O sociólogo Paulo Delgado escreve mensalmente na seção Espaço Aberto

Opinião|A morte dos intelectuais


Paulatinamente está sendo consagrada no Brasil a lei de ferro da ignorância...

Por Paulo Delgado

Sem estola, estofo, carmesim ou linho fino, malquistos por meio mundo, poucos parceiros na vigília para romper o sono da universidade, sem influência social na nova geração, cinco deles se foram há poucos dias. Cinco dos maiores intelectuais brasileiros dos últimos anos deixam esta vida no pior momento para a inteligência do País, de total enfraquecimento de todos os princípios. Um efeito cumulativo irrecuperável da falta de paz no dia a dia, fruto exclusivo do fato de a elite política persistir em seu hábito de deixar o País funcionar em termos negativos.

A farra, que só Deus via e hoje não engana mais ninguém, nunca foi desconhecida do intelectual verdadeiro. Não fosse a mania acadêmica, por justificadas razões da época autoritária, de reduzir toda a vida ao engajamento político, talvez fosse mais fácil tornar feliz e compreensível o papel do intelectual para todos. Assim, quem sabe, a irritação com a originalidade da escrita fosse secundária e o gosto pelo conteúdo predominasse. Mas, não. Após a redemocratização os intelectuais passaram a ser analisados e confundidos no caos comum da promiscuidade política e da má gestão dos três Poderes e, por suas proximidades afetivas, muitas vezes, foram sendo desmerecidos. Desvendar sua posição política dispensava de ler seus escritos e cumpria o papel de obscurecer sua obra. Daí para a mediocridade foi um pulo, pois a excelência de um intelectual passou a prescindir de sua inteligência.

Não há no horizonte um novo início alvissareiro para a função dos intelectuais. Desde que o rapapé partidário fez o espírito de rixa tirar o salto alto das colunas sociais, a opinião nacional, desinformada da complexidade das coisas, ganhou mais coragem no uso do ironismo ideológico para fazer sangrar os gigantes da filosofia, história, ética, sociologia, literatura. A admiração pelo estudo e a característica e a personalidade própria da linguagem acadêmica rigorosa perderam espaço para consagrar os clichês do escreve difícil, impenetrável, denso, partidário, militante.

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A religião lunática da política tirou a inteligência do calendário e, em seguida, ramos abandonados da evolução ressurgiram fortes, assombrando o mundo. Estamos totalmente dominados por falsos rótulos, especulações sem efeito, o pior do senso comum, o verdadeiro e o falso misturados como manipulação querendo ser o verossímil. É da fraqueza que surge a arrogância. E uma das suas piores manifestações é não reconhecer a grandeza dos outros.

Ou arranjar força para ter o poder de enfeitiçar todo um país continental como o nosso, sem ter obtido nenhum dos seus dotes de poder como produto do estudo. Há algum tempo está sendo paulatinamente consagrada no Brasil a lei de ferro da ignorância, que expulsa do horizonte o princípio “penso, logo existo”, a súmula do intelectual contra o sectarismo e o fanatismo. Existe cada vez menos espaço para quem possui raciocínio mais convincente, medita demoradamente os seus pensamentos para que se tornem mais claros e compreensíveis.

O caráter mecânico da política, sua matemática falta de exatidão e evidência, permite a ascensão do improvisador nato que desmoraliza o entusiasmo pelo estudo. Tão firmes e sólidos em suas certezas, sempre apoiadas na natureza corporal predominante que usam de forma intimidadora. Deram notoriedade ao estilo rude que consagra os vitoriosos irritados com a vida da mente. O populista não dá descanso e sua intensidade instintiva é confundida com sinceridade e transparência. Ele finge que não se encaixa, ele é a essência do que há de ruim dentro da caixa. O populismo é um fenômeno que consagra um tipo agitado de líder conformista que se sente grande à custa da grandeza do país.

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Não tenho nenhuma pretensão de disputar com os comentaristas da situação brasileira o título de imperador dos intérpretes. Pressinto somente que o caráter brasileiro é um destino mal ativado pela política em curso. O contexto humano em que estão vivendo os intelectuais é o pior possível para a vida da ciência, razão e do humanismo. A falta de escrúpulos de certas épocas incentiva carreirismos e enche de ar pessoas vazias. O desinteresse pela vida intelectual e pelo estudo se torna, então, pragmático. O sobrenatural econômico impregnou de tal forma a realidade que, apesar dos fracassos a que estamos submetidos, continua a reduzir nossa história ao lugar-comum que são os indicadores frios da vida econômica. É uma calamidade fazer vista grossa para o desprestígio da formação moral e intelectual da juventude e menosprezar o papel dos intelectuais na respeitabilidade das nações.

Quando os intelectuais se vão solitários é porque vivemos um tempo de colheitas perdidas. O que acontece num país acontece primeiro com seus grandes pensadores, como numa amálgama de fatos e pessoas. Cabe a estes com sua liberdade de pensamento não deixar que se roube do país sua vitória. É o que me faz lembrar com gratidão de Alfredo Bosi, Leôncio Martins Rodrigues, Roberto Romano, José Arthur Giannotti e Francisco Weffort. O Brasil sabe bem do que sente falta.

SOCIÓLOGO. E-MAIL: CONTATO@PAULODELGADO.COM.BR

Sem estola, estofo, carmesim ou linho fino, malquistos por meio mundo, poucos parceiros na vigília para romper o sono da universidade, sem influência social na nova geração, cinco deles se foram há poucos dias. Cinco dos maiores intelectuais brasileiros dos últimos anos deixam esta vida no pior momento para a inteligência do País, de total enfraquecimento de todos os princípios. Um efeito cumulativo irrecuperável da falta de paz no dia a dia, fruto exclusivo do fato de a elite política persistir em seu hábito de deixar o País funcionar em termos negativos.

A farra, que só Deus via e hoje não engana mais ninguém, nunca foi desconhecida do intelectual verdadeiro. Não fosse a mania acadêmica, por justificadas razões da época autoritária, de reduzir toda a vida ao engajamento político, talvez fosse mais fácil tornar feliz e compreensível o papel do intelectual para todos. Assim, quem sabe, a irritação com a originalidade da escrita fosse secundária e o gosto pelo conteúdo predominasse. Mas, não. Após a redemocratização os intelectuais passaram a ser analisados e confundidos no caos comum da promiscuidade política e da má gestão dos três Poderes e, por suas proximidades afetivas, muitas vezes, foram sendo desmerecidos. Desvendar sua posição política dispensava de ler seus escritos e cumpria o papel de obscurecer sua obra. Daí para a mediocridade foi um pulo, pois a excelência de um intelectual passou a prescindir de sua inteligência.

Não há no horizonte um novo início alvissareiro para a função dos intelectuais. Desde que o rapapé partidário fez o espírito de rixa tirar o salto alto das colunas sociais, a opinião nacional, desinformada da complexidade das coisas, ganhou mais coragem no uso do ironismo ideológico para fazer sangrar os gigantes da filosofia, história, ética, sociologia, literatura. A admiração pelo estudo e a característica e a personalidade própria da linguagem acadêmica rigorosa perderam espaço para consagrar os clichês do escreve difícil, impenetrável, denso, partidário, militante.

A religião lunática da política tirou a inteligência do calendário e, em seguida, ramos abandonados da evolução ressurgiram fortes, assombrando o mundo. Estamos totalmente dominados por falsos rótulos, especulações sem efeito, o pior do senso comum, o verdadeiro e o falso misturados como manipulação querendo ser o verossímil. É da fraqueza que surge a arrogância. E uma das suas piores manifestações é não reconhecer a grandeza dos outros.

Ou arranjar força para ter o poder de enfeitiçar todo um país continental como o nosso, sem ter obtido nenhum dos seus dotes de poder como produto do estudo. Há algum tempo está sendo paulatinamente consagrada no Brasil a lei de ferro da ignorância, que expulsa do horizonte o princípio “penso, logo existo”, a súmula do intelectual contra o sectarismo e o fanatismo. Existe cada vez menos espaço para quem possui raciocínio mais convincente, medita demoradamente os seus pensamentos para que se tornem mais claros e compreensíveis.

O caráter mecânico da política, sua matemática falta de exatidão e evidência, permite a ascensão do improvisador nato que desmoraliza o entusiasmo pelo estudo. Tão firmes e sólidos em suas certezas, sempre apoiadas na natureza corporal predominante que usam de forma intimidadora. Deram notoriedade ao estilo rude que consagra os vitoriosos irritados com a vida da mente. O populista não dá descanso e sua intensidade instintiva é confundida com sinceridade e transparência. Ele finge que não se encaixa, ele é a essência do que há de ruim dentro da caixa. O populismo é um fenômeno que consagra um tipo agitado de líder conformista que se sente grande à custa da grandeza do país.

Não tenho nenhuma pretensão de disputar com os comentaristas da situação brasileira o título de imperador dos intérpretes. Pressinto somente que o caráter brasileiro é um destino mal ativado pela política em curso. O contexto humano em que estão vivendo os intelectuais é o pior possível para a vida da ciência, razão e do humanismo. A falta de escrúpulos de certas épocas incentiva carreirismos e enche de ar pessoas vazias. O desinteresse pela vida intelectual e pelo estudo se torna, então, pragmático. O sobrenatural econômico impregnou de tal forma a realidade que, apesar dos fracassos a que estamos submetidos, continua a reduzir nossa história ao lugar-comum que são os indicadores frios da vida econômica. É uma calamidade fazer vista grossa para o desprestígio da formação moral e intelectual da juventude e menosprezar o papel dos intelectuais na respeitabilidade das nações.

Quando os intelectuais se vão solitários é porque vivemos um tempo de colheitas perdidas. O que acontece num país acontece primeiro com seus grandes pensadores, como numa amálgama de fatos e pessoas. Cabe a estes com sua liberdade de pensamento não deixar que se roube do país sua vitória. É o que me faz lembrar com gratidão de Alfredo Bosi, Leôncio Martins Rodrigues, Roberto Romano, José Arthur Giannotti e Francisco Weffort. O Brasil sabe bem do que sente falta.

SOCIÓLOGO. E-MAIL: CONTATO@PAULODELGADO.COM.BR

Sem estola, estofo, carmesim ou linho fino, malquistos por meio mundo, poucos parceiros na vigília para romper o sono da universidade, sem influência social na nova geração, cinco deles se foram há poucos dias. Cinco dos maiores intelectuais brasileiros dos últimos anos deixam esta vida no pior momento para a inteligência do País, de total enfraquecimento de todos os princípios. Um efeito cumulativo irrecuperável da falta de paz no dia a dia, fruto exclusivo do fato de a elite política persistir em seu hábito de deixar o País funcionar em termos negativos.

A farra, que só Deus via e hoje não engana mais ninguém, nunca foi desconhecida do intelectual verdadeiro. Não fosse a mania acadêmica, por justificadas razões da época autoritária, de reduzir toda a vida ao engajamento político, talvez fosse mais fácil tornar feliz e compreensível o papel do intelectual para todos. Assim, quem sabe, a irritação com a originalidade da escrita fosse secundária e o gosto pelo conteúdo predominasse. Mas, não. Após a redemocratização os intelectuais passaram a ser analisados e confundidos no caos comum da promiscuidade política e da má gestão dos três Poderes e, por suas proximidades afetivas, muitas vezes, foram sendo desmerecidos. Desvendar sua posição política dispensava de ler seus escritos e cumpria o papel de obscurecer sua obra. Daí para a mediocridade foi um pulo, pois a excelência de um intelectual passou a prescindir de sua inteligência.

Não há no horizonte um novo início alvissareiro para a função dos intelectuais. Desde que o rapapé partidário fez o espírito de rixa tirar o salto alto das colunas sociais, a opinião nacional, desinformada da complexidade das coisas, ganhou mais coragem no uso do ironismo ideológico para fazer sangrar os gigantes da filosofia, história, ética, sociologia, literatura. A admiração pelo estudo e a característica e a personalidade própria da linguagem acadêmica rigorosa perderam espaço para consagrar os clichês do escreve difícil, impenetrável, denso, partidário, militante.

A religião lunática da política tirou a inteligência do calendário e, em seguida, ramos abandonados da evolução ressurgiram fortes, assombrando o mundo. Estamos totalmente dominados por falsos rótulos, especulações sem efeito, o pior do senso comum, o verdadeiro e o falso misturados como manipulação querendo ser o verossímil. É da fraqueza que surge a arrogância. E uma das suas piores manifestações é não reconhecer a grandeza dos outros.

Ou arranjar força para ter o poder de enfeitiçar todo um país continental como o nosso, sem ter obtido nenhum dos seus dotes de poder como produto do estudo. Há algum tempo está sendo paulatinamente consagrada no Brasil a lei de ferro da ignorância, que expulsa do horizonte o princípio “penso, logo existo”, a súmula do intelectual contra o sectarismo e o fanatismo. Existe cada vez menos espaço para quem possui raciocínio mais convincente, medita demoradamente os seus pensamentos para que se tornem mais claros e compreensíveis.

O caráter mecânico da política, sua matemática falta de exatidão e evidência, permite a ascensão do improvisador nato que desmoraliza o entusiasmo pelo estudo. Tão firmes e sólidos em suas certezas, sempre apoiadas na natureza corporal predominante que usam de forma intimidadora. Deram notoriedade ao estilo rude que consagra os vitoriosos irritados com a vida da mente. O populista não dá descanso e sua intensidade instintiva é confundida com sinceridade e transparência. Ele finge que não se encaixa, ele é a essência do que há de ruim dentro da caixa. O populismo é um fenômeno que consagra um tipo agitado de líder conformista que se sente grande à custa da grandeza do país.

Não tenho nenhuma pretensão de disputar com os comentaristas da situação brasileira o título de imperador dos intérpretes. Pressinto somente que o caráter brasileiro é um destino mal ativado pela política em curso. O contexto humano em que estão vivendo os intelectuais é o pior possível para a vida da ciência, razão e do humanismo. A falta de escrúpulos de certas épocas incentiva carreirismos e enche de ar pessoas vazias. O desinteresse pela vida intelectual e pelo estudo se torna, então, pragmático. O sobrenatural econômico impregnou de tal forma a realidade que, apesar dos fracassos a que estamos submetidos, continua a reduzir nossa história ao lugar-comum que são os indicadores frios da vida econômica. É uma calamidade fazer vista grossa para o desprestígio da formação moral e intelectual da juventude e menosprezar o papel dos intelectuais na respeitabilidade das nações.

Quando os intelectuais se vão solitários é porque vivemos um tempo de colheitas perdidas. O que acontece num país acontece primeiro com seus grandes pensadores, como numa amálgama de fatos e pessoas. Cabe a estes com sua liberdade de pensamento não deixar que se roube do país sua vitória. É o que me faz lembrar com gratidão de Alfredo Bosi, Leôncio Martins Rodrigues, Roberto Romano, José Arthur Giannotti e Francisco Weffort. O Brasil sabe bem do que sente falta.

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