Hoje usarei este espaço para falar um pouco sobre esse livro, que tem 316 páginas e foi lançado na semana retrasada. É para o cidadão comum, como quem vive de salário e nem pode ou quer contar com uma boa herança, com prêmios lotéricos ou com atividades ilegais para construir um patrimônio que lhe dê tranquilidade na aposentadoria, cujo planejamento deve começar o mais cedo possível.
O livro tem 104 dicas de educação financeira. Não usei o termo lições porque o entendi como muito professoral, e na minha visão o poupador tem que ter um papel muito ativo ao administrar sua poupança e seus investimentos. E conhecendo esse processo, inclusive porque, mesmo recorrendo a planejadores financeiros, é preciso saber como atuam e cobram pelos seus serviços.
Na capa do livro está a sua dica básica. A poupança é usualmente definida assim: renda menos consumo igual à poupança, mas o que se poupa não pode ser colocado em terceiro lugar como nessa definição, como se fosse um resto, que pode nem existir. É preciso ver a poupança como segue: renda menos poupança igual a consumo, com a poupança tendo uma meta ambiciosa e o consumo reduzido ao indispensável.
O livro não foi elaborado na base do achismo. Cita vários premiados com o Nobel de Economia e outras fontes e dados como argumentação. Um desses premiados é Daniel Kahneman, um psicólogo americano escolhido por suas contribuições à economia comportamental, que passou a ganhar espaço no final do século passado. Em particular por sua crítica à teoria neoclássica, hoje ainda dominante no ensino de microeconomia, e que argumenta que o ser humano é racional. Kahneman demonstrou que essa racionalidade é limitada, com dois sistemas de raciocínio, um rápido e instintivo, o sistema 1, baseado em crenças, princípios e desejos ocasionais, e outro, o sistema 2, bem analítico e racional, e que deve orientar boas decisões, particularmente as ligadas à poupança e aos investimentos.
Passando ao conteúdo, ele tem 15 capítulos que agrupam as 104 dicas, inclusive o intitulado “Especialmente, mas não só para mulheres”. Sobre os assuntos que aborda, é bem completo, talvez o mais, e podem ser mencionados os seguintes conceitos básicos: dinheiro, preços, juros, inflação e outros, o que é educação financeira e por que é necessária, como adquiri-la e mantê-la, o efeito da inflação sobre salários e ativos financeiros, as fontes de renda e como ampliá-las, os riscos da longevidade e a aposentadoria, dívidas boas e más, o processo decisório pessoal segundo a economia comportamental, liquidez, rentabilidade, risco e o perfil do investidor, a Teoria Moderna de Portfólio ou carteira de investimento, a hipótese de mercados eficientes, o cidadão diante do Estado, uma fórmula para a prosperidade pessoal, os fundamentos do hábito de poupar, aspectos básicos dos investimentos, o investimento em capital humano (como educação e saúde), o valor do investimento em educação, investimentos em renda fixa e variável, investimentos em imóveis e fundos imobiliários, a administração dos gastos de consumo, mais fontes gratuitas de educação financeira, a calculadora financeira do site do Banco Central, e muito mais! O livro está sendo oferecido no site amazon.com.br, procurando-se pelo nome do autor. O título do livro não funciona.
O livro também procura suprir o que chamo de “carência informativa”, pois o noticiário sobre investimentos vem principalmente do mercado financeiro e enfatiza renda fixa e renda variável. Ora, o melhor investimento que fiz na vida foi em educação, conforme reconheço no livro. O mercado informa também sobre investimentos em fundos imobiliários, mas não em imóveis por si mesmos. Também investi nessa área e não tenho queixas. Aliás, quando adolescente, éramos uma família de oito filhos e morávamos em residências alugadas pelo banco onde meu pai trabalhava, mudando de uma cidade para outra. Minha mãe largou o magistério para cuidar da filharada e nos ensinou muito. Do meu pai uma grande lição foi que na sala de jantar havia a foto de uma casa que conseguiu construir aos poucos em Belo Horizonte e na qual pretendia morar quando se aposentasse. Recomendava também que todos nós fizéssemos isso. Resultado, logo depois de completar 20 anos, havia me mudado para São Paulo. Logo comprei uma quitinete em construção dando uma entrada e com prestações mensais. Levou cerca de cinco anos para ficar pronta, mas no final fiquei com o imóvel, que depois revendi para comprar outro maior e assim por diante, sempre dando uma entrada e pagando prestações. Um imóvel adquirido dessa forma é considerado produto de compromisso com a poupança e mostro outros no livro.
Tem prefácio de Armínio Fraga, fundador da Gávea Investimentos, Ph.D. em Economia pela Universidade Princeton (EUA) e ex-presidente do Banco Central. Ele conclui seu prefácio afirmando: “A leitura dele é um excelente investimento! Seja um ‘economaníaco’”.
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ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), É CONSULTOR ECONÔMICO E DE ENSINO SUPERIOR