Opinião|Diplomado, mas na informalidade


A crescente informalização dos formados é uma das causas apontadas para mudança no grau de disparidade de salários médios de acordo com o nível de instrução

Por Jorge J. Okubaro

Considerado refúgio para trabalhadores sem formação ou com menor nível de escolaridade, o mercado informal vem sendo o destino de um número crescente de profissionais com diploma universitário. A taxa de informalidade entre trabalhadores com 16 anos ou mais de escolaridade aumentou de 14% para 19,3% entre 2015 e 2024. Essa variação foi constatada pela economista Janaína Feijó, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), que, com outros professores da instituição, pesquisou a evolução do diferencial de salário de acordo com o grau de instrução do trabalhador.

Trata-se de um fenômeno surpreendente. São conhecidas as características do mercado de trabalho informal. As condições são mais instáveis, direitos trabalhistas não existem e os rendimentos são inferiores aos de trabalhadores formais que desempenham a mesma função. Profissionais com curso superior completo costumam ter acesso mais fácil a empregos mais qualificados do que os de escolaridade inferior.

Em termos porcentuais, o setor informal até tem diminuído devido ao aumento mais rápido do número de trabalhadores registrados. Estava em 40,1% dos trabalhadores ocupados em maio de 2022 e baixou para 38,6% em maio deste ano. Em 2024, 39,1 milhões dos trabalhadores ocupados eram informais. Por alguma razão, porém, mais profissionais diplomados estão indo para a informalidade.

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A crescente informalização dos formados é uma das causas apontadas pela pesquisadora do Ibre/FGV para uma mudança no grau de disparidade de salários médios de acordo com o nível de instrução. Há 12 anos, o salário médio de uma pessoa com nível superior completo era 664% maior do que o de um trabalhador com menos de um ano de escolaridade. Neste ano, a diferença tinha caído para pouco mais da metade da registrada em 2021: 386%. Continua ampla, mas houve uma forte redução em pouco mais de um decênio. Esses e outros números aqui citados podem ser conferidos na Carta do Ibre publicada na revista Conjuntura Econômica de outubro.

Embora de maneira mais lenta, também vem caindo a diferença salarial entre os formados em curso superior e os que têm escolaridade de 12 a 15 anos. Em 2012, os que concluíram faculdade ganhavam em média 152% mais do que os que tinham ensino médio completo ou superior incompleto; a diferença atual é de 126%.

A redução de 11,7% da remuneração média real do profissional formado em curso superior entre o início de 2012 e o segundo trimestre de 2024 é o que explica, numericamente, boa parte da redução da disparidade de ganho por nível de escolaridade. E um dos fatores que levaram à queda da remuneração média dos profissionais com curso superior é, certamente, a informalização do trabalho. Mas não é o único.

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Outro dado relevante apontado pela economista Janaína Feijó é o aumento do número de trabalhadores com nível superior completo, que quase dobrou no período de 12 anos. Passou de 12 milhões em 2012 para 22,4 milhões em 2024. É a consequência da grande expansão do ensino superior em anos recentes.

Com base em dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ela mostra que, entre 1980 e 1990, o número de matrículas em curso superior de graduação no País pouco se alterou, passando de 1,4 milhão para 1,5 milhão. Mas em 2004 alcançava 4,2 milhões. Com a contínua expansão nos anos seguintes, chegou a 9,4 milhões de matriculados em 2022.

Mas não há relação direta entre aumento do número de formados em curso superior e variação da remuneração real média de trabalhadores com esse nível de qualificação. Na verdade, essa remuneração caiu de R$ 7.495 no início de 2012 para R$ 6.619 no segundo trimestre de 2024.

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Trata-se da consequência de uma combinação de fatores. Além da informalização, já citada, há o notório aumento da oferta de profissionais com maior nível de escolaridade. Também a qualidade do ensino recebido afeta a remuneração. Mesmo que esses profissionais ganhem mais do que os não formados, podem desfrutar de um adicional menor do que o obtido pelos que concluíram o curso em escolas mais renomadas. Também não são raros os casos de inadequação entre a titulação obtida e a função efetivamente exercida. Em razão da demanda, ou da falta dela, muitos formados acabam desempenhado tarefas que exigem qualificação bem menor do que a que efetivamente dispõem.

Por fim, e não menos importante, há o ritmo de crescimento da economia. Tem sido inferior ao necessário para a melhoria mais rápida das condições de vida da população, o que afeta a qualidade do serviço e o nível de remuneração dos trabalhadores com curso superior completo.

Ainda assim, o que a pesquisa deixa claro é que, se alcançar a formatura numa faculdade não proporciona ganhos tão notáveis quanto os obtidos no passado, não alcançá-la reduz as oportunidades de obter remuneração melhor.

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*

JORNALISTA, É AUTOR, ENTRE OUTROS, DO LIVRO ‘O SÚDITO (BANZAI, MASSATERU!)’ (EDITORA TERCEIRO NOME) E PRESIDENTE DO CENTRO DE ESTUDOS NIPO-BRASILEIROS (JINMONKEN)

Considerado refúgio para trabalhadores sem formação ou com menor nível de escolaridade, o mercado informal vem sendo o destino de um número crescente de profissionais com diploma universitário. A taxa de informalidade entre trabalhadores com 16 anos ou mais de escolaridade aumentou de 14% para 19,3% entre 2015 e 2024. Essa variação foi constatada pela economista Janaína Feijó, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), que, com outros professores da instituição, pesquisou a evolução do diferencial de salário de acordo com o grau de instrução do trabalhador.

Trata-se de um fenômeno surpreendente. São conhecidas as características do mercado de trabalho informal. As condições são mais instáveis, direitos trabalhistas não existem e os rendimentos são inferiores aos de trabalhadores formais que desempenham a mesma função. Profissionais com curso superior completo costumam ter acesso mais fácil a empregos mais qualificados do que os de escolaridade inferior.

Em termos porcentuais, o setor informal até tem diminuído devido ao aumento mais rápido do número de trabalhadores registrados. Estava em 40,1% dos trabalhadores ocupados em maio de 2022 e baixou para 38,6% em maio deste ano. Em 2024, 39,1 milhões dos trabalhadores ocupados eram informais. Por alguma razão, porém, mais profissionais diplomados estão indo para a informalidade.

A crescente informalização dos formados é uma das causas apontadas pela pesquisadora do Ibre/FGV para uma mudança no grau de disparidade de salários médios de acordo com o nível de instrução. Há 12 anos, o salário médio de uma pessoa com nível superior completo era 664% maior do que o de um trabalhador com menos de um ano de escolaridade. Neste ano, a diferença tinha caído para pouco mais da metade da registrada em 2021: 386%. Continua ampla, mas houve uma forte redução em pouco mais de um decênio. Esses e outros números aqui citados podem ser conferidos na Carta do Ibre publicada na revista Conjuntura Econômica de outubro.

Embora de maneira mais lenta, também vem caindo a diferença salarial entre os formados em curso superior e os que têm escolaridade de 12 a 15 anos. Em 2012, os que concluíram faculdade ganhavam em média 152% mais do que os que tinham ensino médio completo ou superior incompleto; a diferença atual é de 126%.

A redução de 11,7% da remuneração média real do profissional formado em curso superior entre o início de 2012 e o segundo trimestre de 2024 é o que explica, numericamente, boa parte da redução da disparidade de ganho por nível de escolaridade. E um dos fatores que levaram à queda da remuneração média dos profissionais com curso superior é, certamente, a informalização do trabalho. Mas não é o único.

Outro dado relevante apontado pela economista Janaína Feijó é o aumento do número de trabalhadores com nível superior completo, que quase dobrou no período de 12 anos. Passou de 12 milhões em 2012 para 22,4 milhões em 2024. É a consequência da grande expansão do ensino superior em anos recentes.

Com base em dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ela mostra que, entre 1980 e 1990, o número de matrículas em curso superior de graduação no País pouco se alterou, passando de 1,4 milhão para 1,5 milhão. Mas em 2004 alcançava 4,2 milhões. Com a contínua expansão nos anos seguintes, chegou a 9,4 milhões de matriculados em 2022.

Mas não há relação direta entre aumento do número de formados em curso superior e variação da remuneração real média de trabalhadores com esse nível de qualificação. Na verdade, essa remuneração caiu de R$ 7.495 no início de 2012 para R$ 6.619 no segundo trimestre de 2024.

Trata-se da consequência de uma combinação de fatores. Além da informalização, já citada, há o notório aumento da oferta de profissionais com maior nível de escolaridade. Também a qualidade do ensino recebido afeta a remuneração. Mesmo que esses profissionais ganhem mais do que os não formados, podem desfrutar de um adicional menor do que o obtido pelos que concluíram o curso em escolas mais renomadas. Também não são raros os casos de inadequação entre a titulação obtida e a função efetivamente exercida. Em razão da demanda, ou da falta dela, muitos formados acabam desempenhado tarefas que exigem qualificação bem menor do que a que efetivamente dispõem.

Por fim, e não menos importante, há o ritmo de crescimento da economia. Tem sido inferior ao necessário para a melhoria mais rápida das condições de vida da população, o que afeta a qualidade do serviço e o nível de remuneração dos trabalhadores com curso superior completo.

Ainda assim, o que a pesquisa deixa claro é que, se alcançar a formatura numa faculdade não proporciona ganhos tão notáveis quanto os obtidos no passado, não alcançá-la reduz as oportunidades de obter remuneração melhor.

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JORNALISTA, É AUTOR, ENTRE OUTROS, DO LIVRO ‘O SÚDITO (BANZAI, MASSATERU!)’ (EDITORA TERCEIRO NOME) E PRESIDENTE DO CENTRO DE ESTUDOS NIPO-BRASILEIROS (JINMONKEN)

Considerado refúgio para trabalhadores sem formação ou com menor nível de escolaridade, o mercado informal vem sendo o destino de um número crescente de profissionais com diploma universitário. A taxa de informalidade entre trabalhadores com 16 anos ou mais de escolaridade aumentou de 14% para 19,3% entre 2015 e 2024. Essa variação foi constatada pela economista Janaína Feijó, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), que, com outros professores da instituição, pesquisou a evolução do diferencial de salário de acordo com o grau de instrução do trabalhador.

Trata-se de um fenômeno surpreendente. São conhecidas as características do mercado de trabalho informal. As condições são mais instáveis, direitos trabalhistas não existem e os rendimentos são inferiores aos de trabalhadores formais que desempenham a mesma função. Profissionais com curso superior completo costumam ter acesso mais fácil a empregos mais qualificados do que os de escolaridade inferior.

Em termos porcentuais, o setor informal até tem diminuído devido ao aumento mais rápido do número de trabalhadores registrados. Estava em 40,1% dos trabalhadores ocupados em maio de 2022 e baixou para 38,6% em maio deste ano. Em 2024, 39,1 milhões dos trabalhadores ocupados eram informais. Por alguma razão, porém, mais profissionais diplomados estão indo para a informalidade.

A crescente informalização dos formados é uma das causas apontadas pela pesquisadora do Ibre/FGV para uma mudança no grau de disparidade de salários médios de acordo com o nível de instrução. Há 12 anos, o salário médio de uma pessoa com nível superior completo era 664% maior do que o de um trabalhador com menos de um ano de escolaridade. Neste ano, a diferença tinha caído para pouco mais da metade da registrada em 2021: 386%. Continua ampla, mas houve uma forte redução em pouco mais de um decênio. Esses e outros números aqui citados podem ser conferidos na Carta do Ibre publicada na revista Conjuntura Econômica de outubro.

Embora de maneira mais lenta, também vem caindo a diferença salarial entre os formados em curso superior e os que têm escolaridade de 12 a 15 anos. Em 2012, os que concluíram faculdade ganhavam em média 152% mais do que os que tinham ensino médio completo ou superior incompleto; a diferença atual é de 126%.

A redução de 11,7% da remuneração média real do profissional formado em curso superior entre o início de 2012 e o segundo trimestre de 2024 é o que explica, numericamente, boa parte da redução da disparidade de ganho por nível de escolaridade. E um dos fatores que levaram à queda da remuneração média dos profissionais com curso superior é, certamente, a informalização do trabalho. Mas não é o único.

Outro dado relevante apontado pela economista Janaína Feijó é o aumento do número de trabalhadores com nível superior completo, que quase dobrou no período de 12 anos. Passou de 12 milhões em 2012 para 22,4 milhões em 2024. É a consequência da grande expansão do ensino superior em anos recentes.

Com base em dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ela mostra que, entre 1980 e 1990, o número de matrículas em curso superior de graduação no País pouco se alterou, passando de 1,4 milhão para 1,5 milhão. Mas em 2004 alcançava 4,2 milhões. Com a contínua expansão nos anos seguintes, chegou a 9,4 milhões de matriculados em 2022.

Mas não há relação direta entre aumento do número de formados em curso superior e variação da remuneração real média de trabalhadores com esse nível de qualificação. Na verdade, essa remuneração caiu de R$ 7.495 no início de 2012 para R$ 6.619 no segundo trimestre de 2024.

Trata-se da consequência de uma combinação de fatores. Além da informalização, já citada, há o notório aumento da oferta de profissionais com maior nível de escolaridade. Também a qualidade do ensino recebido afeta a remuneração. Mesmo que esses profissionais ganhem mais do que os não formados, podem desfrutar de um adicional menor do que o obtido pelos que concluíram o curso em escolas mais renomadas. Também não são raros os casos de inadequação entre a titulação obtida e a função efetivamente exercida. Em razão da demanda, ou da falta dela, muitos formados acabam desempenhado tarefas que exigem qualificação bem menor do que a que efetivamente dispõem.

Por fim, e não menos importante, há o ritmo de crescimento da economia. Tem sido inferior ao necessário para a melhoria mais rápida das condições de vida da população, o que afeta a qualidade do serviço e o nível de remuneração dos trabalhadores com curso superior completo.

Ainda assim, o que a pesquisa deixa claro é que, se alcançar a formatura numa faculdade não proporciona ganhos tão notáveis quanto os obtidos no passado, não alcançá-la reduz as oportunidades de obter remuneração melhor.

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JORNALISTA, É AUTOR, ENTRE OUTROS, DO LIVRO ‘O SÚDITO (BANZAI, MASSATERU!)’ (EDITORA TERCEIRO NOME) E PRESIDENTE DO CENTRO DE ESTUDOS NIPO-BRASILEIROS (JINMONKEN)

Opinião por Jorge J. Okubaro

Jornalista, é autor, entre outros, do livro 'O Súdito (Banzai, Massateru!)' (Editora Terceiro Nome)

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