O jornalista Rolf Kuntz escreve quinzenalmente na seção Espaço Aberto

Opinião|Confiança, boa notícia; gastança, rima infeliz


Dados de inflação e juros tornam especialmente valioso o otimismo captado pela FGV, mas também realçam o perigo da inclinação presidencial para gastar

Por Rolf Kuntz

Confiança em alta entre consumidores e empresários pode facilitar a vida do presidente Lula neste semestre, dispensando-o de antecipar o Natal para outubro, como fez o companheiro Nicolás Maduro, ditador da Venezuela. Nada o dispensa, no entanto, de realizar seu trabalho, cuidando bem do dinheiro público, evitando um novo rombo orçamentário e buscando, por meio de reformas, desengessar as finanças do governo. O País teve um primeiro semestre vigoroso, com produção 2,9% superior à de um ano antes, emprego em alta e maior rendimento para os trabalhadores. Os novos desafios incluem o risco de inflação maior e o desarranjo das contas públicas.

Apesar da melhora na economia, os níveis de confiança ainda ficaram em agosto, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), abaixo do nível neutro, correspondente a 100 pontos. Tendo subido pelo quarto mês consecutivo, o indicador empresarial atingiu 97,9 pontos. No caso dos consumidores, depois de três meses de avanço foi alcançado o patamar de 93,2 pontos. Endividamento e inadimplência ainda elevados limitam, de acordo com o relatório, o otimismo das famílias.

Além disso, os níveis de confiança já são desiguais entre os vários grupos, tanto de empresários quanto de consumidores. Na área empresarial, a melhora de expectativas foi observada em 23 dos 49 setores acompanhados. Nos demais houve queda. No caso dos consumidores, os sinais se tornaram mais positivos nas duas faixas de maior rendimento e recuaram nas outras duas. Na menos favorecida, o ganho mensal atinge no máximo R$ 2.100. Na seguinte, R$ 4.800.

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A estes dados ainda se poderia acrescentar um dado ausente do relatório da FGV: além de ganharem menos, as famílias mais pobres são quase sempre as mais afetadas pela inflação. Também por isso o poder federal deveria empenhar-se muito seriamente na prevenção da alta geral de preços. Não basta deixar essa tarefa para o Banco Central (BC). O Executivo poderia adiantar o trabalho, controlando e selecionando seus gastos mais severamente.

Isso tornaria dispensáveis as quase sempre dolorosas políticas de ajuste. Essas políticas normalmente incluem elevação de juros, maior dificuldade para obtenção de crédito e menor volume de capital investido na produção. Maior atenção ao risco inflacionário facilitaria, portanto, o andamento dos negócios, a oferta de empregos e o crescimento sem solavancos.

Contenção e maior seleção de gastos públicos poderiam beneficiar mais amplamente, portanto, os grupos mais carentes, tanto pela menor pressão inflacionária quanto pelo avanço mais seguro da atividade. A percepção desses dados inverte a imagem do conflito entre o populismo petista e a defesa da moeda realizada pelo BC. O maior cuidado com o valor da moeda acaba sendo mais benéfico ao trabalhador, especialmente ao de baixa renda, do que a gastança aparentemente generosa.

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Não há como desconhecer ou minimizar, é claro, os sofrimentos ocasionados por ajustes monetários severos, nos momentos de maiores desarranjos. Esse é mais um motivo de grande peso para se evitarem políticas potencialmente inflacionárias. Se o desastre ocorrer, no entanto, o governo poderá implantar políticas especiais de apoio aos grupos carentes, para atenuar o impacto das ações corretivas. Inaceitável é a prática tradicional, mantida por governantes imprudentes, de criar o desarranjo e depois brigar com a autoridade monetária, acusando-a de insensibilidade social.

Com inflação de 4,35% nos 12 meses até agosto, medida pelo IPCA-15, o Brasil continua longe do centro da meta, fixado em 3% pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Pelo mesmo indicador, a alta de preços acumulada neste ano chegou a 3,02% no mês passado. A taxa mensal (0,19%) foi menor que a de julho (0,30%), mas houve alta em oito dos nove grupos de bens e serviços pesquisados. No mercado, a mediana das projeções para o ano subiu de 4,25% para 4,26%, segundo o boletim semanal Focus divulgado na segunda-feira passada. O mesmo boletim registra projeções de 3,92% para 2025, 3,80% para 2026 e 3,50% para 2027 – sem expectativa, portanto, de chegar ao centro do alvo no próximo triênio.

Se os fatos confirmarem o conjunto das estimativas, a inflação longe da meta coexistirá com taxas medíocres de crescimento econômico: 2,46% em 2024, 1,85% em 2025 e 2% nos anos seguintes.

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Empresários da produção podem ter expectativas melhores que as do setor financeiro, mas continuarão enfrentando juros muito altos, se o BC mantiver expectativas de inflação elevada. O acesso ao financiamento permanecerá difícil e o quadro poderá piorar se o ingresso de capital estrangeiro for prejudicado.

As estimativas captadas na pesquisa Focus apontam juros básicos de 10,50% no fim deste ano, 10% em dezembro de 2025, 9,50% em 2026 e 9% no ano seguinte. Empresários e consumidores continuarão enfrentando crédito muito caro, além da tributação muito pesada. Esses dados tornam especialmente valioso o otimismo captado pela FGV, mas, ao mesmo tempo, realçam o perigo da inclinação presidencial para a gastança.

*

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JORNALISTA

Confiança em alta entre consumidores e empresários pode facilitar a vida do presidente Lula neste semestre, dispensando-o de antecipar o Natal para outubro, como fez o companheiro Nicolás Maduro, ditador da Venezuela. Nada o dispensa, no entanto, de realizar seu trabalho, cuidando bem do dinheiro público, evitando um novo rombo orçamentário e buscando, por meio de reformas, desengessar as finanças do governo. O País teve um primeiro semestre vigoroso, com produção 2,9% superior à de um ano antes, emprego em alta e maior rendimento para os trabalhadores. Os novos desafios incluem o risco de inflação maior e o desarranjo das contas públicas.

Apesar da melhora na economia, os níveis de confiança ainda ficaram em agosto, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), abaixo do nível neutro, correspondente a 100 pontos. Tendo subido pelo quarto mês consecutivo, o indicador empresarial atingiu 97,9 pontos. No caso dos consumidores, depois de três meses de avanço foi alcançado o patamar de 93,2 pontos. Endividamento e inadimplência ainda elevados limitam, de acordo com o relatório, o otimismo das famílias.

Além disso, os níveis de confiança já são desiguais entre os vários grupos, tanto de empresários quanto de consumidores. Na área empresarial, a melhora de expectativas foi observada em 23 dos 49 setores acompanhados. Nos demais houve queda. No caso dos consumidores, os sinais se tornaram mais positivos nas duas faixas de maior rendimento e recuaram nas outras duas. Na menos favorecida, o ganho mensal atinge no máximo R$ 2.100. Na seguinte, R$ 4.800.

A estes dados ainda se poderia acrescentar um dado ausente do relatório da FGV: além de ganharem menos, as famílias mais pobres são quase sempre as mais afetadas pela inflação. Também por isso o poder federal deveria empenhar-se muito seriamente na prevenção da alta geral de preços. Não basta deixar essa tarefa para o Banco Central (BC). O Executivo poderia adiantar o trabalho, controlando e selecionando seus gastos mais severamente.

Isso tornaria dispensáveis as quase sempre dolorosas políticas de ajuste. Essas políticas normalmente incluem elevação de juros, maior dificuldade para obtenção de crédito e menor volume de capital investido na produção. Maior atenção ao risco inflacionário facilitaria, portanto, o andamento dos negócios, a oferta de empregos e o crescimento sem solavancos.

Contenção e maior seleção de gastos públicos poderiam beneficiar mais amplamente, portanto, os grupos mais carentes, tanto pela menor pressão inflacionária quanto pelo avanço mais seguro da atividade. A percepção desses dados inverte a imagem do conflito entre o populismo petista e a defesa da moeda realizada pelo BC. O maior cuidado com o valor da moeda acaba sendo mais benéfico ao trabalhador, especialmente ao de baixa renda, do que a gastança aparentemente generosa.

Não há como desconhecer ou minimizar, é claro, os sofrimentos ocasionados por ajustes monetários severos, nos momentos de maiores desarranjos. Esse é mais um motivo de grande peso para se evitarem políticas potencialmente inflacionárias. Se o desastre ocorrer, no entanto, o governo poderá implantar políticas especiais de apoio aos grupos carentes, para atenuar o impacto das ações corretivas. Inaceitável é a prática tradicional, mantida por governantes imprudentes, de criar o desarranjo e depois brigar com a autoridade monetária, acusando-a de insensibilidade social.

Com inflação de 4,35% nos 12 meses até agosto, medida pelo IPCA-15, o Brasil continua longe do centro da meta, fixado em 3% pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Pelo mesmo indicador, a alta de preços acumulada neste ano chegou a 3,02% no mês passado. A taxa mensal (0,19%) foi menor que a de julho (0,30%), mas houve alta em oito dos nove grupos de bens e serviços pesquisados. No mercado, a mediana das projeções para o ano subiu de 4,25% para 4,26%, segundo o boletim semanal Focus divulgado na segunda-feira passada. O mesmo boletim registra projeções de 3,92% para 2025, 3,80% para 2026 e 3,50% para 2027 – sem expectativa, portanto, de chegar ao centro do alvo no próximo triênio.

Se os fatos confirmarem o conjunto das estimativas, a inflação longe da meta coexistirá com taxas medíocres de crescimento econômico: 2,46% em 2024, 1,85% em 2025 e 2% nos anos seguintes.

Empresários da produção podem ter expectativas melhores que as do setor financeiro, mas continuarão enfrentando juros muito altos, se o BC mantiver expectativas de inflação elevada. O acesso ao financiamento permanecerá difícil e o quadro poderá piorar se o ingresso de capital estrangeiro for prejudicado.

As estimativas captadas na pesquisa Focus apontam juros básicos de 10,50% no fim deste ano, 10% em dezembro de 2025, 9,50% em 2026 e 9% no ano seguinte. Empresários e consumidores continuarão enfrentando crédito muito caro, além da tributação muito pesada. Esses dados tornam especialmente valioso o otimismo captado pela FGV, mas, ao mesmo tempo, realçam o perigo da inclinação presidencial para a gastança.

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JORNALISTA

Confiança em alta entre consumidores e empresários pode facilitar a vida do presidente Lula neste semestre, dispensando-o de antecipar o Natal para outubro, como fez o companheiro Nicolás Maduro, ditador da Venezuela. Nada o dispensa, no entanto, de realizar seu trabalho, cuidando bem do dinheiro público, evitando um novo rombo orçamentário e buscando, por meio de reformas, desengessar as finanças do governo. O País teve um primeiro semestre vigoroso, com produção 2,9% superior à de um ano antes, emprego em alta e maior rendimento para os trabalhadores. Os novos desafios incluem o risco de inflação maior e o desarranjo das contas públicas.

Apesar da melhora na economia, os níveis de confiança ainda ficaram em agosto, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), abaixo do nível neutro, correspondente a 100 pontos. Tendo subido pelo quarto mês consecutivo, o indicador empresarial atingiu 97,9 pontos. No caso dos consumidores, depois de três meses de avanço foi alcançado o patamar de 93,2 pontos. Endividamento e inadimplência ainda elevados limitam, de acordo com o relatório, o otimismo das famílias.

Além disso, os níveis de confiança já são desiguais entre os vários grupos, tanto de empresários quanto de consumidores. Na área empresarial, a melhora de expectativas foi observada em 23 dos 49 setores acompanhados. Nos demais houve queda. No caso dos consumidores, os sinais se tornaram mais positivos nas duas faixas de maior rendimento e recuaram nas outras duas. Na menos favorecida, o ganho mensal atinge no máximo R$ 2.100. Na seguinte, R$ 4.800.

A estes dados ainda se poderia acrescentar um dado ausente do relatório da FGV: além de ganharem menos, as famílias mais pobres são quase sempre as mais afetadas pela inflação. Também por isso o poder federal deveria empenhar-se muito seriamente na prevenção da alta geral de preços. Não basta deixar essa tarefa para o Banco Central (BC). O Executivo poderia adiantar o trabalho, controlando e selecionando seus gastos mais severamente.

Isso tornaria dispensáveis as quase sempre dolorosas políticas de ajuste. Essas políticas normalmente incluem elevação de juros, maior dificuldade para obtenção de crédito e menor volume de capital investido na produção. Maior atenção ao risco inflacionário facilitaria, portanto, o andamento dos negócios, a oferta de empregos e o crescimento sem solavancos.

Contenção e maior seleção de gastos públicos poderiam beneficiar mais amplamente, portanto, os grupos mais carentes, tanto pela menor pressão inflacionária quanto pelo avanço mais seguro da atividade. A percepção desses dados inverte a imagem do conflito entre o populismo petista e a defesa da moeda realizada pelo BC. O maior cuidado com o valor da moeda acaba sendo mais benéfico ao trabalhador, especialmente ao de baixa renda, do que a gastança aparentemente generosa.

Não há como desconhecer ou minimizar, é claro, os sofrimentos ocasionados por ajustes monetários severos, nos momentos de maiores desarranjos. Esse é mais um motivo de grande peso para se evitarem políticas potencialmente inflacionárias. Se o desastre ocorrer, no entanto, o governo poderá implantar políticas especiais de apoio aos grupos carentes, para atenuar o impacto das ações corretivas. Inaceitável é a prática tradicional, mantida por governantes imprudentes, de criar o desarranjo e depois brigar com a autoridade monetária, acusando-a de insensibilidade social.

Com inflação de 4,35% nos 12 meses até agosto, medida pelo IPCA-15, o Brasil continua longe do centro da meta, fixado em 3% pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Pelo mesmo indicador, a alta de preços acumulada neste ano chegou a 3,02% no mês passado. A taxa mensal (0,19%) foi menor que a de julho (0,30%), mas houve alta em oito dos nove grupos de bens e serviços pesquisados. No mercado, a mediana das projeções para o ano subiu de 4,25% para 4,26%, segundo o boletim semanal Focus divulgado na segunda-feira passada. O mesmo boletim registra projeções de 3,92% para 2025, 3,80% para 2026 e 3,50% para 2027 – sem expectativa, portanto, de chegar ao centro do alvo no próximo triênio.

Se os fatos confirmarem o conjunto das estimativas, a inflação longe da meta coexistirá com taxas medíocres de crescimento econômico: 2,46% em 2024, 1,85% em 2025 e 2% nos anos seguintes.

Empresários da produção podem ter expectativas melhores que as do setor financeiro, mas continuarão enfrentando juros muito altos, se o BC mantiver expectativas de inflação elevada. O acesso ao financiamento permanecerá difícil e o quadro poderá piorar se o ingresso de capital estrangeiro for prejudicado.

As estimativas captadas na pesquisa Focus apontam juros básicos de 10,50% no fim deste ano, 10% em dezembro de 2025, 9,50% em 2026 e 9% no ano seguinte. Empresários e consumidores continuarão enfrentando crédito muito caro, além da tributação muito pesada. Esses dados tornam especialmente valioso o otimismo captado pela FGV, mas, ao mesmo tempo, realçam o perigo da inclinação presidencial para a gastança.

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JORNALISTA

Confiança em alta entre consumidores e empresários pode facilitar a vida do presidente Lula neste semestre, dispensando-o de antecipar o Natal para outubro, como fez o companheiro Nicolás Maduro, ditador da Venezuela. Nada o dispensa, no entanto, de realizar seu trabalho, cuidando bem do dinheiro público, evitando um novo rombo orçamentário e buscando, por meio de reformas, desengessar as finanças do governo. O País teve um primeiro semestre vigoroso, com produção 2,9% superior à de um ano antes, emprego em alta e maior rendimento para os trabalhadores. Os novos desafios incluem o risco de inflação maior e o desarranjo das contas públicas.

Apesar da melhora na economia, os níveis de confiança ainda ficaram em agosto, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), abaixo do nível neutro, correspondente a 100 pontos. Tendo subido pelo quarto mês consecutivo, o indicador empresarial atingiu 97,9 pontos. No caso dos consumidores, depois de três meses de avanço foi alcançado o patamar de 93,2 pontos. Endividamento e inadimplência ainda elevados limitam, de acordo com o relatório, o otimismo das famílias.

Além disso, os níveis de confiança já são desiguais entre os vários grupos, tanto de empresários quanto de consumidores. Na área empresarial, a melhora de expectativas foi observada em 23 dos 49 setores acompanhados. Nos demais houve queda. No caso dos consumidores, os sinais se tornaram mais positivos nas duas faixas de maior rendimento e recuaram nas outras duas. Na menos favorecida, o ganho mensal atinge no máximo R$ 2.100. Na seguinte, R$ 4.800.

A estes dados ainda se poderia acrescentar um dado ausente do relatório da FGV: além de ganharem menos, as famílias mais pobres são quase sempre as mais afetadas pela inflação. Também por isso o poder federal deveria empenhar-se muito seriamente na prevenção da alta geral de preços. Não basta deixar essa tarefa para o Banco Central (BC). O Executivo poderia adiantar o trabalho, controlando e selecionando seus gastos mais severamente.

Isso tornaria dispensáveis as quase sempre dolorosas políticas de ajuste. Essas políticas normalmente incluem elevação de juros, maior dificuldade para obtenção de crédito e menor volume de capital investido na produção. Maior atenção ao risco inflacionário facilitaria, portanto, o andamento dos negócios, a oferta de empregos e o crescimento sem solavancos.

Contenção e maior seleção de gastos públicos poderiam beneficiar mais amplamente, portanto, os grupos mais carentes, tanto pela menor pressão inflacionária quanto pelo avanço mais seguro da atividade. A percepção desses dados inverte a imagem do conflito entre o populismo petista e a defesa da moeda realizada pelo BC. O maior cuidado com o valor da moeda acaba sendo mais benéfico ao trabalhador, especialmente ao de baixa renda, do que a gastança aparentemente generosa.

Não há como desconhecer ou minimizar, é claro, os sofrimentos ocasionados por ajustes monetários severos, nos momentos de maiores desarranjos. Esse é mais um motivo de grande peso para se evitarem políticas potencialmente inflacionárias. Se o desastre ocorrer, no entanto, o governo poderá implantar políticas especiais de apoio aos grupos carentes, para atenuar o impacto das ações corretivas. Inaceitável é a prática tradicional, mantida por governantes imprudentes, de criar o desarranjo e depois brigar com a autoridade monetária, acusando-a de insensibilidade social.

Com inflação de 4,35% nos 12 meses até agosto, medida pelo IPCA-15, o Brasil continua longe do centro da meta, fixado em 3% pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Pelo mesmo indicador, a alta de preços acumulada neste ano chegou a 3,02% no mês passado. A taxa mensal (0,19%) foi menor que a de julho (0,30%), mas houve alta em oito dos nove grupos de bens e serviços pesquisados. No mercado, a mediana das projeções para o ano subiu de 4,25% para 4,26%, segundo o boletim semanal Focus divulgado na segunda-feira passada. O mesmo boletim registra projeções de 3,92% para 2025, 3,80% para 2026 e 3,50% para 2027 – sem expectativa, portanto, de chegar ao centro do alvo no próximo triênio.

Se os fatos confirmarem o conjunto das estimativas, a inflação longe da meta coexistirá com taxas medíocres de crescimento econômico: 2,46% em 2024, 1,85% em 2025 e 2% nos anos seguintes.

Empresários da produção podem ter expectativas melhores que as do setor financeiro, mas continuarão enfrentando juros muito altos, se o BC mantiver expectativas de inflação elevada. O acesso ao financiamento permanecerá difícil e o quadro poderá piorar se o ingresso de capital estrangeiro for prejudicado.

As estimativas captadas na pesquisa Focus apontam juros básicos de 10,50% no fim deste ano, 10% em dezembro de 2025, 9,50% em 2026 e 9% no ano seguinte. Empresários e consumidores continuarão enfrentando crédito muito caro, além da tributação muito pesada. Esses dados tornam especialmente valioso o otimismo captado pela FGV, mas, ao mesmo tempo, realçam o perigo da inclinação presidencial para a gastança.

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