Jornalista, É Pesquisador Sênior Do Brazil Institute Do Wilson Center, em Washington

Opinião|Trump, um problema para seu partido


Nos EUA, não acontecerá nas eleições de novembro o grande triunfo do partido da oposição, e democratas devem ganhar maioria no Senado.

Por Paulo Sotero

A destrutiva convergência populista encarnada por Jair Bolsonaro e Donald Trump nas duas maiores democracias do hemisfério sobreviverá apenas no caos que eles promovem para continuar relevantes. Apesar da desfaçatez com que ambos alimentam notícias falsas e manchetes bombásticas para passar a impressão de que estão na crista da onda, as pesquisas de opinião projetam péssimas notícias nas semanas à frente. No Brasil, o atual ocupante do Planalto deve tomar uma tunda de seu arquirrival, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nas votações do mês que vem. Não será surpresa se Bolsonaro reagir à derrota de modo semelhante ao dos seguidores de Trump que invadiram o prédio do Congresso americano em 6 de janeiro do ano passado para tentar, em vão, invalidar a vitória de Joe Biden. A manobra bolsonarista se esgotará no momento em que o Tribunal Superior Eleitoral proclamar os resultados das urnas.

Trump não é candidato nas eleições legislativas de novembro e seu incontestável domínio do Partido Republicano deveria render-lhe dividendos. Mas não é o que os fatos indicam. A presença do ex-presidente na ribalta e sua insistência na mentira descarada segundo a qual a vitória do presidente Joe Biden em novembro de 2020 resultou de fraude tornaram-se fatores negativos para a campanha republicana. Some-se a isso a baixa qualidade dos candidatos extremistas apoiados por Trump na briga pelo controle do Senado – hoje dividido ao meio, 50 a 50. Essa desvantagem já foi reconhecida publicamente pelo líder da bancada conservadora, o senador Mitch McConnell, de Kentucky. Analistas dos dois partidos projetam ganho líquido de três a quatro cadeiras para os democratas. As projeções sugerem que os republicanos reverterão a seu favor a apertada maioria dos democratas na Câmara de Representantes, mas por pequena margem, reversível em 2024. Ou seja, não acontecerá o grande triunfo do partido da oposição, comum na primeira eleição legislativa que ocorre no meio de um mandato presidencial.

Para Trump e seus seguidores, as más notícias derivam não apenas de seu estilo autoritário e abrasivo, mas também dos sucessos legislativos que Biden colecionou em semanas recentes. A aprovação de US$ 370 bilhões para projetos de mitigação do aquecimento da atmosfera e investimentos em energia limpa é a maior já feita pelos EUA e renova o compromisso do país com a convenção da ONU sobre clima, abandonada por Trump. Somam-se a eles dezenas de bilhões em novas compensações a veteranos de guerra, reduções substanciais do preço dos medicamentos mais usados, uma lei de inovação destinada a ressuscitar a indústria de semicondutores e o aumento de impostos para os mais ricos.

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O impulso maior, porém, veio do efeito da revogação, em junho do ano passado, pela Suprema Corte conservadora instalada por Trump, da jurisprudência de 1973 que deu às americanas direito ao aborto e transferiu o assunto para a jurisdição dos Estados. A supressão da soberania das mulheres sobre os seus direitos reprodutivos alimenta hoje um forte realinhamento político em Estados tradicionalmente conservadores. Em Kansas, nos grotões dos EUA, uma maioria expressiva de quase 2/3 dos eleitores brecou no mês passado uma tentativa de criminalizar o aborto no Estado. A mobilização do eleitorado feminino provocada pela decisão da Suprema Corte sobre o aborto está à vista no forte aumento do registro de mulheres eleitoras para o pleito legislativo de novembro.

Efeito semelhante tem a ofensiva jurídica que o Departamento de Justiça desencadeou no mês passado para recuperar os documentos oficiais que Trump retirou ilegalmente da Casa Branca no final de seu mandato e levou para o luxuoso clube onde mora em Mar-a-Lago, no sul da Flórida, sua residência principal desde que deixou Washington. Um primeiro exame da papelada feito por especialistas do FBI, que se ocupa das operações de contraespionagem no território americano, revelou que dezenas dos documentos apreendidos a pedido dos Arquivos Nacionais, que tem a propriedade e guarda exclusiva dos arquivos oficiais da presidência, foram classificados como ultrassecretos e só podem ser lidos por funcionários especialmente autorizados em instalações governamentais seguras – o que Mar-a-Lago não era nem quando Trump ocupava a presidência. A suspeita, segundo declarações públicas feitas por ex-altos funcionários dos serviços de inteligência, é de que Trump afanou os documentos para alimentar o próprio ego, fazer chantagem e obter vantagens políticas e financeiras.

No início da semana, a decisão preliminar de uma juíza federal da Flórida deu uma vitória temporária ao ex-presidente ao aceitar uma petição feita por seus advogados para que seja nomeado um curador neutro para examinar os documentos e recomendar uma decisão à juíza. Animado pela sentença da juíza, Trump partiu para o ataque. “O Departamento de Justiça e o FBI tornaram-se monstros cruéis controlados por canalhas da esquerda radical, por advogados e pela mídia, que dizem a eles o que devem fazer”, afirmou Trump num comício na segunda-feira. Os candidatos republicanos sabem que Trump é mais impopular do que Biden e preferiam vê-lo fora do palco. Mas não serão atendidos.

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JORNALISTA, É PESQUISADOR SÊNIOR NO BRAZIL INSTITUTE DO WILSON CENTER, EM WASHINGTON

A destrutiva convergência populista encarnada por Jair Bolsonaro e Donald Trump nas duas maiores democracias do hemisfério sobreviverá apenas no caos que eles promovem para continuar relevantes. Apesar da desfaçatez com que ambos alimentam notícias falsas e manchetes bombásticas para passar a impressão de que estão na crista da onda, as pesquisas de opinião projetam péssimas notícias nas semanas à frente. No Brasil, o atual ocupante do Planalto deve tomar uma tunda de seu arquirrival, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nas votações do mês que vem. Não será surpresa se Bolsonaro reagir à derrota de modo semelhante ao dos seguidores de Trump que invadiram o prédio do Congresso americano em 6 de janeiro do ano passado para tentar, em vão, invalidar a vitória de Joe Biden. A manobra bolsonarista se esgotará no momento em que o Tribunal Superior Eleitoral proclamar os resultados das urnas.

Trump não é candidato nas eleições legislativas de novembro e seu incontestável domínio do Partido Republicano deveria render-lhe dividendos. Mas não é o que os fatos indicam. A presença do ex-presidente na ribalta e sua insistência na mentira descarada segundo a qual a vitória do presidente Joe Biden em novembro de 2020 resultou de fraude tornaram-se fatores negativos para a campanha republicana. Some-se a isso a baixa qualidade dos candidatos extremistas apoiados por Trump na briga pelo controle do Senado – hoje dividido ao meio, 50 a 50. Essa desvantagem já foi reconhecida publicamente pelo líder da bancada conservadora, o senador Mitch McConnell, de Kentucky. Analistas dos dois partidos projetam ganho líquido de três a quatro cadeiras para os democratas. As projeções sugerem que os republicanos reverterão a seu favor a apertada maioria dos democratas na Câmara de Representantes, mas por pequena margem, reversível em 2024. Ou seja, não acontecerá o grande triunfo do partido da oposição, comum na primeira eleição legislativa que ocorre no meio de um mandato presidencial.

Para Trump e seus seguidores, as más notícias derivam não apenas de seu estilo autoritário e abrasivo, mas também dos sucessos legislativos que Biden colecionou em semanas recentes. A aprovação de US$ 370 bilhões para projetos de mitigação do aquecimento da atmosfera e investimentos em energia limpa é a maior já feita pelos EUA e renova o compromisso do país com a convenção da ONU sobre clima, abandonada por Trump. Somam-se a eles dezenas de bilhões em novas compensações a veteranos de guerra, reduções substanciais do preço dos medicamentos mais usados, uma lei de inovação destinada a ressuscitar a indústria de semicondutores e o aumento de impostos para os mais ricos.

O impulso maior, porém, veio do efeito da revogação, em junho do ano passado, pela Suprema Corte conservadora instalada por Trump, da jurisprudência de 1973 que deu às americanas direito ao aborto e transferiu o assunto para a jurisdição dos Estados. A supressão da soberania das mulheres sobre os seus direitos reprodutivos alimenta hoje um forte realinhamento político em Estados tradicionalmente conservadores. Em Kansas, nos grotões dos EUA, uma maioria expressiva de quase 2/3 dos eleitores brecou no mês passado uma tentativa de criminalizar o aborto no Estado. A mobilização do eleitorado feminino provocada pela decisão da Suprema Corte sobre o aborto está à vista no forte aumento do registro de mulheres eleitoras para o pleito legislativo de novembro.

Efeito semelhante tem a ofensiva jurídica que o Departamento de Justiça desencadeou no mês passado para recuperar os documentos oficiais que Trump retirou ilegalmente da Casa Branca no final de seu mandato e levou para o luxuoso clube onde mora em Mar-a-Lago, no sul da Flórida, sua residência principal desde que deixou Washington. Um primeiro exame da papelada feito por especialistas do FBI, que se ocupa das operações de contraespionagem no território americano, revelou que dezenas dos documentos apreendidos a pedido dos Arquivos Nacionais, que tem a propriedade e guarda exclusiva dos arquivos oficiais da presidência, foram classificados como ultrassecretos e só podem ser lidos por funcionários especialmente autorizados em instalações governamentais seguras – o que Mar-a-Lago não era nem quando Trump ocupava a presidência. A suspeita, segundo declarações públicas feitas por ex-altos funcionários dos serviços de inteligência, é de que Trump afanou os documentos para alimentar o próprio ego, fazer chantagem e obter vantagens políticas e financeiras.

No início da semana, a decisão preliminar de uma juíza federal da Flórida deu uma vitória temporária ao ex-presidente ao aceitar uma petição feita por seus advogados para que seja nomeado um curador neutro para examinar os documentos e recomendar uma decisão à juíza. Animado pela sentença da juíza, Trump partiu para o ataque. “O Departamento de Justiça e o FBI tornaram-se monstros cruéis controlados por canalhas da esquerda radical, por advogados e pela mídia, que dizem a eles o que devem fazer”, afirmou Trump num comício na segunda-feira. Os candidatos republicanos sabem que Trump é mais impopular do que Biden e preferiam vê-lo fora do palco. Mas não serão atendidos.

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A destrutiva convergência populista encarnada por Jair Bolsonaro e Donald Trump nas duas maiores democracias do hemisfério sobreviverá apenas no caos que eles promovem para continuar relevantes. Apesar da desfaçatez com que ambos alimentam notícias falsas e manchetes bombásticas para passar a impressão de que estão na crista da onda, as pesquisas de opinião projetam péssimas notícias nas semanas à frente. No Brasil, o atual ocupante do Planalto deve tomar uma tunda de seu arquirrival, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nas votações do mês que vem. Não será surpresa se Bolsonaro reagir à derrota de modo semelhante ao dos seguidores de Trump que invadiram o prédio do Congresso americano em 6 de janeiro do ano passado para tentar, em vão, invalidar a vitória de Joe Biden. A manobra bolsonarista se esgotará no momento em que o Tribunal Superior Eleitoral proclamar os resultados das urnas.

Trump não é candidato nas eleições legislativas de novembro e seu incontestável domínio do Partido Republicano deveria render-lhe dividendos. Mas não é o que os fatos indicam. A presença do ex-presidente na ribalta e sua insistência na mentira descarada segundo a qual a vitória do presidente Joe Biden em novembro de 2020 resultou de fraude tornaram-se fatores negativos para a campanha republicana. Some-se a isso a baixa qualidade dos candidatos extremistas apoiados por Trump na briga pelo controle do Senado – hoje dividido ao meio, 50 a 50. Essa desvantagem já foi reconhecida publicamente pelo líder da bancada conservadora, o senador Mitch McConnell, de Kentucky. Analistas dos dois partidos projetam ganho líquido de três a quatro cadeiras para os democratas. As projeções sugerem que os republicanos reverterão a seu favor a apertada maioria dos democratas na Câmara de Representantes, mas por pequena margem, reversível em 2024. Ou seja, não acontecerá o grande triunfo do partido da oposição, comum na primeira eleição legislativa que ocorre no meio de um mandato presidencial.

Para Trump e seus seguidores, as más notícias derivam não apenas de seu estilo autoritário e abrasivo, mas também dos sucessos legislativos que Biden colecionou em semanas recentes. A aprovação de US$ 370 bilhões para projetos de mitigação do aquecimento da atmosfera e investimentos em energia limpa é a maior já feita pelos EUA e renova o compromisso do país com a convenção da ONU sobre clima, abandonada por Trump. Somam-se a eles dezenas de bilhões em novas compensações a veteranos de guerra, reduções substanciais do preço dos medicamentos mais usados, uma lei de inovação destinada a ressuscitar a indústria de semicondutores e o aumento de impostos para os mais ricos.

O impulso maior, porém, veio do efeito da revogação, em junho do ano passado, pela Suprema Corte conservadora instalada por Trump, da jurisprudência de 1973 que deu às americanas direito ao aborto e transferiu o assunto para a jurisdição dos Estados. A supressão da soberania das mulheres sobre os seus direitos reprodutivos alimenta hoje um forte realinhamento político em Estados tradicionalmente conservadores. Em Kansas, nos grotões dos EUA, uma maioria expressiva de quase 2/3 dos eleitores brecou no mês passado uma tentativa de criminalizar o aborto no Estado. A mobilização do eleitorado feminino provocada pela decisão da Suprema Corte sobre o aborto está à vista no forte aumento do registro de mulheres eleitoras para o pleito legislativo de novembro.

Efeito semelhante tem a ofensiva jurídica que o Departamento de Justiça desencadeou no mês passado para recuperar os documentos oficiais que Trump retirou ilegalmente da Casa Branca no final de seu mandato e levou para o luxuoso clube onde mora em Mar-a-Lago, no sul da Flórida, sua residência principal desde que deixou Washington. Um primeiro exame da papelada feito por especialistas do FBI, que se ocupa das operações de contraespionagem no território americano, revelou que dezenas dos documentos apreendidos a pedido dos Arquivos Nacionais, que tem a propriedade e guarda exclusiva dos arquivos oficiais da presidência, foram classificados como ultrassecretos e só podem ser lidos por funcionários especialmente autorizados em instalações governamentais seguras – o que Mar-a-Lago não era nem quando Trump ocupava a presidência. A suspeita, segundo declarações públicas feitas por ex-altos funcionários dos serviços de inteligência, é de que Trump afanou os documentos para alimentar o próprio ego, fazer chantagem e obter vantagens políticas e financeiras.

No início da semana, a decisão preliminar de uma juíza federal da Flórida deu uma vitória temporária ao ex-presidente ao aceitar uma petição feita por seus advogados para que seja nomeado um curador neutro para examinar os documentos e recomendar uma decisão à juíza. Animado pela sentença da juíza, Trump partiu para o ataque. “O Departamento de Justiça e o FBI tornaram-se monstros cruéis controlados por canalhas da esquerda radical, por advogados e pela mídia, que dizem a eles o que devem fazer”, afirmou Trump num comício na segunda-feira. Os candidatos republicanos sabem que Trump é mais impopular do que Biden e preferiam vê-lo fora do palco. Mas não serão atendidos.

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A destrutiva convergência populista encarnada por Jair Bolsonaro e Donald Trump nas duas maiores democracias do hemisfério sobreviverá apenas no caos que eles promovem para continuar relevantes. Apesar da desfaçatez com que ambos alimentam notícias falsas e manchetes bombásticas para passar a impressão de que estão na crista da onda, as pesquisas de opinião projetam péssimas notícias nas semanas à frente. No Brasil, o atual ocupante do Planalto deve tomar uma tunda de seu arquirrival, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nas votações do mês que vem. Não será surpresa se Bolsonaro reagir à derrota de modo semelhante ao dos seguidores de Trump que invadiram o prédio do Congresso americano em 6 de janeiro do ano passado para tentar, em vão, invalidar a vitória de Joe Biden. A manobra bolsonarista se esgotará no momento em que o Tribunal Superior Eleitoral proclamar os resultados das urnas.

Trump não é candidato nas eleições legislativas de novembro e seu incontestável domínio do Partido Republicano deveria render-lhe dividendos. Mas não é o que os fatos indicam. A presença do ex-presidente na ribalta e sua insistência na mentira descarada segundo a qual a vitória do presidente Joe Biden em novembro de 2020 resultou de fraude tornaram-se fatores negativos para a campanha republicana. Some-se a isso a baixa qualidade dos candidatos extremistas apoiados por Trump na briga pelo controle do Senado – hoje dividido ao meio, 50 a 50. Essa desvantagem já foi reconhecida publicamente pelo líder da bancada conservadora, o senador Mitch McConnell, de Kentucky. Analistas dos dois partidos projetam ganho líquido de três a quatro cadeiras para os democratas. As projeções sugerem que os republicanos reverterão a seu favor a apertada maioria dos democratas na Câmara de Representantes, mas por pequena margem, reversível em 2024. Ou seja, não acontecerá o grande triunfo do partido da oposição, comum na primeira eleição legislativa que ocorre no meio de um mandato presidencial.

Para Trump e seus seguidores, as más notícias derivam não apenas de seu estilo autoritário e abrasivo, mas também dos sucessos legislativos que Biden colecionou em semanas recentes. A aprovação de US$ 370 bilhões para projetos de mitigação do aquecimento da atmosfera e investimentos em energia limpa é a maior já feita pelos EUA e renova o compromisso do país com a convenção da ONU sobre clima, abandonada por Trump. Somam-se a eles dezenas de bilhões em novas compensações a veteranos de guerra, reduções substanciais do preço dos medicamentos mais usados, uma lei de inovação destinada a ressuscitar a indústria de semicondutores e o aumento de impostos para os mais ricos.

O impulso maior, porém, veio do efeito da revogação, em junho do ano passado, pela Suprema Corte conservadora instalada por Trump, da jurisprudência de 1973 que deu às americanas direito ao aborto e transferiu o assunto para a jurisdição dos Estados. A supressão da soberania das mulheres sobre os seus direitos reprodutivos alimenta hoje um forte realinhamento político em Estados tradicionalmente conservadores. Em Kansas, nos grotões dos EUA, uma maioria expressiva de quase 2/3 dos eleitores brecou no mês passado uma tentativa de criminalizar o aborto no Estado. A mobilização do eleitorado feminino provocada pela decisão da Suprema Corte sobre o aborto está à vista no forte aumento do registro de mulheres eleitoras para o pleito legislativo de novembro.

Efeito semelhante tem a ofensiva jurídica que o Departamento de Justiça desencadeou no mês passado para recuperar os documentos oficiais que Trump retirou ilegalmente da Casa Branca no final de seu mandato e levou para o luxuoso clube onde mora em Mar-a-Lago, no sul da Flórida, sua residência principal desde que deixou Washington. Um primeiro exame da papelada feito por especialistas do FBI, que se ocupa das operações de contraespionagem no território americano, revelou que dezenas dos documentos apreendidos a pedido dos Arquivos Nacionais, que tem a propriedade e guarda exclusiva dos arquivos oficiais da presidência, foram classificados como ultrassecretos e só podem ser lidos por funcionários especialmente autorizados em instalações governamentais seguras – o que Mar-a-Lago não era nem quando Trump ocupava a presidência. A suspeita, segundo declarações públicas feitas por ex-altos funcionários dos serviços de inteligência, é de que Trump afanou os documentos para alimentar o próprio ego, fazer chantagem e obter vantagens políticas e financeiras.

No início da semana, a decisão preliminar de uma juíza federal da Flórida deu uma vitória temporária ao ex-presidente ao aceitar uma petição feita por seus advogados para que seja nomeado um curador neutro para examinar os documentos e recomendar uma decisão à juíza. Animado pela sentença da juíza, Trump partiu para o ataque. “O Departamento de Justiça e o FBI tornaram-se monstros cruéis controlados por canalhas da esquerda radical, por advogados e pela mídia, que dizem a eles o que devem fazer”, afirmou Trump num comício na segunda-feira. Os candidatos republicanos sabem que Trump é mais impopular do que Biden e preferiam vê-lo fora do palco. Mas não serão atendidos.

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