Os curtos-circuitos do populismo


Como se vê no Reino Unido, que cresceu menos do que poderia e exporta cada vez menos após o Brexit, a cosmovisão simplista dos líderes populistas só agrava os problemas que denunciam

Por Notas&Informações

O populismo é a sombra permanente da democracia representativa. Seu traço mais característico é a divisão maniqueísta da sociedade entre um povo genuíno e uma elite corrupta que controla instituições intermediárias, como os partidos políticos, o Judiciário, a imprensa ou a academia. O líder populista alega que ele, e só ele, representa a vontade do povo, e promete romper as coerções institucionais que o frustram.

Este antielitismo e este antipluralismo são comuns à direita e à esquerda. À esquerda, o populismo usualmente enfatiza a divisão de classes, ataca os ricos e privilegiados e se concentra na regulação da economia. Essa é a forma mais comum na América Latina. À direita, ele explora divisões étnicas ou religiosas e foca nas ameaças das elites liberais e “globalistas” às tradições nacionais. O nativismo é especialmente proeminente na Europa ou EUA.

Explorando frustrações econômicas ou ansiedades identitárias, os populistas tentam ocupar o Estado, demonizar os críticos e aparelhar as instituições. Em campanha permanente, eles geralmente multiplicam os gastos para comprar apoio, levando a crises fiscais, em uma espécie de esquema de “pirâmide”, sempre oferecendo novas e maiores promessas, antes que as velhas sejam cobradas.

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O círculo vicioso é que, quanto mais os líderes populistas se mostram incompetentes na arte de governar, quanto mais as suas aventuras heterodoxas fracassam em entregar os resultados prometidos, mais eles dobram a aposta na polarização, distraindo a atenção do debate público com guerras culturais e combates contra oponentes reais ou fabricados. Cada eleição é uma disputa apocalíptica entre “nós” e “eles”.

O Brexit é um caso exemplar. Como notou a revista The Economist, poucos países pareciam ter um sistema imunológico mais apto a resistir ao vírus populista do que a Inglaterra. O Parlamento é uma das instituições representativas mais antigas do mundo. A última revolução violenta ocorreu em meados do século 17. Seus maiores líderes sempre consideraram referendos como uma ferramenta útil a autoritários e demagogos.

Ainda assim, o país optou por utilizar essa ferramenta para deliberar sobre a questão mais complexa e profunda da política econômica britânica: sua relação com seu principal parceiro político e econômico. Mas durante a campanha essa complexidade foi turvada por ressentimentos identitários e nostalgias nacionalistas. Para muitos eleitores, o referendo foi apenas um pretexto para rejeitar o establishment. “Retomar o controle!” foi o slogan preferido dos brexiteers.

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Previsivelmente, o resultado foi o oposto. O think-tank Centre for European Reform calcula que no fim de 2021 o PIB inglês estava 5,2% abaixo do que estaria sem o Brexit. Os acordos comerciais pós-Brexit não foram suficientes para repor as perdas com a saída do mercado comum europeu. Enredadas por novas burocracias, atrasos na alfândega e tarifas, as empresas inglesas exportaram no final do ano passado 16% menos do que em 2019, enquanto o comércio global cresceu 6%. O declínio na abertura econômica continuará afetando a produtividade e a renda dos ingleses num futuro próximo. 

Os apoiadores do Brexit queriam afirmar a soberania e independência do Parlamento britânico em relação a Bruxelas. Mas, ao obrigá-lo a consumar um divórcio cuja maioria dos parlamentares era contra, precipitou uma turbulência política e mesmo constitucional cujos efeitos perdurarão. O contingente de autoridades na Irlanda do Norte e Escócia que advogam pela sua independência em relação ao Reino Unido cresce a cada dia.

No início das negociações sobre as novas relações econômicas com o bloco europeu, o hoje primeiro-ministro e então ministro das Relações Exteriores, Boris Johnson, estava tão inebriado pelas suas próprias promessas populistas que ousou desafiar um velho adágio do pragmatismo anglo-saxão: “Nossa política é ter o bolo e comê-lo”. Mas o tempo deu razão ao então presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk: “Não haverá bolos na mesa. Para ninguém. Só sal e vinagre”.

O populismo é a sombra permanente da democracia representativa. Seu traço mais característico é a divisão maniqueísta da sociedade entre um povo genuíno e uma elite corrupta que controla instituições intermediárias, como os partidos políticos, o Judiciário, a imprensa ou a academia. O líder populista alega que ele, e só ele, representa a vontade do povo, e promete romper as coerções institucionais que o frustram.

Este antielitismo e este antipluralismo são comuns à direita e à esquerda. À esquerda, o populismo usualmente enfatiza a divisão de classes, ataca os ricos e privilegiados e se concentra na regulação da economia. Essa é a forma mais comum na América Latina. À direita, ele explora divisões étnicas ou religiosas e foca nas ameaças das elites liberais e “globalistas” às tradições nacionais. O nativismo é especialmente proeminente na Europa ou EUA.

Explorando frustrações econômicas ou ansiedades identitárias, os populistas tentam ocupar o Estado, demonizar os críticos e aparelhar as instituições. Em campanha permanente, eles geralmente multiplicam os gastos para comprar apoio, levando a crises fiscais, em uma espécie de esquema de “pirâmide”, sempre oferecendo novas e maiores promessas, antes que as velhas sejam cobradas.

O círculo vicioso é que, quanto mais os líderes populistas se mostram incompetentes na arte de governar, quanto mais as suas aventuras heterodoxas fracassam em entregar os resultados prometidos, mais eles dobram a aposta na polarização, distraindo a atenção do debate público com guerras culturais e combates contra oponentes reais ou fabricados. Cada eleição é uma disputa apocalíptica entre “nós” e “eles”.

O Brexit é um caso exemplar. Como notou a revista The Economist, poucos países pareciam ter um sistema imunológico mais apto a resistir ao vírus populista do que a Inglaterra. O Parlamento é uma das instituições representativas mais antigas do mundo. A última revolução violenta ocorreu em meados do século 17. Seus maiores líderes sempre consideraram referendos como uma ferramenta útil a autoritários e demagogos.

Ainda assim, o país optou por utilizar essa ferramenta para deliberar sobre a questão mais complexa e profunda da política econômica britânica: sua relação com seu principal parceiro político e econômico. Mas durante a campanha essa complexidade foi turvada por ressentimentos identitários e nostalgias nacionalistas. Para muitos eleitores, o referendo foi apenas um pretexto para rejeitar o establishment. “Retomar o controle!” foi o slogan preferido dos brexiteers.

Previsivelmente, o resultado foi o oposto. O think-tank Centre for European Reform calcula que no fim de 2021 o PIB inglês estava 5,2% abaixo do que estaria sem o Brexit. Os acordos comerciais pós-Brexit não foram suficientes para repor as perdas com a saída do mercado comum europeu. Enredadas por novas burocracias, atrasos na alfândega e tarifas, as empresas inglesas exportaram no final do ano passado 16% menos do que em 2019, enquanto o comércio global cresceu 6%. O declínio na abertura econômica continuará afetando a produtividade e a renda dos ingleses num futuro próximo. 

Os apoiadores do Brexit queriam afirmar a soberania e independência do Parlamento britânico em relação a Bruxelas. Mas, ao obrigá-lo a consumar um divórcio cuja maioria dos parlamentares era contra, precipitou uma turbulência política e mesmo constitucional cujos efeitos perdurarão. O contingente de autoridades na Irlanda do Norte e Escócia que advogam pela sua independência em relação ao Reino Unido cresce a cada dia.

No início das negociações sobre as novas relações econômicas com o bloco europeu, o hoje primeiro-ministro e então ministro das Relações Exteriores, Boris Johnson, estava tão inebriado pelas suas próprias promessas populistas que ousou desafiar um velho adágio do pragmatismo anglo-saxão: “Nossa política é ter o bolo e comê-lo”. Mas o tempo deu razão ao então presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk: “Não haverá bolos na mesa. Para ninguém. Só sal e vinagre”.

O populismo é a sombra permanente da democracia representativa. Seu traço mais característico é a divisão maniqueísta da sociedade entre um povo genuíno e uma elite corrupta que controla instituições intermediárias, como os partidos políticos, o Judiciário, a imprensa ou a academia. O líder populista alega que ele, e só ele, representa a vontade do povo, e promete romper as coerções institucionais que o frustram.

Este antielitismo e este antipluralismo são comuns à direita e à esquerda. À esquerda, o populismo usualmente enfatiza a divisão de classes, ataca os ricos e privilegiados e se concentra na regulação da economia. Essa é a forma mais comum na América Latina. À direita, ele explora divisões étnicas ou religiosas e foca nas ameaças das elites liberais e “globalistas” às tradições nacionais. O nativismo é especialmente proeminente na Europa ou EUA.

Explorando frustrações econômicas ou ansiedades identitárias, os populistas tentam ocupar o Estado, demonizar os críticos e aparelhar as instituições. Em campanha permanente, eles geralmente multiplicam os gastos para comprar apoio, levando a crises fiscais, em uma espécie de esquema de “pirâmide”, sempre oferecendo novas e maiores promessas, antes que as velhas sejam cobradas.

O círculo vicioso é que, quanto mais os líderes populistas se mostram incompetentes na arte de governar, quanto mais as suas aventuras heterodoxas fracassam em entregar os resultados prometidos, mais eles dobram a aposta na polarização, distraindo a atenção do debate público com guerras culturais e combates contra oponentes reais ou fabricados. Cada eleição é uma disputa apocalíptica entre “nós” e “eles”.

O Brexit é um caso exemplar. Como notou a revista The Economist, poucos países pareciam ter um sistema imunológico mais apto a resistir ao vírus populista do que a Inglaterra. O Parlamento é uma das instituições representativas mais antigas do mundo. A última revolução violenta ocorreu em meados do século 17. Seus maiores líderes sempre consideraram referendos como uma ferramenta útil a autoritários e demagogos.

Ainda assim, o país optou por utilizar essa ferramenta para deliberar sobre a questão mais complexa e profunda da política econômica britânica: sua relação com seu principal parceiro político e econômico. Mas durante a campanha essa complexidade foi turvada por ressentimentos identitários e nostalgias nacionalistas. Para muitos eleitores, o referendo foi apenas um pretexto para rejeitar o establishment. “Retomar o controle!” foi o slogan preferido dos brexiteers.

Previsivelmente, o resultado foi o oposto. O think-tank Centre for European Reform calcula que no fim de 2021 o PIB inglês estava 5,2% abaixo do que estaria sem o Brexit. Os acordos comerciais pós-Brexit não foram suficientes para repor as perdas com a saída do mercado comum europeu. Enredadas por novas burocracias, atrasos na alfândega e tarifas, as empresas inglesas exportaram no final do ano passado 16% menos do que em 2019, enquanto o comércio global cresceu 6%. O declínio na abertura econômica continuará afetando a produtividade e a renda dos ingleses num futuro próximo. 

Os apoiadores do Brexit queriam afirmar a soberania e independência do Parlamento britânico em relação a Bruxelas. Mas, ao obrigá-lo a consumar um divórcio cuja maioria dos parlamentares era contra, precipitou uma turbulência política e mesmo constitucional cujos efeitos perdurarão. O contingente de autoridades na Irlanda do Norte e Escócia que advogam pela sua independência em relação ao Reino Unido cresce a cada dia.

No início das negociações sobre as novas relações econômicas com o bloco europeu, o hoje primeiro-ministro e então ministro das Relações Exteriores, Boris Johnson, estava tão inebriado pelas suas próprias promessas populistas que ousou desafiar um velho adágio do pragmatismo anglo-saxão: “Nossa política é ter o bolo e comê-lo”. Mas o tempo deu razão ao então presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk: “Não haverá bolos na mesa. Para ninguém. Só sal e vinagre”.

O populismo é a sombra permanente da democracia representativa. Seu traço mais característico é a divisão maniqueísta da sociedade entre um povo genuíno e uma elite corrupta que controla instituições intermediárias, como os partidos políticos, o Judiciário, a imprensa ou a academia. O líder populista alega que ele, e só ele, representa a vontade do povo, e promete romper as coerções institucionais que o frustram.

Este antielitismo e este antipluralismo são comuns à direita e à esquerda. À esquerda, o populismo usualmente enfatiza a divisão de classes, ataca os ricos e privilegiados e se concentra na regulação da economia. Essa é a forma mais comum na América Latina. À direita, ele explora divisões étnicas ou religiosas e foca nas ameaças das elites liberais e “globalistas” às tradições nacionais. O nativismo é especialmente proeminente na Europa ou EUA.

Explorando frustrações econômicas ou ansiedades identitárias, os populistas tentam ocupar o Estado, demonizar os críticos e aparelhar as instituições. Em campanha permanente, eles geralmente multiplicam os gastos para comprar apoio, levando a crises fiscais, em uma espécie de esquema de “pirâmide”, sempre oferecendo novas e maiores promessas, antes que as velhas sejam cobradas.

O círculo vicioso é que, quanto mais os líderes populistas se mostram incompetentes na arte de governar, quanto mais as suas aventuras heterodoxas fracassam em entregar os resultados prometidos, mais eles dobram a aposta na polarização, distraindo a atenção do debate público com guerras culturais e combates contra oponentes reais ou fabricados. Cada eleição é uma disputa apocalíptica entre “nós” e “eles”.

O Brexit é um caso exemplar. Como notou a revista The Economist, poucos países pareciam ter um sistema imunológico mais apto a resistir ao vírus populista do que a Inglaterra. O Parlamento é uma das instituições representativas mais antigas do mundo. A última revolução violenta ocorreu em meados do século 17. Seus maiores líderes sempre consideraram referendos como uma ferramenta útil a autoritários e demagogos.

Ainda assim, o país optou por utilizar essa ferramenta para deliberar sobre a questão mais complexa e profunda da política econômica britânica: sua relação com seu principal parceiro político e econômico. Mas durante a campanha essa complexidade foi turvada por ressentimentos identitários e nostalgias nacionalistas. Para muitos eleitores, o referendo foi apenas um pretexto para rejeitar o establishment. “Retomar o controle!” foi o slogan preferido dos brexiteers.

Previsivelmente, o resultado foi o oposto. O think-tank Centre for European Reform calcula que no fim de 2021 o PIB inglês estava 5,2% abaixo do que estaria sem o Brexit. Os acordos comerciais pós-Brexit não foram suficientes para repor as perdas com a saída do mercado comum europeu. Enredadas por novas burocracias, atrasos na alfândega e tarifas, as empresas inglesas exportaram no final do ano passado 16% menos do que em 2019, enquanto o comércio global cresceu 6%. O declínio na abertura econômica continuará afetando a produtividade e a renda dos ingleses num futuro próximo. 

Os apoiadores do Brexit queriam afirmar a soberania e independência do Parlamento britânico em relação a Bruxelas. Mas, ao obrigá-lo a consumar um divórcio cuja maioria dos parlamentares era contra, precipitou uma turbulência política e mesmo constitucional cujos efeitos perdurarão. O contingente de autoridades na Irlanda do Norte e Escócia que advogam pela sua independência em relação ao Reino Unido cresce a cada dia.

No início das negociações sobre as novas relações econômicas com o bloco europeu, o hoje primeiro-ministro e então ministro das Relações Exteriores, Boris Johnson, estava tão inebriado pelas suas próprias promessas populistas que ousou desafiar um velho adágio do pragmatismo anglo-saxão: “Nossa política é ter o bolo e comê-lo”. Mas o tempo deu razão ao então presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk: “Não haverá bolos na mesa. Para ninguém. Só sal e vinagre”.

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