Este evento, chamado Longevidade Expo + Fórum, foi realizado no fim de semana passado e durou três dias. Já em sua quinta edição, o fórum trouxe uma exposição de bens e serviços para pessoas idosas e discutiu questões de interesse delas e de cuidadores. Soube que 10 mil pessoas passaram pelo evento, mais o público digital. Durante a feira, a MasterCare, empresa que oferece educação para cuidadores, realizou o segundo Congresso Nacional de Cuidadores, Cuidados e Longevidade (Conacare), o principal evento do País sobre cuidadores formais e familiares. Tratou de temas como cuidados com pessoas idosas com Alzheimer, diabetes, saúde mental, cuidados interativos, jornada da pessoa acamada, nutrição para o envelhecimento saudável, entre outros.
Nos seis auditórios do evento, um catálogo listou 105 reuniões, principalmente palestras. Como venho estudando o tema e já falei dele noutros eventos, fui convidado para ministrar uma delas, no Conacare, abordando riscos da longevidade, numa visão abrangendo questões de natureza econômico-financeira e lições que tirei da longevidade de minha mãe, que faleceu aos 102 anos.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vem mostrando aumento contínuo da expectativa de vida no Brasil. Se o leitor quiser saber a sua, pode ir a www.ibge.gov.br, procurando por Tábuas de Longevidade. As últimas são de 2021, separadas para homens e mulheres, e estas sempre vivem mais que os homens. O fenômeno da longevidade é internacional. A mais recente edição americana da revista The Economist trouxe a matéria Living to 120 (Vivendo até 120), argumentando que a ideia vem ganhando espaço, sustentada por cientistas e bilionários nela interessados.
É ótimo que vamos viver mais, mas é preciso saber: em que condições? Cabe assegurar bem antes os recursos para uma vida digna, os quais incluem não apenas os financeiros. Entre outros aspectos, se é possível contar também com a ajuda da família e seus membros atuando gratuitamente como cuidadores.
Acompanhei o relacionamento de meus pais com meus avós, todos já falecidos, e notei que estes últimos, que não contavam com aposentadorias, tinham filhos que proviam os recursos necessários, mais voltados para as necessidades básicas, pois as residências não contemplavam então, entre outros itens, a enorme quantidade de eletrodomésticos, de serviços de saúde e de remédios que existem hoje em dia.
Quando eu era adolescente, certa vez uma senhora me disse que “filhos são dinheiro a juros” e que ela esperava contar com eles na velhice. Hoje, contudo, as famílias são bem menores. Na época dos meus avós havia famílias com mais de 10 filhos; na dos meus pais, entre 5 e 8 filhos; e hoje vejo ao meu redor que a maioria tem apenas 2. Na região onde moro em São Paulo, parece haver mais cachorros do que crianças e as petshops vêm proliferando. Previ que uma loja de roupas infantis que abriu iria fechar, e não deu outra.
E mais: entre os muitos filhos de antigamente, havia o risco de que alguns “não vingassem”, como se diz lá, em Minas, sem condições de ajudar no sustento dos pais. Agora, com o reduzido número de filhos, esse risco é maior, e o que tenho percebido é que há filhos que ainda dependem dos pais mesmo em idades em que seu papel, em tese, seria o de ajudá-los.
Voltando à minha mãe, ela vivia em casa própria e nem todos os filhos puderam ajudá-la. A conta era alta, pois envolvia três cuidadoras, que se revezavam em turnos de oito horas, uma folguista e a empregada que cuidava da casa e da alimentação. E havia os remédios e cuidados médicos, mas um dos meus irmãos pôde acomodá-la em seu plano de saúde.
Passando ao detalhe dos riscos, estudo da Associação dos Atuários dos EUA indicou mais de uma dezena deles, a saber: 1) inflação não coberta por reajustes de rendimentos; 2) a própria longevidade, que pode durar mais que os recursos; 3) taxas de juros em queda afetando negativamente rendimentos financeiros; 4) mercado de ações com mau desempenho, afetando aposentadorias ligadas a esse mercado; 5) interrupção do rendimento de um fundo de pensão sustentado por empresa falida; 6) dificuldades de obter emprego adicional para superar carências de renda; 7) políticas governamentais com impacto sobre rendimentos, com no caso de servidores públicos; 8) necessidades e custos imprevistos de assistência médica; 9) ausência de acomodações confortáveis e de cuidadores; 10) perda da capacidade de viver independentemente; 11) mudanças nas necessidades habitacionais; 12) morte do cônjuge; 13) outras mudanças na situação conjugal; 14) necessidades inesperadas de membros da família; e 15) maus conselhos, fraudes e roubos afetando aposentados. E eu adicionei: 16) filhos que não cuidam dos pais nem lhes dão apoio financeiro.
Portanto, há muitos riscos e a necessidade de se prevenir contra eles, o que deve começar o mais cedo possível na vida. Quem não fizer isso cairá na proteção dada pelo setor público, mas é sabido que é muito precária e insatisfatória.
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ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), É CONSULTOR ECONÔMICO E DE ENSINO SUPERIOR