O inferno aqui e agora


Investigação da ONU evidencia genocídio cultural perpetrado pelo totalitarismo chinês contra as minorias uigures

Por Notas & Informações
Atualização:

Perseguições em massa a minorias étnicas e religiosas, campos de concentração, trabalhos compulsórios, lavagem cerebral, tortura, estupros, esterilização forçada. O leitor pode respirar aliviado, como quem desperta de um pesadelo, pensando que esses horrores foram sepultados nos tempos do Holodomor, em lugares como Auschwitz. Mas neste exato momento isso está acontecendo, não num rincão atrasado e obscuro, mas em uma superpotência, a China, na província de Xinjiang, onde a cultura de 11 milhões de uigures muçulmanos está sendo erradicada.

Mesquitas e cemitérios foram demolidos. Manifestações religiosas, como usar barba ou véu, criminalizadas. Os uigures são vigiados por câmeras de reconhecimento facial e softwares em telefones, e obrigados a dar mostras de DNA e escanear a íris para um banco de dados biométricos. Pesquisadores estimam em 2 milhões os detidos em campos de concentração, por violar políticas de “planejamento familiar” e praticar o islamismo. Nos “Centros de Treinamento Vocacional”, chamados “escolas” ou “hospitais”, os detentos são recuperados de sua “doença” ou “ideologia extremista”, sendo forçados, por exemplo, a raspar a barba, comer porco ou beber álcool como formas de renúncia ao islã.

O Partido Comunista chama isso de “desradicalização” e “contraterrorismo”. A ironia horrenda é que é difícil imaginar uma política mais bem talhada para gestar o extremismo.

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Após três anos de investigação, um relatório, há muito procrastinado pelo lobby chinês, foi publicado pela comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, nas horas finais de seu mandato. Evidenciando “detenções arbitrárias em larga escala” ao menos desde 2017, o texto pede que o governo chinês investigue “alegações de tortura, violência sexual, maus-tratos, procedimentos médicos forçados, assim como trabalhos compulsórios e relatos de morte sob custódia”. É uma maneira eufemística de pedir que ele pare de perpetrar essas atrocidades. A ONU assevera, na linguagem ultracautelosa caracteristicamente reservada à China, que elas “podem” constituir “crimes internacionais” e “crimes contra a humanidade”.

Mesmo sob camadas de retórica evasiva, as evidências compiladas no relatório são um marco. “Ele pavimenta o caminho para uma ação consequente e tangível dos Estados-membros, corpos da ONU e a comunidade de negócios”, disse Dolkun Isa, presidente do Congresso Mundial Uigur, um grupo ativista. “A responsabilização começa agora.”

O Ocidente não pode evitar um engajamento realista com a China. A satisfação de seus anseios materiais depende de negócios com a China; a paz mundial, da convivência com seu regime; e desafios como a crise climática ou a saúde global, da cooperação com ele. A China é importante demais para ser ignorada. Mas assim o são seus crimes e ameaças. As atrocidades em Xinjiang exigem repúdio e sanções inequívocas aos envolvidos. Se prevaricar, nossa geração, que acreditava ter deixado os horrores de Auschwitz e Holodomor no passado, pode estar pavimentando o caminho para um futuro igualmente tenebroso.

Perseguições em massa a minorias étnicas e religiosas, campos de concentração, trabalhos compulsórios, lavagem cerebral, tortura, estupros, esterilização forçada. O leitor pode respirar aliviado, como quem desperta de um pesadelo, pensando que esses horrores foram sepultados nos tempos do Holodomor, em lugares como Auschwitz. Mas neste exato momento isso está acontecendo, não num rincão atrasado e obscuro, mas em uma superpotência, a China, na província de Xinjiang, onde a cultura de 11 milhões de uigures muçulmanos está sendo erradicada.

Mesquitas e cemitérios foram demolidos. Manifestações religiosas, como usar barba ou véu, criminalizadas. Os uigures são vigiados por câmeras de reconhecimento facial e softwares em telefones, e obrigados a dar mostras de DNA e escanear a íris para um banco de dados biométricos. Pesquisadores estimam em 2 milhões os detidos em campos de concentração, por violar políticas de “planejamento familiar” e praticar o islamismo. Nos “Centros de Treinamento Vocacional”, chamados “escolas” ou “hospitais”, os detentos são recuperados de sua “doença” ou “ideologia extremista”, sendo forçados, por exemplo, a raspar a barba, comer porco ou beber álcool como formas de renúncia ao islã.

O Partido Comunista chama isso de “desradicalização” e “contraterrorismo”. A ironia horrenda é que é difícil imaginar uma política mais bem talhada para gestar o extremismo.

Após três anos de investigação, um relatório, há muito procrastinado pelo lobby chinês, foi publicado pela comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, nas horas finais de seu mandato. Evidenciando “detenções arbitrárias em larga escala” ao menos desde 2017, o texto pede que o governo chinês investigue “alegações de tortura, violência sexual, maus-tratos, procedimentos médicos forçados, assim como trabalhos compulsórios e relatos de morte sob custódia”. É uma maneira eufemística de pedir que ele pare de perpetrar essas atrocidades. A ONU assevera, na linguagem ultracautelosa caracteristicamente reservada à China, que elas “podem” constituir “crimes internacionais” e “crimes contra a humanidade”.

Mesmo sob camadas de retórica evasiva, as evidências compiladas no relatório são um marco. “Ele pavimenta o caminho para uma ação consequente e tangível dos Estados-membros, corpos da ONU e a comunidade de negócios”, disse Dolkun Isa, presidente do Congresso Mundial Uigur, um grupo ativista. “A responsabilização começa agora.”

O Ocidente não pode evitar um engajamento realista com a China. A satisfação de seus anseios materiais depende de negócios com a China; a paz mundial, da convivência com seu regime; e desafios como a crise climática ou a saúde global, da cooperação com ele. A China é importante demais para ser ignorada. Mas assim o são seus crimes e ameaças. As atrocidades em Xinjiang exigem repúdio e sanções inequívocas aos envolvidos. Se prevaricar, nossa geração, que acreditava ter deixado os horrores de Auschwitz e Holodomor no passado, pode estar pavimentando o caminho para um futuro igualmente tenebroso.

Perseguições em massa a minorias étnicas e religiosas, campos de concentração, trabalhos compulsórios, lavagem cerebral, tortura, estupros, esterilização forçada. O leitor pode respirar aliviado, como quem desperta de um pesadelo, pensando que esses horrores foram sepultados nos tempos do Holodomor, em lugares como Auschwitz. Mas neste exato momento isso está acontecendo, não num rincão atrasado e obscuro, mas em uma superpotência, a China, na província de Xinjiang, onde a cultura de 11 milhões de uigures muçulmanos está sendo erradicada.

Mesquitas e cemitérios foram demolidos. Manifestações religiosas, como usar barba ou véu, criminalizadas. Os uigures são vigiados por câmeras de reconhecimento facial e softwares em telefones, e obrigados a dar mostras de DNA e escanear a íris para um banco de dados biométricos. Pesquisadores estimam em 2 milhões os detidos em campos de concentração, por violar políticas de “planejamento familiar” e praticar o islamismo. Nos “Centros de Treinamento Vocacional”, chamados “escolas” ou “hospitais”, os detentos são recuperados de sua “doença” ou “ideologia extremista”, sendo forçados, por exemplo, a raspar a barba, comer porco ou beber álcool como formas de renúncia ao islã.

O Partido Comunista chama isso de “desradicalização” e “contraterrorismo”. A ironia horrenda é que é difícil imaginar uma política mais bem talhada para gestar o extremismo.

Após três anos de investigação, um relatório, há muito procrastinado pelo lobby chinês, foi publicado pela comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, nas horas finais de seu mandato. Evidenciando “detenções arbitrárias em larga escala” ao menos desde 2017, o texto pede que o governo chinês investigue “alegações de tortura, violência sexual, maus-tratos, procedimentos médicos forçados, assim como trabalhos compulsórios e relatos de morte sob custódia”. É uma maneira eufemística de pedir que ele pare de perpetrar essas atrocidades. A ONU assevera, na linguagem ultracautelosa caracteristicamente reservada à China, que elas “podem” constituir “crimes internacionais” e “crimes contra a humanidade”.

Mesmo sob camadas de retórica evasiva, as evidências compiladas no relatório são um marco. “Ele pavimenta o caminho para uma ação consequente e tangível dos Estados-membros, corpos da ONU e a comunidade de negócios”, disse Dolkun Isa, presidente do Congresso Mundial Uigur, um grupo ativista. “A responsabilização começa agora.”

O Ocidente não pode evitar um engajamento realista com a China. A satisfação de seus anseios materiais depende de negócios com a China; a paz mundial, da convivência com seu regime; e desafios como a crise climática ou a saúde global, da cooperação com ele. A China é importante demais para ser ignorada. Mas assim o são seus crimes e ameaças. As atrocidades em Xinjiang exigem repúdio e sanções inequívocas aos envolvidos. Se prevaricar, nossa geração, que acreditava ter deixado os horrores de Auschwitz e Holodomor no passado, pode estar pavimentando o caminho para um futuro igualmente tenebroso.

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