A 11 meses da eleição presidencial de 2022, é desolador o quadro das pesquisas eleitorais, embora eu tenha a esperança de que se modifique para viabilizar um único candidato da chamada terceira via, que, lutando por efetiva governança do Estado, se mostrasse capaz de tirar o País do desgoverno em que se encontra. E que, também, tirasse o Brasil do baixo crescimento econômico em que se afundou há quatro décadas, com uma saída socialmente inclusiva e sustentável do ponto de vista ambiental.
Quanto às pesquisas de intenção de voto, focarei, aqui, na mais recente do Datafolha, realizada entre os dias 13 e 15 de setembro, que ouviu 3.667 pessoas em 190 cidades brasileiras. Lideraram os resultados os candidatos Lula (PT) e Jair Bolsonaro (sem partido), que não vejo como credenciados para um novo mandato. Entre outros resultados, a pesquisa apresenta quatro cenários de candidaturas estimuladas – ou seja, uma lista é mostrada a quem vai votar –, e em todos os cenários Lula aparece em primeiro lugar, com 42% a 44% dos votos; Bolsonaro em segundo, com 24% a 26%; e Ciro Gomes em terceiro, recebendo de 9% a 12% dos votos.
Além de Ciro, os cenários incluem outros nomes da terceira via, que atualmente são 11: o próprio Ciro Gomes (PDT); João Doria (PSDB), Eduardo Leite (PSDB), Arthur Virgílio (PSDB), Sergio Moro (sem partido), Rodrigo Pacheco (PSD), Luiz Henrique Mandetta (DEM), Simone Tebet (MDB), José Luiz Datena (PSL), Luiz Felipe D’Ávila (Novo) e Alessandro Vieira (Cidadania). A estes nomes, a pesquisa somou Aldo Rebelo (sem partido), mas excluiu Virgílio, Moro e D’Ávila – os dois últimos só recentemente integrados à terceira via.
Os quatro cenários analisados sempre revelam Lula, Bolsonaro e Ciro Gomes, nesta ordem. O primeiro cenário também inclui Doria e Mandetta, e, no segundo, Eduardo Leite substitui Doria. No terceiro, Doria volta sem companhia. No quarto cenário entram Doria, Datena, Tebet, Rebelo e Vieira.
Um aspecto interessante destes cenários é que 33% é a soma dos votos recebidos, em seu melhor desempenho, pelos nove candidatos da terceira via pesquisados, superando, assim, os 26% de Bolsonaro em seu melhor número. Ou seja, há espaço para uma terceira via, mas desde que convirja para um único candidato. Seu caminho para o sucesso, obviamente, envolveria dois passos. O primeiro seria passar para o segundo turno, provavelmente com Lula, e, em seguida, vencer Lula.
Para viabilizar o primeiro passo seria indispensável, como já dito, que alcançasse uma proporção de votos maior que a prevista para Bolsonaro. Mas, mantido este quadro atual de tanta gente na terceira via, os votos se dispersariam e Bolsonaro seria beneficiado.
Portanto, o ideal seria que o processo político até a eleição consagrasse apenas o candidato mais viável da terceira via, e que os demais integrantes dela desistissem em favor dele. É fácil de escrever isso, mas as dificuldades são imensas. O caminho só poderá ser superado com muita, muita, muita conversa em busca de um entendimento. Mas é preciso tentar, e entendo que o diálogo deveria começar imediatamente.
Também seria conveniente que os atuais candidatos da terceira via, e outros que se juntassem a ela, logo começassem a apresentar seus planos de governo. Já trabalhei em campanhas presidenciais e sei que estes planos são de difícil assimilação pelos candidatos, que sempre se preocupam em verificar se os planos não têm algo que poderia levá-los a perder votos. Mas o habitual propósito de agradar todo mundo – no que Lula pontificou – acabou evidenciando que para o País crescer na linha proposta no primeiro parágrafo serão necessários alguns sacrifícios.
Candidatos que negassem isso mereceriam ser chamados de enganadores, de espalhadores de propostas fajutas que não poderão cumprir. O eleitor brasileiro, em geral, não se interessa pela apresentação e discussão de planos de governo, exceto naquilo que o afeta. Mas essa discussão daria ao grupo da terceira via maior presença na mídia, com o que ganharia espaço e, também, a oportunidade de criticar Lula e Bolsonaro nas suas fragilidades.
Vale lembrar que só falei de uma das pesquisas eleitorais e que os resultados delas costumam mudar ao longo do tempo. Quanto a isso, uma visão interessante foi apresentada em 19 de outubro deste ano pela revista Veja. Em resumo: “Desde a redemocratização do Brasil, nos anos 1980, foram oito disputas presidenciais e, em metade delas, os azarões (acrescento, nas pesquisas pré-eleitorais) viraram o jogo na eleição (ou bem próximo dela) (...) Em três das quatro vezes em que o favoritismo se confirmou, o vencedor disputava a reeleição, o que deixa o pleito do ano que vem numa situação sui generis, pois o atual mandatário, Jair Bolsonaro, não é favorito”.
Tomara que fique na terceira posição ou mais abaixo, pois há esta oportunidade para um candidato da terceira via que possa chegar ao menos em segundo lugar no primeiro turno e vitoriosamente no segundo.
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ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), PROFESSOR SÊNIOR DA USP, É CONSULTOR ECONÔMICO E DE ENSINO SUPERIOR