Presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e ex-embaixador do Brasil em Londres (1994-99) e em Washington (1999-2004), Rubens Barbosa escreve mensalmente na seção Espaço Aberto

Opinião|Os EUA e a questão palestina


A pressão da opinião pública, no contexto eleitoral que se aproxima, deverá fortalecer o apoio, desta vez decisivo, para a criação do Estado Palestino

Por Rubens Barbosa

Desde a decisão da ONU, em 1947, pela criação dos Estados de Israel e da Palestina até a crise atual, uma retrospectiva objetiva da política externa americana em relação às crises no Oriente Médio mostra que, ao ignorar as violações do Direito Internacional – ocupação do território palestino, assentamentos ilegais na Cisjordânia, isolamento da Faixa de Gaza, tentativa de anexar o que resta da Palestina e outras considerações geopolíticas –, Washington não contribuiu nem para o encaminhamento de decisões para garantir a segurança de Israel nem para a busca da paz pela desocupação do território palestino e a criação do segundo Estado definido na partilha.

Agora, pela primeira vez, de forma pública e privada, os EUA estão insistindo fortemente numa solução política. Os entendimentos em 1978 (Camp David) e em 1983 (Oslo) estavam na direção correta, mas a política dos dois Estados não contou com o apoio decisivo de Washington.

Embora isolado no “inabalável” apoio político, econômico e militar a Israel, os EUA aparentemente estão chegando ao limite de tolerância em relação à ação militar contra o Hamas, em razão do dano colateral contra a população civil. Na linha enunciada pelo presidente Joe Biden, o assessor de Segurança Nacional do EUA, Jake Sullivan, admitiu candidamente gestões privadas de Washington junto do primeiro-ministro Netanyahu em cinco questões cruciais: cautela na invasão terrestre; proteção da população civil; negociação, via Catar, para liberação dos reféns em mãos do Hamas; assentamentos ilegais de colonos israelitas na Cisjordânia; e a criação do Estado Palestino. Sullivan deixou implícito, na entrevista, que o primeiro-ministro israelense não estava dando atenção às gestões dos EUA. Confirmando isso, Netanyahu, em entrevista pública, disse que não iria autorizar o cessar-fogo, apesar de toda a pressão humanitária.

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No final da semana passada, o secretário de Estado Antony Blinken voltou pela terceira vez a Israel para convencer o governo de Netanyahu a minimizar o risco da população civil e a concordar com uma pausa humanitária para aliviar a pressão da opinião pública contra a escalada militar de Israel. Visivelmente constrangido, nada pôde anunciar e teve de ouvir das autoridades israelenses que só haveria uma pausa humanitária se o Hamas liberasse previamente todos os reféns. Israel anunciou que terá responsabilidade sobre a segurança em Gaza no pós-guerra, enquanto os EUA dizem que os palestinos deverão retomar o controle sobre a região.

A evolução da crise em Gaza, com a possível escalda das operações militares ampliando o conflito para toda a região, não pode ser descartada. As manifestações de força dos EUA, de caráter dissuasório, para impedir ataque a Israel por outros grupos radicais de influência do Irã e de outros países, funcionaram. Os pronunciamentos do líder do Hezbollah e dos presidentes dos países do Oriente Médio, reunidos na Arábia Saudita, foram o reconhecimento explícito disso, ao evitar subir o tom das ameaças contra Israel. A ninguém (EUA, Irã, China, Rússia), neste momento, interessa que o conflito saia de controle.

O fator que hoje está mais presente nas considerações de todos os países – e até certo ponto mesmo em Israel – é a crescente reação da opinião pública em todos os países árabes e em alguns países ocidentais, em razão da importância da participação de imigrantes de origem muçulmana nas populações locais (Inglaterra e França). O antissemitismo e a islamofobia estão aumentando. Nos EUA, as demonstrações de apoio à questão palestina se sucedem em universidades e lugares públicos e os jovens filiados ao Partido Democrata se afastam de Biden e protestam contra a política dos EUA para a região, exigindo a criação do Estado Palestino. A questão do Oriente Médio será um elemento com força na campanha eleitoral de 2024 e a administração Biden começa a dar sinais de que terá de mudar de política, se quiser contar com os votos dos jovens e da crescente comunidade muçulmana nos EUA.

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Em termos regionais, a situação dos EUA evoluiu da gradual perda de importância política no Oriente Médio, ocorrida nos últimos anos, para o total envolvimento político e militar na região. Isolados no apoio a Israel e desenvolvendo uma política para evitar novos ataques ao país, no fim da operação militar os EUA estarão em posição de força para liderar uma fórmula política que encontre uma solução para a desocupação da Faixa de Gaza e o recuo dos assentamentos ilegais na Cisjordânia, fortalecendo, ainda, a Autoridade Palestina, parte legítima para participar dessa negociação.

O processo negociador não será breve, mas poderá ser facilitado pela mudança do governo em Tel Aviv, com a substituição do primeiro-ministro Netanyahu por uma coligação de centro-direita, e não de extrema direita, como é hoje. A pressão da opinião pública global e interna nos EUA, no contexto eleitoral que se aproxima, deverá fortalecer o apoio, desta vez decisivo, para a criação do Estado Palestino, mesmo com a oposição de grupos radicais em Israel. Não haverá alternativa política para Washington. Essa é a única forma de garantir a segurança de Israel e a paz na região. Além da força eleitoral de Biden em 2024.

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PRESIDENTE DO INSTITUTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS E COMÉRCIO EXTERIOR (IRICE), É MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

Desde a decisão da ONU, em 1947, pela criação dos Estados de Israel e da Palestina até a crise atual, uma retrospectiva objetiva da política externa americana em relação às crises no Oriente Médio mostra que, ao ignorar as violações do Direito Internacional – ocupação do território palestino, assentamentos ilegais na Cisjordânia, isolamento da Faixa de Gaza, tentativa de anexar o que resta da Palestina e outras considerações geopolíticas –, Washington não contribuiu nem para o encaminhamento de decisões para garantir a segurança de Israel nem para a busca da paz pela desocupação do território palestino e a criação do segundo Estado definido na partilha.

Agora, pela primeira vez, de forma pública e privada, os EUA estão insistindo fortemente numa solução política. Os entendimentos em 1978 (Camp David) e em 1983 (Oslo) estavam na direção correta, mas a política dos dois Estados não contou com o apoio decisivo de Washington.

Embora isolado no “inabalável” apoio político, econômico e militar a Israel, os EUA aparentemente estão chegando ao limite de tolerância em relação à ação militar contra o Hamas, em razão do dano colateral contra a população civil. Na linha enunciada pelo presidente Joe Biden, o assessor de Segurança Nacional do EUA, Jake Sullivan, admitiu candidamente gestões privadas de Washington junto do primeiro-ministro Netanyahu em cinco questões cruciais: cautela na invasão terrestre; proteção da população civil; negociação, via Catar, para liberação dos reféns em mãos do Hamas; assentamentos ilegais de colonos israelitas na Cisjordânia; e a criação do Estado Palestino. Sullivan deixou implícito, na entrevista, que o primeiro-ministro israelense não estava dando atenção às gestões dos EUA. Confirmando isso, Netanyahu, em entrevista pública, disse que não iria autorizar o cessar-fogo, apesar de toda a pressão humanitária.

No final da semana passada, o secretário de Estado Antony Blinken voltou pela terceira vez a Israel para convencer o governo de Netanyahu a minimizar o risco da população civil e a concordar com uma pausa humanitária para aliviar a pressão da opinião pública contra a escalada militar de Israel. Visivelmente constrangido, nada pôde anunciar e teve de ouvir das autoridades israelenses que só haveria uma pausa humanitária se o Hamas liberasse previamente todos os reféns. Israel anunciou que terá responsabilidade sobre a segurança em Gaza no pós-guerra, enquanto os EUA dizem que os palestinos deverão retomar o controle sobre a região.

A evolução da crise em Gaza, com a possível escalda das operações militares ampliando o conflito para toda a região, não pode ser descartada. As manifestações de força dos EUA, de caráter dissuasório, para impedir ataque a Israel por outros grupos radicais de influência do Irã e de outros países, funcionaram. Os pronunciamentos do líder do Hezbollah e dos presidentes dos países do Oriente Médio, reunidos na Arábia Saudita, foram o reconhecimento explícito disso, ao evitar subir o tom das ameaças contra Israel. A ninguém (EUA, Irã, China, Rússia), neste momento, interessa que o conflito saia de controle.

O fator que hoje está mais presente nas considerações de todos os países – e até certo ponto mesmo em Israel – é a crescente reação da opinião pública em todos os países árabes e em alguns países ocidentais, em razão da importância da participação de imigrantes de origem muçulmana nas populações locais (Inglaterra e França). O antissemitismo e a islamofobia estão aumentando. Nos EUA, as demonstrações de apoio à questão palestina se sucedem em universidades e lugares públicos e os jovens filiados ao Partido Democrata se afastam de Biden e protestam contra a política dos EUA para a região, exigindo a criação do Estado Palestino. A questão do Oriente Médio será um elemento com força na campanha eleitoral de 2024 e a administração Biden começa a dar sinais de que terá de mudar de política, se quiser contar com os votos dos jovens e da crescente comunidade muçulmana nos EUA.

Em termos regionais, a situação dos EUA evoluiu da gradual perda de importância política no Oriente Médio, ocorrida nos últimos anos, para o total envolvimento político e militar na região. Isolados no apoio a Israel e desenvolvendo uma política para evitar novos ataques ao país, no fim da operação militar os EUA estarão em posição de força para liderar uma fórmula política que encontre uma solução para a desocupação da Faixa de Gaza e o recuo dos assentamentos ilegais na Cisjordânia, fortalecendo, ainda, a Autoridade Palestina, parte legítima para participar dessa negociação.

O processo negociador não será breve, mas poderá ser facilitado pela mudança do governo em Tel Aviv, com a substituição do primeiro-ministro Netanyahu por uma coligação de centro-direita, e não de extrema direita, como é hoje. A pressão da opinião pública global e interna nos EUA, no contexto eleitoral que se aproxima, deverá fortalecer o apoio, desta vez decisivo, para a criação do Estado Palestino, mesmo com a oposição de grupos radicais em Israel. Não haverá alternativa política para Washington. Essa é a única forma de garantir a segurança de Israel e a paz na região. Além da força eleitoral de Biden em 2024.

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Desde a decisão da ONU, em 1947, pela criação dos Estados de Israel e da Palestina até a crise atual, uma retrospectiva objetiva da política externa americana em relação às crises no Oriente Médio mostra que, ao ignorar as violações do Direito Internacional – ocupação do território palestino, assentamentos ilegais na Cisjordânia, isolamento da Faixa de Gaza, tentativa de anexar o que resta da Palestina e outras considerações geopolíticas –, Washington não contribuiu nem para o encaminhamento de decisões para garantir a segurança de Israel nem para a busca da paz pela desocupação do território palestino e a criação do segundo Estado definido na partilha.

Agora, pela primeira vez, de forma pública e privada, os EUA estão insistindo fortemente numa solução política. Os entendimentos em 1978 (Camp David) e em 1983 (Oslo) estavam na direção correta, mas a política dos dois Estados não contou com o apoio decisivo de Washington.

Embora isolado no “inabalável” apoio político, econômico e militar a Israel, os EUA aparentemente estão chegando ao limite de tolerância em relação à ação militar contra o Hamas, em razão do dano colateral contra a população civil. Na linha enunciada pelo presidente Joe Biden, o assessor de Segurança Nacional do EUA, Jake Sullivan, admitiu candidamente gestões privadas de Washington junto do primeiro-ministro Netanyahu em cinco questões cruciais: cautela na invasão terrestre; proteção da população civil; negociação, via Catar, para liberação dos reféns em mãos do Hamas; assentamentos ilegais de colonos israelitas na Cisjordânia; e a criação do Estado Palestino. Sullivan deixou implícito, na entrevista, que o primeiro-ministro israelense não estava dando atenção às gestões dos EUA. Confirmando isso, Netanyahu, em entrevista pública, disse que não iria autorizar o cessar-fogo, apesar de toda a pressão humanitária.

No final da semana passada, o secretário de Estado Antony Blinken voltou pela terceira vez a Israel para convencer o governo de Netanyahu a minimizar o risco da população civil e a concordar com uma pausa humanitária para aliviar a pressão da opinião pública contra a escalada militar de Israel. Visivelmente constrangido, nada pôde anunciar e teve de ouvir das autoridades israelenses que só haveria uma pausa humanitária se o Hamas liberasse previamente todos os reféns. Israel anunciou que terá responsabilidade sobre a segurança em Gaza no pós-guerra, enquanto os EUA dizem que os palestinos deverão retomar o controle sobre a região.

A evolução da crise em Gaza, com a possível escalda das operações militares ampliando o conflito para toda a região, não pode ser descartada. As manifestações de força dos EUA, de caráter dissuasório, para impedir ataque a Israel por outros grupos radicais de influência do Irã e de outros países, funcionaram. Os pronunciamentos do líder do Hezbollah e dos presidentes dos países do Oriente Médio, reunidos na Arábia Saudita, foram o reconhecimento explícito disso, ao evitar subir o tom das ameaças contra Israel. A ninguém (EUA, Irã, China, Rússia), neste momento, interessa que o conflito saia de controle.

O fator que hoje está mais presente nas considerações de todos os países – e até certo ponto mesmo em Israel – é a crescente reação da opinião pública em todos os países árabes e em alguns países ocidentais, em razão da importância da participação de imigrantes de origem muçulmana nas populações locais (Inglaterra e França). O antissemitismo e a islamofobia estão aumentando. Nos EUA, as demonstrações de apoio à questão palestina se sucedem em universidades e lugares públicos e os jovens filiados ao Partido Democrata se afastam de Biden e protestam contra a política dos EUA para a região, exigindo a criação do Estado Palestino. A questão do Oriente Médio será um elemento com força na campanha eleitoral de 2024 e a administração Biden começa a dar sinais de que terá de mudar de política, se quiser contar com os votos dos jovens e da crescente comunidade muçulmana nos EUA.

Em termos regionais, a situação dos EUA evoluiu da gradual perda de importância política no Oriente Médio, ocorrida nos últimos anos, para o total envolvimento político e militar na região. Isolados no apoio a Israel e desenvolvendo uma política para evitar novos ataques ao país, no fim da operação militar os EUA estarão em posição de força para liderar uma fórmula política que encontre uma solução para a desocupação da Faixa de Gaza e o recuo dos assentamentos ilegais na Cisjordânia, fortalecendo, ainda, a Autoridade Palestina, parte legítima para participar dessa negociação.

O processo negociador não será breve, mas poderá ser facilitado pela mudança do governo em Tel Aviv, com a substituição do primeiro-ministro Netanyahu por uma coligação de centro-direita, e não de extrema direita, como é hoje. A pressão da opinião pública global e interna nos EUA, no contexto eleitoral que se aproxima, deverá fortalecer o apoio, desta vez decisivo, para a criação do Estado Palestino, mesmo com a oposição de grupos radicais em Israel. Não haverá alternativa política para Washington. Essa é a única forma de garantir a segurança de Israel e a paz na região. Além da força eleitoral de Biden em 2024.

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Desde a decisão da ONU, em 1947, pela criação dos Estados de Israel e da Palestina até a crise atual, uma retrospectiva objetiva da política externa americana em relação às crises no Oriente Médio mostra que, ao ignorar as violações do Direito Internacional – ocupação do território palestino, assentamentos ilegais na Cisjordânia, isolamento da Faixa de Gaza, tentativa de anexar o que resta da Palestina e outras considerações geopolíticas –, Washington não contribuiu nem para o encaminhamento de decisões para garantir a segurança de Israel nem para a busca da paz pela desocupação do território palestino e a criação do segundo Estado definido na partilha.

Agora, pela primeira vez, de forma pública e privada, os EUA estão insistindo fortemente numa solução política. Os entendimentos em 1978 (Camp David) e em 1983 (Oslo) estavam na direção correta, mas a política dos dois Estados não contou com o apoio decisivo de Washington.

Embora isolado no “inabalável” apoio político, econômico e militar a Israel, os EUA aparentemente estão chegando ao limite de tolerância em relação à ação militar contra o Hamas, em razão do dano colateral contra a população civil. Na linha enunciada pelo presidente Joe Biden, o assessor de Segurança Nacional do EUA, Jake Sullivan, admitiu candidamente gestões privadas de Washington junto do primeiro-ministro Netanyahu em cinco questões cruciais: cautela na invasão terrestre; proteção da população civil; negociação, via Catar, para liberação dos reféns em mãos do Hamas; assentamentos ilegais de colonos israelitas na Cisjordânia; e a criação do Estado Palestino. Sullivan deixou implícito, na entrevista, que o primeiro-ministro israelense não estava dando atenção às gestões dos EUA. Confirmando isso, Netanyahu, em entrevista pública, disse que não iria autorizar o cessar-fogo, apesar de toda a pressão humanitária.

No final da semana passada, o secretário de Estado Antony Blinken voltou pela terceira vez a Israel para convencer o governo de Netanyahu a minimizar o risco da população civil e a concordar com uma pausa humanitária para aliviar a pressão da opinião pública contra a escalada militar de Israel. Visivelmente constrangido, nada pôde anunciar e teve de ouvir das autoridades israelenses que só haveria uma pausa humanitária se o Hamas liberasse previamente todos os reféns. Israel anunciou que terá responsabilidade sobre a segurança em Gaza no pós-guerra, enquanto os EUA dizem que os palestinos deverão retomar o controle sobre a região.

A evolução da crise em Gaza, com a possível escalda das operações militares ampliando o conflito para toda a região, não pode ser descartada. As manifestações de força dos EUA, de caráter dissuasório, para impedir ataque a Israel por outros grupos radicais de influência do Irã e de outros países, funcionaram. Os pronunciamentos do líder do Hezbollah e dos presidentes dos países do Oriente Médio, reunidos na Arábia Saudita, foram o reconhecimento explícito disso, ao evitar subir o tom das ameaças contra Israel. A ninguém (EUA, Irã, China, Rússia), neste momento, interessa que o conflito saia de controle.

O fator que hoje está mais presente nas considerações de todos os países – e até certo ponto mesmo em Israel – é a crescente reação da opinião pública em todos os países árabes e em alguns países ocidentais, em razão da importância da participação de imigrantes de origem muçulmana nas populações locais (Inglaterra e França). O antissemitismo e a islamofobia estão aumentando. Nos EUA, as demonstrações de apoio à questão palestina se sucedem em universidades e lugares públicos e os jovens filiados ao Partido Democrata se afastam de Biden e protestam contra a política dos EUA para a região, exigindo a criação do Estado Palestino. A questão do Oriente Médio será um elemento com força na campanha eleitoral de 2024 e a administração Biden começa a dar sinais de que terá de mudar de política, se quiser contar com os votos dos jovens e da crescente comunidade muçulmana nos EUA.

Em termos regionais, a situação dos EUA evoluiu da gradual perda de importância política no Oriente Médio, ocorrida nos últimos anos, para o total envolvimento político e militar na região. Isolados no apoio a Israel e desenvolvendo uma política para evitar novos ataques ao país, no fim da operação militar os EUA estarão em posição de força para liderar uma fórmula política que encontre uma solução para a desocupação da Faixa de Gaza e o recuo dos assentamentos ilegais na Cisjordânia, fortalecendo, ainda, a Autoridade Palestina, parte legítima para participar dessa negociação.

O processo negociador não será breve, mas poderá ser facilitado pela mudança do governo em Tel Aviv, com a substituição do primeiro-ministro Netanyahu por uma coligação de centro-direita, e não de extrema direita, como é hoje. A pressão da opinião pública global e interna nos EUA, no contexto eleitoral que se aproxima, deverá fortalecer o apoio, desta vez decisivo, para a criação do Estado Palestino, mesmo com a oposição de grupos radicais em Israel. Não haverá alternativa política para Washington. Essa é a única forma de garantir a segurança de Israel e a paz na região. Além da força eleitoral de Biden em 2024.

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PRESIDENTE DO INSTITUTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS E COMÉRCIO EXTERIOR (IRICE), É MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

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