O jornalista Rolf Kuntz escreve quinzenalmente na seção Espaço Aberto

Análise|Agro lidera PIB brasileiro enquanto indústria se move para trás, longe do protagonismo do passado


Indústria de transformação teve recuo de 1,3%, ficando no vermelho pela sexta vez em dez anos; agronegócio cresceu 15,1%

Por Rolf Kuntz
Atualização:

O Brasil é um país essencialmente agrícola, aprendiam as crianças no começo dos anos 50, quando Getúlio Vargas mandava, Carlos Lacerda esbravejava e a indústria dava os primeiros arranques para se tornar o motor da economia nacional. Passadas mais de seis décadas, os brasileiros veem de novo o País ser puxado pela agropecuária, enquanto o setor industrial mal se move, ou se move para trás, como se nunca tivesse liderado a atividade produtiva. Mas no segundo pós-guerra havia crescimento e modernização, algo muito diferente da experiência do último quarto de século, quando o Brasil passou a viver a chamada maldição dos países de renda média. Muito mais do que falar em maldição, é preciso reconhecer as falhas da política econômica e o insuficiente investimento produtivo nesse período.

Em 2023 a produção do campo aumentou 15,1%, a dos serviços cresceu 2,4% e a da indústria se expandiu apenas 1,6%, puxada pelas atividades extrativas (+8,7%) e de produção e distribuição de eletricidade, gás e água (+6,5). A indústria de transformação, geradora de máquinas, equipamentos e bens de consumo, como automóveis, medicamentos, vestuário e eletrodomésticos, apresentou um recuo de 1,3%, ficando no vermelho pela sexta vez em dez anos, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou 2,9%.

Mais uma vez os dados oficiais proporcionam argumentos para se falar de um País em desindustrialização. Há um evidente retrocesso e o desafio é retomar o avanço. Não se reverterá o processo, no entanto, sem investir muito mais em obras e em meios de produção. Em 2021 o Brasil investiu o equivalente a 17,9% do Produto Interno Bruto (PIB) para aumentar o potencial de produção de bens e serviços. Em 2022 o valor caiu para 17,8% e em 2023 despencou para 16,5% do PIB.

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Brasil é um país essencialmente agrícola Foto: Tiago Queiroz/ Estadão

Qualquer desses números mostra uma economia perigosamente enfraquecida. A maior taxa de investimento em capital fixo, neste século, ocorreu em 2013, quando atingiu 20,9% do PIB, um nível muito inferior ao mínimo recomendado, algo próximo de 24% ou 25% do PIB. Em 2024 e 2015 o porcentual investido se manteve relativamente alto, para os padrões brasileiros, mas toda a economia afundou, derrubada pela ação desastrosa do governo da União.

O quadro fica mais feio quando se pensa no investimento educacional, necessário à formação de mão de obra mais qualificada, mais passível de treinamento e mais produtiva. Não basta aplicar recursos em máquinas, equipamentos e construções para aumentar a produtividade. Não se ganha eficiência produtiva sem cuidar do capital humano. Em média, o trabalhador brasileiro produz bem menos que o americano e o europeu e também isso se reflete no desempenho geral da economia.

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Com investimento de apenas 16,5% em obras e em bens de produção, pouco se fez, no ano passado, para garantir maior dinamismo econômico nos próximos anos. Depois de crescer 1,1% em 2022, a formação de capital fixo recuou 3% em 2023. O governo tem dado atenção, corretamente, às condições de consumo das famílias, especialmente daquelas de baixa renda. Mas deveria olhar com maior cuidado a destinação de recursos aos meios de produção – tanto pelo governo quanto pelo setor empresarial.

No caso do governo, o potencial de investimento depende, no médio e no longo prazos, de uma gestão prudente das finanças públicas. Quanto mais cuidadosa a administração governamental, mais facilmente se garantem juros baixos e boas condições de financiamento ao setor privado – com efeitos evidentes sobre a capacidade empresarial de investir. Não adianta o presidente da República tentar intervir na política monetária e no setor financeiro. Não se criam por mágica os financiamentos necessários ao investimento produtivo. Depois de alguns arroubos intervencionistas, o presidente da República tem-se mostrado mais contido, deixando espaço para o trabalho do ministro da Fazenda e permitindo a tranquilidade necessária à atuação do Banco Central.

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Se o governo se comportar, as projeções de crescimento econômico talvez sejam novamente superadas e o Brasil tenha uma expansão razoável, em torno de 2% ou pouco acima desse número. Em 2024, o resultado geral será mais dependente da indústria do que foi no ano passado. Se o governo der atenção a esse ponto, poderá combinar o trabalho de curto prazo com o objetivo mais amplo de recompor e modernizar a atividade industrial nos próximos anos, sem descuidar, é claro, da agropecuária.

O Brasil é um país essencialmente agrícola, aprendiam as crianças no começo dos anos 50, quando Getúlio Vargas mandava, Carlos Lacerda esbravejava e a indústria dava os primeiros arranques para se tornar o motor da economia nacional. Passadas mais de seis décadas, os brasileiros veem de novo o País ser puxado pela agropecuária, enquanto o setor industrial mal se move, ou se move para trás, como se nunca tivesse liderado a atividade produtiva. Mas no segundo pós-guerra havia crescimento e modernização, algo muito diferente da experiência do último quarto de século, quando o Brasil passou a viver a chamada maldição dos países de renda média. Muito mais do que falar em maldição, é preciso reconhecer as falhas da política econômica e o insuficiente investimento produtivo nesse período.

Em 2023 a produção do campo aumentou 15,1%, a dos serviços cresceu 2,4% e a da indústria se expandiu apenas 1,6%, puxada pelas atividades extrativas (+8,7%) e de produção e distribuição de eletricidade, gás e água (+6,5). A indústria de transformação, geradora de máquinas, equipamentos e bens de consumo, como automóveis, medicamentos, vestuário e eletrodomésticos, apresentou um recuo de 1,3%, ficando no vermelho pela sexta vez em dez anos, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou 2,9%.

Mais uma vez os dados oficiais proporcionam argumentos para se falar de um País em desindustrialização. Há um evidente retrocesso e o desafio é retomar o avanço. Não se reverterá o processo, no entanto, sem investir muito mais em obras e em meios de produção. Em 2021 o Brasil investiu o equivalente a 17,9% do Produto Interno Bruto (PIB) para aumentar o potencial de produção de bens e serviços. Em 2022 o valor caiu para 17,8% e em 2023 despencou para 16,5% do PIB.

Brasil é um país essencialmente agrícola Foto: Tiago Queiroz/ Estadão

Qualquer desses números mostra uma economia perigosamente enfraquecida. A maior taxa de investimento em capital fixo, neste século, ocorreu em 2013, quando atingiu 20,9% do PIB, um nível muito inferior ao mínimo recomendado, algo próximo de 24% ou 25% do PIB. Em 2024 e 2015 o porcentual investido se manteve relativamente alto, para os padrões brasileiros, mas toda a economia afundou, derrubada pela ação desastrosa do governo da União.

O quadro fica mais feio quando se pensa no investimento educacional, necessário à formação de mão de obra mais qualificada, mais passível de treinamento e mais produtiva. Não basta aplicar recursos em máquinas, equipamentos e construções para aumentar a produtividade. Não se ganha eficiência produtiva sem cuidar do capital humano. Em média, o trabalhador brasileiro produz bem menos que o americano e o europeu e também isso se reflete no desempenho geral da economia.

Com investimento de apenas 16,5% em obras e em bens de produção, pouco se fez, no ano passado, para garantir maior dinamismo econômico nos próximos anos. Depois de crescer 1,1% em 2022, a formação de capital fixo recuou 3% em 2023. O governo tem dado atenção, corretamente, às condições de consumo das famílias, especialmente daquelas de baixa renda. Mas deveria olhar com maior cuidado a destinação de recursos aos meios de produção – tanto pelo governo quanto pelo setor empresarial.

No caso do governo, o potencial de investimento depende, no médio e no longo prazos, de uma gestão prudente das finanças públicas. Quanto mais cuidadosa a administração governamental, mais facilmente se garantem juros baixos e boas condições de financiamento ao setor privado – com efeitos evidentes sobre a capacidade empresarial de investir. Não adianta o presidente da República tentar intervir na política monetária e no setor financeiro. Não se criam por mágica os financiamentos necessários ao investimento produtivo. Depois de alguns arroubos intervencionistas, o presidente da República tem-se mostrado mais contido, deixando espaço para o trabalho do ministro da Fazenda e permitindo a tranquilidade necessária à atuação do Banco Central.

Se o governo se comportar, as projeções de crescimento econômico talvez sejam novamente superadas e o Brasil tenha uma expansão razoável, em torno de 2% ou pouco acima desse número. Em 2024, o resultado geral será mais dependente da indústria do que foi no ano passado. Se o governo der atenção a esse ponto, poderá combinar o trabalho de curto prazo com o objetivo mais amplo de recompor e modernizar a atividade industrial nos próximos anos, sem descuidar, é claro, da agropecuária.

O Brasil é um país essencialmente agrícola, aprendiam as crianças no começo dos anos 50, quando Getúlio Vargas mandava, Carlos Lacerda esbravejava e a indústria dava os primeiros arranques para se tornar o motor da economia nacional. Passadas mais de seis décadas, os brasileiros veem de novo o País ser puxado pela agropecuária, enquanto o setor industrial mal se move, ou se move para trás, como se nunca tivesse liderado a atividade produtiva. Mas no segundo pós-guerra havia crescimento e modernização, algo muito diferente da experiência do último quarto de século, quando o Brasil passou a viver a chamada maldição dos países de renda média. Muito mais do que falar em maldição, é preciso reconhecer as falhas da política econômica e o insuficiente investimento produtivo nesse período.

Em 2023 a produção do campo aumentou 15,1%, a dos serviços cresceu 2,4% e a da indústria se expandiu apenas 1,6%, puxada pelas atividades extrativas (+8,7%) e de produção e distribuição de eletricidade, gás e água (+6,5). A indústria de transformação, geradora de máquinas, equipamentos e bens de consumo, como automóveis, medicamentos, vestuário e eletrodomésticos, apresentou um recuo de 1,3%, ficando no vermelho pela sexta vez em dez anos, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou 2,9%.

Mais uma vez os dados oficiais proporcionam argumentos para se falar de um País em desindustrialização. Há um evidente retrocesso e o desafio é retomar o avanço. Não se reverterá o processo, no entanto, sem investir muito mais em obras e em meios de produção. Em 2021 o Brasil investiu o equivalente a 17,9% do Produto Interno Bruto (PIB) para aumentar o potencial de produção de bens e serviços. Em 2022 o valor caiu para 17,8% e em 2023 despencou para 16,5% do PIB.

Brasil é um país essencialmente agrícola Foto: Tiago Queiroz/ Estadão

Qualquer desses números mostra uma economia perigosamente enfraquecida. A maior taxa de investimento em capital fixo, neste século, ocorreu em 2013, quando atingiu 20,9% do PIB, um nível muito inferior ao mínimo recomendado, algo próximo de 24% ou 25% do PIB. Em 2024 e 2015 o porcentual investido se manteve relativamente alto, para os padrões brasileiros, mas toda a economia afundou, derrubada pela ação desastrosa do governo da União.

O quadro fica mais feio quando se pensa no investimento educacional, necessário à formação de mão de obra mais qualificada, mais passível de treinamento e mais produtiva. Não basta aplicar recursos em máquinas, equipamentos e construções para aumentar a produtividade. Não se ganha eficiência produtiva sem cuidar do capital humano. Em média, o trabalhador brasileiro produz bem menos que o americano e o europeu e também isso se reflete no desempenho geral da economia.

Com investimento de apenas 16,5% em obras e em bens de produção, pouco se fez, no ano passado, para garantir maior dinamismo econômico nos próximos anos. Depois de crescer 1,1% em 2022, a formação de capital fixo recuou 3% em 2023. O governo tem dado atenção, corretamente, às condições de consumo das famílias, especialmente daquelas de baixa renda. Mas deveria olhar com maior cuidado a destinação de recursos aos meios de produção – tanto pelo governo quanto pelo setor empresarial.

No caso do governo, o potencial de investimento depende, no médio e no longo prazos, de uma gestão prudente das finanças públicas. Quanto mais cuidadosa a administração governamental, mais facilmente se garantem juros baixos e boas condições de financiamento ao setor privado – com efeitos evidentes sobre a capacidade empresarial de investir. Não adianta o presidente da República tentar intervir na política monetária e no setor financeiro. Não se criam por mágica os financiamentos necessários ao investimento produtivo. Depois de alguns arroubos intervencionistas, o presidente da República tem-se mostrado mais contido, deixando espaço para o trabalho do ministro da Fazenda e permitindo a tranquilidade necessária à atuação do Banco Central.

Se o governo se comportar, as projeções de crescimento econômico talvez sejam novamente superadas e o Brasil tenha uma expansão razoável, em torno de 2% ou pouco acima desse número. Em 2024, o resultado geral será mais dependente da indústria do que foi no ano passado. Se o governo der atenção a esse ponto, poderá combinar o trabalho de curto prazo com o objetivo mais amplo de recompor e modernizar a atividade industrial nos próximos anos, sem descuidar, é claro, da agropecuária.

Análise por Rolf Kuntz

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