Professor titular de Teoria Política da Unesp, Marco Aurélio Nogueira escreve mensalmente na seção Espaço Aberto

Opinião|O dramático desafio educacional


A alfabetização funcional pesa como um rochedo nas costas do País, cuja população, para piorar, não se dá conta disso

Por Marco Aurélio Nogueira

A constatação está na mesa há décadas: vivemos sob um apagão educacional. São poucos os brasileiros que dominam a Língua Portuguesa e conseguem elaborar um pensamento concatenado. A maioria da população não é composta por leitores sistemáticos, escreve pouco e mal. O despreparo é geral. A alfabetização funcional pesa como um rochedo nas costas do País, cuja população, para piorar, não se dá conta disso. Ouçamos as vozes das ruas, as entrevistas dos jogadores de futebol, a conversa dos motoristas e passageiros dos ônibus, a algazarra das brincadeiras infantis, os papos de bar. É uma sucessão de erros crassos nas linguagens escrita e oral. O cenário causa arrepios.

Não podemos, claro, exigir que os brasileiros sejam todos intelectuais. Mas devemos fazer algo para ao menos minimizar a tragédia cultural que nos assola. O fato é que o brasileiro médio não domina a linguagem, lê pouco, escreve menos ainda, desconhece o bê-á-bá e, por consequência, distancia-se dos meandros da reflexão ponderada e da vocalização minimamente elaborada. Nem me refiro aos números, à história, à geografia, às ciências, às questões climáticas e ambientais. Também não penso na educação cívica: na capacidade de compreender a política. Prendo-me somente ao domínio do letramento.

Há algo de muito errado numa sociedade que não consegue, em pleno século 21, ter uma população bem alfabetizada e em condições de se elevar às esferas do pensamento abstrato, ao domínio da técnica e da tecnologia, à compreensão, mesmo que simplificada, do terrível e complexo mundo em que vivemos.

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O problema passa pelas escolas, evidentemente, mas não se esgota nelas. Afeta em particular os jovens, pondo em xeque seu futuro. Mas atinge o conjunto da população, os governos, os políticos, as políticas públicas, a democracia. A precariedade da educação anda de mãos dadas com a desigualdade social, que separa poucos brasileiros bem escolarizados de uma esmagadora maioria de pessoas que mal sabem conversar sobre os temas que lhes dizem respeito. Caminha junto com a rusticidade da chamada “classe política”. É um circuito envenenado, que impede a formação de um sistema educacional consistente. Há uma cultura negacionista que rejeita a escola, despreza os professores, bloqueia o futuro do País. Incrustada nela, há também uma profusão de manobras identitaristas que desejam estabelecer regras dogmáticas para reeducar professores, formatar currículos e punir os desobedientes. A escola não tem conseguido responder bem a essa situação, que a sufoca e desafia.

Hoje mesmo, se procurarmos um projeto amplo que valorize de fato a escola pública, prepare o professorado, direcione a atuação escolar, defina metas claras e forneça os meios para viabilizá-las, não encontraremos nada. As promessas e os discursos são muitos, mas ficam ao sabor de providências políticas, da ação e dos recursos de governos municipais e estaduais, cada um deles seguindo uma rota. A desigualdade vai, assim, se aprofundando. Mesmo os pesquisadores da área têm dificuldades para traduzir o quadro e fornecer soluções para ele.

Temos, ainda, um complicador adicional: a vida digital, a frequência às redes sociais, cujos apps incentivam o uso de poucas palavras, de uma comunicação simplificada ao extremo, que rouba capacidade de reflexão, dispensa o uso da linguagem e dificulta o processamento do turbilhão de informações que circulam pelas mídias. Toda uma geração vem crescendo com esse padrão, desabituando-se de ler textos mais complexos e escrever com mais qualidade e rigor. Isso empobrece a compreensão do mundo atual, com seus desafios e suas exigências. Como não se valoriza o ensino técnico e profissionalizante, complica-se o ingresso no mercado de trabalho.

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Num artigo publicado na revista Veja (10/11/2023), o ex-senador e ex-ministro da Educação Cristovam Buarque observou que “as falhas da educação brasileira são um fracasso de décadas”. Passaram governos, avanços tópicos aconteceram, mas o País continua com a pior e mais desigual educação quando comparado com outros países. Hoje nos conformamos com correr atrás de cumprir com “a simples promessa de alfabetizar alunos aos 8 anos de idade”.

O diagnóstico é amargo. Faltam metas ambiciosas e instrumentos políticos e administrativos para executar projetos estratégicos. Para Cristovam, três características da sociedade travam essa estratégia: “primeiro, educação de máxima qualidade não é um objeto de desejo político nem uma prioridade maior do eleitor brasileiro; segundo, a igualdade não faz parte do caráter nacional; terceiro, o imediatismo impede que os governos olhem para um futuro posterior aos seus mandatos”.

O que assusta é saber como atravessaremos o século 21 com este rochedo nos incapacitando. Sem um sistema público nacional único, que permita a plena alfabetização dos brasileiros e os insira de modo inteligente na contemporaneidade, continuaremos a derrapar como país e a assistir ao derramamento da desigualdade entre nós.

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PROFESSOR TITULAR DE TEORIA POLÍTICA DA UNESP

A constatação está na mesa há décadas: vivemos sob um apagão educacional. São poucos os brasileiros que dominam a Língua Portuguesa e conseguem elaborar um pensamento concatenado. A maioria da população não é composta por leitores sistemáticos, escreve pouco e mal. O despreparo é geral. A alfabetização funcional pesa como um rochedo nas costas do País, cuja população, para piorar, não se dá conta disso. Ouçamos as vozes das ruas, as entrevistas dos jogadores de futebol, a conversa dos motoristas e passageiros dos ônibus, a algazarra das brincadeiras infantis, os papos de bar. É uma sucessão de erros crassos nas linguagens escrita e oral. O cenário causa arrepios.

Não podemos, claro, exigir que os brasileiros sejam todos intelectuais. Mas devemos fazer algo para ao menos minimizar a tragédia cultural que nos assola. O fato é que o brasileiro médio não domina a linguagem, lê pouco, escreve menos ainda, desconhece o bê-á-bá e, por consequência, distancia-se dos meandros da reflexão ponderada e da vocalização minimamente elaborada. Nem me refiro aos números, à história, à geografia, às ciências, às questões climáticas e ambientais. Também não penso na educação cívica: na capacidade de compreender a política. Prendo-me somente ao domínio do letramento.

Há algo de muito errado numa sociedade que não consegue, em pleno século 21, ter uma população bem alfabetizada e em condições de se elevar às esferas do pensamento abstrato, ao domínio da técnica e da tecnologia, à compreensão, mesmo que simplificada, do terrível e complexo mundo em que vivemos.

O problema passa pelas escolas, evidentemente, mas não se esgota nelas. Afeta em particular os jovens, pondo em xeque seu futuro. Mas atinge o conjunto da população, os governos, os políticos, as políticas públicas, a democracia. A precariedade da educação anda de mãos dadas com a desigualdade social, que separa poucos brasileiros bem escolarizados de uma esmagadora maioria de pessoas que mal sabem conversar sobre os temas que lhes dizem respeito. Caminha junto com a rusticidade da chamada “classe política”. É um circuito envenenado, que impede a formação de um sistema educacional consistente. Há uma cultura negacionista que rejeita a escola, despreza os professores, bloqueia o futuro do País. Incrustada nela, há também uma profusão de manobras identitaristas que desejam estabelecer regras dogmáticas para reeducar professores, formatar currículos e punir os desobedientes. A escola não tem conseguido responder bem a essa situação, que a sufoca e desafia.

Hoje mesmo, se procurarmos um projeto amplo que valorize de fato a escola pública, prepare o professorado, direcione a atuação escolar, defina metas claras e forneça os meios para viabilizá-las, não encontraremos nada. As promessas e os discursos são muitos, mas ficam ao sabor de providências políticas, da ação e dos recursos de governos municipais e estaduais, cada um deles seguindo uma rota. A desigualdade vai, assim, se aprofundando. Mesmo os pesquisadores da área têm dificuldades para traduzir o quadro e fornecer soluções para ele.

Temos, ainda, um complicador adicional: a vida digital, a frequência às redes sociais, cujos apps incentivam o uso de poucas palavras, de uma comunicação simplificada ao extremo, que rouba capacidade de reflexão, dispensa o uso da linguagem e dificulta o processamento do turbilhão de informações que circulam pelas mídias. Toda uma geração vem crescendo com esse padrão, desabituando-se de ler textos mais complexos e escrever com mais qualidade e rigor. Isso empobrece a compreensão do mundo atual, com seus desafios e suas exigências. Como não se valoriza o ensino técnico e profissionalizante, complica-se o ingresso no mercado de trabalho.

Num artigo publicado na revista Veja (10/11/2023), o ex-senador e ex-ministro da Educação Cristovam Buarque observou que “as falhas da educação brasileira são um fracasso de décadas”. Passaram governos, avanços tópicos aconteceram, mas o País continua com a pior e mais desigual educação quando comparado com outros países. Hoje nos conformamos com correr atrás de cumprir com “a simples promessa de alfabetizar alunos aos 8 anos de idade”.

O diagnóstico é amargo. Faltam metas ambiciosas e instrumentos políticos e administrativos para executar projetos estratégicos. Para Cristovam, três características da sociedade travam essa estratégia: “primeiro, educação de máxima qualidade não é um objeto de desejo político nem uma prioridade maior do eleitor brasileiro; segundo, a igualdade não faz parte do caráter nacional; terceiro, o imediatismo impede que os governos olhem para um futuro posterior aos seus mandatos”.

O que assusta é saber como atravessaremos o século 21 com este rochedo nos incapacitando. Sem um sistema público nacional único, que permita a plena alfabetização dos brasileiros e os insira de modo inteligente na contemporaneidade, continuaremos a derrapar como país e a assistir ao derramamento da desigualdade entre nós.

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PROFESSOR TITULAR DE TEORIA POLÍTICA DA UNESP

A constatação está na mesa há décadas: vivemos sob um apagão educacional. São poucos os brasileiros que dominam a Língua Portuguesa e conseguem elaborar um pensamento concatenado. A maioria da população não é composta por leitores sistemáticos, escreve pouco e mal. O despreparo é geral. A alfabetização funcional pesa como um rochedo nas costas do País, cuja população, para piorar, não se dá conta disso. Ouçamos as vozes das ruas, as entrevistas dos jogadores de futebol, a conversa dos motoristas e passageiros dos ônibus, a algazarra das brincadeiras infantis, os papos de bar. É uma sucessão de erros crassos nas linguagens escrita e oral. O cenário causa arrepios.

Não podemos, claro, exigir que os brasileiros sejam todos intelectuais. Mas devemos fazer algo para ao menos minimizar a tragédia cultural que nos assola. O fato é que o brasileiro médio não domina a linguagem, lê pouco, escreve menos ainda, desconhece o bê-á-bá e, por consequência, distancia-se dos meandros da reflexão ponderada e da vocalização minimamente elaborada. Nem me refiro aos números, à história, à geografia, às ciências, às questões climáticas e ambientais. Também não penso na educação cívica: na capacidade de compreender a política. Prendo-me somente ao domínio do letramento.

Há algo de muito errado numa sociedade que não consegue, em pleno século 21, ter uma população bem alfabetizada e em condições de se elevar às esferas do pensamento abstrato, ao domínio da técnica e da tecnologia, à compreensão, mesmo que simplificada, do terrível e complexo mundo em que vivemos.

O problema passa pelas escolas, evidentemente, mas não se esgota nelas. Afeta em particular os jovens, pondo em xeque seu futuro. Mas atinge o conjunto da população, os governos, os políticos, as políticas públicas, a democracia. A precariedade da educação anda de mãos dadas com a desigualdade social, que separa poucos brasileiros bem escolarizados de uma esmagadora maioria de pessoas que mal sabem conversar sobre os temas que lhes dizem respeito. Caminha junto com a rusticidade da chamada “classe política”. É um circuito envenenado, que impede a formação de um sistema educacional consistente. Há uma cultura negacionista que rejeita a escola, despreza os professores, bloqueia o futuro do País. Incrustada nela, há também uma profusão de manobras identitaristas que desejam estabelecer regras dogmáticas para reeducar professores, formatar currículos e punir os desobedientes. A escola não tem conseguido responder bem a essa situação, que a sufoca e desafia.

Hoje mesmo, se procurarmos um projeto amplo que valorize de fato a escola pública, prepare o professorado, direcione a atuação escolar, defina metas claras e forneça os meios para viabilizá-las, não encontraremos nada. As promessas e os discursos são muitos, mas ficam ao sabor de providências políticas, da ação e dos recursos de governos municipais e estaduais, cada um deles seguindo uma rota. A desigualdade vai, assim, se aprofundando. Mesmo os pesquisadores da área têm dificuldades para traduzir o quadro e fornecer soluções para ele.

Temos, ainda, um complicador adicional: a vida digital, a frequência às redes sociais, cujos apps incentivam o uso de poucas palavras, de uma comunicação simplificada ao extremo, que rouba capacidade de reflexão, dispensa o uso da linguagem e dificulta o processamento do turbilhão de informações que circulam pelas mídias. Toda uma geração vem crescendo com esse padrão, desabituando-se de ler textos mais complexos e escrever com mais qualidade e rigor. Isso empobrece a compreensão do mundo atual, com seus desafios e suas exigências. Como não se valoriza o ensino técnico e profissionalizante, complica-se o ingresso no mercado de trabalho.

Num artigo publicado na revista Veja (10/11/2023), o ex-senador e ex-ministro da Educação Cristovam Buarque observou que “as falhas da educação brasileira são um fracasso de décadas”. Passaram governos, avanços tópicos aconteceram, mas o País continua com a pior e mais desigual educação quando comparado com outros países. Hoje nos conformamos com correr atrás de cumprir com “a simples promessa de alfabetizar alunos aos 8 anos de idade”.

O diagnóstico é amargo. Faltam metas ambiciosas e instrumentos políticos e administrativos para executar projetos estratégicos. Para Cristovam, três características da sociedade travam essa estratégia: “primeiro, educação de máxima qualidade não é um objeto de desejo político nem uma prioridade maior do eleitor brasileiro; segundo, a igualdade não faz parte do caráter nacional; terceiro, o imediatismo impede que os governos olhem para um futuro posterior aos seus mandatos”.

O que assusta é saber como atravessaremos o século 21 com este rochedo nos incapacitando. Sem um sistema público nacional único, que permita a plena alfabetização dos brasileiros e os insira de modo inteligente na contemporaneidade, continuaremos a derrapar como país e a assistir ao derramamento da desigualdade entre nós.

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PROFESSOR TITULAR DE TEORIA POLÍTICA DA UNESP

A constatação está na mesa há décadas: vivemos sob um apagão educacional. São poucos os brasileiros que dominam a Língua Portuguesa e conseguem elaborar um pensamento concatenado. A maioria da população não é composta por leitores sistemáticos, escreve pouco e mal. O despreparo é geral. A alfabetização funcional pesa como um rochedo nas costas do País, cuja população, para piorar, não se dá conta disso. Ouçamos as vozes das ruas, as entrevistas dos jogadores de futebol, a conversa dos motoristas e passageiros dos ônibus, a algazarra das brincadeiras infantis, os papos de bar. É uma sucessão de erros crassos nas linguagens escrita e oral. O cenário causa arrepios.

Não podemos, claro, exigir que os brasileiros sejam todos intelectuais. Mas devemos fazer algo para ao menos minimizar a tragédia cultural que nos assola. O fato é que o brasileiro médio não domina a linguagem, lê pouco, escreve menos ainda, desconhece o bê-á-bá e, por consequência, distancia-se dos meandros da reflexão ponderada e da vocalização minimamente elaborada. Nem me refiro aos números, à história, à geografia, às ciências, às questões climáticas e ambientais. Também não penso na educação cívica: na capacidade de compreender a política. Prendo-me somente ao domínio do letramento.

Há algo de muito errado numa sociedade que não consegue, em pleno século 21, ter uma população bem alfabetizada e em condições de se elevar às esferas do pensamento abstrato, ao domínio da técnica e da tecnologia, à compreensão, mesmo que simplificada, do terrível e complexo mundo em que vivemos.

O problema passa pelas escolas, evidentemente, mas não se esgota nelas. Afeta em particular os jovens, pondo em xeque seu futuro. Mas atinge o conjunto da população, os governos, os políticos, as políticas públicas, a democracia. A precariedade da educação anda de mãos dadas com a desigualdade social, que separa poucos brasileiros bem escolarizados de uma esmagadora maioria de pessoas que mal sabem conversar sobre os temas que lhes dizem respeito. Caminha junto com a rusticidade da chamada “classe política”. É um circuito envenenado, que impede a formação de um sistema educacional consistente. Há uma cultura negacionista que rejeita a escola, despreza os professores, bloqueia o futuro do País. Incrustada nela, há também uma profusão de manobras identitaristas que desejam estabelecer regras dogmáticas para reeducar professores, formatar currículos e punir os desobedientes. A escola não tem conseguido responder bem a essa situação, que a sufoca e desafia.

Hoje mesmo, se procurarmos um projeto amplo que valorize de fato a escola pública, prepare o professorado, direcione a atuação escolar, defina metas claras e forneça os meios para viabilizá-las, não encontraremos nada. As promessas e os discursos são muitos, mas ficam ao sabor de providências políticas, da ação e dos recursos de governos municipais e estaduais, cada um deles seguindo uma rota. A desigualdade vai, assim, se aprofundando. Mesmo os pesquisadores da área têm dificuldades para traduzir o quadro e fornecer soluções para ele.

Temos, ainda, um complicador adicional: a vida digital, a frequência às redes sociais, cujos apps incentivam o uso de poucas palavras, de uma comunicação simplificada ao extremo, que rouba capacidade de reflexão, dispensa o uso da linguagem e dificulta o processamento do turbilhão de informações que circulam pelas mídias. Toda uma geração vem crescendo com esse padrão, desabituando-se de ler textos mais complexos e escrever com mais qualidade e rigor. Isso empobrece a compreensão do mundo atual, com seus desafios e suas exigências. Como não se valoriza o ensino técnico e profissionalizante, complica-se o ingresso no mercado de trabalho.

Num artigo publicado na revista Veja (10/11/2023), o ex-senador e ex-ministro da Educação Cristovam Buarque observou que “as falhas da educação brasileira são um fracasso de décadas”. Passaram governos, avanços tópicos aconteceram, mas o País continua com a pior e mais desigual educação quando comparado com outros países. Hoje nos conformamos com correr atrás de cumprir com “a simples promessa de alfabetizar alunos aos 8 anos de idade”.

O diagnóstico é amargo. Faltam metas ambiciosas e instrumentos políticos e administrativos para executar projetos estratégicos. Para Cristovam, três características da sociedade travam essa estratégia: “primeiro, educação de máxima qualidade não é um objeto de desejo político nem uma prioridade maior do eleitor brasileiro; segundo, a igualdade não faz parte do caráter nacional; terceiro, o imediatismo impede que os governos olhem para um futuro posterior aos seus mandatos”.

O que assusta é saber como atravessaremos o século 21 com este rochedo nos incapacitando. Sem um sistema público nacional único, que permita a plena alfabetização dos brasileiros e os insira de modo inteligente na contemporaneidade, continuaremos a derrapar como país e a assistir ao derramamento da desigualdade entre nós.

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