala e eficácia inéditas, de modo que os vídeos, textos e e-mails que passaríamos a receber se destinariam sempre mais a cada um de nós individualmente, pois a máquina “aprenderia” com o tempo as estratégias mais eficazes para o nosso convencimento – técnica denominada reinforcement learning.

A inteligência cogitada por Lessig poderia atuar das mais diferentes formas, como o envio de mensagens com conteúdos não políticos ao gosto do eleitor (esportes, entretenimento) para neutralizar mensagens de oponentes políticos, o envio de mensagens desagradáveis concomitantemente à visualização de mensagens desse oponente ou mesmo o ingresso em grupos de familiares e amigos do eleitor nas redes sociais para dar a impressão de que seu “candidato-cliente” tem a simpatia de membros desses grupos.

Um cenário como esse faz perguntar quem seria o real eleitor e o real vencedor da eleição. Mais ainda: se o único objetivo dessa potencial inteligência é angariar votos, especialmente pelo recurso a interesses, emoções e pulsões de cada eleitor, qual seria a preocupação dela com a verdade dos fatos levados ao conhecimento do público? Qual seria o papel das ideias e programas dos candidatos nas eleições? As campanhas seriam ainda instrumento para uma livre escolha?

A aplicação da inteligência artificial nas eleições ainda é incipiente e imprevisível, mas tanto o ocorrido nas eleições presidenciais argentinas quanto os constantes alertas de especialistas – alertas que já repercutem nas legislações europeia e norte-americana – evidenciam a necessidade de regular o uso da inteligência artificial no Brasil. É hora, portanto, de se debruçar sobre projetos como o PL 5051/19, atualmente no Senado, que estabelece os princípios para o uso da inteligência artificial no País. É isso ou aguardar que as próprias empresas interessadas se autorregulem – o que, a julgar pela enxurrada de desinformação nas redes sociais durante as recentes eleições, é duvidoso.

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