O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acaba de anunciar mais um adiamento do Censo Demográfico 2022, cuja conclusão deveria ter ocorrido no ano passado. A promessa, agora, é que os resultados serão divulgados no próximo dia 28 de junho − um atraso que reflete, acima de tudo, o descaso e a irresponsabilidade do governo anterior na condução do principal levantamento estatístico do País.
Realizado uma vez a cada década, o Censo constitui a mais detalhada radiografia das condições de vida da população brasileira, indicando não apenas quantos são, mas onde e como vivem os habitantes do País. Como se sabe, o levantamento fornece dados preciosos para o planejamento e a execução de políticas públicas, capaz de indicar até mesmo a distribuição populacional por bairro ou região, em cada município.
É com base no Censo − e nos demais estudos e recortes estatísticos produzidos a partir de seus resultados − que gestores públicos e até privados definem prioridades, fazem investimentos e otimizam recursos. Quem não dispõe de dados atualizados está sujeito a escolhas erradas, com prejuízos que afetam toda a população. Eis o que está em jogo, e é espantoso que muita gente não perceba a dimensão disso.
Vale notar que há uma triste ironia nos sucessivos adiamentos do Censo 2022. Incapaz de traçar o perfil demográfico e socioeconômico da população brasileira até aqui, o levantamento converteu-se em retrato da incompetência governamental numa área de inequívoca importância para a gestão do País. Os tropeços, claro, decorrem da falta de visão estratégica e da incúria administrativa do governo Bolsonaro, que menosprezou o Censo como reflexo de sua ojeriza generalizada aos dados da realidade. Ainda assim, é assustador perceber como a máquina pública pode ficar refém de desmandos num setor de tamanha relevância.
Ora, o Censo é atividade mais que previsível e seu prazo decenal não dá margem a que ninguém alegue ter sido pego de surpresa. Previsto para 2020, foi corretamente postergado para 2021 em razão da pandemia de covid-19. Dali em diante, porém, o que se viu foi uma sucessão de erros, a começar pela falta de previsão orçamentária para que pudesse ser feito em 2021. Adiado para 2022, esbarrou em problemas de todo tipo − até mesmo em atrasos no pagamento de pessoal, além da falta de recenseadores. Deu no que deu.
Desde janeiro, o atual governo tenta corrigir falhas. Para isso, alongou o prazo de coleta e apuração de dados, a fim de ampliar a cobertura do levantamento, principalmente em favelas e bairros nobres, bem como na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Não pode passar desperdebido, no entanto, que o IBGE segue sob o comando de um presidente interino, e que os últimos adiamentos − de abril para maio e, agora, para junho − não são bons sinais. O Censo precisa ser encarado como política de Estado, e isso deve se traduzir em ações concretas. Sem dados atualizados e confiáveis, como esperar que o País possa romper as amarras do atraso e trilhar o caminho do desenvolvimento?