Sociólogo, membro da Academia Brasileira de Ciências e ex-presidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Simon Schwartzman escreve mensalmente na seção Espaço Aberto

Opinião|Meia volta, volver!


Proposta para o ensino médio que o MEC está endossando é voltar à divisão arcaica dos anos 60 entre ‘ciências’ e ‘humanidades’

Por Simon Schwartzman

O Ministério da Educação acaba de divulgar os resultados da consulta pública sobre a reforma do ensino médio, e a proposta principal é voltar à década de 1960, quando os poucos que chegavam a este nível optavam pelo curso científico, para fazer depois Engenharia ou Medicina, ou clássico, para os que queriam fazer Direito ou Literatura. Agora se fala em percursos de “linguagens, matemática e ciências da natureza” e “linguagens, matemáticas e ciências humanas e sociais”, o que é mais um menos a mesma coisa, fora a matemática. Além destes, admite-se agora um terceiro percurso: “formação técnica e profissional”.

A ideia central da reforma era de que hoje, com a universalização do acesso, o ensino médio não poderia continuar sendo somente um filtro para os poucos que fossem para as universidades, mas um sistema amplo e diferenciado para jovens que poderiam seguir diferentes trilhas de formação. O dilema era entre oferecer quase o mesmo para todos, como no currículo tradicional, eliminando os que ficassem para trás, ou oferecer alternativas que dessem a todos oportunidades de estudar e se desenvolver, ainda que por caminhos distintos. Por trás deste dilema havia, e ainda há, a realidade de que a maioria dos estudantes brasileiros chega ao ensino médio com formação precária, mais velhos e precisando trabalhar. Submeter todos ao mesmo regime e a um exame nacional comum, como o Enem, significa reforçar a discriminação em nome da igualdade.

A reforma de 2017 procurou avançar, mas com muitos defeitos e resistências. Na proposta inicial, em vez de quatro horas diárias de aula, haveria ao menos cinco, perfazendo 3 mil horas de curso em três anos. No lugar de um currículo único recheado de matérias fragmentadas, 800 horas seriam dedicadas ao desenvolvimento de competências gerais, sobretudo de linguagens e matemática, dadas de forma integrada; e as demais horas, ao aprofundamento dos conteúdos em diferentes trajetórias. Quando a lei foi aprovada, esta parte comum passou a ser de 1.800 horas, e agora pretende-se que passe para 2.100 ou 2.400 horas, ficando somente 600 a 900 horas para os percursos diferenciados, invertendo a ideia inicial. Seriam mais horas, naturalmente, nas escolas de tempo integral, em que o tempo se dividiria meio a meio entre a formação geral e os percursos.

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Um dos erros da lei da reforma de 2017 foi que ela destinava recursos para o ensino de tempo integral, mas ignorava totalmente a questão do ensino noturno. Agora, o tempo integral continua sendo apresentado como a grande panaceia para a educação brasileira. Os dados do Censo Escolar de 2020 mostram que naquele ano havia 9,5 milhões de estudantes no ensino médio, dos quais 2,7 milhões em cursos noturnos. Existem duas razões para tantos alunos estudando à noite. A primeira é que muitas vezes não existem escolas separadas para o ensino médio, os cursos são dados à noite nas instalações do ensino fundamental. A segunda é que muitos estudantes são mais velhos, precisam trabalhar e não podem passar o dia na escola.

Quatro horas de aula por dia, em cursos noturnos, são insuficientes, mas 8 horas diárias, em que o estudante chega cedo e volta para casa no final do dia de barriga cheia e banho tomado, podem ser o ideal para crianças em determinadas áreas, mas não necessariamente para jovens adultos. Para o ensino médio regular, regimes de 5 ou 6 horas diárias, se bem empregadas, são mais do que suficientes. E o ensino técnico deve ser dado, de preferência, no regime de aprendizagem, em que o trabalho, a renda e a qualificação profissional andem juntos. O tempo integral não é o caminho para o ensino técnico, como se pode ver nos poucos estudantes que conseguem ser admitidos nos institutos federais e aproveitam para se preparar para tirar boas notas no Enem.

O outro erro da reforma de 2017 foi a grande confusão criada pela adoção de uma classificação esdrúxula das áreas de conhecimento que ignorava a prática quase universal de distinguir quatro grandes áreas de formação: ciências físicas e engenharia (Stem); ciências biológicas e de saúde; ciências e profissões sociais; e letras, artes e humanidades. Uma maneira simples de implementar o novo currículo seria oferecer em todas as escolas essas quatro áreas, permitindo que os alunos escolhessem uma como major e seguissem as demais de forma complementar. Mas a proposta que vem da consulta, e que o MEC está endossando, é ampliar ainda mais a parte de formação comum, com um pot-pourri de matérias tradicionais como Geografia, Química e Filosofia, mas excluindo temas essenciais como estatística, economia e direito, e voltar à divisão arcaica entre ciências e humanidades dos anos 60.

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Finalmente, o Enem. Em última análise, o que determina o que as escolas vão ensinar e os alunos estudar é o que é exigido na avaliação. Sistemas diferenciados requerem múltiplas provas e certificações que os alunos podem escolher. Manter um exame final único, como o Enem, é garantir que todos os esforços de oferecer alternativas cairão no vazio.

*

SOCIÓLOGO, É MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS

O Ministério da Educação acaba de divulgar os resultados da consulta pública sobre a reforma do ensino médio, e a proposta principal é voltar à década de 1960, quando os poucos que chegavam a este nível optavam pelo curso científico, para fazer depois Engenharia ou Medicina, ou clássico, para os que queriam fazer Direito ou Literatura. Agora se fala em percursos de “linguagens, matemática e ciências da natureza” e “linguagens, matemáticas e ciências humanas e sociais”, o que é mais um menos a mesma coisa, fora a matemática. Além destes, admite-se agora um terceiro percurso: “formação técnica e profissional”.

A ideia central da reforma era de que hoje, com a universalização do acesso, o ensino médio não poderia continuar sendo somente um filtro para os poucos que fossem para as universidades, mas um sistema amplo e diferenciado para jovens que poderiam seguir diferentes trilhas de formação. O dilema era entre oferecer quase o mesmo para todos, como no currículo tradicional, eliminando os que ficassem para trás, ou oferecer alternativas que dessem a todos oportunidades de estudar e se desenvolver, ainda que por caminhos distintos. Por trás deste dilema havia, e ainda há, a realidade de que a maioria dos estudantes brasileiros chega ao ensino médio com formação precária, mais velhos e precisando trabalhar. Submeter todos ao mesmo regime e a um exame nacional comum, como o Enem, significa reforçar a discriminação em nome da igualdade.

A reforma de 2017 procurou avançar, mas com muitos defeitos e resistências. Na proposta inicial, em vez de quatro horas diárias de aula, haveria ao menos cinco, perfazendo 3 mil horas de curso em três anos. No lugar de um currículo único recheado de matérias fragmentadas, 800 horas seriam dedicadas ao desenvolvimento de competências gerais, sobretudo de linguagens e matemática, dadas de forma integrada; e as demais horas, ao aprofundamento dos conteúdos em diferentes trajetórias. Quando a lei foi aprovada, esta parte comum passou a ser de 1.800 horas, e agora pretende-se que passe para 2.100 ou 2.400 horas, ficando somente 600 a 900 horas para os percursos diferenciados, invertendo a ideia inicial. Seriam mais horas, naturalmente, nas escolas de tempo integral, em que o tempo se dividiria meio a meio entre a formação geral e os percursos.

Um dos erros da lei da reforma de 2017 foi que ela destinava recursos para o ensino de tempo integral, mas ignorava totalmente a questão do ensino noturno. Agora, o tempo integral continua sendo apresentado como a grande panaceia para a educação brasileira. Os dados do Censo Escolar de 2020 mostram que naquele ano havia 9,5 milhões de estudantes no ensino médio, dos quais 2,7 milhões em cursos noturnos. Existem duas razões para tantos alunos estudando à noite. A primeira é que muitas vezes não existem escolas separadas para o ensino médio, os cursos são dados à noite nas instalações do ensino fundamental. A segunda é que muitos estudantes são mais velhos, precisam trabalhar e não podem passar o dia na escola.

Quatro horas de aula por dia, em cursos noturnos, são insuficientes, mas 8 horas diárias, em que o estudante chega cedo e volta para casa no final do dia de barriga cheia e banho tomado, podem ser o ideal para crianças em determinadas áreas, mas não necessariamente para jovens adultos. Para o ensino médio regular, regimes de 5 ou 6 horas diárias, se bem empregadas, são mais do que suficientes. E o ensino técnico deve ser dado, de preferência, no regime de aprendizagem, em que o trabalho, a renda e a qualificação profissional andem juntos. O tempo integral não é o caminho para o ensino técnico, como se pode ver nos poucos estudantes que conseguem ser admitidos nos institutos federais e aproveitam para se preparar para tirar boas notas no Enem.

O outro erro da reforma de 2017 foi a grande confusão criada pela adoção de uma classificação esdrúxula das áreas de conhecimento que ignorava a prática quase universal de distinguir quatro grandes áreas de formação: ciências físicas e engenharia (Stem); ciências biológicas e de saúde; ciências e profissões sociais; e letras, artes e humanidades. Uma maneira simples de implementar o novo currículo seria oferecer em todas as escolas essas quatro áreas, permitindo que os alunos escolhessem uma como major e seguissem as demais de forma complementar. Mas a proposta que vem da consulta, e que o MEC está endossando, é ampliar ainda mais a parte de formação comum, com um pot-pourri de matérias tradicionais como Geografia, Química e Filosofia, mas excluindo temas essenciais como estatística, economia e direito, e voltar à divisão arcaica entre ciências e humanidades dos anos 60.

Finalmente, o Enem. Em última análise, o que determina o que as escolas vão ensinar e os alunos estudar é o que é exigido na avaliação. Sistemas diferenciados requerem múltiplas provas e certificações que os alunos podem escolher. Manter um exame final único, como o Enem, é garantir que todos os esforços de oferecer alternativas cairão no vazio.

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SOCIÓLOGO, É MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS

O Ministério da Educação acaba de divulgar os resultados da consulta pública sobre a reforma do ensino médio, e a proposta principal é voltar à década de 1960, quando os poucos que chegavam a este nível optavam pelo curso científico, para fazer depois Engenharia ou Medicina, ou clássico, para os que queriam fazer Direito ou Literatura. Agora se fala em percursos de “linguagens, matemática e ciências da natureza” e “linguagens, matemáticas e ciências humanas e sociais”, o que é mais um menos a mesma coisa, fora a matemática. Além destes, admite-se agora um terceiro percurso: “formação técnica e profissional”.

A ideia central da reforma era de que hoje, com a universalização do acesso, o ensino médio não poderia continuar sendo somente um filtro para os poucos que fossem para as universidades, mas um sistema amplo e diferenciado para jovens que poderiam seguir diferentes trilhas de formação. O dilema era entre oferecer quase o mesmo para todos, como no currículo tradicional, eliminando os que ficassem para trás, ou oferecer alternativas que dessem a todos oportunidades de estudar e se desenvolver, ainda que por caminhos distintos. Por trás deste dilema havia, e ainda há, a realidade de que a maioria dos estudantes brasileiros chega ao ensino médio com formação precária, mais velhos e precisando trabalhar. Submeter todos ao mesmo regime e a um exame nacional comum, como o Enem, significa reforçar a discriminação em nome da igualdade.

A reforma de 2017 procurou avançar, mas com muitos defeitos e resistências. Na proposta inicial, em vez de quatro horas diárias de aula, haveria ao menos cinco, perfazendo 3 mil horas de curso em três anos. No lugar de um currículo único recheado de matérias fragmentadas, 800 horas seriam dedicadas ao desenvolvimento de competências gerais, sobretudo de linguagens e matemática, dadas de forma integrada; e as demais horas, ao aprofundamento dos conteúdos em diferentes trajetórias. Quando a lei foi aprovada, esta parte comum passou a ser de 1.800 horas, e agora pretende-se que passe para 2.100 ou 2.400 horas, ficando somente 600 a 900 horas para os percursos diferenciados, invertendo a ideia inicial. Seriam mais horas, naturalmente, nas escolas de tempo integral, em que o tempo se dividiria meio a meio entre a formação geral e os percursos.

Um dos erros da lei da reforma de 2017 foi que ela destinava recursos para o ensino de tempo integral, mas ignorava totalmente a questão do ensino noturno. Agora, o tempo integral continua sendo apresentado como a grande panaceia para a educação brasileira. Os dados do Censo Escolar de 2020 mostram que naquele ano havia 9,5 milhões de estudantes no ensino médio, dos quais 2,7 milhões em cursos noturnos. Existem duas razões para tantos alunos estudando à noite. A primeira é que muitas vezes não existem escolas separadas para o ensino médio, os cursos são dados à noite nas instalações do ensino fundamental. A segunda é que muitos estudantes são mais velhos, precisam trabalhar e não podem passar o dia na escola.

Quatro horas de aula por dia, em cursos noturnos, são insuficientes, mas 8 horas diárias, em que o estudante chega cedo e volta para casa no final do dia de barriga cheia e banho tomado, podem ser o ideal para crianças em determinadas áreas, mas não necessariamente para jovens adultos. Para o ensino médio regular, regimes de 5 ou 6 horas diárias, se bem empregadas, são mais do que suficientes. E o ensino técnico deve ser dado, de preferência, no regime de aprendizagem, em que o trabalho, a renda e a qualificação profissional andem juntos. O tempo integral não é o caminho para o ensino técnico, como se pode ver nos poucos estudantes que conseguem ser admitidos nos institutos federais e aproveitam para se preparar para tirar boas notas no Enem.

O outro erro da reforma de 2017 foi a grande confusão criada pela adoção de uma classificação esdrúxula das áreas de conhecimento que ignorava a prática quase universal de distinguir quatro grandes áreas de formação: ciências físicas e engenharia (Stem); ciências biológicas e de saúde; ciências e profissões sociais; e letras, artes e humanidades. Uma maneira simples de implementar o novo currículo seria oferecer em todas as escolas essas quatro áreas, permitindo que os alunos escolhessem uma como major e seguissem as demais de forma complementar. Mas a proposta que vem da consulta, e que o MEC está endossando, é ampliar ainda mais a parte de formação comum, com um pot-pourri de matérias tradicionais como Geografia, Química e Filosofia, mas excluindo temas essenciais como estatística, economia e direito, e voltar à divisão arcaica entre ciências e humanidades dos anos 60.

Finalmente, o Enem. Em última análise, o que determina o que as escolas vão ensinar e os alunos estudar é o que é exigido na avaliação. Sistemas diferenciados requerem múltiplas provas e certificações que os alunos podem escolher. Manter um exame final único, como o Enem, é garantir que todos os esforços de oferecer alternativas cairão no vazio.

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SOCIÓLOGO, É MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS

O Ministério da Educação acaba de divulgar os resultados da consulta pública sobre a reforma do ensino médio, e a proposta principal é voltar à década de 1960, quando os poucos que chegavam a este nível optavam pelo curso científico, para fazer depois Engenharia ou Medicina, ou clássico, para os que queriam fazer Direito ou Literatura. Agora se fala em percursos de “linguagens, matemática e ciências da natureza” e “linguagens, matemáticas e ciências humanas e sociais”, o que é mais um menos a mesma coisa, fora a matemática. Além destes, admite-se agora um terceiro percurso: “formação técnica e profissional”.

A ideia central da reforma era de que hoje, com a universalização do acesso, o ensino médio não poderia continuar sendo somente um filtro para os poucos que fossem para as universidades, mas um sistema amplo e diferenciado para jovens que poderiam seguir diferentes trilhas de formação. O dilema era entre oferecer quase o mesmo para todos, como no currículo tradicional, eliminando os que ficassem para trás, ou oferecer alternativas que dessem a todos oportunidades de estudar e se desenvolver, ainda que por caminhos distintos. Por trás deste dilema havia, e ainda há, a realidade de que a maioria dos estudantes brasileiros chega ao ensino médio com formação precária, mais velhos e precisando trabalhar. Submeter todos ao mesmo regime e a um exame nacional comum, como o Enem, significa reforçar a discriminação em nome da igualdade.

A reforma de 2017 procurou avançar, mas com muitos defeitos e resistências. Na proposta inicial, em vez de quatro horas diárias de aula, haveria ao menos cinco, perfazendo 3 mil horas de curso em três anos. No lugar de um currículo único recheado de matérias fragmentadas, 800 horas seriam dedicadas ao desenvolvimento de competências gerais, sobretudo de linguagens e matemática, dadas de forma integrada; e as demais horas, ao aprofundamento dos conteúdos em diferentes trajetórias. Quando a lei foi aprovada, esta parte comum passou a ser de 1.800 horas, e agora pretende-se que passe para 2.100 ou 2.400 horas, ficando somente 600 a 900 horas para os percursos diferenciados, invertendo a ideia inicial. Seriam mais horas, naturalmente, nas escolas de tempo integral, em que o tempo se dividiria meio a meio entre a formação geral e os percursos.

Um dos erros da lei da reforma de 2017 foi que ela destinava recursos para o ensino de tempo integral, mas ignorava totalmente a questão do ensino noturno. Agora, o tempo integral continua sendo apresentado como a grande panaceia para a educação brasileira. Os dados do Censo Escolar de 2020 mostram que naquele ano havia 9,5 milhões de estudantes no ensino médio, dos quais 2,7 milhões em cursos noturnos. Existem duas razões para tantos alunos estudando à noite. A primeira é que muitas vezes não existem escolas separadas para o ensino médio, os cursos são dados à noite nas instalações do ensino fundamental. A segunda é que muitos estudantes são mais velhos, precisam trabalhar e não podem passar o dia na escola.

Quatro horas de aula por dia, em cursos noturnos, são insuficientes, mas 8 horas diárias, em que o estudante chega cedo e volta para casa no final do dia de barriga cheia e banho tomado, podem ser o ideal para crianças em determinadas áreas, mas não necessariamente para jovens adultos. Para o ensino médio regular, regimes de 5 ou 6 horas diárias, se bem empregadas, são mais do que suficientes. E o ensino técnico deve ser dado, de preferência, no regime de aprendizagem, em que o trabalho, a renda e a qualificação profissional andem juntos. O tempo integral não é o caminho para o ensino técnico, como se pode ver nos poucos estudantes que conseguem ser admitidos nos institutos federais e aproveitam para se preparar para tirar boas notas no Enem.

O outro erro da reforma de 2017 foi a grande confusão criada pela adoção de uma classificação esdrúxula das áreas de conhecimento que ignorava a prática quase universal de distinguir quatro grandes áreas de formação: ciências físicas e engenharia (Stem); ciências biológicas e de saúde; ciências e profissões sociais; e letras, artes e humanidades. Uma maneira simples de implementar o novo currículo seria oferecer em todas as escolas essas quatro áreas, permitindo que os alunos escolhessem uma como major e seguissem as demais de forma complementar. Mas a proposta que vem da consulta, e que o MEC está endossando, é ampliar ainda mais a parte de formação comum, com um pot-pourri de matérias tradicionais como Geografia, Química e Filosofia, mas excluindo temas essenciais como estatística, economia e direito, e voltar à divisão arcaica entre ciências e humanidades dos anos 60.

Finalmente, o Enem. Em última análise, o que determina o que as escolas vão ensinar e os alunos estudar é o que é exigido na avaliação. Sistemas diferenciados requerem múltiplas provas e certificações que os alunos podem escolher. Manter um exame final único, como o Enem, é garantir que todos os esforços de oferecer alternativas cairão no vazio.

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