O DNA oposicionista de Lula


Confrontado com as contradições do seu passado na oposição – quando podia criticar e fazer promessas à vontade –, Lula da Silva no governo continua a agir como se não fosse governo

Por Notas & Informações

Sempre se disse que o PT e seu maior líder, o presidente Lula da Silva, eram imbatíveis na oposição. Sabiam mobilizar as ruas e desferir golpes abaixo da linha de cintura no governo – seguindo o questionável, porém eficiente evangelho esquerdista que divide o mundo em “nós”, o Bem, e “eles”, o Mal. Jamais entenderam a regra de ouro dos oposicionistas, aquela bem definida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em seus Diários da Presidência: uma oposição, para ser ouvida, precisa ter o que dizer. Lula e o PT, porque nada tinham a dizer a não ser vender a utopia do atraso, sempre preferiram gritar. Uma vez no governo, porém, nem o PT nem Lula jamais foram capazes de entender seu novo papel, qual seja, o de dialogar com todas as forças políticas relevantes para administrar um país grande, complexo e cheio de problemas, mas igualmente com imenso potencial, como é o Brasil. A vocação oposicionista prevaleceu – e, sem conseguir realizar até mesmo as promessas de dar mais atenção às minorias e aos pobres, dos quais o PT se julga redentor, o governo petista faz o que os petistas e Lula estão habituados a fazer: isenta-se de responsabilidade. A culpa, nesse caso, é da realidade dos fatos, aquela que os petistas nunca levam em consideração.

É assim que Lula vem decepcionando até mesmo sua clientela preferencial. Confrontado com a baixa diversidade no governo, o presidente afirmou que é “mais difícil” encontrar mulheres e pessoas negras para determinados cargos, argumentando que a sub-representatividade é consequência do fato de que esses grupos não tiveram participação na política “mais contundente”. Foi duramente criticado, embora o que ele reconheceu com indisfarçável sinceridade foi, no limite, similar à declaração da ministra do Planejamento, Simone Tebet, segundo a qual é “difícil” colocar mulheres negras na Esplanada dos Ministérios porque muitas são “arrimo de família”. Foi o suficiente para que a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, com indelicadeza e estardalhaço, levasse à colega uma lista de profissionais negras que estariam “disponíveis” para serem indicadas ao governo. Resta saber se Anielle fará o mesmo com o chefe.

Também nos últimos dias circulou uma lembrança incômoda a Lula: um comentário seu sobre os incêndios no Pantanal, feito em setembro de 2020. Na ocasião, com a Amazônia e o Pantanal em chamas, Lula se perguntava por que as Forças Armadas não estavam com grande contingente nas duas regiões, denunciava o desmonte dos mecanismos de prevenção a incêndios e acusava o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, de ser “um cidadão sem caráter e sem respeito pela natureza”. O resgate da declaração se justificou: o Pantanal está novamente em chamas, com a ocorrência do maior número de focos de incêndio desde que o índice começou a ser contabilizado, mesmo que haja no Ministério uma ministra cujo compromisso com a preservação é inquestionável – tudo isso sem que o governo demonstre qualquer capacidade de reagir à altura.

continua após a publicidade

Há outros exemplos, como as promessas redentoras de avançar na homologação e demarcação de terras indígenas, alçar o País à condição de potência verde, corrigir mazelas no campo dos direitos humanos e, sobretudo, articular um processo de união e reconstrução nacional. Uma vez no governo, Lula não tem conseguido destravar as pautas pleiteadas por indígenas, muito menos resolver a calamidade enfrentada pelo Povo Yanomami, nem apresentar um plano claro de transição energética que faça jus à sua pregação como candidato a salvador do planeta, ou ainda atender às expectativas dos movimentos sociais. Ao mesmo tempo, continua optando por ser uma fonte de permanente divisão num país que saiu cindido das urnas.

Aqui não se entra no mérito das promessas do demiurgo, mas é evidente a profundidade do abismo que separa o Lula da oposição e o Lula da Presidência. Na oposição, sobravam críticas virulentas e propostas megalomaníacas. No governo, faltam ideias, criatividade e capacidade de governar. Mas há algo em comum entre o Lula da oposição e o Lula presidente: o discurso irresponsável, a retórica vazia e o proverbial cacoete de transferir aos outros – o mercado, os ricos, o Ocidente, etc. – a responsabilidade pela sua incompetência.

Sempre se disse que o PT e seu maior líder, o presidente Lula da Silva, eram imbatíveis na oposição. Sabiam mobilizar as ruas e desferir golpes abaixo da linha de cintura no governo – seguindo o questionável, porém eficiente evangelho esquerdista que divide o mundo em “nós”, o Bem, e “eles”, o Mal. Jamais entenderam a regra de ouro dos oposicionistas, aquela bem definida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em seus Diários da Presidência: uma oposição, para ser ouvida, precisa ter o que dizer. Lula e o PT, porque nada tinham a dizer a não ser vender a utopia do atraso, sempre preferiram gritar. Uma vez no governo, porém, nem o PT nem Lula jamais foram capazes de entender seu novo papel, qual seja, o de dialogar com todas as forças políticas relevantes para administrar um país grande, complexo e cheio de problemas, mas igualmente com imenso potencial, como é o Brasil. A vocação oposicionista prevaleceu – e, sem conseguir realizar até mesmo as promessas de dar mais atenção às minorias e aos pobres, dos quais o PT se julga redentor, o governo petista faz o que os petistas e Lula estão habituados a fazer: isenta-se de responsabilidade. A culpa, nesse caso, é da realidade dos fatos, aquela que os petistas nunca levam em consideração.

É assim que Lula vem decepcionando até mesmo sua clientela preferencial. Confrontado com a baixa diversidade no governo, o presidente afirmou que é “mais difícil” encontrar mulheres e pessoas negras para determinados cargos, argumentando que a sub-representatividade é consequência do fato de que esses grupos não tiveram participação na política “mais contundente”. Foi duramente criticado, embora o que ele reconheceu com indisfarçável sinceridade foi, no limite, similar à declaração da ministra do Planejamento, Simone Tebet, segundo a qual é “difícil” colocar mulheres negras na Esplanada dos Ministérios porque muitas são “arrimo de família”. Foi o suficiente para que a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, com indelicadeza e estardalhaço, levasse à colega uma lista de profissionais negras que estariam “disponíveis” para serem indicadas ao governo. Resta saber se Anielle fará o mesmo com o chefe.

Também nos últimos dias circulou uma lembrança incômoda a Lula: um comentário seu sobre os incêndios no Pantanal, feito em setembro de 2020. Na ocasião, com a Amazônia e o Pantanal em chamas, Lula se perguntava por que as Forças Armadas não estavam com grande contingente nas duas regiões, denunciava o desmonte dos mecanismos de prevenção a incêndios e acusava o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, de ser “um cidadão sem caráter e sem respeito pela natureza”. O resgate da declaração se justificou: o Pantanal está novamente em chamas, com a ocorrência do maior número de focos de incêndio desde que o índice começou a ser contabilizado, mesmo que haja no Ministério uma ministra cujo compromisso com a preservação é inquestionável – tudo isso sem que o governo demonstre qualquer capacidade de reagir à altura.

Há outros exemplos, como as promessas redentoras de avançar na homologação e demarcação de terras indígenas, alçar o País à condição de potência verde, corrigir mazelas no campo dos direitos humanos e, sobretudo, articular um processo de união e reconstrução nacional. Uma vez no governo, Lula não tem conseguido destravar as pautas pleiteadas por indígenas, muito menos resolver a calamidade enfrentada pelo Povo Yanomami, nem apresentar um plano claro de transição energética que faça jus à sua pregação como candidato a salvador do planeta, ou ainda atender às expectativas dos movimentos sociais. Ao mesmo tempo, continua optando por ser uma fonte de permanente divisão num país que saiu cindido das urnas.

Aqui não se entra no mérito das promessas do demiurgo, mas é evidente a profundidade do abismo que separa o Lula da oposição e o Lula da Presidência. Na oposição, sobravam críticas virulentas e propostas megalomaníacas. No governo, faltam ideias, criatividade e capacidade de governar. Mas há algo em comum entre o Lula da oposição e o Lula presidente: o discurso irresponsável, a retórica vazia e o proverbial cacoete de transferir aos outros – o mercado, os ricos, o Ocidente, etc. – a responsabilidade pela sua incompetência.

Sempre se disse que o PT e seu maior líder, o presidente Lula da Silva, eram imbatíveis na oposição. Sabiam mobilizar as ruas e desferir golpes abaixo da linha de cintura no governo – seguindo o questionável, porém eficiente evangelho esquerdista que divide o mundo em “nós”, o Bem, e “eles”, o Mal. Jamais entenderam a regra de ouro dos oposicionistas, aquela bem definida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em seus Diários da Presidência: uma oposição, para ser ouvida, precisa ter o que dizer. Lula e o PT, porque nada tinham a dizer a não ser vender a utopia do atraso, sempre preferiram gritar. Uma vez no governo, porém, nem o PT nem Lula jamais foram capazes de entender seu novo papel, qual seja, o de dialogar com todas as forças políticas relevantes para administrar um país grande, complexo e cheio de problemas, mas igualmente com imenso potencial, como é o Brasil. A vocação oposicionista prevaleceu – e, sem conseguir realizar até mesmo as promessas de dar mais atenção às minorias e aos pobres, dos quais o PT se julga redentor, o governo petista faz o que os petistas e Lula estão habituados a fazer: isenta-se de responsabilidade. A culpa, nesse caso, é da realidade dos fatos, aquela que os petistas nunca levam em consideração.

É assim que Lula vem decepcionando até mesmo sua clientela preferencial. Confrontado com a baixa diversidade no governo, o presidente afirmou que é “mais difícil” encontrar mulheres e pessoas negras para determinados cargos, argumentando que a sub-representatividade é consequência do fato de que esses grupos não tiveram participação na política “mais contundente”. Foi duramente criticado, embora o que ele reconheceu com indisfarçável sinceridade foi, no limite, similar à declaração da ministra do Planejamento, Simone Tebet, segundo a qual é “difícil” colocar mulheres negras na Esplanada dos Ministérios porque muitas são “arrimo de família”. Foi o suficiente para que a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, com indelicadeza e estardalhaço, levasse à colega uma lista de profissionais negras que estariam “disponíveis” para serem indicadas ao governo. Resta saber se Anielle fará o mesmo com o chefe.

Também nos últimos dias circulou uma lembrança incômoda a Lula: um comentário seu sobre os incêndios no Pantanal, feito em setembro de 2020. Na ocasião, com a Amazônia e o Pantanal em chamas, Lula se perguntava por que as Forças Armadas não estavam com grande contingente nas duas regiões, denunciava o desmonte dos mecanismos de prevenção a incêndios e acusava o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, de ser “um cidadão sem caráter e sem respeito pela natureza”. O resgate da declaração se justificou: o Pantanal está novamente em chamas, com a ocorrência do maior número de focos de incêndio desde que o índice começou a ser contabilizado, mesmo que haja no Ministério uma ministra cujo compromisso com a preservação é inquestionável – tudo isso sem que o governo demonstre qualquer capacidade de reagir à altura.

Há outros exemplos, como as promessas redentoras de avançar na homologação e demarcação de terras indígenas, alçar o País à condição de potência verde, corrigir mazelas no campo dos direitos humanos e, sobretudo, articular um processo de união e reconstrução nacional. Uma vez no governo, Lula não tem conseguido destravar as pautas pleiteadas por indígenas, muito menos resolver a calamidade enfrentada pelo Povo Yanomami, nem apresentar um plano claro de transição energética que faça jus à sua pregação como candidato a salvador do planeta, ou ainda atender às expectativas dos movimentos sociais. Ao mesmo tempo, continua optando por ser uma fonte de permanente divisão num país que saiu cindido das urnas.

Aqui não se entra no mérito das promessas do demiurgo, mas é evidente a profundidade do abismo que separa o Lula da oposição e o Lula da Presidência. Na oposição, sobravam críticas virulentas e propostas megalomaníacas. No governo, faltam ideias, criatividade e capacidade de governar. Mas há algo em comum entre o Lula da oposição e o Lula presidente: o discurso irresponsável, a retórica vazia e o proverbial cacoete de transferir aos outros – o mercado, os ricos, o Ocidente, etc. – a responsabilidade pela sua incompetência.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.