Sob o domínio do medo


Ao cerrar fileiras em torno de Kamala, democratas reenergizaram disputa. Mas a eleição ainda será sobre quem é menos impopular, pautada mais pelo pavor do que pela esperança

Por Notas & Informações

Eleições nos EUA são melodramáticas e sabia-se que esta seria ainda mais. Mas mesmo as maiores expectativas estão sendo superadas. Em uma semana o republicano Donald Trump quase foi assassinado, viu um processo judicial ser dispensado por uma corte federal, apontou seu vice-presidente e virtual sucessor à liderança do movimento MAGA (“Faça a América Grande de Novo”) e foi formalmente nomeado na convenção republicana, enquanto, do outro lado, o presidente Joe Biden se recolheu com covid, abandonou a disputa e endossou a candidatura de sua vice, Kamala Harris, que foi virtualmente nomeada por aclamação pelas lideranças democratas. É uma disputa totalmente nova – ou quase.

Em princípio, as chances dos democratas para a presidência e o Congresso, após terem sido arruinadas pela desastrosa participação de Joe Biden no debate contra Trump, foram revitalizadas. A questão da idade se evaporou – e até se voltou contra Trump. Harris, com 59 anos, se valeu de sua experiência como promotora em debates no Senado e a utilizará para confrontar Trump, que responde a ações criminais, foi condenado em uma delas e só não foi nas demais graças a inúmeras chicanas de seus advogados. Ela certamente pode se sair melhor que Biden. Mas também pode se sair pior. Há pelo menos três classes de vulnerabilidades que serão exploradas pelos adversários.

Uma é a sua personalidade. Seus maneirismos, risadas extemporâneas e frases de efeito convolutas abastecerão a usina de memes e vídeos virais. Em segundo lugar, seu registro político está mais à esquerda que o de Biden. Harris é uma típica progressista da Califórnia, o que a desfavorece nos Estados “pêndulo”. Mas o primeiro aspecto tende a ser superestimado pelos republicanos, e o segundo pode ser revertido. Harris ainda é relativamente desconhecida, e pode reconstruir uma imagem mais ao centro, a começar pela escolha de seu vice.

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A terceira vulnerabilidade pode não se mostrar decisiva – dificilmente há um elemento “decisivo” neste pleito turbulento –, mas é praticamente irremediável. Após a renúncia de Biden, os democratas podiam escolher entre uma competição aberta e a coroação da vice-presidente. As duas opções tinham seus ônus e bônus. O risco no primeiro caso era precipitar o partido no caos e na guerra fratricida. Ao invés disso, a opção foi por uma demonstração de velocidade e unidade. Mas a manobra tem custos sobre a legitimidade.

Trump pavimentou sua trajetória política como um campeão contra o politicamente correto e o establishment. Harris é uma criatura desse establishment. O Partido Republicano se comporta hoje como uma seita, mas pode alegar que seu candidato foi submetido a primárias e acusar o partido adversário de se vangloriar como um “salvador da democracia” sem ter submetido sua candidata ao escrutínio do eleitorado. Em 2020, Harris não ganhou nenhuma primária em nenhum Estado e foi a primeira a abandonar a disputa. Sua escolha como vice foi declaradamente pautada menos por suas ideias, capital político ou carisma, e mais pelo seu status de “mulher negra”. Agora, ela foi entronizada por caciques democratas, articulistas da mídia e astros de Hollywood.

Mas há um aspecto dessa disputa que não só não é novo, como foi intensificado: trata-se de uma competição por quem é menos impopular, travada pelo medo. Os republicanos seguirão se apresentando como o bastião do american way of life contra a inflação, a esquerda identitária e a imigração. Os democratas, como o baluarte de direitos fundamentais, como o aborto, contra um megalômano com ambições ditatoriais.

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O eleitorado está mais habituado às idiossincrasias e barbaridades de Trump, e nos debates e na convenção republicana o ex-presidente fez gestos de moderação. As ideias de Harris são menos conhecidas em nível nacional, e ela terá a opção de se descolar do progressismo democrata mais radical. Mas os ataques pessoais dos dois candidatos após a renúncia de Biden sugerem que a dinâmica da disputa será muito menos sobre quem será capaz de oferecer uma visão de futuro, unidade nacional e esperança aos eleitores, e muito mais sobre quem será capaz de aterrorizá-los sobre a “ameaça existencial” do adversário.

Eleições nos EUA são melodramáticas e sabia-se que esta seria ainda mais. Mas mesmo as maiores expectativas estão sendo superadas. Em uma semana o republicano Donald Trump quase foi assassinado, viu um processo judicial ser dispensado por uma corte federal, apontou seu vice-presidente e virtual sucessor à liderança do movimento MAGA (“Faça a América Grande de Novo”) e foi formalmente nomeado na convenção republicana, enquanto, do outro lado, o presidente Joe Biden se recolheu com covid, abandonou a disputa e endossou a candidatura de sua vice, Kamala Harris, que foi virtualmente nomeada por aclamação pelas lideranças democratas. É uma disputa totalmente nova – ou quase.

Em princípio, as chances dos democratas para a presidência e o Congresso, após terem sido arruinadas pela desastrosa participação de Joe Biden no debate contra Trump, foram revitalizadas. A questão da idade se evaporou – e até se voltou contra Trump. Harris, com 59 anos, se valeu de sua experiência como promotora em debates no Senado e a utilizará para confrontar Trump, que responde a ações criminais, foi condenado em uma delas e só não foi nas demais graças a inúmeras chicanas de seus advogados. Ela certamente pode se sair melhor que Biden. Mas também pode se sair pior. Há pelo menos três classes de vulnerabilidades que serão exploradas pelos adversários.

Uma é a sua personalidade. Seus maneirismos, risadas extemporâneas e frases de efeito convolutas abastecerão a usina de memes e vídeos virais. Em segundo lugar, seu registro político está mais à esquerda que o de Biden. Harris é uma típica progressista da Califórnia, o que a desfavorece nos Estados “pêndulo”. Mas o primeiro aspecto tende a ser superestimado pelos republicanos, e o segundo pode ser revertido. Harris ainda é relativamente desconhecida, e pode reconstruir uma imagem mais ao centro, a começar pela escolha de seu vice.

A terceira vulnerabilidade pode não se mostrar decisiva – dificilmente há um elemento “decisivo” neste pleito turbulento –, mas é praticamente irremediável. Após a renúncia de Biden, os democratas podiam escolher entre uma competição aberta e a coroação da vice-presidente. As duas opções tinham seus ônus e bônus. O risco no primeiro caso era precipitar o partido no caos e na guerra fratricida. Ao invés disso, a opção foi por uma demonstração de velocidade e unidade. Mas a manobra tem custos sobre a legitimidade.

Trump pavimentou sua trajetória política como um campeão contra o politicamente correto e o establishment. Harris é uma criatura desse establishment. O Partido Republicano se comporta hoje como uma seita, mas pode alegar que seu candidato foi submetido a primárias e acusar o partido adversário de se vangloriar como um “salvador da democracia” sem ter submetido sua candidata ao escrutínio do eleitorado. Em 2020, Harris não ganhou nenhuma primária em nenhum Estado e foi a primeira a abandonar a disputa. Sua escolha como vice foi declaradamente pautada menos por suas ideias, capital político ou carisma, e mais pelo seu status de “mulher negra”. Agora, ela foi entronizada por caciques democratas, articulistas da mídia e astros de Hollywood.

Mas há um aspecto dessa disputa que não só não é novo, como foi intensificado: trata-se de uma competição por quem é menos impopular, travada pelo medo. Os republicanos seguirão se apresentando como o bastião do american way of life contra a inflação, a esquerda identitária e a imigração. Os democratas, como o baluarte de direitos fundamentais, como o aborto, contra um megalômano com ambições ditatoriais.

O eleitorado está mais habituado às idiossincrasias e barbaridades de Trump, e nos debates e na convenção republicana o ex-presidente fez gestos de moderação. As ideias de Harris são menos conhecidas em nível nacional, e ela terá a opção de se descolar do progressismo democrata mais radical. Mas os ataques pessoais dos dois candidatos após a renúncia de Biden sugerem que a dinâmica da disputa será muito menos sobre quem será capaz de oferecer uma visão de futuro, unidade nacional e esperança aos eleitores, e muito mais sobre quem será capaz de aterrorizá-los sobre a “ameaça existencial” do adversário.

Eleições nos EUA são melodramáticas e sabia-se que esta seria ainda mais. Mas mesmo as maiores expectativas estão sendo superadas. Em uma semana o republicano Donald Trump quase foi assassinado, viu um processo judicial ser dispensado por uma corte federal, apontou seu vice-presidente e virtual sucessor à liderança do movimento MAGA (“Faça a América Grande de Novo”) e foi formalmente nomeado na convenção republicana, enquanto, do outro lado, o presidente Joe Biden se recolheu com covid, abandonou a disputa e endossou a candidatura de sua vice, Kamala Harris, que foi virtualmente nomeada por aclamação pelas lideranças democratas. É uma disputa totalmente nova – ou quase.

Em princípio, as chances dos democratas para a presidência e o Congresso, após terem sido arruinadas pela desastrosa participação de Joe Biden no debate contra Trump, foram revitalizadas. A questão da idade se evaporou – e até se voltou contra Trump. Harris, com 59 anos, se valeu de sua experiência como promotora em debates no Senado e a utilizará para confrontar Trump, que responde a ações criminais, foi condenado em uma delas e só não foi nas demais graças a inúmeras chicanas de seus advogados. Ela certamente pode se sair melhor que Biden. Mas também pode se sair pior. Há pelo menos três classes de vulnerabilidades que serão exploradas pelos adversários.

Uma é a sua personalidade. Seus maneirismos, risadas extemporâneas e frases de efeito convolutas abastecerão a usina de memes e vídeos virais. Em segundo lugar, seu registro político está mais à esquerda que o de Biden. Harris é uma típica progressista da Califórnia, o que a desfavorece nos Estados “pêndulo”. Mas o primeiro aspecto tende a ser superestimado pelos republicanos, e o segundo pode ser revertido. Harris ainda é relativamente desconhecida, e pode reconstruir uma imagem mais ao centro, a começar pela escolha de seu vice.

A terceira vulnerabilidade pode não se mostrar decisiva – dificilmente há um elemento “decisivo” neste pleito turbulento –, mas é praticamente irremediável. Após a renúncia de Biden, os democratas podiam escolher entre uma competição aberta e a coroação da vice-presidente. As duas opções tinham seus ônus e bônus. O risco no primeiro caso era precipitar o partido no caos e na guerra fratricida. Ao invés disso, a opção foi por uma demonstração de velocidade e unidade. Mas a manobra tem custos sobre a legitimidade.

Trump pavimentou sua trajetória política como um campeão contra o politicamente correto e o establishment. Harris é uma criatura desse establishment. O Partido Republicano se comporta hoje como uma seita, mas pode alegar que seu candidato foi submetido a primárias e acusar o partido adversário de se vangloriar como um “salvador da democracia” sem ter submetido sua candidata ao escrutínio do eleitorado. Em 2020, Harris não ganhou nenhuma primária em nenhum Estado e foi a primeira a abandonar a disputa. Sua escolha como vice foi declaradamente pautada menos por suas ideias, capital político ou carisma, e mais pelo seu status de “mulher negra”. Agora, ela foi entronizada por caciques democratas, articulistas da mídia e astros de Hollywood.

Mas há um aspecto dessa disputa que não só não é novo, como foi intensificado: trata-se de uma competição por quem é menos impopular, travada pelo medo. Os republicanos seguirão se apresentando como o bastião do american way of life contra a inflação, a esquerda identitária e a imigração. Os democratas, como o baluarte de direitos fundamentais, como o aborto, contra um megalômano com ambições ditatoriais.

O eleitorado está mais habituado às idiossincrasias e barbaridades de Trump, e nos debates e na convenção republicana o ex-presidente fez gestos de moderação. As ideias de Harris são menos conhecidas em nível nacional, e ela terá a opção de se descolar do progressismo democrata mais radical. Mas os ataques pessoais dos dois candidatos após a renúncia de Biden sugerem que a dinâmica da disputa será muito menos sobre quem será capaz de oferecer uma visão de futuro, unidade nacional e esperança aos eleitores, e muito mais sobre quem será capaz de aterrorizá-los sobre a “ameaça existencial” do adversário.

Eleições nos EUA são melodramáticas e sabia-se que esta seria ainda mais. Mas mesmo as maiores expectativas estão sendo superadas. Em uma semana o republicano Donald Trump quase foi assassinado, viu um processo judicial ser dispensado por uma corte federal, apontou seu vice-presidente e virtual sucessor à liderança do movimento MAGA (“Faça a América Grande de Novo”) e foi formalmente nomeado na convenção republicana, enquanto, do outro lado, o presidente Joe Biden se recolheu com covid, abandonou a disputa e endossou a candidatura de sua vice, Kamala Harris, que foi virtualmente nomeada por aclamação pelas lideranças democratas. É uma disputa totalmente nova – ou quase.

Em princípio, as chances dos democratas para a presidência e o Congresso, após terem sido arruinadas pela desastrosa participação de Joe Biden no debate contra Trump, foram revitalizadas. A questão da idade se evaporou – e até se voltou contra Trump. Harris, com 59 anos, se valeu de sua experiência como promotora em debates no Senado e a utilizará para confrontar Trump, que responde a ações criminais, foi condenado em uma delas e só não foi nas demais graças a inúmeras chicanas de seus advogados. Ela certamente pode se sair melhor que Biden. Mas também pode se sair pior. Há pelo menos três classes de vulnerabilidades que serão exploradas pelos adversários.

Uma é a sua personalidade. Seus maneirismos, risadas extemporâneas e frases de efeito convolutas abastecerão a usina de memes e vídeos virais. Em segundo lugar, seu registro político está mais à esquerda que o de Biden. Harris é uma típica progressista da Califórnia, o que a desfavorece nos Estados “pêndulo”. Mas o primeiro aspecto tende a ser superestimado pelos republicanos, e o segundo pode ser revertido. Harris ainda é relativamente desconhecida, e pode reconstruir uma imagem mais ao centro, a começar pela escolha de seu vice.

A terceira vulnerabilidade pode não se mostrar decisiva – dificilmente há um elemento “decisivo” neste pleito turbulento –, mas é praticamente irremediável. Após a renúncia de Biden, os democratas podiam escolher entre uma competição aberta e a coroação da vice-presidente. As duas opções tinham seus ônus e bônus. O risco no primeiro caso era precipitar o partido no caos e na guerra fratricida. Ao invés disso, a opção foi por uma demonstração de velocidade e unidade. Mas a manobra tem custos sobre a legitimidade.

Trump pavimentou sua trajetória política como um campeão contra o politicamente correto e o establishment. Harris é uma criatura desse establishment. O Partido Republicano se comporta hoje como uma seita, mas pode alegar que seu candidato foi submetido a primárias e acusar o partido adversário de se vangloriar como um “salvador da democracia” sem ter submetido sua candidata ao escrutínio do eleitorado. Em 2020, Harris não ganhou nenhuma primária em nenhum Estado e foi a primeira a abandonar a disputa. Sua escolha como vice foi declaradamente pautada menos por suas ideias, capital político ou carisma, e mais pelo seu status de “mulher negra”. Agora, ela foi entronizada por caciques democratas, articulistas da mídia e astros de Hollywood.

Mas há um aspecto dessa disputa que não só não é novo, como foi intensificado: trata-se de uma competição por quem é menos impopular, travada pelo medo. Os republicanos seguirão se apresentando como o bastião do american way of life contra a inflação, a esquerda identitária e a imigração. Os democratas, como o baluarte de direitos fundamentais, como o aborto, contra um megalômano com ambições ditatoriais.

O eleitorado está mais habituado às idiossincrasias e barbaridades de Trump, e nos debates e na convenção republicana o ex-presidente fez gestos de moderação. As ideias de Harris são menos conhecidas em nível nacional, e ela terá a opção de se descolar do progressismo democrata mais radical. Mas os ataques pessoais dos dois candidatos após a renúncia de Biden sugerem que a dinâmica da disputa será muito menos sobre quem será capaz de oferecer uma visão de futuro, unidade nacional e esperança aos eleitores, e muito mais sobre quem será capaz de aterrorizá-los sobre a “ameaça existencial” do adversário.

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