O sociólogo Paulo Delgado escreve mensalmente na seção Espaço Aberto

Opinião|O sonho como única realidade


Forma estranha de sucesso mistura heresia, decrepitude e zombaria, que desvia a concentração do cidadão da nobreza que é buscar vencer na vida

Por Paulo Delgado

A política eleitoral sucumbe em prol de si mesma em patética autoidolatria. Tudo se expressa quase que exclusivamente em termos pessoais. Tanta confusão, tão pouca luta! Na deformadora escola de eleições, políticos neófitos e partidos autoritários se esquecem de que ninguém vence eleição sem voto dos adversários. Buscar coalizões fora das urnas produz governos sem reserva de poder autêntico e base instável com partidos adversários.

A redemocratização não surgiu do enterro do coronel, nem de uma ordem nacional competitiva, com regras claras em direção à produtividade econômica, ambiente de paz psicossocial e emancipação cultural. Formou-se aos trancos e barrancos em virtude das deficiências na circulação de classes e a crônica desigualdade social que não permite ao País uma grandeza calma previsível para nenhum setor da sociedade.

Agora, o que se vê, é o desdobramento do sistema eleitoral e partidário não cumprir o papel de revigorar o País. Antes avança voraz para se apropriar do indivíduo isolado sem que as instituições do Estado – igualmente individualistas – possam oferecer em contrapartida a força propulsora da organização coletiva. Neste niilismo avassalador cresce o desmembramento do povo brasileiro, reduzindo-o a tribos, guetos, plateias – forma de dissolver seus laços espirituais e culturais e o enquadrar em círculos de influência ao modo patriarcal e colonialista.

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As classes sociais não conseguem mais se manter influentes para modificar e aperfeiçoar a atividade política na direção da república democrática representativa. Vários fatores marcam o País nos últimos anos, com destaque para a religiosidade exaltada e intolerante das igrejas; o mal do século que se tornou o açoite que são as redes sociais e as reformas interrompidas ou deturpadas do modelo político, educacional, jurídico e econômico brasileiro. A precária forma como tratamos problemas estruturais e conjunturais retirou da sociedade a força, o orgulho e o esforço para se projetar na vida pública e atingiu frontalmente o aproveitamento de seus quadros nos processos de gestão do Estado.

Forma estranha de sucesso mistura heresia, decrepitude e zombaria, que desvia a concentração do cidadão da nobreza que é buscar vencer na vida. O trabalho e a riqueza no Brasil não estão no mesmo nível. Não adianta combater bets quando há fortunas tão rápidas que até parecem virtude. Sonhar errado vai continuar a influenciar de forma mística, ingênua ou oportunista pessoas cujo sonho é a única realidade. Startups predadoras, certos açougueiros e sertanejos; não são gênios, nem banqueiros clássicos, industriais pioneiros, inventores, urbanistas ou sanitaristas. Não são especialistas, nem artistas verdadeiros, são o prato principal de animadores do mercado dos ambiciosos, hipnotizadores que os fazem parecer normais.

Nada sabem de práticas exemplares. Espancam leis, não se submetem ao seu poder, antes as fizeram de escravas. Não nasceram da vontade geral, mas nela se meteram por refinados ardis que tiram a autonomia de qualquer público e o transforma em gente idiotizada. Quando se infiltram no meio da massa reduzem qualquer possibilidade de formação de opinião. É mentira que os que jogam perdem mais. Quem perde sempre é sempre quem não joga. Pobres não apostam na impulsividade sem limites das maquininhas do poder jurídico-político.

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O País está cansado dos fatos que não dão em nada e mais parecem um disparate. Há uma cisão que está em curso na cabeça do cidadão em virtude da ruína dos partidos, do Direito e da lei e dos erros detalhados da liberdade e dos privilégios dos que os consumaram para si. Bilionário exibido e entrosado permite supor que no Brasil é possível conciliar tudo isso com a graça eficaz da autoridade que se orienta pelo princípio de legitimidade operacional que visa, de tempos em tempos, a tornar tudo controverso e paradoxal. Vem dos juízes purificadores o phátos das vozes e sentenças espantosas que temos que suportar. Uns não estão nem aí, outros são o “aí”.

A eleição é um grito de alerta. O feudalismo de donos do inconsciente coletivo nos espreita. Riqueza fácil, campanha cara e maus candidatos são irmãos gêmeos da carne que corta, dinheiro apreendido, medidas provisórias, emendas parlamentares, tribunais de faz de conta, jogos de azar, liminar encomendada. Olhando bem certas regras que fazem alguns tipos prosperarem, observamos que um é o outro revelado em suas atitudes cujos traços estão aí na realidade da vida das instituições. Eles são um outro de si mesmo. Há outros náufragos que navegam pelas ondas da política e da justiça do interesse, mudam de lado com as marés e se aquecem pelo calor corrosivo do poder.

O individualismo triunfante deve ser visto como freio à igualdade social geral. Está evidente a prosperidade de pessoas bizarras, coaches, influencers – evacuadores de regra, diria meu avô português – que impedem as instituições de se expressarem por sua história.

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Assim como a qualidade de rico e de cultura não se adquire com riqueza ou poder, a grandeza do titular de certos cargos e fortunas costuma inspirar mais piedade do que respeito.

*

É SOCIÓLOGO. E-MAIL: CONTATO@PAULODELGADO.COM.BR

A política eleitoral sucumbe em prol de si mesma em patética autoidolatria. Tudo se expressa quase que exclusivamente em termos pessoais. Tanta confusão, tão pouca luta! Na deformadora escola de eleições, políticos neófitos e partidos autoritários se esquecem de que ninguém vence eleição sem voto dos adversários. Buscar coalizões fora das urnas produz governos sem reserva de poder autêntico e base instável com partidos adversários.

A redemocratização não surgiu do enterro do coronel, nem de uma ordem nacional competitiva, com regras claras em direção à produtividade econômica, ambiente de paz psicossocial e emancipação cultural. Formou-se aos trancos e barrancos em virtude das deficiências na circulação de classes e a crônica desigualdade social que não permite ao País uma grandeza calma previsível para nenhum setor da sociedade.

Agora, o que se vê, é o desdobramento do sistema eleitoral e partidário não cumprir o papel de revigorar o País. Antes avança voraz para se apropriar do indivíduo isolado sem que as instituições do Estado – igualmente individualistas – possam oferecer em contrapartida a força propulsora da organização coletiva. Neste niilismo avassalador cresce o desmembramento do povo brasileiro, reduzindo-o a tribos, guetos, plateias – forma de dissolver seus laços espirituais e culturais e o enquadrar em círculos de influência ao modo patriarcal e colonialista.

As classes sociais não conseguem mais se manter influentes para modificar e aperfeiçoar a atividade política na direção da república democrática representativa. Vários fatores marcam o País nos últimos anos, com destaque para a religiosidade exaltada e intolerante das igrejas; o mal do século que se tornou o açoite que são as redes sociais e as reformas interrompidas ou deturpadas do modelo político, educacional, jurídico e econômico brasileiro. A precária forma como tratamos problemas estruturais e conjunturais retirou da sociedade a força, o orgulho e o esforço para se projetar na vida pública e atingiu frontalmente o aproveitamento de seus quadros nos processos de gestão do Estado.

Forma estranha de sucesso mistura heresia, decrepitude e zombaria, que desvia a concentração do cidadão da nobreza que é buscar vencer na vida. O trabalho e a riqueza no Brasil não estão no mesmo nível. Não adianta combater bets quando há fortunas tão rápidas que até parecem virtude. Sonhar errado vai continuar a influenciar de forma mística, ingênua ou oportunista pessoas cujo sonho é a única realidade. Startups predadoras, certos açougueiros e sertanejos; não são gênios, nem banqueiros clássicos, industriais pioneiros, inventores, urbanistas ou sanitaristas. Não são especialistas, nem artistas verdadeiros, são o prato principal de animadores do mercado dos ambiciosos, hipnotizadores que os fazem parecer normais.

Nada sabem de práticas exemplares. Espancam leis, não se submetem ao seu poder, antes as fizeram de escravas. Não nasceram da vontade geral, mas nela se meteram por refinados ardis que tiram a autonomia de qualquer público e o transforma em gente idiotizada. Quando se infiltram no meio da massa reduzem qualquer possibilidade de formação de opinião. É mentira que os que jogam perdem mais. Quem perde sempre é sempre quem não joga. Pobres não apostam na impulsividade sem limites das maquininhas do poder jurídico-político.

O País está cansado dos fatos que não dão em nada e mais parecem um disparate. Há uma cisão que está em curso na cabeça do cidadão em virtude da ruína dos partidos, do Direito e da lei e dos erros detalhados da liberdade e dos privilégios dos que os consumaram para si. Bilionário exibido e entrosado permite supor que no Brasil é possível conciliar tudo isso com a graça eficaz da autoridade que se orienta pelo princípio de legitimidade operacional que visa, de tempos em tempos, a tornar tudo controverso e paradoxal. Vem dos juízes purificadores o phátos das vozes e sentenças espantosas que temos que suportar. Uns não estão nem aí, outros são o “aí”.

A eleição é um grito de alerta. O feudalismo de donos do inconsciente coletivo nos espreita. Riqueza fácil, campanha cara e maus candidatos são irmãos gêmeos da carne que corta, dinheiro apreendido, medidas provisórias, emendas parlamentares, tribunais de faz de conta, jogos de azar, liminar encomendada. Olhando bem certas regras que fazem alguns tipos prosperarem, observamos que um é o outro revelado em suas atitudes cujos traços estão aí na realidade da vida das instituições. Eles são um outro de si mesmo. Há outros náufragos que navegam pelas ondas da política e da justiça do interesse, mudam de lado com as marés e se aquecem pelo calor corrosivo do poder.

O individualismo triunfante deve ser visto como freio à igualdade social geral. Está evidente a prosperidade de pessoas bizarras, coaches, influencers – evacuadores de regra, diria meu avô português – que impedem as instituições de se expressarem por sua história.

Assim como a qualidade de rico e de cultura não se adquire com riqueza ou poder, a grandeza do titular de certos cargos e fortunas costuma inspirar mais piedade do que respeito.

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É SOCIÓLOGO. E-MAIL: CONTATO@PAULODELGADO.COM.BR

A política eleitoral sucumbe em prol de si mesma em patética autoidolatria. Tudo se expressa quase que exclusivamente em termos pessoais. Tanta confusão, tão pouca luta! Na deformadora escola de eleições, políticos neófitos e partidos autoritários se esquecem de que ninguém vence eleição sem voto dos adversários. Buscar coalizões fora das urnas produz governos sem reserva de poder autêntico e base instável com partidos adversários.

A redemocratização não surgiu do enterro do coronel, nem de uma ordem nacional competitiva, com regras claras em direção à produtividade econômica, ambiente de paz psicossocial e emancipação cultural. Formou-se aos trancos e barrancos em virtude das deficiências na circulação de classes e a crônica desigualdade social que não permite ao País uma grandeza calma previsível para nenhum setor da sociedade.

Agora, o que se vê, é o desdobramento do sistema eleitoral e partidário não cumprir o papel de revigorar o País. Antes avança voraz para se apropriar do indivíduo isolado sem que as instituições do Estado – igualmente individualistas – possam oferecer em contrapartida a força propulsora da organização coletiva. Neste niilismo avassalador cresce o desmembramento do povo brasileiro, reduzindo-o a tribos, guetos, plateias – forma de dissolver seus laços espirituais e culturais e o enquadrar em círculos de influência ao modo patriarcal e colonialista.

As classes sociais não conseguem mais se manter influentes para modificar e aperfeiçoar a atividade política na direção da república democrática representativa. Vários fatores marcam o País nos últimos anos, com destaque para a religiosidade exaltada e intolerante das igrejas; o mal do século que se tornou o açoite que são as redes sociais e as reformas interrompidas ou deturpadas do modelo político, educacional, jurídico e econômico brasileiro. A precária forma como tratamos problemas estruturais e conjunturais retirou da sociedade a força, o orgulho e o esforço para se projetar na vida pública e atingiu frontalmente o aproveitamento de seus quadros nos processos de gestão do Estado.

Forma estranha de sucesso mistura heresia, decrepitude e zombaria, que desvia a concentração do cidadão da nobreza que é buscar vencer na vida. O trabalho e a riqueza no Brasil não estão no mesmo nível. Não adianta combater bets quando há fortunas tão rápidas que até parecem virtude. Sonhar errado vai continuar a influenciar de forma mística, ingênua ou oportunista pessoas cujo sonho é a única realidade. Startups predadoras, certos açougueiros e sertanejos; não são gênios, nem banqueiros clássicos, industriais pioneiros, inventores, urbanistas ou sanitaristas. Não são especialistas, nem artistas verdadeiros, são o prato principal de animadores do mercado dos ambiciosos, hipnotizadores que os fazem parecer normais.

Nada sabem de práticas exemplares. Espancam leis, não se submetem ao seu poder, antes as fizeram de escravas. Não nasceram da vontade geral, mas nela se meteram por refinados ardis que tiram a autonomia de qualquer público e o transforma em gente idiotizada. Quando se infiltram no meio da massa reduzem qualquer possibilidade de formação de opinião. É mentira que os que jogam perdem mais. Quem perde sempre é sempre quem não joga. Pobres não apostam na impulsividade sem limites das maquininhas do poder jurídico-político.

O País está cansado dos fatos que não dão em nada e mais parecem um disparate. Há uma cisão que está em curso na cabeça do cidadão em virtude da ruína dos partidos, do Direito e da lei e dos erros detalhados da liberdade e dos privilégios dos que os consumaram para si. Bilionário exibido e entrosado permite supor que no Brasil é possível conciliar tudo isso com a graça eficaz da autoridade que se orienta pelo princípio de legitimidade operacional que visa, de tempos em tempos, a tornar tudo controverso e paradoxal. Vem dos juízes purificadores o phátos das vozes e sentenças espantosas que temos que suportar. Uns não estão nem aí, outros são o “aí”.

A eleição é um grito de alerta. O feudalismo de donos do inconsciente coletivo nos espreita. Riqueza fácil, campanha cara e maus candidatos são irmãos gêmeos da carne que corta, dinheiro apreendido, medidas provisórias, emendas parlamentares, tribunais de faz de conta, jogos de azar, liminar encomendada. Olhando bem certas regras que fazem alguns tipos prosperarem, observamos que um é o outro revelado em suas atitudes cujos traços estão aí na realidade da vida das instituições. Eles são um outro de si mesmo. Há outros náufragos que navegam pelas ondas da política e da justiça do interesse, mudam de lado com as marés e se aquecem pelo calor corrosivo do poder.

O individualismo triunfante deve ser visto como freio à igualdade social geral. Está evidente a prosperidade de pessoas bizarras, coaches, influencers – evacuadores de regra, diria meu avô português – que impedem as instituições de se expressarem por sua história.

Assim como a qualidade de rico e de cultura não se adquire com riqueza ou poder, a grandeza do titular de certos cargos e fortunas costuma inspirar mais piedade do que respeito.

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É SOCIÓLOGO. E-MAIL: CONTATO@PAULODELGADO.COM.BR

A política eleitoral sucumbe em prol de si mesma em patética autoidolatria. Tudo se expressa quase que exclusivamente em termos pessoais. Tanta confusão, tão pouca luta! Na deformadora escola de eleições, políticos neófitos e partidos autoritários se esquecem de que ninguém vence eleição sem voto dos adversários. Buscar coalizões fora das urnas produz governos sem reserva de poder autêntico e base instável com partidos adversários.

A redemocratização não surgiu do enterro do coronel, nem de uma ordem nacional competitiva, com regras claras em direção à produtividade econômica, ambiente de paz psicossocial e emancipação cultural. Formou-se aos trancos e barrancos em virtude das deficiências na circulação de classes e a crônica desigualdade social que não permite ao País uma grandeza calma previsível para nenhum setor da sociedade.

Agora, o que se vê, é o desdobramento do sistema eleitoral e partidário não cumprir o papel de revigorar o País. Antes avança voraz para se apropriar do indivíduo isolado sem que as instituições do Estado – igualmente individualistas – possam oferecer em contrapartida a força propulsora da organização coletiva. Neste niilismo avassalador cresce o desmembramento do povo brasileiro, reduzindo-o a tribos, guetos, plateias – forma de dissolver seus laços espirituais e culturais e o enquadrar em círculos de influência ao modo patriarcal e colonialista.

As classes sociais não conseguem mais se manter influentes para modificar e aperfeiçoar a atividade política na direção da república democrática representativa. Vários fatores marcam o País nos últimos anos, com destaque para a religiosidade exaltada e intolerante das igrejas; o mal do século que se tornou o açoite que são as redes sociais e as reformas interrompidas ou deturpadas do modelo político, educacional, jurídico e econômico brasileiro. A precária forma como tratamos problemas estruturais e conjunturais retirou da sociedade a força, o orgulho e o esforço para se projetar na vida pública e atingiu frontalmente o aproveitamento de seus quadros nos processos de gestão do Estado.

Forma estranha de sucesso mistura heresia, decrepitude e zombaria, que desvia a concentração do cidadão da nobreza que é buscar vencer na vida. O trabalho e a riqueza no Brasil não estão no mesmo nível. Não adianta combater bets quando há fortunas tão rápidas que até parecem virtude. Sonhar errado vai continuar a influenciar de forma mística, ingênua ou oportunista pessoas cujo sonho é a única realidade. Startups predadoras, certos açougueiros e sertanejos; não são gênios, nem banqueiros clássicos, industriais pioneiros, inventores, urbanistas ou sanitaristas. Não são especialistas, nem artistas verdadeiros, são o prato principal de animadores do mercado dos ambiciosos, hipnotizadores que os fazem parecer normais.

Nada sabem de práticas exemplares. Espancam leis, não se submetem ao seu poder, antes as fizeram de escravas. Não nasceram da vontade geral, mas nela se meteram por refinados ardis que tiram a autonomia de qualquer público e o transforma em gente idiotizada. Quando se infiltram no meio da massa reduzem qualquer possibilidade de formação de opinião. É mentira que os que jogam perdem mais. Quem perde sempre é sempre quem não joga. Pobres não apostam na impulsividade sem limites das maquininhas do poder jurídico-político.

O País está cansado dos fatos que não dão em nada e mais parecem um disparate. Há uma cisão que está em curso na cabeça do cidadão em virtude da ruína dos partidos, do Direito e da lei e dos erros detalhados da liberdade e dos privilégios dos que os consumaram para si. Bilionário exibido e entrosado permite supor que no Brasil é possível conciliar tudo isso com a graça eficaz da autoridade que se orienta pelo princípio de legitimidade operacional que visa, de tempos em tempos, a tornar tudo controverso e paradoxal. Vem dos juízes purificadores o phátos das vozes e sentenças espantosas que temos que suportar. Uns não estão nem aí, outros são o “aí”.

A eleição é um grito de alerta. O feudalismo de donos do inconsciente coletivo nos espreita. Riqueza fácil, campanha cara e maus candidatos são irmãos gêmeos da carne que corta, dinheiro apreendido, medidas provisórias, emendas parlamentares, tribunais de faz de conta, jogos de azar, liminar encomendada. Olhando bem certas regras que fazem alguns tipos prosperarem, observamos que um é o outro revelado em suas atitudes cujos traços estão aí na realidade da vida das instituições. Eles são um outro de si mesmo. Há outros náufragos que navegam pelas ondas da política e da justiça do interesse, mudam de lado com as marés e se aquecem pelo calor corrosivo do poder.

O individualismo triunfante deve ser visto como freio à igualdade social geral. Está evidente a prosperidade de pessoas bizarras, coaches, influencers – evacuadores de regra, diria meu avô português – que impedem as instituições de se expressarem por sua história.

Assim como a qualidade de rico e de cultura não se adquire com riqueza ou poder, a grandeza do titular de certos cargos e fortunas costuma inspirar mais piedade do que respeito.

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