Um Pantanal cada vez menor


Há uma tragédia em curso num bioma que perdeu mais de 60% de suas áreas alagadas

Por Notas & Informações

Com cheias cada vez menores e períodos de seca mais prolongados, o Pantanal viu sua área alagada diminuir espantosos 61% entre 1985 e 2023, segundo registrou um levantamento do MapBiomas, projeto que mapeia regularmente a cobertura e o uso da terra, a superfície de água e as cicatrizes de fogo no Brasil. Algo gravíssimo para aquela que é conhecida como a maior área úmida do mundo.

No ano passado, o Pantanal ficou 38% mais árido se comparado a 2018, quando ocorreu a última grande cheia no bioma. Segundo os coordenadores do levantamento, o período de cheia, que originalmente vai de fevereiro a abril, está encolhendo; o de seca, de julho a outubro, está se alongando. Para ter uma ideia, em 1988, a área alagada do Pantanal chegava a 6,8 milhões de hectares – número que caiu para 5,4 milhões em 2018 e, por fim, passou a ser de 3,3 milhões de hectares.

Tais números, infelizmente, confirmam uma tendência que, no limite, inspira prognósticos sombrios. Recentemente, confrontada com o fogo que se alastrou pelo Pantanal, Cerrado e Amazônia, sem que o governo respondesse à altura, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse, em audiência no Senado, que o bioma chegará a um ponto irreversível até o fim deste século. No que o climatologista Carlos Nobre a corrigiu horas depois: o Pantanal, como o conhecemos até aqui, pode acabar até 2070.

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Catastrofismos não costumam produzir bons conselhos. Houve anos de estiagem extrema, mas o bioma mostrou boa capacidade de regeneração. Foi o caso de secas registradas nas décadas de 1960 e 1970 e, mais recentemente, em 2021, ano seguinte a um dos momentos de recorde de queimadas. Mas as evidências revelam uma mudança de trajetória: se antes a extensão do fogo era composta por áreas naturais em processo de conversão ou consolidação das pastagens, nos últimos anos os pesquisadores identificaram incêndios e locais antes permanentemente alagados no entorno do Rio Paraguai. Avançando sobre a área seca, com temperaturas altas e ventos fortes, os incêndios se tornam incontroláveis. “Será preciso torcer para que a chuva venha e caia no lugar certo”, avaliou Eduardo Rosa, um dos coordenadores do MapBiomas.

São péssimos os presságios quando é preciso recorrer à esperança de chuva certa no lugar certo, como se a preservação da natureza dependesse de uma providencial ajuda do destino para conter tragédias ambientais. Em se tratando dos problemas que afetam hoje o Pantanal – assim como a Amazônia e parte do Cerrado –, a sorte ou o acaso não são nem a causa nem a consequência. Trata-se, isto sim, de uma soma dramática dos efeitos das mudanças climáticas e da ação humana.

Como afirmou recentemente ao Estadão o empresário Candido Bracher, porta-voz de um grupo de empresários que se uniram para trabalhar por um pacto pela natureza, há muita boa vontade no governo, mas pouca competência, enquanto parte da sociedade ainda apresenta uma postura imediatista, como quem prefere aproveitar a festa enquanto ela não acaba. Que os números exibidos agora reforcem o óbvio: a festa precisa acabar já.

Com cheias cada vez menores e períodos de seca mais prolongados, o Pantanal viu sua área alagada diminuir espantosos 61% entre 1985 e 2023, segundo registrou um levantamento do MapBiomas, projeto que mapeia regularmente a cobertura e o uso da terra, a superfície de água e as cicatrizes de fogo no Brasil. Algo gravíssimo para aquela que é conhecida como a maior área úmida do mundo.

No ano passado, o Pantanal ficou 38% mais árido se comparado a 2018, quando ocorreu a última grande cheia no bioma. Segundo os coordenadores do levantamento, o período de cheia, que originalmente vai de fevereiro a abril, está encolhendo; o de seca, de julho a outubro, está se alongando. Para ter uma ideia, em 1988, a área alagada do Pantanal chegava a 6,8 milhões de hectares – número que caiu para 5,4 milhões em 2018 e, por fim, passou a ser de 3,3 milhões de hectares.

Tais números, infelizmente, confirmam uma tendência que, no limite, inspira prognósticos sombrios. Recentemente, confrontada com o fogo que se alastrou pelo Pantanal, Cerrado e Amazônia, sem que o governo respondesse à altura, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse, em audiência no Senado, que o bioma chegará a um ponto irreversível até o fim deste século. No que o climatologista Carlos Nobre a corrigiu horas depois: o Pantanal, como o conhecemos até aqui, pode acabar até 2070.

Catastrofismos não costumam produzir bons conselhos. Houve anos de estiagem extrema, mas o bioma mostrou boa capacidade de regeneração. Foi o caso de secas registradas nas décadas de 1960 e 1970 e, mais recentemente, em 2021, ano seguinte a um dos momentos de recorde de queimadas. Mas as evidências revelam uma mudança de trajetória: se antes a extensão do fogo era composta por áreas naturais em processo de conversão ou consolidação das pastagens, nos últimos anos os pesquisadores identificaram incêndios e locais antes permanentemente alagados no entorno do Rio Paraguai. Avançando sobre a área seca, com temperaturas altas e ventos fortes, os incêndios se tornam incontroláveis. “Será preciso torcer para que a chuva venha e caia no lugar certo”, avaliou Eduardo Rosa, um dos coordenadores do MapBiomas.

São péssimos os presságios quando é preciso recorrer à esperança de chuva certa no lugar certo, como se a preservação da natureza dependesse de uma providencial ajuda do destino para conter tragédias ambientais. Em se tratando dos problemas que afetam hoje o Pantanal – assim como a Amazônia e parte do Cerrado –, a sorte ou o acaso não são nem a causa nem a consequência. Trata-se, isto sim, de uma soma dramática dos efeitos das mudanças climáticas e da ação humana.

Como afirmou recentemente ao Estadão o empresário Candido Bracher, porta-voz de um grupo de empresários que se uniram para trabalhar por um pacto pela natureza, há muita boa vontade no governo, mas pouca competência, enquanto parte da sociedade ainda apresenta uma postura imediatista, como quem prefere aproveitar a festa enquanto ela não acaba. Que os números exibidos agora reforcem o óbvio: a festa precisa acabar já.

Com cheias cada vez menores e períodos de seca mais prolongados, o Pantanal viu sua área alagada diminuir espantosos 61% entre 1985 e 2023, segundo registrou um levantamento do MapBiomas, projeto que mapeia regularmente a cobertura e o uso da terra, a superfície de água e as cicatrizes de fogo no Brasil. Algo gravíssimo para aquela que é conhecida como a maior área úmida do mundo.

No ano passado, o Pantanal ficou 38% mais árido se comparado a 2018, quando ocorreu a última grande cheia no bioma. Segundo os coordenadores do levantamento, o período de cheia, que originalmente vai de fevereiro a abril, está encolhendo; o de seca, de julho a outubro, está se alongando. Para ter uma ideia, em 1988, a área alagada do Pantanal chegava a 6,8 milhões de hectares – número que caiu para 5,4 milhões em 2018 e, por fim, passou a ser de 3,3 milhões de hectares.

Tais números, infelizmente, confirmam uma tendência que, no limite, inspira prognósticos sombrios. Recentemente, confrontada com o fogo que se alastrou pelo Pantanal, Cerrado e Amazônia, sem que o governo respondesse à altura, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse, em audiência no Senado, que o bioma chegará a um ponto irreversível até o fim deste século. No que o climatologista Carlos Nobre a corrigiu horas depois: o Pantanal, como o conhecemos até aqui, pode acabar até 2070.

Catastrofismos não costumam produzir bons conselhos. Houve anos de estiagem extrema, mas o bioma mostrou boa capacidade de regeneração. Foi o caso de secas registradas nas décadas de 1960 e 1970 e, mais recentemente, em 2021, ano seguinte a um dos momentos de recorde de queimadas. Mas as evidências revelam uma mudança de trajetória: se antes a extensão do fogo era composta por áreas naturais em processo de conversão ou consolidação das pastagens, nos últimos anos os pesquisadores identificaram incêndios e locais antes permanentemente alagados no entorno do Rio Paraguai. Avançando sobre a área seca, com temperaturas altas e ventos fortes, os incêndios se tornam incontroláveis. “Será preciso torcer para que a chuva venha e caia no lugar certo”, avaliou Eduardo Rosa, um dos coordenadores do MapBiomas.

São péssimos os presságios quando é preciso recorrer à esperança de chuva certa no lugar certo, como se a preservação da natureza dependesse de uma providencial ajuda do destino para conter tragédias ambientais. Em se tratando dos problemas que afetam hoje o Pantanal – assim como a Amazônia e parte do Cerrado –, a sorte ou o acaso não são nem a causa nem a consequência. Trata-se, isto sim, de uma soma dramática dos efeitos das mudanças climáticas e da ação humana.

Como afirmou recentemente ao Estadão o empresário Candido Bracher, porta-voz de um grupo de empresários que se uniram para trabalhar por um pacto pela natureza, há muita boa vontade no governo, mas pouca competência, enquanto parte da sociedade ainda apresenta uma postura imediatista, como quem prefere aproveitar a festa enquanto ela não acaba. Que os números exibidos agora reforcem o óbvio: a festa precisa acabar já.

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