Perdendo o pé


Por Redação

Abandonados e completamente deteriorados, os centros de convivência instalados na gestão Gilberto Kassab para atendimento diurno dos moradores de rua de São Paulo transformaram-se em símbolo da incapacidade da administração pública de criar uma política multidisciplinar para atender essa parcela da população. Há dois meses, moradores de rua acampados na Praça da Sé foram convencidos a deixar o local com promessas como a de que seriam cadastrados em programas habitacionais da Prefeitura. Isso seria feito num centro de convivência do Parque Dom Pedro, onde poderiam permanecer pelo prazo de um mês. Depois iriam para programas sociais como o bolsa-aluguel. Hoje, as pessoas que migraram para lá vivem numa grande tenda sem chuveiro, sem banheiro, sem comida e sem o mínimo de higiene. Muitos só suportam aquilo à custa de álcool e de drogas; outros roubam para sobreviver. A essa lamentável condição foi reduzido o que era um centro de convivência. Para a secretária de Assistência Social, Luciana Temer, aquilo não é uma tenda, mas uma "experiência de autogestão que não deu certo". Segundo ela, a ideia inicial era de que as pessoas fossem para a tenda do Parque Dom Pedro após serem retiradas da Praça da Sé apenas para cadastramentos para tratamento de saúde, assistência e habitação. Mas as pessoas resolveram ficar por lá e, conforme a secretária, quiseram assumir a organização. A Prefeitura teria enviado então material de limpeza e reformado os banheiros, mas "aquilo foi perdendo o pé".Se a administração pública, com os muitos recursos que tem, não consegue resolver os problemas da população em situação de rua, seria muita ingenuidade acreditar que os próprios sem-teto o fariam. A reportagem do Estado visitou outros dois centros de convivência instalados na zona leste pela gestão anterior para oferecer aos moradores de rua um local onde passar o dia, usar o banheiro e se lavar. Todos "perderam o pé" e o que se percebe é a clara omissão do poder público. No início dos anos 90, São Paulo tinha 3.392 pessoas nas ruas. Duas décadas depois, o último censo dessa população, realizado pela Fundação Escola de Sociologia de São Paulo (Fesp), indicou a presença de 14.478 indivíduos em situação de rua na capital. A maior parte dessa população vaga pelos distritos da Sé, República, Brás, Santana, Santa Cecília, Vila Leopoldina, Consolação, Bom Retiro, Mooca e Bela Vista. Nesses locais, entidades não governamentais distribuem alimentos, os comerciantes fazem doações e, para quem quer ganhar um dinheiro trabalhando, os bicos são mais frequentes.O levantamento mostra que atualmente 52,6% da população de rua é formada por paulistanos e 47,4% vieram de outros Estados. Há duas décadas, a situação era inversa. Os números aumentaram consideravelmente, mas as soluções para esse problema são apenas reeditadas, rebatizadas, sem apresentar nenhum resultado significativo. O pouco que é feito tem sempre caráter emergencial, mas acaba se tornando permanente. Os hotéis sociais, surgidos na gestão Marta Suplicy (2001-2004) para abrigar pessoas retiradas de áreas de risco, por exemplo, voltaram a ser a solução para desabrigados no governo Gilberto Kassab. E agora o secretário municipal de Direitos Humanos, Rogério Sottili, novamente anuncia os hotéis sociais como medida de caráter "emergencial". Impedir a ocupação dos espaços públicos por barracas e casebres construídos com placas de papelão e lona é obrigação da Prefeitura. Mas retirar de lá os moradores de rua sem lhes oferecer a possibilidade de recuperar a autonomia e conseguir emprego não funciona. Vivendo em condições degradantes, grande parte dessa população perdeu a identidade, a capacidade de convivência em ambiente de trabalho e a civilidade. A quase totalidade teve a saúde mental e física comprometida. Precisa, portanto, muito mais do que uma tenda, de apoio médico, psicológico, de assistência social e profissional. E longe de experiências duvidosas - para dizer o mínimo - de autogestão.

Abandonados e completamente deteriorados, os centros de convivência instalados na gestão Gilberto Kassab para atendimento diurno dos moradores de rua de São Paulo transformaram-se em símbolo da incapacidade da administração pública de criar uma política multidisciplinar para atender essa parcela da população. Há dois meses, moradores de rua acampados na Praça da Sé foram convencidos a deixar o local com promessas como a de que seriam cadastrados em programas habitacionais da Prefeitura. Isso seria feito num centro de convivência do Parque Dom Pedro, onde poderiam permanecer pelo prazo de um mês. Depois iriam para programas sociais como o bolsa-aluguel. Hoje, as pessoas que migraram para lá vivem numa grande tenda sem chuveiro, sem banheiro, sem comida e sem o mínimo de higiene. Muitos só suportam aquilo à custa de álcool e de drogas; outros roubam para sobreviver. A essa lamentável condição foi reduzido o que era um centro de convivência. Para a secretária de Assistência Social, Luciana Temer, aquilo não é uma tenda, mas uma "experiência de autogestão que não deu certo". Segundo ela, a ideia inicial era de que as pessoas fossem para a tenda do Parque Dom Pedro após serem retiradas da Praça da Sé apenas para cadastramentos para tratamento de saúde, assistência e habitação. Mas as pessoas resolveram ficar por lá e, conforme a secretária, quiseram assumir a organização. A Prefeitura teria enviado então material de limpeza e reformado os banheiros, mas "aquilo foi perdendo o pé".Se a administração pública, com os muitos recursos que tem, não consegue resolver os problemas da população em situação de rua, seria muita ingenuidade acreditar que os próprios sem-teto o fariam. A reportagem do Estado visitou outros dois centros de convivência instalados na zona leste pela gestão anterior para oferecer aos moradores de rua um local onde passar o dia, usar o banheiro e se lavar. Todos "perderam o pé" e o que se percebe é a clara omissão do poder público. No início dos anos 90, São Paulo tinha 3.392 pessoas nas ruas. Duas décadas depois, o último censo dessa população, realizado pela Fundação Escola de Sociologia de São Paulo (Fesp), indicou a presença de 14.478 indivíduos em situação de rua na capital. A maior parte dessa população vaga pelos distritos da Sé, República, Brás, Santana, Santa Cecília, Vila Leopoldina, Consolação, Bom Retiro, Mooca e Bela Vista. Nesses locais, entidades não governamentais distribuem alimentos, os comerciantes fazem doações e, para quem quer ganhar um dinheiro trabalhando, os bicos são mais frequentes.O levantamento mostra que atualmente 52,6% da população de rua é formada por paulistanos e 47,4% vieram de outros Estados. Há duas décadas, a situação era inversa. Os números aumentaram consideravelmente, mas as soluções para esse problema são apenas reeditadas, rebatizadas, sem apresentar nenhum resultado significativo. O pouco que é feito tem sempre caráter emergencial, mas acaba se tornando permanente. Os hotéis sociais, surgidos na gestão Marta Suplicy (2001-2004) para abrigar pessoas retiradas de áreas de risco, por exemplo, voltaram a ser a solução para desabrigados no governo Gilberto Kassab. E agora o secretário municipal de Direitos Humanos, Rogério Sottili, novamente anuncia os hotéis sociais como medida de caráter "emergencial". Impedir a ocupação dos espaços públicos por barracas e casebres construídos com placas de papelão e lona é obrigação da Prefeitura. Mas retirar de lá os moradores de rua sem lhes oferecer a possibilidade de recuperar a autonomia e conseguir emprego não funciona. Vivendo em condições degradantes, grande parte dessa população perdeu a identidade, a capacidade de convivência em ambiente de trabalho e a civilidade. A quase totalidade teve a saúde mental e física comprometida. Precisa, portanto, muito mais do que uma tenda, de apoio médico, psicológico, de assistência social e profissional. E longe de experiências duvidosas - para dizer o mínimo - de autogestão.

Abandonados e completamente deteriorados, os centros de convivência instalados na gestão Gilberto Kassab para atendimento diurno dos moradores de rua de São Paulo transformaram-se em símbolo da incapacidade da administração pública de criar uma política multidisciplinar para atender essa parcela da população. Há dois meses, moradores de rua acampados na Praça da Sé foram convencidos a deixar o local com promessas como a de que seriam cadastrados em programas habitacionais da Prefeitura. Isso seria feito num centro de convivência do Parque Dom Pedro, onde poderiam permanecer pelo prazo de um mês. Depois iriam para programas sociais como o bolsa-aluguel. Hoje, as pessoas que migraram para lá vivem numa grande tenda sem chuveiro, sem banheiro, sem comida e sem o mínimo de higiene. Muitos só suportam aquilo à custa de álcool e de drogas; outros roubam para sobreviver. A essa lamentável condição foi reduzido o que era um centro de convivência. Para a secretária de Assistência Social, Luciana Temer, aquilo não é uma tenda, mas uma "experiência de autogestão que não deu certo". Segundo ela, a ideia inicial era de que as pessoas fossem para a tenda do Parque Dom Pedro após serem retiradas da Praça da Sé apenas para cadastramentos para tratamento de saúde, assistência e habitação. Mas as pessoas resolveram ficar por lá e, conforme a secretária, quiseram assumir a organização. A Prefeitura teria enviado então material de limpeza e reformado os banheiros, mas "aquilo foi perdendo o pé".Se a administração pública, com os muitos recursos que tem, não consegue resolver os problemas da população em situação de rua, seria muita ingenuidade acreditar que os próprios sem-teto o fariam. A reportagem do Estado visitou outros dois centros de convivência instalados na zona leste pela gestão anterior para oferecer aos moradores de rua um local onde passar o dia, usar o banheiro e se lavar. Todos "perderam o pé" e o que se percebe é a clara omissão do poder público. No início dos anos 90, São Paulo tinha 3.392 pessoas nas ruas. Duas décadas depois, o último censo dessa população, realizado pela Fundação Escola de Sociologia de São Paulo (Fesp), indicou a presença de 14.478 indivíduos em situação de rua na capital. A maior parte dessa população vaga pelos distritos da Sé, República, Brás, Santana, Santa Cecília, Vila Leopoldina, Consolação, Bom Retiro, Mooca e Bela Vista. Nesses locais, entidades não governamentais distribuem alimentos, os comerciantes fazem doações e, para quem quer ganhar um dinheiro trabalhando, os bicos são mais frequentes.O levantamento mostra que atualmente 52,6% da população de rua é formada por paulistanos e 47,4% vieram de outros Estados. Há duas décadas, a situação era inversa. Os números aumentaram consideravelmente, mas as soluções para esse problema são apenas reeditadas, rebatizadas, sem apresentar nenhum resultado significativo. O pouco que é feito tem sempre caráter emergencial, mas acaba se tornando permanente. Os hotéis sociais, surgidos na gestão Marta Suplicy (2001-2004) para abrigar pessoas retiradas de áreas de risco, por exemplo, voltaram a ser a solução para desabrigados no governo Gilberto Kassab. E agora o secretário municipal de Direitos Humanos, Rogério Sottili, novamente anuncia os hotéis sociais como medida de caráter "emergencial". Impedir a ocupação dos espaços públicos por barracas e casebres construídos com placas de papelão e lona é obrigação da Prefeitura. Mas retirar de lá os moradores de rua sem lhes oferecer a possibilidade de recuperar a autonomia e conseguir emprego não funciona. Vivendo em condições degradantes, grande parte dessa população perdeu a identidade, a capacidade de convivência em ambiente de trabalho e a civilidade. A quase totalidade teve a saúde mental e física comprometida. Precisa, portanto, muito mais do que uma tenda, de apoio médico, psicológico, de assistência social e profissional. E longe de experiências duvidosas - para dizer o mínimo - de autogestão.

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