Jornalista, É Pesquisador Sênior Do Brazil Institute Do Wilson Center, em Washington

Opinião|O dilema de Biden após perder debate para Trump


Manter a candidatura e ser derrotado ou desistir e apostar em Michelle Obama ou Gretchen Whitmer?

Por Paulo Sotero

O adiamento para 18 de setembro da sentença do ex-presidente Donald Trump, inicialmente esperada nesta terça-feira, complicou os cálculos do presidente Joe Biden, de 81 anos, frente ao movimento desencadeado no Partido Democrata e na imprensa simpatizante para que ele desista da candidatura à reeleição, depois de seu decepcionante desempenho no debate de 27 de junho com Trump, de 78 anos.

A sentença, num tribunal do Estado de Nova York, refere-se a um processo criminal que resultou na condenação unânime do ex-presidente por um júri popular por alterar documentos de sua empresa para acobertar pagamento de US$ 130 mil a uma estrela de filmes pornôs, com quem transou quatro meses depois de sua mulher, Melania, dar à luz o filho Baron, em março de 2006. Por ser um processo da Justiça estadual, a decisão da Suprema Corte, na última terça-feira, de reconhecer imunidade parcial do presidente em casos federais não beneficia Trump.

Biden, apoiado por sua mulher Jill e a família, rejeitou até agora descandidatar-se. Talvez calculasse, considerando a data inicial da sentença contra Trump, que uma reação negativa do público ao sentenciamento de Trump compensaria o dano eleitoral que se autoinfligiu no debate realizado por sua iniciativa. Mas essas são águas passadas.

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Trump, um populista carismático que mente pelos cotovelos, como se viu no embate televisivo, certamente usará o anúncio da sentença para manter sua base mobilizada e levantar milhões de dólares para sua campanha, como ocorreu durante o seu julgamento, encerrado em maio. Os dados de hoje apontam para a vitória de Trump em 5 de novembro e o início do pesadelo que Biden quer evitar e afirma ser o motivo de sua candidatura.

Na hipótese de ele aceitar retirar-se e acatar os conselhos públicos de jornalistas e articulistas influentes e seus correligionários e simpatizantes, como Thomas Friedman, do New York Times, os editorialistas do Washington Post e do NY Times, bem como o desejo expresso de perto de 80% dos eleitores, insatisfeitos com a escolha à frente, o cenário se transformará. Nesse caso, o Partido Democrata terá uma convenção aberta, que escolherá entre candidatos na faixa dos 50, 60 anos, todos políticos experientes com chances de vencer Trump.

A popular ex-primeira-dama Michelle Obama disse em março que não será candidata. Mas, segundo pesquisa Ipsos feita após o debate, ela bateria Trump por 50% a 39% se as eleições fossem hoje.

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A vice-presidente Kamala Harris, descendente de negro e indiana, foi promotora, secretária da Justiça e senadora da Califórnia, o Estado mais populoso do país. Uma vice apagada, com problemas de administração de sua própria assessoria, ela se fortaleceu e ganhou espaço recentemente. É incisiva diante de um microfone e não tem papas na língua.

O governador reeleito da Califórnia, Gavin Newsom, é um político tarimbado e eficaz. Foi prefeito de São Francisco, vice-governador por oito anos e pequeno empresário de sucesso no ramo de restaurantes. Outro postulante potencial é o governador da Pensilvânia, Joshua Shapiro, que assumiu no ano passado e mantém boas taxas de aprovação.

A governadora reeleita de Michigan, Gretchen Whitmer, próxima de Biden, poderia emergir como uma forte candidata na convenção do partido, de 19 a 22 de agosto, em Chicago, com o endosso do presidente, caso ele desista da candidatura, e de Barack e Michelle Obama. Bem avaliada, Whitmer, uma ex-promotora, emergiu na política como líder no Legislativo de seu Estado. Ganhou projeção nacional como porta-voz do partido na resposta ao discurso de Trump sobre o estado da União, em 2020, e, depois, como alvo de uma conspiração de ultradireitistas que pretendia sequestrá-la e foi desbaratada a tempo pelo FBI.

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É uma governadora competente, uma mulher tão vistosa como Michelle Obama, e uma política habilidosa, forte em temas da pauta eleitoral, como aborto e saúde reprodutiva, economia, combate à corrupção e defesa da democracia e do primado da lei, estes dois últimos alçados por Biden aos quatro ou cinco itens mais importantes da disputa, segundo pesquisas feitas nas duas últimas semanas. A bem da transparência, moro nos EUA há mais de quatro décadas, sou cidadão e eleitor há 15 anos e votaria para Whitmer. E para Michelle Obama, é claro, na hipótese de ela ser convencida a entrar disputa. A escolha de Michelle Obama ou mesmo de Gretchen Whitmer facilitaria talvez o arranjo que precisa ser articulado nos bastidores antes da convenção.

Biden entraria para a História como um dos mais produtivos presidentes dos EUA nos últimos cem anos, em termos legislativos, segundo respeitados jornalistas e historiadores. Sua derradeira contribuição como chefe do governo até 20 de janeiro de 2025 seria conter a insurreição que Trump e seus seguidores provavelmente desencadearão para melar a sucessão. O ex-presidente já afirmou que só perde se houver fraude nas eleições. Trata-se do mesmo falso argumento que usou para convocar a Washington seus adeptos, que invadiram e depredaram a sede do Congresso em 6 de janeiro de 2021, numa tentativa criminosa, à república bananeira, de impedir a certificação da incontestável vitória de Biden, por 306 a 232 votos eleitorais e 51,3% da votação popular.

*

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JORNALISTA, PESQUISADOR SÊNIOR DO BRAZIL INSTITUTE NO WILSON CENTER EM WASHINGTON, FOI CORRESPONDENTE DO ‘ESTADÃO’ NOS EUA

O adiamento para 18 de setembro da sentença do ex-presidente Donald Trump, inicialmente esperada nesta terça-feira, complicou os cálculos do presidente Joe Biden, de 81 anos, frente ao movimento desencadeado no Partido Democrata e na imprensa simpatizante para que ele desista da candidatura à reeleição, depois de seu decepcionante desempenho no debate de 27 de junho com Trump, de 78 anos.

A sentença, num tribunal do Estado de Nova York, refere-se a um processo criminal que resultou na condenação unânime do ex-presidente por um júri popular por alterar documentos de sua empresa para acobertar pagamento de US$ 130 mil a uma estrela de filmes pornôs, com quem transou quatro meses depois de sua mulher, Melania, dar à luz o filho Baron, em março de 2006. Por ser um processo da Justiça estadual, a decisão da Suprema Corte, na última terça-feira, de reconhecer imunidade parcial do presidente em casos federais não beneficia Trump.

Biden, apoiado por sua mulher Jill e a família, rejeitou até agora descandidatar-se. Talvez calculasse, considerando a data inicial da sentença contra Trump, que uma reação negativa do público ao sentenciamento de Trump compensaria o dano eleitoral que se autoinfligiu no debate realizado por sua iniciativa. Mas essas são águas passadas.

Trump, um populista carismático que mente pelos cotovelos, como se viu no embate televisivo, certamente usará o anúncio da sentença para manter sua base mobilizada e levantar milhões de dólares para sua campanha, como ocorreu durante o seu julgamento, encerrado em maio. Os dados de hoje apontam para a vitória de Trump em 5 de novembro e o início do pesadelo que Biden quer evitar e afirma ser o motivo de sua candidatura.

Na hipótese de ele aceitar retirar-se e acatar os conselhos públicos de jornalistas e articulistas influentes e seus correligionários e simpatizantes, como Thomas Friedman, do New York Times, os editorialistas do Washington Post e do NY Times, bem como o desejo expresso de perto de 80% dos eleitores, insatisfeitos com a escolha à frente, o cenário se transformará. Nesse caso, o Partido Democrata terá uma convenção aberta, que escolherá entre candidatos na faixa dos 50, 60 anos, todos políticos experientes com chances de vencer Trump.

A popular ex-primeira-dama Michelle Obama disse em março que não será candidata. Mas, segundo pesquisa Ipsos feita após o debate, ela bateria Trump por 50% a 39% se as eleições fossem hoje.

A vice-presidente Kamala Harris, descendente de negro e indiana, foi promotora, secretária da Justiça e senadora da Califórnia, o Estado mais populoso do país. Uma vice apagada, com problemas de administração de sua própria assessoria, ela se fortaleceu e ganhou espaço recentemente. É incisiva diante de um microfone e não tem papas na língua.

O governador reeleito da Califórnia, Gavin Newsom, é um político tarimbado e eficaz. Foi prefeito de São Francisco, vice-governador por oito anos e pequeno empresário de sucesso no ramo de restaurantes. Outro postulante potencial é o governador da Pensilvânia, Joshua Shapiro, que assumiu no ano passado e mantém boas taxas de aprovação.

A governadora reeleita de Michigan, Gretchen Whitmer, próxima de Biden, poderia emergir como uma forte candidata na convenção do partido, de 19 a 22 de agosto, em Chicago, com o endosso do presidente, caso ele desista da candidatura, e de Barack e Michelle Obama. Bem avaliada, Whitmer, uma ex-promotora, emergiu na política como líder no Legislativo de seu Estado. Ganhou projeção nacional como porta-voz do partido na resposta ao discurso de Trump sobre o estado da União, em 2020, e, depois, como alvo de uma conspiração de ultradireitistas que pretendia sequestrá-la e foi desbaratada a tempo pelo FBI.

É uma governadora competente, uma mulher tão vistosa como Michelle Obama, e uma política habilidosa, forte em temas da pauta eleitoral, como aborto e saúde reprodutiva, economia, combate à corrupção e defesa da democracia e do primado da lei, estes dois últimos alçados por Biden aos quatro ou cinco itens mais importantes da disputa, segundo pesquisas feitas nas duas últimas semanas. A bem da transparência, moro nos EUA há mais de quatro décadas, sou cidadão e eleitor há 15 anos e votaria para Whitmer. E para Michelle Obama, é claro, na hipótese de ela ser convencida a entrar disputa. A escolha de Michelle Obama ou mesmo de Gretchen Whitmer facilitaria talvez o arranjo que precisa ser articulado nos bastidores antes da convenção.

Biden entraria para a História como um dos mais produtivos presidentes dos EUA nos últimos cem anos, em termos legislativos, segundo respeitados jornalistas e historiadores. Sua derradeira contribuição como chefe do governo até 20 de janeiro de 2025 seria conter a insurreição que Trump e seus seguidores provavelmente desencadearão para melar a sucessão. O ex-presidente já afirmou que só perde se houver fraude nas eleições. Trata-se do mesmo falso argumento que usou para convocar a Washington seus adeptos, que invadiram e depredaram a sede do Congresso em 6 de janeiro de 2021, numa tentativa criminosa, à república bananeira, de impedir a certificação da incontestável vitória de Biden, por 306 a 232 votos eleitorais e 51,3% da votação popular.

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JORNALISTA, PESQUISADOR SÊNIOR DO BRAZIL INSTITUTE NO WILSON CENTER EM WASHINGTON, FOI CORRESPONDENTE DO ‘ESTADÃO’ NOS EUA

O adiamento para 18 de setembro da sentença do ex-presidente Donald Trump, inicialmente esperada nesta terça-feira, complicou os cálculos do presidente Joe Biden, de 81 anos, frente ao movimento desencadeado no Partido Democrata e na imprensa simpatizante para que ele desista da candidatura à reeleição, depois de seu decepcionante desempenho no debate de 27 de junho com Trump, de 78 anos.

A sentença, num tribunal do Estado de Nova York, refere-se a um processo criminal que resultou na condenação unânime do ex-presidente por um júri popular por alterar documentos de sua empresa para acobertar pagamento de US$ 130 mil a uma estrela de filmes pornôs, com quem transou quatro meses depois de sua mulher, Melania, dar à luz o filho Baron, em março de 2006. Por ser um processo da Justiça estadual, a decisão da Suprema Corte, na última terça-feira, de reconhecer imunidade parcial do presidente em casos federais não beneficia Trump.

Biden, apoiado por sua mulher Jill e a família, rejeitou até agora descandidatar-se. Talvez calculasse, considerando a data inicial da sentença contra Trump, que uma reação negativa do público ao sentenciamento de Trump compensaria o dano eleitoral que se autoinfligiu no debate realizado por sua iniciativa. Mas essas são águas passadas.

Trump, um populista carismático que mente pelos cotovelos, como se viu no embate televisivo, certamente usará o anúncio da sentença para manter sua base mobilizada e levantar milhões de dólares para sua campanha, como ocorreu durante o seu julgamento, encerrado em maio. Os dados de hoje apontam para a vitória de Trump em 5 de novembro e o início do pesadelo que Biden quer evitar e afirma ser o motivo de sua candidatura.

Na hipótese de ele aceitar retirar-se e acatar os conselhos públicos de jornalistas e articulistas influentes e seus correligionários e simpatizantes, como Thomas Friedman, do New York Times, os editorialistas do Washington Post e do NY Times, bem como o desejo expresso de perto de 80% dos eleitores, insatisfeitos com a escolha à frente, o cenário se transformará. Nesse caso, o Partido Democrata terá uma convenção aberta, que escolherá entre candidatos na faixa dos 50, 60 anos, todos políticos experientes com chances de vencer Trump.

A popular ex-primeira-dama Michelle Obama disse em março que não será candidata. Mas, segundo pesquisa Ipsos feita após o debate, ela bateria Trump por 50% a 39% se as eleições fossem hoje.

A vice-presidente Kamala Harris, descendente de negro e indiana, foi promotora, secretária da Justiça e senadora da Califórnia, o Estado mais populoso do país. Uma vice apagada, com problemas de administração de sua própria assessoria, ela se fortaleceu e ganhou espaço recentemente. É incisiva diante de um microfone e não tem papas na língua.

O governador reeleito da Califórnia, Gavin Newsom, é um político tarimbado e eficaz. Foi prefeito de São Francisco, vice-governador por oito anos e pequeno empresário de sucesso no ramo de restaurantes. Outro postulante potencial é o governador da Pensilvânia, Joshua Shapiro, que assumiu no ano passado e mantém boas taxas de aprovação.

A governadora reeleita de Michigan, Gretchen Whitmer, próxima de Biden, poderia emergir como uma forte candidata na convenção do partido, de 19 a 22 de agosto, em Chicago, com o endosso do presidente, caso ele desista da candidatura, e de Barack e Michelle Obama. Bem avaliada, Whitmer, uma ex-promotora, emergiu na política como líder no Legislativo de seu Estado. Ganhou projeção nacional como porta-voz do partido na resposta ao discurso de Trump sobre o estado da União, em 2020, e, depois, como alvo de uma conspiração de ultradireitistas que pretendia sequestrá-la e foi desbaratada a tempo pelo FBI.

É uma governadora competente, uma mulher tão vistosa como Michelle Obama, e uma política habilidosa, forte em temas da pauta eleitoral, como aborto e saúde reprodutiva, economia, combate à corrupção e defesa da democracia e do primado da lei, estes dois últimos alçados por Biden aos quatro ou cinco itens mais importantes da disputa, segundo pesquisas feitas nas duas últimas semanas. A bem da transparência, moro nos EUA há mais de quatro décadas, sou cidadão e eleitor há 15 anos e votaria para Whitmer. E para Michelle Obama, é claro, na hipótese de ela ser convencida a entrar disputa. A escolha de Michelle Obama ou mesmo de Gretchen Whitmer facilitaria talvez o arranjo que precisa ser articulado nos bastidores antes da convenção.

Biden entraria para a História como um dos mais produtivos presidentes dos EUA nos últimos cem anos, em termos legislativos, segundo respeitados jornalistas e historiadores. Sua derradeira contribuição como chefe do governo até 20 de janeiro de 2025 seria conter a insurreição que Trump e seus seguidores provavelmente desencadearão para melar a sucessão. O ex-presidente já afirmou que só perde se houver fraude nas eleições. Trata-se do mesmo falso argumento que usou para convocar a Washington seus adeptos, que invadiram e depredaram a sede do Congresso em 6 de janeiro de 2021, numa tentativa criminosa, à república bananeira, de impedir a certificação da incontestável vitória de Biden, por 306 a 232 votos eleitorais e 51,3% da votação popular.

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JORNALISTA, PESQUISADOR SÊNIOR DO BRAZIL INSTITUTE NO WILSON CENTER EM WASHINGTON, FOI CORRESPONDENTE DO ‘ESTADÃO’ NOS EUA

O adiamento para 18 de setembro da sentença do ex-presidente Donald Trump, inicialmente esperada nesta terça-feira, complicou os cálculos do presidente Joe Biden, de 81 anos, frente ao movimento desencadeado no Partido Democrata e na imprensa simpatizante para que ele desista da candidatura à reeleição, depois de seu decepcionante desempenho no debate de 27 de junho com Trump, de 78 anos.

A sentença, num tribunal do Estado de Nova York, refere-se a um processo criminal que resultou na condenação unânime do ex-presidente por um júri popular por alterar documentos de sua empresa para acobertar pagamento de US$ 130 mil a uma estrela de filmes pornôs, com quem transou quatro meses depois de sua mulher, Melania, dar à luz o filho Baron, em março de 2006. Por ser um processo da Justiça estadual, a decisão da Suprema Corte, na última terça-feira, de reconhecer imunidade parcial do presidente em casos federais não beneficia Trump.

Biden, apoiado por sua mulher Jill e a família, rejeitou até agora descandidatar-se. Talvez calculasse, considerando a data inicial da sentença contra Trump, que uma reação negativa do público ao sentenciamento de Trump compensaria o dano eleitoral que se autoinfligiu no debate realizado por sua iniciativa. Mas essas são águas passadas.

Trump, um populista carismático que mente pelos cotovelos, como se viu no embate televisivo, certamente usará o anúncio da sentença para manter sua base mobilizada e levantar milhões de dólares para sua campanha, como ocorreu durante o seu julgamento, encerrado em maio. Os dados de hoje apontam para a vitória de Trump em 5 de novembro e o início do pesadelo que Biden quer evitar e afirma ser o motivo de sua candidatura.

Na hipótese de ele aceitar retirar-se e acatar os conselhos públicos de jornalistas e articulistas influentes e seus correligionários e simpatizantes, como Thomas Friedman, do New York Times, os editorialistas do Washington Post e do NY Times, bem como o desejo expresso de perto de 80% dos eleitores, insatisfeitos com a escolha à frente, o cenário se transformará. Nesse caso, o Partido Democrata terá uma convenção aberta, que escolherá entre candidatos na faixa dos 50, 60 anos, todos políticos experientes com chances de vencer Trump.

A popular ex-primeira-dama Michelle Obama disse em março que não será candidata. Mas, segundo pesquisa Ipsos feita após o debate, ela bateria Trump por 50% a 39% se as eleições fossem hoje.

A vice-presidente Kamala Harris, descendente de negro e indiana, foi promotora, secretária da Justiça e senadora da Califórnia, o Estado mais populoso do país. Uma vice apagada, com problemas de administração de sua própria assessoria, ela se fortaleceu e ganhou espaço recentemente. É incisiva diante de um microfone e não tem papas na língua.

O governador reeleito da Califórnia, Gavin Newsom, é um político tarimbado e eficaz. Foi prefeito de São Francisco, vice-governador por oito anos e pequeno empresário de sucesso no ramo de restaurantes. Outro postulante potencial é o governador da Pensilvânia, Joshua Shapiro, que assumiu no ano passado e mantém boas taxas de aprovação.

A governadora reeleita de Michigan, Gretchen Whitmer, próxima de Biden, poderia emergir como uma forte candidata na convenção do partido, de 19 a 22 de agosto, em Chicago, com o endosso do presidente, caso ele desista da candidatura, e de Barack e Michelle Obama. Bem avaliada, Whitmer, uma ex-promotora, emergiu na política como líder no Legislativo de seu Estado. Ganhou projeção nacional como porta-voz do partido na resposta ao discurso de Trump sobre o estado da União, em 2020, e, depois, como alvo de uma conspiração de ultradireitistas que pretendia sequestrá-la e foi desbaratada a tempo pelo FBI.

É uma governadora competente, uma mulher tão vistosa como Michelle Obama, e uma política habilidosa, forte em temas da pauta eleitoral, como aborto e saúde reprodutiva, economia, combate à corrupção e defesa da democracia e do primado da lei, estes dois últimos alçados por Biden aos quatro ou cinco itens mais importantes da disputa, segundo pesquisas feitas nas duas últimas semanas. A bem da transparência, moro nos EUA há mais de quatro décadas, sou cidadão e eleitor há 15 anos e votaria para Whitmer. E para Michelle Obama, é claro, na hipótese de ela ser convencida a entrar disputa. A escolha de Michelle Obama ou mesmo de Gretchen Whitmer facilitaria talvez o arranjo que precisa ser articulado nos bastidores antes da convenção.

Biden entraria para a História como um dos mais produtivos presidentes dos EUA nos últimos cem anos, em termos legislativos, segundo respeitados jornalistas e historiadores. Sua derradeira contribuição como chefe do governo até 20 de janeiro de 2025 seria conter a insurreição que Trump e seus seguidores provavelmente desencadearão para melar a sucessão. O ex-presidente já afirmou que só perde se houver fraude nas eleições. Trata-se do mesmo falso argumento que usou para convocar a Washington seus adeptos, que invadiram e depredaram a sede do Congresso em 6 de janeiro de 2021, numa tentativa criminosa, à república bananeira, de impedir a certificação da incontestável vitória de Biden, por 306 a 232 votos eleitorais e 51,3% da votação popular.

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