Presidência sem rumo


As seguidas vezes em que sua palavra é desautorizada esvaziam de significado político as manifestações de Jair Bolsonaro

Por Notas & Informações

Com preocupante frequência, o presidente Jair Bolsonaro desdiz o que disse ou então é desmentido por ministros, por parlamentares ou, o que é pior, pelos fatos. Pelo cargo que ocupa, Bolsonaro deveria ser a principal referência das decisões do governo federal. Suas declarações deveriam ter o peso institucional que a Presidência da República confere a seu titular. Mas as seguidas vezes em que sua palavra é desautorizada começam a esvaziar de significado político suas manifestações. Para um governante que já demonstrou não ter vocação para agregar apoios no Congresso, essa dificuldade adicional certamente contribuirá para atrapalhar ainda mais o andamento dos projetos de interesse do Palácio do Planalto e, no limite, a própria governabilidade, pois ninguém hoje sabe o que Bolsonaro efetivamente quer.

A mais recente confusão envolvendo declarações do presidente ocorreu depois de um encontro com deputados, vários deles governistas. Esses parlamentares informaram que, diante deles, Bolsonaro telefonou para o ministro da Educação, Abraham Weintraub, para determinar que não houvesse bloqueio de recursos no Orçamento da Educação. Os deputados saíram da reunião e, no plenário, narraram o teor do telefonema. Logo em seguida, porém, foram desmentidos pela Casa Civil – que, em nota, disse que “não procede a informação” e que “o governo está controlando as contas públicas de maneira responsável”. Ou seja, numa única nota, o governo fez os deputados passarem por mentirosos e irresponsáveis.

O líder do PSL (partido do presidente) na Câmara, Delegado Waldir (GO), que esteve na reunião, disse que a Casa Civil “está desmentindo o próprio presidente da República”. O líder do PROS, Capitão Wagner (CE), também testemunha do telefonema, foi contundente: “Não vou admitir, sendo aliado do governo, ser chamado lá no Palácio do Planalto para tratar uma questão séria como essa, presenciar o presidente pegar um celular, ligar para o ministro na presença de vários líderes partidários e, com todas as letras, dizer ‘a partir de agora o corte está suspenso’... Se o governo não sustenta o que o presidente falou na frente de 12 líderes parlamentares, não sou eu que vou passar por mentiroso perante a nação”.

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No mesmo dia, a desorientação governista se refletiu na convocação do ministro Weintraub para explicar na Câmara o contingenciamento de verbas na educação. O placar da convocação teve 307 votos a favor – apenas um a menos do que o necessário para aprovar emendas constitucionais. Assim, está mais claro do que nunca que o governo não conta com apoio senão de alguns abnegados que se dizem bolsonaristas a despeito de serem frequentemente maltratados pelo Palácio do Planalto.

Isso acontece, entre outras razões, porque o governo não tem rumo. “Ainda não compreendemos, olhando a longo prazo, quais são as políticas que esse governo trouxe para sobrepor os 13 anos de governo do PT”, disse ao Valor o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “Até agora a gente não entendeu qual é essa agenda.”

Tal incompreensão é resultado da forma atabalhoada com que o presidente comunica suas decisões, inclusive para seus assessores. Recentemente, anunciou ter orientado o ministro Paulo Guedes a corrigir a tabela do Imposto de Renda (IR) pela inflação – o que pegou de surpresa a equipe econômica. No Senado, o ministro Guedes foi enfático: “(Foi) o presidente que falou que atualizaria a tabela de IR pela inflação. Eu não disse nada. Estamos no meio de uma batalha (a reforma da Previdência). Não adianta me distrair com outra”.

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Em menos de cinco meses de governo, a lista de mal-entendidos presidenciais já é longa – inclui gestões indevidas para a queda dos juros dos bancos públicos e do preço do diesel, com forte impacto negativo nos mercados. Para o vice-presidente Hamilton Mourão, o governo tem “falhado na comunicação”. De fato. Mas o problema é que só consegue se comunicar quem tem o que dizer e sabe o que quer – condições às quais o presidente, até agora, está muito longe de atender. 

Com preocupante frequência, o presidente Jair Bolsonaro desdiz o que disse ou então é desmentido por ministros, por parlamentares ou, o que é pior, pelos fatos. Pelo cargo que ocupa, Bolsonaro deveria ser a principal referência das decisões do governo federal. Suas declarações deveriam ter o peso institucional que a Presidência da República confere a seu titular. Mas as seguidas vezes em que sua palavra é desautorizada começam a esvaziar de significado político suas manifestações. Para um governante que já demonstrou não ter vocação para agregar apoios no Congresso, essa dificuldade adicional certamente contribuirá para atrapalhar ainda mais o andamento dos projetos de interesse do Palácio do Planalto e, no limite, a própria governabilidade, pois ninguém hoje sabe o que Bolsonaro efetivamente quer.

A mais recente confusão envolvendo declarações do presidente ocorreu depois de um encontro com deputados, vários deles governistas. Esses parlamentares informaram que, diante deles, Bolsonaro telefonou para o ministro da Educação, Abraham Weintraub, para determinar que não houvesse bloqueio de recursos no Orçamento da Educação. Os deputados saíram da reunião e, no plenário, narraram o teor do telefonema. Logo em seguida, porém, foram desmentidos pela Casa Civil – que, em nota, disse que “não procede a informação” e que “o governo está controlando as contas públicas de maneira responsável”. Ou seja, numa única nota, o governo fez os deputados passarem por mentirosos e irresponsáveis.

O líder do PSL (partido do presidente) na Câmara, Delegado Waldir (GO), que esteve na reunião, disse que a Casa Civil “está desmentindo o próprio presidente da República”. O líder do PROS, Capitão Wagner (CE), também testemunha do telefonema, foi contundente: “Não vou admitir, sendo aliado do governo, ser chamado lá no Palácio do Planalto para tratar uma questão séria como essa, presenciar o presidente pegar um celular, ligar para o ministro na presença de vários líderes partidários e, com todas as letras, dizer ‘a partir de agora o corte está suspenso’... Se o governo não sustenta o que o presidente falou na frente de 12 líderes parlamentares, não sou eu que vou passar por mentiroso perante a nação”.

No mesmo dia, a desorientação governista se refletiu na convocação do ministro Weintraub para explicar na Câmara o contingenciamento de verbas na educação. O placar da convocação teve 307 votos a favor – apenas um a menos do que o necessário para aprovar emendas constitucionais. Assim, está mais claro do que nunca que o governo não conta com apoio senão de alguns abnegados que se dizem bolsonaristas a despeito de serem frequentemente maltratados pelo Palácio do Planalto.

Isso acontece, entre outras razões, porque o governo não tem rumo. “Ainda não compreendemos, olhando a longo prazo, quais são as políticas que esse governo trouxe para sobrepor os 13 anos de governo do PT”, disse ao Valor o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “Até agora a gente não entendeu qual é essa agenda.”

Tal incompreensão é resultado da forma atabalhoada com que o presidente comunica suas decisões, inclusive para seus assessores. Recentemente, anunciou ter orientado o ministro Paulo Guedes a corrigir a tabela do Imposto de Renda (IR) pela inflação – o que pegou de surpresa a equipe econômica. No Senado, o ministro Guedes foi enfático: “(Foi) o presidente que falou que atualizaria a tabela de IR pela inflação. Eu não disse nada. Estamos no meio de uma batalha (a reforma da Previdência). Não adianta me distrair com outra”.

Em menos de cinco meses de governo, a lista de mal-entendidos presidenciais já é longa – inclui gestões indevidas para a queda dos juros dos bancos públicos e do preço do diesel, com forte impacto negativo nos mercados. Para o vice-presidente Hamilton Mourão, o governo tem “falhado na comunicação”. De fato. Mas o problema é que só consegue se comunicar quem tem o que dizer e sabe o que quer – condições às quais o presidente, até agora, está muito longe de atender. 

Com preocupante frequência, o presidente Jair Bolsonaro desdiz o que disse ou então é desmentido por ministros, por parlamentares ou, o que é pior, pelos fatos. Pelo cargo que ocupa, Bolsonaro deveria ser a principal referência das decisões do governo federal. Suas declarações deveriam ter o peso institucional que a Presidência da República confere a seu titular. Mas as seguidas vezes em que sua palavra é desautorizada começam a esvaziar de significado político suas manifestações. Para um governante que já demonstrou não ter vocação para agregar apoios no Congresso, essa dificuldade adicional certamente contribuirá para atrapalhar ainda mais o andamento dos projetos de interesse do Palácio do Planalto e, no limite, a própria governabilidade, pois ninguém hoje sabe o que Bolsonaro efetivamente quer.

A mais recente confusão envolvendo declarações do presidente ocorreu depois de um encontro com deputados, vários deles governistas. Esses parlamentares informaram que, diante deles, Bolsonaro telefonou para o ministro da Educação, Abraham Weintraub, para determinar que não houvesse bloqueio de recursos no Orçamento da Educação. Os deputados saíram da reunião e, no plenário, narraram o teor do telefonema. Logo em seguida, porém, foram desmentidos pela Casa Civil – que, em nota, disse que “não procede a informação” e que “o governo está controlando as contas públicas de maneira responsável”. Ou seja, numa única nota, o governo fez os deputados passarem por mentirosos e irresponsáveis.

O líder do PSL (partido do presidente) na Câmara, Delegado Waldir (GO), que esteve na reunião, disse que a Casa Civil “está desmentindo o próprio presidente da República”. O líder do PROS, Capitão Wagner (CE), também testemunha do telefonema, foi contundente: “Não vou admitir, sendo aliado do governo, ser chamado lá no Palácio do Planalto para tratar uma questão séria como essa, presenciar o presidente pegar um celular, ligar para o ministro na presença de vários líderes partidários e, com todas as letras, dizer ‘a partir de agora o corte está suspenso’... Se o governo não sustenta o que o presidente falou na frente de 12 líderes parlamentares, não sou eu que vou passar por mentiroso perante a nação”.

No mesmo dia, a desorientação governista se refletiu na convocação do ministro Weintraub para explicar na Câmara o contingenciamento de verbas na educação. O placar da convocação teve 307 votos a favor – apenas um a menos do que o necessário para aprovar emendas constitucionais. Assim, está mais claro do que nunca que o governo não conta com apoio senão de alguns abnegados que se dizem bolsonaristas a despeito de serem frequentemente maltratados pelo Palácio do Planalto.

Isso acontece, entre outras razões, porque o governo não tem rumo. “Ainda não compreendemos, olhando a longo prazo, quais são as políticas que esse governo trouxe para sobrepor os 13 anos de governo do PT”, disse ao Valor o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “Até agora a gente não entendeu qual é essa agenda.”

Tal incompreensão é resultado da forma atabalhoada com que o presidente comunica suas decisões, inclusive para seus assessores. Recentemente, anunciou ter orientado o ministro Paulo Guedes a corrigir a tabela do Imposto de Renda (IR) pela inflação – o que pegou de surpresa a equipe econômica. No Senado, o ministro Guedes foi enfático: “(Foi) o presidente que falou que atualizaria a tabela de IR pela inflação. Eu não disse nada. Estamos no meio de uma batalha (a reforma da Previdência). Não adianta me distrair com outra”.

Em menos de cinco meses de governo, a lista de mal-entendidos presidenciais já é longa – inclui gestões indevidas para a queda dos juros dos bancos públicos e do preço do diesel, com forte impacto negativo nos mercados. Para o vice-presidente Hamilton Mourão, o governo tem “falhado na comunicação”. De fato. Mas o problema é que só consegue se comunicar quem tem o que dizer e sabe o que quer – condições às quais o presidente, até agora, está muito longe de atender. 

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