O jornalista Rolf Kuntz escreve quinzenalmente na seção Espaço Aberto

Opinião|Lula, a ordem mundial e Brasil meio emperrado


O presidente pode falar mal do FMI. Mas ainda lhe faltaria explicar por que as projeções do mercado brasileiro são tão parecidas com as do fundo

Por Rolf Kuntz

O presidente Lula da Silva insiste em remontar a economia mundial, buscar alternativas ao dólar e dar proeminência aos países do “sul”, uma entidade ainda mal definida, mas pouco avançou, até agora, na tarefa de resgatar o Brasil da mediocridade. Com crescimento previsto de 3% neste ano, 2,2% no próximo e 2,5% em 2029, o País continua no pelotão de trás da corrida econômica, segundo as novas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Em coro com outros políticos brasileiros, o presidente pode falar mal do fundo, acusá-lo de servir aos Estados Unidos, de agir contra os interesses do mundo emergente e em desenvolvimento e de impor políticas desastrosas. Mas ainda lhe faltaria explicar por que as projeções formuladas no mercado brasileiro são tão parecidas com as do FMI – e às vezes piores em alguns detalhes.

Segundo o boletim Focus distribuído no dia 21, a economia do Brasil, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), deve crescer 3,05% em 2024, 1,93% em 2025 e 2% em cada um dos dois anos seguintes. As projeções também apontam inflação de 4,5% neste ano, de 3,99% no próximo e taxas sempre superiores ao centro da meta, 3%, até 2027.

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Inflação seguidamente acima da meta é um claro desafio para o Banco Central (BC), entidade responsável pela defesa da moeda. A resposta é dada com elevação de juros ou manutenção de juros altos. Por isso, a taxa básica, a Selic, estará em 11,75% no fim deste ano, em 11,25% em dezembro de 2025, em 9,50% no encerramento de 2026 e em 9% no final do período. Taxa real de juros elevada pode atrair capital especulativo, mas é normalmente um obstáculo ao consumo, ao investimento produtivo e ao crescimento da atividade econômica.

O presidente pode falar mal do setor financeiro e acusá-lo de operar contra os interesses do povo. Mas nesse mercado, como em qualquer outro, os agentes trabalham normalmente em busca de lucro e, nos piores momentos, da preservação de seu capital e de sua sobrevivência nos negócios.

Motivações semelhantes serão encontradas em pequenos, médios e grandes empresários de todos os setores. Os mais modestos produtores do campo, nas áreas menos desenvolvidas, provavelmente elevarão suas ambições se conseguirem ir pouco além do mínimo necessário. Por que não ampliar e reformar a casa, comprar uma televisão mais moderna e pensar numa educação mais ambiciosa para os filhos?

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O presidente Lula, é claro, entende e apoia essas ambições, mas parece esquecer ou menosprezar, em alguns momentos, as condições necessárias para realizá-las numa economia capitalista, ou ainda capitalista, como a brasileira. Essas condições incluem, nos níveis básicos, o crescimento econômico prolongado e seguro, com previsibilidade suficiente para as decisões de investimento privado.

Incluem também, obviamente, uma gestão prudente e eficaz das verbas públicas, com investimentos bem planejados e bem executados, contenção dos gastos de custeio e, se possível, diminuição do peso tributário, sem favores a grupos empresariais, setores de negócios e apoiadores políticos.

Tudo isso é obviamente complicado, ainda mais num país onde congressistas controlam uma enorme parcela – muito maior do que se observa em economias mais desenvolvidas, como a americana – das emendas orçamentárias. Nada pode justificar a pulverização de dezenas de bilhões de reais enviados, por meio de emendas, às bases eleitorais de parlamentares. Trata-se de verbas da União destinadas, por esse meio, a obras e atividades de responsabilidade local ou estadual e, em muitos casos, sem conexões claras com políticas e programas federais. Não é exagero qualificar esse procedimento como privatização de recursos da União para objetivos particulares de políticos e de seus apoiadores. É perfeitamente justificável a intervenção recente do Supremo Tribunal Federal, nesse jogo, com a exigência de informações suficientes sobre a destinação dessas verbas.

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O presidente Lula e demais líderes do Brics podem ter excelentes motivos para cobrar mudanças na ordem econômica mundial e nas instituições multilaterais – embora o presidente brasileiro exiba, normalmente, notável ignorância dos objetivos, critérios e atividades do FMI e de outras entidades. Lula chega a exibir alguma ingenuidade nessas discussões. Ele parece desconhecer, por exemplo, a participação chinesa (6,40%) no total de recursos do fundo, só superada, quando se consideram as parcelas individuais dos países, pela dos Estados Unidos (17,42%). Alemanha, maior economia da Europa Ocidental, detém 5,59%. O Brasil, 2,32%. Mas poucos países votam com base apenas em sua participação financeira. A maior parte, incluído o Brasil, é vinculada a grupos e vota dessa maneira.

Em seu terceiro mandato, o presidente Lula exibe, de vez em quando, recaídas no petismo de quatro décadas atrás, como quando tenta mandar nas agências reguladoras. Isso é em parte compensado pela atualidade do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e de sua colega do Planejamento, Simone Tebet. Bem ou mal, o petismo presidencial acaba neutralizando, em boa parte, o direitismo extremo ainda perigoso para a democracia brasileira.

*

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JORNALISTA

O presidente Lula da Silva insiste em remontar a economia mundial, buscar alternativas ao dólar e dar proeminência aos países do “sul”, uma entidade ainda mal definida, mas pouco avançou, até agora, na tarefa de resgatar o Brasil da mediocridade. Com crescimento previsto de 3% neste ano, 2,2% no próximo e 2,5% em 2029, o País continua no pelotão de trás da corrida econômica, segundo as novas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Em coro com outros políticos brasileiros, o presidente pode falar mal do fundo, acusá-lo de servir aos Estados Unidos, de agir contra os interesses do mundo emergente e em desenvolvimento e de impor políticas desastrosas. Mas ainda lhe faltaria explicar por que as projeções formuladas no mercado brasileiro são tão parecidas com as do FMI – e às vezes piores em alguns detalhes.

Segundo o boletim Focus distribuído no dia 21, a economia do Brasil, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), deve crescer 3,05% em 2024, 1,93% em 2025 e 2% em cada um dos dois anos seguintes. As projeções também apontam inflação de 4,5% neste ano, de 3,99% no próximo e taxas sempre superiores ao centro da meta, 3%, até 2027.

Inflação seguidamente acima da meta é um claro desafio para o Banco Central (BC), entidade responsável pela defesa da moeda. A resposta é dada com elevação de juros ou manutenção de juros altos. Por isso, a taxa básica, a Selic, estará em 11,75% no fim deste ano, em 11,25% em dezembro de 2025, em 9,50% no encerramento de 2026 e em 9% no final do período. Taxa real de juros elevada pode atrair capital especulativo, mas é normalmente um obstáculo ao consumo, ao investimento produtivo e ao crescimento da atividade econômica.

O presidente pode falar mal do setor financeiro e acusá-lo de operar contra os interesses do povo. Mas nesse mercado, como em qualquer outro, os agentes trabalham normalmente em busca de lucro e, nos piores momentos, da preservação de seu capital e de sua sobrevivência nos negócios.

Motivações semelhantes serão encontradas em pequenos, médios e grandes empresários de todos os setores. Os mais modestos produtores do campo, nas áreas menos desenvolvidas, provavelmente elevarão suas ambições se conseguirem ir pouco além do mínimo necessário. Por que não ampliar e reformar a casa, comprar uma televisão mais moderna e pensar numa educação mais ambiciosa para os filhos?

O presidente Lula, é claro, entende e apoia essas ambições, mas parece esquecer ou menosprezar, em alguns momentos, as condições necessárias para realizá-las numa economia capitalista, ou ainda capitalista, como a brasileira. Essas condições incluem, nos níveis básicos, o crescimento econômico prolongado e seguro, com previsibilidade suficiente para as decisões de investimento privado.

Incluem também, obviamente, uma gestão prudente e eficaz das verbas públicas, com investimentos bem planejados e bem executados, contenção dos gastos de custeio e, se possível, diminuição do peso tributário, sem favores a grupos empresariais, setores de negócios e apoiadores políticos.

Tudo isso é obviamente complicado, ainda mais num país onde congressistas controlam uma enorme parcela – muito maior do que se observa em economias mais desenvolvidas, como a americana – das emendas orçamentárias. Nada pode justificar a pulverização de dezenas de bilhões de reais enviados, por meio de emendas, às bases eleitorais de parlamentares. Trata-se de verbas da União destinadas, por esse meio, a obras e atividades de responsabilidade local ou estadual e, em muitos casos, sem conexões claras com políticas e programas federais. Não é exagero qualificar esse procedimento como privatização de recursos da União para objetivos particulares de políticos e de seus apoiadores. É perfeitamente justificável a intervenção recente do Supremo Tribunal Federal, nesse jogo, com a exigência de informações suficientes sobre a destinação dessas verbas.

O presidente Lula e demais líderes do Brics podem ter excelentes motivos para cobrar mudanças na ordem econômica mundial e nas instituições multilaterais – embora o presidente brasileiro exiba, normalmente, notável ignorância dos objetivos, critérios e atividades do FMI e de outras entidades. Lula chega a exibir alguma ingenuidade nessas discussões. Ele parece desconhecer, por exemplo, a participação chinesa (6,40%) no total de recursos do fundo, só superada, quando se consideram as parcelas individuais dos países, pela dos Estados Unidos (17,42%). Alemanha, maior economia da Europa Ocidental, detém 5,59%. O Brasil, 2,32%. Mas poucos países votam com base apenas em sua participação financeira. A maior parte, incluído o Brasil, é vinculada a grupos e vota dessa maneira.

Em seu terceiro mandato, o presidente Lula exibe, de vez em quando, recaídas no petismo de quatro décadas atrás, como quando tenta mandar nas agências reguladoras. Isso é em parte compensado pela atualidade do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e de sua colega do Planejamento, Simone Tebet. Bem ou mal, o petismo presidencial acaba neutralizando, em boa parte, o direitismo extremo ainda perigoso para a democracia brasileira.

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JORNALISTA

O presidente Lula da Silva insiste em remontar a economia mundial, buscar alternativas ao dólar e dar proeminência aos países do “sul”, uma entidade ainda mal definida, mas pouco avançou, até agora, na tarefa de resgatar o Brasil da mediocridade. Com crescimento previsto de 3% neste ano, 2,2% no próximo e 2,5% em 2029, o País continua no pelotão de trás da corrida econômica, segundo as novas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Em coro com outros políticos brasileiros, o presidente pode falar mal do fundo, acusá-lo de servir aos Estados Unidos, de agir contra os interesses do mundo emergente e em desenvolvimento e de impor políticas desastrosas. Mas ainda lhe faltaria explicar por que as projeções formuladas no mercado brasileiro são tão parecidas com as do FMI – e às vezes piores em alguns detalhes.

Segundo o boletim Focus distribuído no dia 21, a economia do Brasil, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), deve crescer 3,05% em 2024, 1,93% em 2025 e 2% em cada um dos dois anos seguintes. As projeções também apontam inflação de 4,5% neste ano, de 3,99% no próximo e taxas sempre superiores ao centro da meta, 3%, até 2027.

Inflação seguidamente acima da meta é um claro desafio para o Banco Central (BC), entidade responsável pela defesa da moeda. A resposta é dada com elevação de juros ou manutenção de juros altos. Por isso, a taxa básica, a Selic, estará em 11,75% no fim deste ano, em 11,25% em dezembro de 2025, em 9,50% no encerramento de 2026 e em 9% no final do período. Taxa real de juros elevada pode atrair capital especulativo, mas é normalmente um obstáculo ao consumo, ao investimento produtivo e ao crescimento da atividade econômica.

O presidente pode falar mal do setor financeiro e acusá-lo de operar contra os interesses do povo. Mas nesse mercado, como em qualquer outro, os agentes trabalham normalmente em busca de lucro e, nos piores momentos, da preservação de seu capital e de sua sobrevivência nos negócios.

Motivações semelhantes serão encontradas em pequenos, médios e grandes empresários de todos os setores. Os mais modestos produtores do campo, nas áreas menos desenvolvidas, provavelmente elevarão suas ambições se conseguirem ir pouco além do mínimo necessário. Por que não ampliar e reformar a casa, comprar uma televisão mais moderna e pensar numa educação mais ambiciosa para os filhos?

O presidente Lula, é claro, entende e apoia essas ambições, mas parece esquecer ou menosprezar, em alguns momentos, as condições necessárias para realizá-las numa economia capitalista, ou ainda capitalista, como a brasileira. Essas condições incluem, nos níveis básicos, o crescimento econômico prolongado e seguro, com previsibilidade suficiente para as decisões de investimento privado.

Incluem também, obviamente, uma gestão prudente e eficaz das verbas públicas, com investimentos bem planejados e bem executados, contenção dos gastos de custeio e, se possível, diminuição do peso tributário, sem favores a grupos empresariais, setores de negócios e apoiadores políticos.

Tudo isso é obviamente complicado, ainda mais num país onde congressistas controlam uma enorme parcela – muito maior do que se observa em economias mais desenvolvidas, como a americana – das emendas orçamentárias. Nada pode justificar a pulverização de dezenas de bilhões de reais enviados, por meio de emendas, às bases eleitorais de parlamentares. Trata-se de verbas da União destinadas, por esse meio, a obras e atividades de responsabilidade local ou estadual e, em muitos casos, sem conexões claras com políticas e programas federais. Não é exagero qualificar esse procedimento como privatização de recursos da União para objetivos particulares de políticos e de seus apoiadores. É perfeitamente justificável a intervenção recente do Supremo Tribunal Federal, nesse jogo, com a exigência de informações suficientes sobre a destinação dessas verbas.

O presidente Lula e demais líderes do Brics podem ter excelentes motivos para cobrar mudanças na ordem econômica mundial e nas instituições multilaterais – embora o presidente brasileiro exiba, normalmente, notável ignorância dos objetivos, critérios e atividades do FMI e de outras entidades. Lula chega a exibir alguma ingenuidade nessas discussões. Ele parece desconhecer, por exemplo, a participação chinesa (6,40%) no total de recursos do fundo, só superada, quando se consideram as parcelas individuais dos países, pela dos Estados Unidos (17,42%). Alemanha, maior economia da Europa Ocidental, detém 5,59%. O Brasil, 2,32%. Mas poucos países votam com base apenas em sua participação financeira. A maior parte, incluído o Brasil, é vinculada a grupos e vota dessa maneira.

Em seu terceiro mandato, o presidente Lula exibe, de vez em quando, recaídas no petismo de quatro décadas atrás, como quando tenta mandar nas agências reguladoras. Isso é em parte compensado pela atualidade do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e de sua colega do Planejamento, Simone Tebet. Bem ou mal, o petismo presidencial acaba neutralizando, em boa parte, o direitismo extremo ainda perigoso para a democracia brasileira.

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O presidente Lula da Silva insiste em remontar a economia mundial, buscar alternativas ao dólar e dar proeminência aos países do “sul”, uma entidade ainda mal definida, mas pouco avançou, até agora, na tarefa de resgatar o Brasil da mediocridade. Com crescimento previsto de 3% neste ano, 2,2% no próximo e 2,5% em 2029, o País continua no pelotão de trás da corrida econômica, segundo as novas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Em coro com outros políticos brasileiros, o presidente pode falar mal do fundo, acusá-lo de servir aos Estados Unidos, de agir contra os interesses do mundo emergente e em desenvolvimento e de impor políticas desastrosas. Mas ainda lhe faltaria explicar por que as projeções formuladas no mercado brasileiro são tão parecidas com as do FMI – e às vezes piores em alguns detalhes.

Segundo o boletim Focus distribuído no dia 21, a economia do Brasil, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), deve crescer 3,05% em 2024, 1,93% em 2025 e 2% em cada um dos dois anos seguintes. As projeções também apontam inflação de 4,5% neste ano, de 3,99% no próximo e taxas sempre superiores ao centro da meta, 3%, até 2027.

Inflação seguidamente acima da meta é um claro desafio para o Banco Central (BC), entidade responsável pela defesa da moeda. A resposta é dada com elevação de juros ou manutenção de juros altos. Por isso, a taxa básica, a Selic, estará em 11,75% no fim deste ano, em 11,25% em dezembro de 2025, em 9,50% no encerramento de 2026 e em 9% no final do período. Taxa real de juros elevada pode atrair capital especulativo, mas é normalmente um obstáculo ao consumo, ao investimento produtivo e ao crescimento da atividade econômica.

O presidente pode falar mal do setor financeiro e acusá-lo de operar contra os interesses do povo. Mas nesse mercado, como em qualquer outro, os agentes trabalham normalmente em busca de lucro e, nos piores momentos, da preservação de seu capital e de sua sobrevivência nos negócios.

Motivações semelhantes serão encontradas em pequenos, médios e grandes empresários de todos os setores. Os mais modestos produtores do campo, nas áreas menos desenvolvidas, provavelmente elevarão suas ambições se conseguirem ir pouco além do mínimo necessário. Por que não ampliar e reformar a casa, comprar uma televisão mais moderna e pensar numa educação mais ambiciosa para os filhos?

O presidente Lula, é claro, entende e apoia essas ambições, mas parece esquecer ou menosprezar, em alguns momentos, as condições necessárias para realizá-las numa economia capitalista, ou ainda capitalista, como a brasileira. Essas condições incluem, nos níveis básicos, o crescimento econômico prolongado e seguro, com previsibilidade suficiente para as decisões de investimento privado.

Incluem também, obviamente, uma gestão prudente e eficaz das verbas públicas, com investimentos bem planejados e bem executados, contenção dos gastos de custeio e, se possível, diminuição do peso tributário, sem favores a grupos empresariais, setores de negócios e apoiadores políticos.

Tudo isso é obviamente complicado, ainda mais num país onde congressistas controlam uma enorme parcela – muito maior do que se observa em economias mais desenvolvidas, como a americana – das emendas orçamentárias. Nada pode justificar a pulverização de dezenas de bilhões de reais enviados, por meio de emendas, às bases eleitorais de parlamentares. Trata-se de verbas da União destinadas, por esse meio, a obras e atividades de responsabilidade local ou estadual e, em muitos casos, sem conexões claras com políticas e programas federais. Não é exagero qualificar esse procedimento como privatização de recursos da União para objetivos particulares de políticos e de seus apoiadores. É perfeitamente justificável a intervenção recente do Supremo Tribunal Federal, nesse jogo, com a exigência de informações suficientes sobre a destinação dessas verbas.

O presidente Lula e demais líderes do Brics podem ter excelentes motivos para cobrar mudanças na ordem econômica mundial e nas instituições multilaterais – embora o presidente brasileiro exiba, normalmente, notável ignorância dos objetivos, critérios e atividades do FMI e de outras entidades. Lula chega a exibir alguma ingenuidade nessas discussões. Ele parece desconhecer, por exemplo, a participação chinesa (6,40%) no total de recursos do fundo, só superada, quando se consideram as parcelas individuais dos países, pela dos Estados Unidos (17,42%). Alemanha, maior economia da Europa Ocidental, detém 5,59%. O Brasil, 2,32%. Mas poucos países votam com base apenas em sua participação financeira. A maior parte, incluído o Brasil, é vinculada a grupos e vota dessa maneira.

Em seu terceiro mandato, o presidente Lula exibe, de vez em quando, recaídas no petismo de quatro décadas atrás, como quando tenta mandar nas agências reguladoras. Isso é em parte compensado pela atualidade do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e de sua colega do Planejamento, Simone Tebet. Bem ou mal, o petismo presidencial acaba neutralizando, em boa parte, o direitismo extremo ainda perigoso para a democracia brasileira.

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