Opulência e miséria amazônicas


Nunca se falou tanto da Amazônia, mas ela só será de fato protegida e valorizada quando o País conhecê-la melhor e garantir progresso também para a população que vive nela

Por Notas & Informações

Pela urgência climática ou por oportunismo, por um eventual despertar ambiental ou simplesmente modismo, é provável que nunca na história do Brasil se tenha ouvido tanto falar da Amazônia – mas é espantoso o quanto a expansão do debate sobre a maior floresta tropical do planeta parece inversamente proporcional ao conhecimento sobre sua realidade. Esse paradoxo é reafirmado diante da série de reportagens Êxodo na Amazônia, publicada pelo Estadão em 7 de abril e, antes, em três capítulos na versão online. Os repórteres Vinícius Valfré e Wilton Junior percorreram 3 mil quilômetros e descreveram como a violência e a escassez empurram brasileiros para longe da floresta; como o êxodo na floresta agrava a favelização em Manaus e abre brechas para o tráfico e a milícia; e como indígenas dividem rotas fluviais com invasores e traficantes de drogas e armas em viagens de busca por assistência. Tem-se ali uma porção do País incrivelmente conhecida e ao mesmo tempo terrivelmente ignorada.

Essa dissonância demonstra o que deveria ser uma cláusula pétrea nacional, aquela segundo a qual não há riqueza natural ou desenvolvimento de uma região sem existência de progresso real para a sua população. Tampouco há pleno mérito na ampliação do debate sobre a Floresta Amazônica sem que se cumpram requisitos mínimos de dignidade para quem vive nela. Símbolo dos superlativos, ela é também a representação do quanto nos resignamos a conviver com profundas disparidades. A opulência amazônica, afinal, é também a miséria amazônica. O grande potencial da biodiversidade brasileira é também o espaço de pobreza, do perigo e da escassez de toda sorte. No balanço entre perdas e ganhos, como se viu nas reportagens, o saldo é desolador.

Tais problemas não são obra do acaso. Vêm da Marcha para o Oeste, política de ocupação implementada por Getulio Vargas na década de 1940; da fórmula criada durante o governo Café Filho (1955) para atrair a imigração europeia à “terra sem gente” que o Brasil representava – a Região Norte em especial; do projeto de integração nacional do regime militar, nos anos 1960 e 1970, para a ocupação dos vazios demográficos da Amazônia; até os problemas ambientais intensificados nas duas décadas seguintes. Esses modelos ignoraram que o desenvolvimento exigia tanto a proteção e a sustentabilidade da floresta como a produção de riquezas, renda, emprego e alimentos para as populações locais.

continua após a publicidade

A situação agravou-se com Jair Bolsonaro e sua política de terra arrasada na área ambiental, que enxergava as árvores como seus inimigos. Já Lula da Silva, com sua persona camaleônica, trafega entre a tentativa de se exibir como protetor da floresta e o histórico de quem nunca se entusiasmou de fato com o meio ambiente. Em 2010, convém lembrar, Lula entretinha plateias contando a história da perereca impertinente que atrasava obras. “Não podemos parar tudo por causa de uma perereca”, dizia ele, provocando gargalhadas enquanto criticava órgãos de proteção ambiental.

“Nacionalizar a Amazônia e amazonizar o mundo” foi o lema concebido pelo Grupo de Trabalho Amazônico, rede de organizações criada no marco da Rio-92, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Nacionalizar tinha e tem um bom sentido: fazer o restante do Brasil despertar para o bioma, compreender suas realidades, carências e potencialidades, deixar de ver a floresta a partir de imagens extremas. São duas visões radicalmente diferentes em nosso imaginário: uma enxerga a floresta como inferno; a outra, como paraíso.

Conhecer de fato a Amazônia pode ajudar não só a escapar dessa dicotomia, como deflagrar um modelo de desenvolvimento que concilie a valorização da floresta em pé com possibilidades econômicas reais para a região. Só assim o País deixará de vê-la como um ônus de conflitos e desmates que afetam o clima do planeta para concentrar-se no bônus de uma riqueza natural relevante para o planeta, mas capaz de garantir condições básicas para os povos da floresta e das cidades amazônicas.

Pela urgência climática ou por oportunismo, por um eventual despertar ambiental ou simplesmente modismo, é provável que nunca na história do Brasil se tenha ouvido tanto falar da Amazônia – mas é espantoso o quanto a expansão do debate sobre a maior floresta tropical do planeta parece inversamente proporcional ao conhecimento sobre sua realidade. Esse paradoxo é reafirmado diante da série de reportagens Êxodo na Amazônia, publicada pelo Estadão em 7 de abril e, antes, em três capítulos na versão online. Os repórteres Vinícius Valfré e Wilton Junior percorreram 3 mil quilômetros e descreveram como a violência e a escassez empurram brasileiros para longe da floresta; como o êxodo na floresta agrava a favelização em Manaus e abre brechas para o tráfico e a milícia; e como indígenas dividem rotas fluviais com invasores e traficantes de drogas e armas em viagens de busca por assistência. Tem-se ali uma porção do País incrivelmente conhecida e ao mesmo tempo terrivelmente ignorada.

Essa dissonância demonstra o que deveria ser uma cláusula pétrea nacional, aquela segundo a qual não há riqueza natural ou desenvolvimento de uma região sem existência de progresso real para a sua população. Tampouco há pleno mérito na ampliação do debate sobre a Floresta Amazônica sem que se cumpram requisitos mínimos de dignidade para quem vive nela. Símbolo dos superlativos, ela é também a representação do quanto nos resignamos a conviver com profundas disparidades. A opulência amazônica, afinal, é também a miséria amazônica. O grande potencial da biodiversidade brasileira é também o espaço de pobreza, do perigo e da escassez de toda sorte. No balanço entre perdas e ganhos, como se viu nas reportagens, o saldo é desolador.

Tais problemas não são obra do acaso. Vêm da Marcha para o Oeste, política de ocupação implementada por Getulio Vargas na década de 1940; da fórmula criada durante o governo Café Filho (1955) para atrair a imigração europeia à “terra sem gente” que o Brasil representava – a Região Norte em especial; do projeto de integração nacional do regime militar, nos anos 1960 e 1970, para a ocupação dos vazios demográficos da Amazônia; até os problemas ambientais intensificados nas duas décadas seguintes. Esses modelos ignoraram que o desenvolvimento exigia tanto a proteção e a sustentabilidade da floresta como a produção de riquezas, renda, emprego e alimentos para as populações locais.

A situação agravou-se com Jair Bolsonaro e sua política de terra arrasada na área ambiental, que enxergava as árvores como seus inimigos. Já Lula da Silva, com sua persona camaleônica, trafega entre a tentativa de se exibir como protetor da floresta e o histórico de quem nunca se entusiasmou de fato com o meio ambiente. Em 2010, convém lembrar, Lula entretinha plateias contando a história da perereca impertinente que atrasava obras. “Não podemos parar tudo por causa de uma perereca”, dizia ele, provocando gargalhadas enquanto criticava órgãos de proteção ambiental.

“Nacionalizar a Amazônia e amazonizar o mundo” foi o lema concebido pelo Grupo de Trabalho Amazônico, rede de organizações criada no marco da Rio-92, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Nacionalizar tinha e tem um bom sentido: fazer o restante do Brasil despertar para o bioma, compreender suas realidades, carências e potencialidades, deixar de ver a floresta a partir de imagens extremas. São duas visões radicalmente diferentes em nosso imaginário: uma enxerga a floresta como inferno; a outra, como paraíso.

Conhecer de fato a Amazônia pode ajudar não só a escapar dessa dicotomia, como deflagrar um modelo de desenvolvimento que concilie a valorização da floresta em pé com possibilidades econômicas reais para a região. Só assim o País deixará de vê-la como um ônus de conflitos e desmates que afetam o clima do planeta para concentrar-se no bônus de uma riqueza natural relevante para o planeta, mas capaz de garantir condições básicas para os povos da floresta e das cidades amazônicas.

Pela urgência climática ou por oportunismo, por um eventual despertar ambiental ou simplesmente modismo, é provável que nunca na história do Brasil se tenha ouvido tanto falar da Amazônia – mas é espantoso o quanto a expansão do debate sobre a maior floresta tropical do planeta parece inversamente proporcional ao conhecimento sobre sua realidade. Esse paradoxo é reafirmado diante da série de reportagens Êxodo na Amazônia, publicada pelo Estadão em 7 de abril e, antes, em três capítulos na versão online. Os repórteres Vinícius Valfré e Wilton Junior percorreram 3 mil quilômetros e descreveram como a violência e a escassez empurram brasileiros para longe da floresta; como o êxodo na floresta agrava a favelização em Manaus e abre brechas para o tráfico e a milícia; e como indígenas dividem rotas fluviais com invasores e traficantes de drogas e armas em viagens de busca por assistência. Tem-se ali uma porção do País incrivelmente conhecida e ao mesmo tempo terrivelmente ignorada.

Essa dissonância demonstra o que deveria ser uma cláusula pétrea nacional, aquela segundo a qual não há riqueza natural ou desenvolvimento de uma região sem existência de progresso real para a sua população. Tampouco há pleno mérito na ampliação do debate sobre a Floresta Amazônica sem que se cumpram requisitos mínimos de dignidade para quem vive nela. Símbolo dos superlativos, ela é também a representação do quanto nos resignamos a conviver com profundas disparidades. A opulência amazônica, afinal, é também a miséria amazônica. O grande potencial da biodiversidade brasileira é também o espaço de pobreza, do perigo e da escassez de toda sorte. No balanço entre perdas e ganhos, como se viu nas reportagens, o saldo é desolador.

Tais problemas não são obra do acaso. Vêm da Marcha para o Oeste, política de ocupação implementada por Getulio Vargas na década de 1940; da fórmula criada durante o governo Café Filho (1955) para atrair a imigração europeia à “terra sem gente” que o Brasil representava – a Região Norte em especial; do projeto de integração nacional do regime militar, nos anos 1960 e 1970, para a ocupação dos vazios demográficos da Amazônia; até os problemas ambientais intensificados nas duas décadas seguintes. Esses modelos ignoraram que o desenvolvimento exigia tanto a proteção e a sustentabilidade da floresta como a produção de riquezas, renda, emprego e alimentos para as populações locais.

A situação agravou-se com Jair Bolsonaro e sua política de terra arrasada na área ambiental, que enxergava as árvores como seus inimigos. Já Lula da Silva, com sua persona camaleônica, trafega entre a tentativa de se exibir como protetor da floresta e o histórico de quem nunca se entusiasmou de fato com o meio ambiente. Em 2010, convém lembrar, Lula entretinha plateias contando a história da perereca impertinente que atrasava obras. “Não podemos parar tudo por causa de uma perereca”, dizia ele, provocando gargalhadas enquanto criticava órgãos de proteção ambiental.

“Nacionalizar a Amazônia e amazonizar o mundo” foi o lema concebido pelo Grupo de Trabalho Amazônico, rede de organizações criada no marco da Rio-92, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Nacionalizar tinha e tem um bom sentido: fazer o restante do Brasil despertar para o bioma, compreender suas realidades, carências e potencialidades, deixar de ver a floresta a partir de imagens extremas. São duas visões radicalmente diferentes em nosso imaginário: uma enxerga a floresta como inferno; a outra, como paraíso.

Conhecer de fato a Amazônia pode ajudar não só a escapar dessa dicotomia, como deflagrar um modelo de desenvolvimento que concilie a valorização da floresta em pé com possibilidades econômicas reais para a região. Só assim o País deixará de vê-la como um ônus de conflitos e desmates que afetam o clima do planeta para concentrar-se no bônus de uma riqueza natural relevante para o planeta, mas capaz de garantir condições básicas para os povos da floresta e das cidades amazônicas.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.