Opinião|Ler pouco, crescer pouco


Baixo índice de leitura significa menor compreensão do mundo em que se vive e mais dificuldades no acesso a melhores postos de trabalho

Por Jorge J. Okubaro

A redução da pobreza e da extrema pobreza no Brasil para os níveis mais baixos já aferidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deveria instilar-nos algum otimismo, de que tanto carecemos nestes tempos. Segundo a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, entre 2022 e 2023, 8,7 milhões de brasileiros deixaram a linha de pobreza, outros 3,1 milhões saíram da condição de miséria e a proporção da população considerada pobre diminuiu de 31,6% para 27,4%. O aquecimento do mercado de trabalho e o pagamento de benefícios sociais, como os vinculados ao Bolsa Família, são apontados como fatores decisivos para a melhora, o que mostra a importância desses programas.

Muito lentamente, as condições de vida estão melhorando para a população mais sacrificada nos tempos de dificuldades e nem sempre suficientemente recompensada nos períodos de prosperidade. Mas persiste um quadro social inquietante, dominado por um imenso contingente de pobres. Ainda há 59 milhões de brasileiros sobrevivendo com menos de R$ 22,17 por dia. Mais de um quarto da população é muito pobre.

As piores consequências da deformada distribuição de renda no País têm sido atenuadas por programas sociais e de serviços públicos, especialmente na saúde. Mais eficácia poderia ser alcançada com medidas no campo tributário, mas, por conhecidas dificuldades no seu relacionamento com um Congresso de nítido perfil conservador, o governo não mostrou disposição de avançar nesse rumo.

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São, reconheça-se, caminhos alternativos. O central é óbvio: oferecer a todos as condições para progredir por meio de uma educação inclusiva e formadora de cidadãos aptos a desempenhar com competência e consciência seu papel econômico, social e político.

Não há motivos para animar os que se preocupam com o futuro. No campo da educação, parece que decidimos parar ou caminhar para trás. É entristecedor saber que o País, onde se lê pouco, perdeu 6,7 milhões de leitores em cinco anos. A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (feita pelo Instituto Pró-Livro, Ipec e Itaú Cultural) constatou pela primeira vez que a maioria dos brasileiros não lê livros.

Falta de tempo, mais dedicação à internet, televisão e outros motivos foram apontados para a queda no número de leitores. Quaisquer que sejam as razões, é um fato preocupante. Baixo índice de leitura significa menor compreensão do mundo em que se vive, mais dificuldades no acesso a melhores postos de trabalho e nas demais atividades da vida em sociedade.

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O problema é mais profundo. Mesmo quem lê entende mal o que lê, como aponta há tempos o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), estudo comparativo realizado a cada três anos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No último relatório, relativo a 2022 e divulgado no ano passado, o Brasil manteve os resultados alcançados em 2018 em matemática, leitura e ciências.

Com otimismo, pode-se dizer que o Brasil mostrou resistência na pandemia da covid-19. Não piorou. Mas isso pouco significa. Em 16 países que fazem parte da OCDE, a média em 2018 foi de 487 pontos em proficiência em leitura; estudantes brasileiros de 15 anos registraram média de 413 pontos. Esses números mostram que os estudantes brasileiros não aprenderam a interpretar o que leem (quando leem, pois o índice de leitura está em queda, como vimos acima) e não estão habituados a ler outras obras além dos livros didáticos ou as exigidas pela escola.

É claro que os resultados variam de acordo com a situação econômica e social das famílias. Desigualdades sociais estão por trás de resultados desiguais alcançados por estudantes pertencentes a famílias de diferentes situações econômicas. Uma pesquisa do Insper sobre a democratização da educação profissional e tecnológica constatou que estudantes de nível econômico e social mais baixo têm menor acesso a esse tipo de ensino. E esse grupo social é justamente o que mais poderia se beneficiar com o acesso à educação profissional e tecnológica.

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Critérios para a ação do Ministério da Educação anunciados pelo ministro Camilo Santana apontam o caminho correto, com prioridade para alfabetização na idade certa, educação em tempo integral, permanência do jovem na escola e melhoria na formação inicial e continuada dos professores.

Talvez devêssemos concentrar atenção no último item. Causa desassossego ter de concordar com o editorial Professores que não sabem ensinar publicado pelo Estadão (13/12). Não se trata de inculpar o professor, mas de defendê-lo. Ele é vítima de um círculo vicioso, formado por salários inadequados, falta de reconhecimento social de seu papel vital na formação das pessoas, desrespeito nos locais de trabalho, desestímulo ao bom preparo didático e ao aperfeiçoamento, baixa qualidade do ensino, alunos mal preparados e baixos salários. Esse círculo precisa ser rompido, e com urgência.

*

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JORNALISTA, É AUTOR, ENTRE OUTROS, DO LIVRO ‘O SÚDITO (BANZAI, MASSATERU!)’ (EDITORA TERCEIRO NOME) E PRESIDENTE DO CENTRO DE ESTUDOS NIPO-BRASILEIROS (JINMONKEN)

A redução da pobreza e da extrema pobreza no Brasil para os níveis mais baixos já aferidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deveria instilar-nos algum otimismo, de que tanto carecemos nestes tempos. Segundo a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, entre 2022 e 2023, 8,7 milhões de brasileiros deixaram a linha de pobreza, outros 3,1 milhões saíram da condição de miséria e a proporção da população considerada pobre diminuiu de 31,6% para 27,4%. O aquecimento do mercado de trabalho e o pagamento de benefícios sociais, como os vinculados ao Bolsa Família, são apontados como fatores decisivos para a melhora, o que mostra a importância desses programas.

Muito lentamente, as condições de vida estão melhorando para a população mais sacrificada nos tempos de dificuldades e nem sempre suficientemente recompensada nos períodos de prosperidade. Mas persiste um quadro social inquietante, dominado por um imenso contingente de pobres. Ainda há 59 milhões de brasileiros sobrevivendo com menos de R$ 22,17 por dia. Mais de um quarto da população é muito pobre.

As piores consequências da deformada distribuição de renda no País têm sido atenuadas por programas sociais e de serviços públicos, especialmente na saúde. Mais eficácia poderia ser alcançada com medidas no campo tributário, mas, por conhecidas dificuldades no seu relacionamento com um Congresso de nítido perfil conservador, o governo não mostrou disposição de avançar nesse rumo.

São, reconheça-se, caminhos alternativos. O central é óbvio: oferecer a todos as condições para progredir por meio de uma educação inclusiva e formadora de cidadãos aptos a desempenhar com competência e consciência seu papel econômico, social e político.

Não há motivos para animar os que se preocupam com o futuro. No campo da educação, parece que decidimos parar ou caminhar para trás. É entristecedor saber que o País, onde se lê pouco, perdeu 6,7 milhões de leitores em cinco anos. A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (feita pelo Instituto Pró-Livro, Ipec e Itaú Cultural) constatou pela primeira vez que a maioria dos brasileiros não lê livros.

Falta de tempo, mais dedicação à internet, televisão e outros motivos foram apontados para a queda no número de leitores. Quaisquer que sejam as razões, é um fato preocupante. Baixo índice de leitura significa menor compreensão do mundo em que se vive, mais dificuldades no acesso a melhores postos de trabalho e nas demais atividades da vida em sociedade.

O problema é mais profundo. Mesmo quem lê entende mal o que lê, como aponta há tempos o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), estudo comparativo realizado a cada três anos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No último relatório, relativo a 2022 e divulgado no ano passado, o Brasil manteve os resultados alcançados em 2018 em matemática, leitura e ciências.

Com otimismo, pode-se dizer que o Brasil mostrou resistência na pandemia da covid-19. Não piorou. Mas isso pouco significa. Em 16 países que fazem parte da OCDE, a média em 2018 foi de 487 pontos em proficiência em leitura; estudantes brasileiros de 15 anos registraram média de 413 pontos. Esses números mostram que os estudantes brasileiros não aprenderam a interpretar o que leem (quando leem, pois o índice de leitura está em queda, como vimos acima) e não estão habituados a ler outras obras além dos livros didáticos ou as exigidas pela escola.

É claro que os resultados variam de acordo com a situação econômica e social das famílias. Desigualdades sociais estão por trás de resultados desiguais alcançados por estudantes pertencentes a famílias de diferentes situações econômicas. Uma pesquisa do Insper sobre a democratização da educação profissional e tecnológica constatou que estudantes de nível econômico e social mais baixo têm menor acesso a esse tipo de ensino. E esse grupo social é justamente o que mais poderia se beneficiar com o acesso à educação profissional e tecnológica.

Critérios para a ação do Ministério da Educação anunciados pelo ministro Camilo Santana apontam o caminho correto, com prioridade para alfabetização na idade certa, educação em tempo integral, permanência do jovem na escola e melhoria na formação inicial e continuada dos professores.

Talvez devêssemos concentrar atenção no último item. Causa desassossego ter de concordar com o editorial Professores que não sabem ensinar publicado pelo Estadão (13/12). Não se trata de inculpar o professor, mas de defendê-lo. Ele é vítima de um círculo vicioso, formado por salários inadequados, falta de reconhecimento social de seu papel vital na formação das pessoas, desrespeito nos locais de trabalho, desestímulo ao bom preparo didático e ao aperfeiçoamento, baixa qualidade do ensino, alunos mal preparados e baixos salários. Esse círculo precisa ser rompido, e com urgência.

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JORNALISTA, É AUTOR, ENTRE OUTROS, DO LIVRO ‘O SÚDITO (BANZAI, MASSATERU!)’ (EDITORA TERCEIRO NOME) E PRESIDENTE DO CENTRO DE ESTUDOS NIPO-BRASILEIROS (JINMONKEN)

A redução da pobreza e da extrema pobreza no Brasil para os níveis mais baixos já aferidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deveria instilar-nos algum otimismo, de que tanto carecemos nestes tempos. Segundo a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, entre 2022 e 2023, 8,7 milhões de brasileiros deixaram a linha de pobreza, outros 3,1 milhões saíram da condição de miséria e a proporção da população considerada pobre diminuiu de 31,6% para 27,4%. O aquecimento do mercado de trabalho e o pagamento de benefícios sociais, como os vinculados ao Bolsa Família, são apontados como fatores decisivos para a melhora, o que mostra a importância desses programas.

Muito lentamente, as condições de vida estão melhorando para a população mais sacrificada nos tempos de dificuldades e nem sempre suficientemente recompensada nos períodos de prosperidade. Mas persiste um quadro social inquietante, dominado por um imenso contingente de pobres. Ainda há 59 milhões de brasileiros sobrevivendo com menos de R$ 22,17 por dia. Mais de um quarto da população é muito pobre.

As piores consequências da deformada distribuição de renda no País têm sido atenuadas por programas sociais e de serviços públicos, especialmente na saúde. Mais eficácia poderia ser alcançada com medidas no campo tributário, mas, por conhecidas dificuldades no seu relacionamento com um Congresso de nítido perfil conservador, o governo não mostrou disposição de avançar nesse rumo.

São, reconheça-se, caminhos alternativos. O central é óbvio: oferecer a todos as condições para progredir por meio de uma educação inclusiva e formadora de cidadãos aptos a desempenhar com competência e consciência seu papel econômico, social e político.

Não há motivos para animar os que se preocupam com o futuro. No campo da educação, parece que decidimos parar ou caminhar para trás. É entristecedor saber que o País, onde se lê pouco, perdeu 6,7 milhões de leitores em cinco anos. A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (feita pelo Instituto Pró-Livro, Ipec e Itaú Cultural) constatou pela primeira vez que a maioria dos brasileiros não lê livros.

Falta de tempo, mais dedicação à internet, televisão e outros motivos foram apontados para a queda no número de leitores. Quaisquer que sejam as razões, é um fato preocupante. Baixo índice de leitura significa menor compreensão do mundo em que se vive, mais dificuldades no acesso a melhores postos de trabalho e nas demais atividades da vida em sociedade.

O problema é mais profundo. Mesmo quem lê entende mal o que lê, como aponta há tempos o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), estudo comparativo realizado a cada três anos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No último relatório, relativo a 2022 e divulgado no ano passado, o Brasil manteve os resultados alcançados em 2018 em matemática, leitura e ciências.

Com otimismo, pode-se dizer que o Brasil mostrou resistência na pandemia da covid-19. Não piorou. Mas isso pouco significa. Em 16 países que fazem parte da OCDE, a média em 2018 foi de 487 pontos em proficiência em leitura; estudantes brasileiros de 15 anos registraram média de 413 pontos. Esses números mostram que os estudantes brasileiros não aprenderam a interpretar o que leem (quando leem, pois o índice de leitura está em queda, como vimos acima) e não estão habituados a ler outras obras além dos livros didáticos ou as exigidas pela escola.

É claro que os resultados variam de acordo com a situação econômica e social das famílias. Desigualdades sociais estão por trás de resultados desiguais alcançados por estudantes pertencentes a famílias de diferentes situações econômicas. Uma pesquisa do Insper sobre a democratização da educação profissional e tecnológica constatou que estudantes de nível econômico e social mais baixo têm menor acesso a esse tipo de ensino. E esse grupo social é justamente o que mais poderia se beneficiar com o acesso à educação profissional e tecnológica.

Critérios para a ação do Ministério da Educação anunciados pelo ministro Camilo Santana apontam o caminho correto, com prioridade para alfabetização na idade certa, educação em tempo integral, permanência do jovem na escola e melhoria na formação inicial e continuada dos professores.

Talvez devêssemos concentrar atenção no último item. Causa desassossego ter de concordar com o editorial Professores que não sabem ensinar publicado pelo Estadão (13/12). Não se trata de inculpar o professor, mas de defendê-lo. Ele é vítima de um círculo vicioso, formado por salários inadequados, falta de reconhecimento social de seu papel vital na formação das pessoas, desrespeito nos locais de trabalho, desestímulo ao bom preparo didático e ao aperfeiçoamento, baixa qualidade do ensino, alunos mal preparados e baixos salários. Esse círculo precisa ser rompido, e com urgência.

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JORNALISTA, É AUTOR, ENTRE OUTROS, DO LIVRO ‘O SÚDITO (BANZAI, MASSATERU!)’ (EDITORA TERCEIRO NOME) E PRESIDENTE DO CENTRO DE ESTUDOS NIPO-BRASILEIROS (JINMONKEN)

Opinião por Jorge J. Okubaro

Jornalista, é autor, entre outros, do livro 'O Súdito (Banzai, Massateru!)' (Editora Terceiro Nome)

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