Professor titular de Teoria Política da Unesp, Marco Aurélio Nogueira escreve mensalmente na seção Espaço Aberto

Opinião|Atropelos em série


Lula está se dando conta de que o desafio ao ser eleito presidente não era bloquear a extrema direita bolsonarista: era fazer o País ingressar em outra rota

Por Marco Aurélio Nogueira

Junho foi ruim para o governo. Não por ter ele acumulado derrotas ou sofrido um assédio vencedor da extrema direita. Mas sim porque o governo não saiu das cordas em que sua própria atuação o jogou.

O leilão de importação emergencial de arroz foi suspenso por suspeita de fraude. O governo perdeu no Congresso em áreas estratégicas, como a da reforma tributária. Recebeu de volta, por decisão de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), com a anuência de parlamentares petistas, a medida provisória com mudanças no PIS/Cofins. Lula da Silva, por sua vez, peitou o presidente do Banco Central, mas engoliu a manutenção da taxa básica de juros. O ataque a Roberto Campos Neto foi visceral, abertamente político e ideológico, revelando certa fúria descalibrada.

As tribulações governamentais chegaram ao auge com o indiciamento pela Polícia Federal (PF) do ministro Juscelino Filho, das Comunicações, acusado de praticar crimes graves como corrupção passiva, fraude em licitações e organização criminosa.

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Não é usual um ministro de Estado ser indiciado com tais acusações. Juscelino está no radar desde o início do governo, sempre contemplado com suspeitas de mau uso dos recursos públicos ou do seu uso em benefício próprio. Não é um novato na área, nem muito menos ingênuo. Integra o pacote que o União Brasil apresentou para ser benevolente com o governo. Os apoios não vieram, ou só vieram em doses pequenas. Em nenhum momento deram sustentação e tranquilidade ao Executivo. Por que então se desgastar com a manutenção de ministros como Juscelino?

A explicação para esses atropelos passa por alguns fatos. O presidente Lula já não é mais o Lula sindicalista, bom de gogó e de articulação, visto por muitos como um “encantador de serpentes”, negociador capaz de dar nó em pingos d’água. Não é por causa do cansaço da idade, por mais que isso exista. Mas é porque está se dando conta de que o desafio ao ser eleito presidente não era bloquear a extrema direita bolsonarista: era fazer o País ingressar em outra rota, redefinir as escolhas estratégicas e construir um projeto sustentável de sociedade, nas diversas áreas em que isso se manifesta, especialmente no equilíbrio fiscal e no combate à desigualdade social. Nada disso foi alcançado depois de um ano e meio de governo. Pior: ninguém sabe se algo disso será alcançado daqui para frente.

Lula governa com uma relação desequilibrada entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Todos se metem em tudo. O Supremo Tribunal Federal (STF) quer ser protagonista. O Parlamento vive de chantagear o Executivo e deliberar sobre pautas incompreensíveis nas atuais circunstâncias. O Congresso não discute coisas substantivas, deputados saem a tapa e estão preocupados muito mais em atender às suas clientelas do que em pensar o País.

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Há um vazio propositivo no País. A sociedade civil e os intelectuais pararam de dialogar, fascinados pela simplificação grosseira das polarizações, como se não estivessem moralmente obrigados a atuar em nome da formulação de um projeto para o País. Não há debate público entre nós.

O governo nem pode alegar que o bolsonarismo o atrapalhe. Em junho, a extrema direita perdeu no projeto de lei (PL) das praias, não conseguiu politizar a tragédia gaúcha, perdeu na questão da descriminalização da maconha e na nefasta tentativa de punir a mulher que abortar depois de um estupro, manobra sórdida desencadeada para “testar o governo” e ver se ele está mesmo disposto a dar atenção aos evangélicos, como falou o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ). A discussão do tema foi bloqueada pela intensa manifestação contrária de diversos setores da sociedade. Foi transferida para o segundo semestre, e muitos acreditam que não terá fôlego para voltar à pauta.

Por fim: Lula precisa administrar os arranjos parlamentares e simultaneamente as lutas internas no PT. O partido parece não fazer questão de ser governo, e há correntes que se alinham com a direção nacional (Gleisi Hoffmann) para “forçar” o governo a caminhar numa direção para a qual não tem pernas e não tem consenso. Enquanto o ministro Fernando Haddad se bate para administrar a economia com cautela e busca equilíbrios, os petistas pedem aceleração reformadora e inflexões “desenvolvimentistas” alavancadas por estatais e grandes empresas. Enquanto o ministro prega reforma tributária e “revisão ampla, geral e irrestrita” dos gastos governamentais, o petismo de oposição defende aumento de gastos e proteção a determinadas empresas nacionais. Isso não deu certo lá atrás, não é provável que funcione agora.

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Lula fica no meio, paralisado. Num rompante, diz não saber se a saída é “cortar gastos ou aumentar a arrecadação”. Precisa ouvir o partido e ao mesmo tempo defender seu principal ministro, que não esconde a insatisfação e a dificuldade de enfrentar “a encrenca que é o Brasil”. O momento pede reflexão e calibragem dos motores. O governo precisa dinamizar sua atuação, evitar o desgaste prematuro e dissipar as dúvidas sobre sua capacidade de fazer algo que o distinga até o final do mandato, em 2026.

*

É PROFESSOR TITULAR DE TEORIA POLÍTICA DA UNESP

Junho foi ruim para o governo. Não por ter ele acumulado derrotas ou sofrido um assédio vencedor da extrema direita. Mas sim porque o governo não saiu das cordas em que sua própria atuação o jogou.

O leilão de importação emergencial de arroz foi suspenso por suspeita de fraude. O governo perdeu no Congresso em áreas estratégicas, como a da reforma tributária. Recebeu de volta, por decisão de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), com a anuência de parlamentares petistas, a medida provisória com mudanças no PIS/Cofins. Lula da Silva, por sua vez, peitou o presidente do Banco Central, mas engoliu a manutenção da taxa básica de juros. O ataque a Roberto Campos Neto foi visceral, abertamente político e ideológico, revelando certa fúria descalibrada.

As tribulações governamentais chegaram ao auge com o indiciamento pela Polícia Federal (PF) do ministro Juscelino Filho, das Comunicações, acusado de praticar crimes graves como corrupção passiva, fraude em licitações e organização criminosa.

Não é usual um ministro de Estado ser indiciado com tais acusações. Juscelino está no radar desde o início do governo, sempre contemplado com suspeitas de mau uso dos recursos públicos ou do seu uso em benefício próprio. Não é um novato na área, nem muito menos ingênuo. Integra o pacote que o União Brasil apresentou para ser benevolente com o governo. Os apoios não vieram, ou só vieram em doses pequenas. Em nenhum momento deram sustentação e tranquilidade ao Executivo. Por que então se desgastar com a manutenção de ministros como Juscelino?

A explicação para esses atropelos passa por alguns fatos. O presidente Lula já não é mais o Lula sindicalista, bom de gogó e de articulação, visto por muitos como um “encantador de serpentes”, negociador capaz de dar nó em pingos d’água. Não é por causa do cansaço da idade, por mais que isso exista. Mas é porque está se dando conta de que o desafio ao ser eleito presidente não era bloquear a extrema direita bolsonarista: era fazer o País ingressar em outra rota, redefinir as escolhas estratégicas e construir um projeto sustentável de sociedade, nas diversas áreas em que isso se manifesta, especialmente no equilíbrio fiscal e no combate à desigualdade social. Nada disso foi alcançado depois de um ano e meio de governo. Pior: ninguém sabe se algo disso será alcançado daqui para frente.

Lula governa com uma relação desequilibrada entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Todos se metem em tudo. O Supremo Tribunal Federal (STF) quer ser protagonista. O Parlamento vive de chantagear o Executivo e deliberar sobre pautas incompreensíveis nas atuais circunstâncias. O Congresso não discute coisas substantivas, deputados saem a tapa e estão preocupados muito mais em atender às suas clientelas do que em pensar o País.

Há um vazio propositivo no País. A sociedade civil e os intelectuais pararam de dialogar, fascinados pela simplificação grosseira das polarizações, como se não estivessem moralmente obrigados a atuar em nome da formulação de um projeto para o País. Não há debate público entre nós.

O governo nem pode alegar que o bolsonarismo o atrapalhe. Em junho, a extrema direita perdeu no projeto de lei (PL) das praias, não conseguiu politizar a tragédia gaúcha, perdeu na questão da descriminalização da maconha e na nefasta tentativa de punir a mulher que abortar depois de um estupro, manobra sórdida desencadeada para “testar o governo” e ver se ele está mesmo disposto a dar atenção aos evangélicos, como falou o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ). A discussão do tema foi bloqueada pela intensa manifestação contrária de diversos setores da sociedade. Foi transferida para o segundo semestre, e muitos acreditam que não terá fôlego para voltar à pauta.

Por fim: Lula precisa administrar os arranjos parlamentares e simultaneamente as lutas internas no PT. O partido parece não fazer questão de ser governo, e há correntes que se alinham com a direção nacional (Gleisi Hoffmann) para “forçar” o governo a caminhar numa direção para a qual não tem pernas e não tem consenso. Enquanto o ministro Fernando Haddad se bate para administrar a economia com cautela e busca equilíbrios, os petistas pedem aceleração reformadora e inflexões “desenvolvimentistas” alavancadas por estatais e grandes empresas. Enquanto o ministro prega reforma tributária e “revisão ampla, geral e irrestrita” dos gastos governamentais, o petismo de oposição defende aumento de gastos e proteção a determinadas empresas nacionais. Isso não deu certo lá atrás, não é provável que funcione agora.

Lula fica no meio, paralisado. Num rompante, diz não saber se a saída é “cortar gastos ou aumentar a arrecadação”. Precisa ouvir o partido e ao mesmo tempo defender seu principal ministro, que não esconde a insatisfação e a dificuldade de enfrentar “a encrenca que é o Brasil”. O momento pede reflexão e calibragem dos motores. O governo precisa dinamizar sua atuação, evitar o desgaste prematuro e dissipar as dúvidas sobre sua capacidade de fazer algo que o distinga até o final do mandato, em 2026.

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É PROFESSOR TITULAR DE TEORIA POLÍTICA DA UNESP

Junho foi ruim para o governo. Não por ter ele acumulado derrotas ou sofrido um assédio vencedor da extrema direita. Mas sim porque o governo não saiu das cordas em que sua própria atuação o jogou.

O leilão de importação emergencial de arroz foi suspenso por suspeita de fraude. O governo perdeu no Congresso em áreas estratégicas, como a da reforma tributária. Recebeu de volta, por decisão de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), com a anuência de parlamentares petistas, a medida provisória com mudanças no PIS/Cofins. Lula da Silva, por sua vez, peitou o presidente do Banco Central, mas engoliu a manutenção da taxa básica de juros. O ataque a Roberto Campos Neto foi visceral, abertamente político e ideológico, revelando certa fúria descalibrada.

As tribulações governamentais chegaram ao auge com o indiciamento pela Polícia Federal (PF) do ministro Juscelino Filho, das Comunicações, acusado de praticar crimes graves como corrupção passiva, fraude em licitações e organização criminosa.

Não é usual um ministro de Estado ser indiciado com tais acusações. Juscelino está no radar desde o início do governo, sempre contemplado com suspeitas de mau uso dos recursos públicos ou do seu uso em benefício próprio. Não é um novato na área, nem muito menos ingênuo. Integra o pacote que o União Brasil apresentou para ser benevolente com o governo. Os apoios não vieram, ou só vieram em doses pequenas. Em nenhum momento deram sustentação e tranquilidade ao Executivo. Por que então se desgastar com a manutenção de ministros como Juscelino?

A explicação para esses atropelos passa por alguns fatos. O presidente Lula já não é mais o Lula sindicalista, bom de gogó e de articulação, visto por muitos como um “encantador de serpentes”, negociador capaz de dar nó em pingos d’água. Não é por causa do cansaço da idade, por mais que isso exista. Mas é porque está se dando conta de que o desafio ao ser eleito presidente não era bloquear a extrema direita bolsonarista: era fazer o País ingressar em outra rota, redefinir as escolhas estratégicas e construir um projeto sustentável de sociedade, nas diversas áreas em que isso se manifesta, especialmente no equilíbrio fiscal e no combate à desigualdade social. Nada disso foi alcançado depois de um ano e meio de governo. Pior: ninguém sabe se algo disso será alcançado daqui para frente.

Lula governa com uma relação desequilibrada entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Todos se metem em tudo. O Supremo Tribunal Federal (STF) quer ser protagonista. O Parlamento vive de chantagear o Executivo e deliberar sobre pautas incompreensíveis nas atuais circunstâncias. O Congresso não discute coisas substantivas, deputados saem a tapa e estão preocupados muito mais em atender às suas clientelas do que em pensar o País.

Há um vazio propositivo no País. A sociedade civil e os intelectuais pararam de dialogar, fascinados pela simplificação grosseira das polarizações, como se não estivessem moralmente obrigados a atuar em nome da formulação de um projeto para o País. Não há debate público entre nós.

O governo nem pode alegar que o bolsonarismo o atrapalhe. Em junho, a extrema direita perdeu no projeto de lei (PL) das praias, não conseguiu politizar a tragédia gaúcha, perdeu na questão da descriminalização da maconha e na nefasta tentativa de punir a mulher que abortar depois de um estupro, manobra sórdida desencadeada para “testar o governo” e ver se ele está mesmo disposto a dar atenção aos evangélicos, como falou o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ). A discussão do tema foi bloqueada pela intensa manifestação contrária de diversos setores da sociedade. Foi transferida para o segundo semestre, e muitos acreditam que não terá fôlego para voltar à pauta.

Por fim: Lula precisa administrar os arranjos parlamentares e simultaneamente as lutas internas no PT. O partido parece não fazer questão de ser governo, e há correntes que se alinham com a direção nacional (Gleisi Hoffmann) para “forçar” o governo a caminhar numa direção para a qual não tem pernas e não tem consenso. Enquanto o ministro Fernando Haddad se bate para administrar a economia com cautela e busca equilíbrios, os petistas pedem aceleração reformadora e inflexões “desenvolvimentistas” alavancadas por estatais e grandes empresas. Enquanto o ministro prega reforma tributária e “revisão ampla, geral e irrestrita” dos gastos governamentais, o petismo de oposição defende aumento de gastos e proteção a determinadas empresas nacionais. Isso não deu certo lá atrás, não é provável que funcione agora.

Lula fica no meio, paralisado. Num rompante, diz não saber se a saída é “cortar gastos ou aumentar a arrecadação”. Precisa ouvir o partido e ao mesmo tempo defender seu principal ministro, que não esconde a insatisfação e a dificuldade de enfrentar “a encrenca que é o Brasil”. O momento pede reflexão e calibragem dos motores. O governo precisa dinamizar sua atuação, evitar o desgaste prematuro e dissipar as dúvidas sobre sua capacidade de fazer algo que o distinga até o final do mandato, em 2026.

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É PROFESSOR TITULAR DE TEORIA POLÍTICA DA UNESP

Junho foi ruim para o governo. Não por ter ele acumulado derrotas ou sofrido um assédio vencedor da extrema direita. Mas sim porque o governo não saiu das cordas em que sua própria atuação o jogou.

O leilão de importação emergencial de arroz foi suspenso por suspeita de fraude. O governo perdeu no Congresso em áreas estratégicas, como a da reforma tributária. Recebeu de volta, por decisão de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), com a anuência de parlamentares petistas, a medida provisória com mudanças no PIS/Cofins. Lula da Silva, por sua vez, peitou o presidente do Banco Central, mas engoliu a manutenção da taxa básica de juros. O ataque a Roberto Campos Neto foi visceral, abertamente político e ideológico, revelando certa fúria descalibrada.

As tribulações governamentais chegaram ao auge com o indiciamento pela Polícia Federal (PF) do ministro Juscelino Filho, das Comunicações, acusado de praticar crimes graves como corrupção passiva, fraude em licitações e organização criminosa.

Não é usual um ministro de Estado ser indiciado com tais acusações. Juscelino está no radar desde o início do governo, sempre contemplado com suspeitas de mau uso dos recursos públicos ou do seu uso em benefício próprio. Não é um novato na área, nem muito menos ingênuo. Integra o pacote que o União Brasil apresentou para ser benevolente com o governo. Os apoios não vieram, ou só vieram em doses pequenas. Em nenhum momento deram sustentação e tranquilidade ao Executivo. Por que então se desgastar com a manutenção de ministros como Juscelino?

A explicação para esses atropelos passa por alguns fatos. O presidente Lula já não é mais o Lula sindicalista, bom de gogó e de articulação, visto por muitos como um “encantador de serpentes”, negociador capaz de dar nó em pingos d’água. Não é por causa do cansaço da idade, por mais que isso exista. Mas é porque está se dando conta de que o desafio ao ser eleito presidente não era bloquear a extrema direita bolsonarista: era fazer o País ingressar em outra rota, redefinir as escolhas estratégicas e construir um projeto sustentável de sociedade, nas diversas áreas em que isso se manifesta, especialmente no equilíbrio fiscal e no combate à desigualdade social. Nada disso foi alcançado depois de um ano e meio de governo. Pior: ninguém sabe se algo disso será alcançado daqui para frente.

Lula governa com uma relação desequilibrada entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Todos se metem em tudo. O Supremo Tribunal Federal (STF) quer ser protagonista. O Parlamento vive de chantagear o Executivo e deliberar sobre pautas incompreensíveis nas atuais circunstâncias. O Congresso não discute coisas substantivas, deputados saem a tapa e estão preocupados muito mais em atender às suas clientelas do que em pensar o País.

Há um vazio propositivo no País. A sociedade civil e os intelectuais pararam de dialogar, fascinados pela simplificação grosseira das polarizações, como se não estivessem moralmente obrigados a atuar em nome da formulação de um projeto para o País. Não há debate público entre nós.

O governo nem pode alegar que o bolsonarismo o atrapalhe. Em junho, a extrema direita perdeu no projeto de lei (PL) das praias, não conseguiu politizar a tragédia gaúcha, perdeu na questão da descriminalização da maconha e na nefasta tentativa de punir a mulher que abortar depois de um estupro, manobra sórdida desencadeada para “testar o governo” e ver se ele está mesmo disposto a dar atenção aos evangélicos, como falou o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ). A discussão do tema foi bloqueada pela intensa manifestação contrária de diversos setores da sociedade. Foi transferida para o segundo semestre, e muitos acreditam que não terá fôlego para voltar à pauta.

Por fim: Lula precisa administrar os arranjos parlamentares e simultaneamente as lutas internas no PT. O partido parece não fazer questão de ser governo, e há correntes que se alinham com a direção nacional (Gleisi Hoffmann) para “forçar” o governo a caminhar numa direção para a qual não tem pernas e não tem consenso. Enquanto o ministro Fernando Haddad se bate para administrar a economia com cautela e busca equilíbrios, os petistas pedem aceleração reformadora e inflexões “desenvolvimentistas” alavancadas por estatais e grandes empresas. Enquanto o ministro prega reforma tributária e “revisão ampla, geral e irrestrita” dos gastos governamentais, o petismo de oposição defende aumento de gastos e proteção a determinadas empresas nacionais. Isso não deu certo lá atrás, não é provável que funcione agora.

Lula fica no meio, paralisado. Num rompante, diz não saber se a saída é “cortar gastos ou aumentar a arrecadação”. Precisa ouvir o partido e ao mesmo tempo defender seu principal ministro, que não esconde a insatisfação e a dificuldade de enfrentar “a encrenca que é o Brasil”. O momento pede reflexão e calibragem dos motores. O governo precisa dinamizar sua atuação, evitar o desgaste prematuro e dissipar as dúvidas sobre sua capacidade de fazer algo que o distinga até o final do mandato, em 2026.

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