O império de Xi Jinping


Controle do Partido sobre os chineses e o de Xi sobre o Partido cresceram. As democracias precisam resistir à autocracia chinesa, mas também cooperar em interesses comuns

Por Notas & Informações

Desde a década de 70, com a morte de Mao Tsé-tung e a aproximação estratégica aos EUA para conter a URSS, acalentaram-se esperanças de que a China deixaria para trás seu passado comunista mortífero. Essas esperanças ganharam força com a gestão do pragmático e eclético Deng Xiaoping, nos anos 80. Ele introduziu o sistema rotativo no comando do Partido Comunista e reformas econômicas que melhoraram o padrão de vida dos chineses. Por um tempo, parecia crível que a China poderia seguir o caminho de outras nações asiáticas e assimilar valores das democracias liberais. Essas esperanças vinham se erodindo desde que Xi Jinping assumiu o poder, há 10 anos. A sua coroação no Congresso do Partido Comunista – que em tese lhe conferiu um novo mandato de cinco anos, mas na prática deve entronizá-lo vitaliciamente – lançou a pá de cal.

O Congresso consagrou a ideologia de Xi, a combinação de um nacionalismo agressivo com a revitalização do ideário marxista-leninista. Xi esmagou toda dissidência, armou um aparato de censura e vigilância com tecnologias inimagináveis para Hitler ou Stalin e reverteu as reformas políticas e econômicas de Deng, fortalecendo o controle do Partido sobre os chineses e o seu controle sobre o Partido. Externamente, ele tomou de assalto Hong Kong, intensificou atritos com países vizinhos e no Pacífico, ampliou as ameaças a Taiwan e, cooptando bilateralmente países em desenvolvimento por meio de uma mescla de dependência econômica e intimidação política, aumentou sua influência em organismos multilaterais.

A ideia de “segurança nacional compreensiva” de Xi se expande para a política, a economia, a cultura, a tecnologia e as relações internacionais. O relatório do Congresso é o mais carregado em tintas ideológicas dos últimos 40 anos. Domesticamente, ele enfatiza o afastamento de princípios de mercado rumo às disciplinas do controle estatal. Fala-se em alocação “estratégica” de capital humano para o desenvolvimento de novas tecnologias, ao invés de permitir que esses talentos se movam de acordo com as oportunidades competitivas do mercado. Externamente, ele abandona a linguagem-padrão de “paz e desenvolvimento”, que vigorava desde os anos 90, para conclamar o partido a escalar a militarização e prepará-lo para a “tempestade”.

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Em seu discurso, Xi disse que a China oferece à humanidade uma “nova escolha”, ou seja, uma alternativa à democracia ocidental – acusada de “decadente” e “caótica”. Muitos países em desenvolvimento têm mostrado inclinação a se curvar ao regime de Xi à medida que ele se torna ainda mais autocrático e totalitário. O Ocidente tem todas as razões para estar alarmado. Mas não desesperado. A China tem suas fraquezas, e a obsessão por controle de Xi pode agravá-las.

A direção autoritária da economia e da política tende a torná-las menos dinâmicas e criativas. “A vantagem das democracias não é que elas necessariamente escolham os líderes mais sábios e bem-intencionados. Frequentemente fazem o oposto”, advertiu o articulista do Financial Times Martin Wolf. “Mas é possível se opor a eles sem perigo e dispensá-los sem banhos de sangue. Em despotismos pessoais, nada disso é possível. Em despotismos institucionalizados, a dispensa é concebível, como Kruchev descobriu”, escreveu Wolf, referindo-se a Nikita Kruchev, o líder soviético deposto pelo Politburo em 1964.

Isso não significa que as fraquezas do regime de Xi o tornem menos perigoso. Ao contrário. Basta olhar para a Rússia de Vladimir Putin. Os riscos são grandes demais para serem ignorados – a resistência é necessária. Mas a importância da China para o equilíbrio econômico e geopolítico do planeta também é grande demais – a resistência precisa ser temperada com inteligência. As democracias liberais têm o desafio de resistir às suas investidas totalitárias, mas também de competir economicamente com a China e cooperar em interesses comuns (como o meio ambiente ou o terrorismo). Como resumiu a revista The Economist: “Será um equilíbrio difícil de atingir. Mas lidar com a mais poderosa ditadura da história sempre exigirá tanto a força quanto a sabedoria”.

Desde a década de 70, com a morte de Mao Tsé-tung e a aproximação estratégica aos EUA para conter a URSS, acalentaram-se esperanças de que a China deixaria para trás seu passado comunista mortífero. Essas esperanças ganharam força com a gestão do pragmático e eclético Deng Xiaoping, nos anos 80. Ele introduziu o sistema rotativo no comando do Partido Comunista e reformas econômicas que melhoraram o padrão de vida dos chineses. Por um tempo, parecia crível que a China poderia seguir o caminho de outras nações asiáticas e assimilar valores das democracias liberais. Essas esperanças vinham se erodindo desde que Xi Jinping assumiu o poder, há 10 anos. A sua coroação no Congresso do Partido Comunista – que em tese lhe conferiu um novo mandato de cinco anos, mas na prática deve entronizá-lo vitaliciamente – lançou a pá de cal.

O Congresso consagrou a ideologia de Xi, a combinação de um nacionalismo agressivo com a revitalização do ideário marxista-leninista. Xi esmagou toda dissidência, armou um aparato de censura e vigilância com tecnologias inimagináveis para Hitler ou Stalin e reverteu as reformas políticas e econômicas de Deng, fortalecendo o controle do Partido sobre os chineses e o seu controle sobre o Partido. Externamente, ele tomou de assalto Hong Kong, intensificou atritos com países vizinhos e no Pacífico, ampliou as ameaças a Taiwan e, cooptando bilateralmente países em desenvolvimento por meio de uma mescla de dependência econômica e intimidação política, aumentou sua influência em organismos multilaterais.

A ideia de “segurança nacional compreensiva” de Xi se expande para a política, a economia, a cultura, a tecnologia e as relações internacionais. O relatório do Congresso é o mais carregado em tintas ideológicas dos últimos 40 anos. Domesticamente, ele enfatiza o afastamento de princípios de mercado rumo às disciplinas do controle estatal. Fala-se em alocação “estratégica” de capital humano para o desenvolvimento de novas tecnologias, ao invés de permitir que esses talentos se movam de acordo com as oportunidades competitivas do mercado. Externamente, ele abandona a linguagem-padrão de “paz e desenvolvimento”, que vigorava desde os anos 90, para conclamar o partido a escalar a militarização e prepará-lo para a “tempestade”.

Em seu discurso, Xi disse que a China oferece à humanidade uma “nova escolha”, ou seja, uma alternativa à democracia ocidental – acusada de “decadente” e “caótica”. Muitos países em desenvolvimento têm mostrado inclinação a se curvar ao regime de Xi à medida que ele se torna ainda mais autocrático e totalitário. O Ocidente tem todas as razões para estar alarmado. Mas não desesperado. A China tem suas fraquezas, e a obsessão por controle de Xi pode agravá-las.

A direção autoritária da economia e da política tende a torná-las menos dinâmicas e criativas. “A vantagem das democracias não é que elas necessariamente escolham os líderes mais sábios e bem-intencionados. Frequentemente fazem o oposto”, advertiu o articulista do Financial Times Martin Wolf. “Mas é possível se opor a eles sem perigo e dispensá-los sem banhos de sangue. Em despotismos pessoais, nada disso é possível. Em despotismos institucionalizados, a dispensa é concebível, como Kruchev descobriu”, escreveu Wolf, referindo-se a Nikita Kruchev, o líder soviético deposto pelo Politburo em 1964.

Isso não significa que as fraquezas do regime de Xi o tornem menos perigoso. Ao contrário. Basta olhar para a Rússia de Vladimir Putin. Os riscos são grandes demais para serem ignorados – a resistência é necessária. Mas a importância da China para o equilíbrio econômico e geopolítico do planeta também é grande demais – a resistência precisa ser temperada com inteligência. As democracias liberais têm o desafio de resistir às suas investidas totalitárias, mas também de competir economicamente com a China e cooperar em interesses comuns (como o meio ambiente ou o terrorismo). Como resumiu a revista The Economist: “Será um equilíbrio difícil de atingir. Mas lidar com a mais poderosa ditadura da história sempre exigirá tanto a força quanto a sabedoria”.

Desde a década de 70, com a morte de Mao Tsé-tung e a aproximação estratégica aos EUA para conter a URSS, acalentaram-se esperanças de que a China deixaria para trás seu passado comunista mortífero. Essas esperanças ganharam força com a gestão do pragmático e eclético Deng Xiaoping, nos anos 80. Ele introduziu o sistema rotativo no comando do Partido Comunista e reformas econômicas que melhoraram o padrão de vida dos chineses. Por um tempo, parecia crível que a China poderia seguir o caminho de outras nações asiáticas e assimilar valores das democracias liberais. Essas esperanças vinham se erodindo desde que Xi Jinping assumiu o poder, há 10 anos. A sua coroação no Congresso do Partido Comunista – que em tese lhe conferiu um novo mandato de cinco anos, mas na prática deve entronizá-lo vitaliciamente – lançou a pá de cal.

O Congresso consagrou a ideologia de Xi, a combinação de um nacionalismo agressivo com a revitalização do ideário marxista-leninista. Xi esmagou toda dissidência, armou um aparato de censura e vigilância com tecnologias inimagináveis para Hitler ou Stalin e reverteu as reformas políticas e econômicas de Deng, fortalecendo o controle do Partido sobre os chineses e o seu controle sobre o Partido. Externamente, ele tomou de assalto Hong Kong, intensificou atritos com países vizinhos e no Pacífico, ampliou as ameaças a Taiwan e, cooptando bilateralmente países em desenvolvimento por meio de uma mescla de dependência econômica e intimidação política, aumentou sua influência em organismos multilaterais.

A ideia de “segurança nacional compreensiva” de Xi se expande para a política, a economia, a cultura, a tecnologia e as relações internacionais. O relatório do Congresso é o mais carregado em tintas ideológicas dos últimos 40 anos. Domesticamente, ele enfatiza o afastamento de princípios de mercado rumo às disciplinas do controle estatal. Fala-se em alocação “estratégica” de capital humano para o desenvolvimento de novas tecnologias, ao invés de permitir que esses talentos se movam de acordo com as oportunidades competitivas do mercado. Externamente, ele abandona a linguagem-padrão de “paz e desenvolvimento”, que vigorava desde os anos 90, para conclamar o partido a escalar a militarização e prepará-lo para a “tempestade”.

Em seu discurso, Xi disse que a China oferece à humanidade uma “nova escolha”, ou seja, uma alternativa à democracia ocidental – acusada de “decadente” e “caótica”. Muitos países em desenvolvimento têm mostrado inclinação a se curvar ao regime de Xi à medida que ele se torna ainda mais autocrático e totalitário. O Ocidente tem todas as razões para estar alarmado. Mas não desesperado. A China tem suas fraquezas, e a obsessão por controle de Xi pode agravá-las.

A direção autoritária da economia e da política tende a torná-las menos dinâmicas e criativas. “A vantagem das democracias não é que elas necessariamente escolham os líderes mais sábios e bem-intencionados. Frequentemente fazem o oposto”, advertiu o articulista do Financial Times Martin Wolf. “Mas é possível se opor a eles sem perigo e dispensá-los sem banhos de sangue. Em despotismos pessoais, nada disso é possível. Em despotismos institucionalizados, a dispensa é concebível, como Kruchev descobriu”, escreveu Wolf, referindo-se a Nikita Kruchev, o líder soviético deposto pelo Politburo em 1964.

Isso não significa que as fraquezas do regime de Xi o tornem menos perigoso. Ao contrário. Basta olhar para a Rússia de Vladimir Putin. Os riscos são grandes demais para serem ignorados – a resistência é necessária. Mas a importância da China para o equilíbrio econômico e geopolítico do planeta também é grande demais – a resistência precisa ser temperada com inteligência. As democracias liberais têm o desafio de resistir às suas investidas totalitárias, mas também de competir economicamente com a China e cooperar em interesses comuns (como o meio ambiente ou o terrorismo). Como resumiu a revista The Economist: “Será um equilíbrio difícil de atingir. Mas lidar com a mais poderosa ditadura da história sempre exigirá tanto a força quanto a sabedoria”.

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