Com 13 milhões de desempregados, muita capacidade ociosa na indústria, consumidores cautelosos e ampla oferta de bens essenciais, a inflação continua moderada e se mantém no rumo previsto pelo Banco Central (BC) – pelo menos até onde se pode prever, num ambiente enevoado pela incerteza política. Descartada qualquer surpresa, a principal pressão sobre os gastos familiares deve provir, a curto prazo, de mais um aumento da conta de luz. O custo da energia já tem inflado as despesas, mas a maior parte do cenário é de razoável tranquilidade. Em julho, a inflação oficial, medida pela variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,33%, depois de ter batido em 1,26% no mês anterior. O salto registrado em junho foi um dos efeitos da paralisação do transporte rodoviário. O primeiro impacto nos preços foi passageiro, como havia previsto a autoridade monetária. Falta avaliar os impactos secundários, derivados, por exemplo, da aplicação da tabela mínima de fretes, fórmula encontrada pelo governo para apaziguar os caminhoneiros. Se a tabela for de fato aplicada, haverá reflexo nos custos dos alimentos e de muitos outros produtos.
Com o resultado de julho, a inflação oficial no ano ficou em 2,94% e a acumulada em 12 meses, em 4,48%, acima da contabilizada até o mês anterior (4,39%), segundo o levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com a taxa anual praticamente em cima da meta fixada para 2018 (4,50%), é muito difícil apontar uma razão para o BC cortar os juros básicos na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), prevista para 18 e 19 de setembro. Se nenhuma pressão importante surgir até lá, os atuais 6,50% serão provavelmente mantidos. Se houver um aumento, a motivação mais provável estará associada a novidades na disputa eleitoral.
Por enquanto, a nova alta da tarifa de luz, destinada a gerar R$ 1,45 bilhão para fechar um buraco da Conta de Desenvolvimento Energético, administrada pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, é a pressão mais importante prevista para o curto prazo. O custo da eletricidade já tem subido para famílias e empresas. Em julho, foi o principal fator de elevação do IPCA, com impacto de 0,20 ponto na formação da taxa de 0,33%. Alimentação e vestuário produziram impactos negativos. Entre os positivos, o segundo mais importante foi o dos transportes, com modesto 0,09 ponto.
A relativa calmaria nos mercados é mostrada também pela Fundação Getúlio Vargas no Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI). O indicador subiu 0,44% em julho, menos de um terço da taxa de 1,48% observada no mês anterior. Os preços por atacado, com peso de 60% na formação do IGP-DI, aumentaram 0,52%, um ritmo também equivalente a menos de um terço do contabilizado em junho (1,67%). A variação dos preços ao consumidor (com peso de 30% no resultado geral) passou de 1,19% para 0,17%. A alta do terceiro componente, o índice do custo da construção, com participação de 10% no conjunto, desacelerou de 0,97% para 0,61%.
A desaceleração dos preços por atacado, depois da alta causada pela interrupção do transporte rodoviário, sugere pressões moderadas sobre os custos industriais e sobre as condições do varejo nos próximos meses. A acomodação dos preços pagos ao produtor ocorreu nas categorias de bens finais, bens intermediários e matérias-primas brutas.
As projeções do BC discutidas na última reunião do Copom, encerrada em 1.º de agosto, apontam inflação em torno de 4,20% neste ano e de 4,10% no próximo. Os cálculos incluem juros básicos de 6,50% ao ano e câmbio também constante a R$ 3,75 por dólar.
As maiores pressões deverão provir dos preços administrados, com altas de 7,4% em 2018 e de 5% em 2019. O novo aumento da conta de luz, um dos componentes desse conjunto, só foi confirmado uma semana depois da sessão do Copom. Pelas perspectivas atuais, os preços com evolução mais moderada serão aqueles dependentes do mercado, descartada, é claro, a hipótese de algum choque político.